sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

 Ao acabar do ano...

Comecei a escrever umas notas há dias, interrompidas pelos mais diversos motivos, e entretanto  as grandes broncas começaram a entrar em catadupas, que nem dá para me fixar nelas

Pedro Nuno Santos acaba por ser a maior de todas as coisas estranhas que estão a acontecer, e o A. Costa acaba de perder um apoio de peso. talvez o tipo mais  sério e empenhado que o PS tem apresentado ( a não ser que também surja algum berbicacho com ele...).

Àquela sujeitinha que passou da TAP para a NAV e a seguir para Secretária de Estado ficou-se a dever o deslindar de tanta porcaria que anda por aí meio escondida - deve ser a ponta do icebergue. Há uma camada, para nós desconhecida, de gente deste gabarito que passa pelas empresas públicas e por Comissões e órgãos eventuais do Estado, com somas de dinheiro  de dimensão descomunal para o comum dos mortais. O azar desta foi ter aceite ser Secretária de Estado, aí tudo foi escrutinado. E alguém acredita que A. Costa  não soubesse nada dos antecedentes? E o próprio Pedro Nuno Santos ? E o Medina que convida a sujeita, nunca ouviu falar de nada? Que raio de assessores têm estes membros do Governo?  Será que A. Costa não se apercebe do mal que estas desavergonhices causam à  democracia, à esquerda democrática, à política em geral? Ou então ele está-se nas tintas, coisas que não afectem seu prestígio lá fora não afectam uma próxima chamada para a Europa. E como pelo Parlamento Europeu também as coisas vão lindas em termos de corrupção, começamos mesmo, todos nós, a ficar com os cabelos em pé!!

A política portuguesa

Nunca pensei que um político experimentado como António Costa, que até os inimigos dizem ser o melhor político português deste século, desceria o nível dos seus Governos para a trapalhada que permanentemente se revela; não há semana que não surjam casos de falta de ética, descaradamente apresentados sempre como correctos e legalmente perfeitos, mesmo que sejam uma pouca vergonha. Nem os vou citar.

Com esta maioria absoluta a arrogância de Costa e de alguns dos seus ministros é chocante, estão-se nas tintas para o que se possa pensar deles e cada vez se juntam em grupo fechado mais restrito, irmãos, primos e outros laços familiares, tornando-se a marca dos socialistas- açambarcam o maior número de cargos que podem - são demasiados anos no poder.

O mais flagrante é que António Costa faz navegação à vista, tem enfrentado sem dúvida situações complicadas desde a pandemia, agora a guerra e as subidas do custo de vida, o SNSaúde num caos  porque nestes 8 anos de governo ele não foi capaz de resolver o factor mais decisivo e importante para o bem estar do povo. E se tem excedentes no OE quer dizer que tem interessado mais pelas finanças certas do que pelo bem estar das pessoas  quando, dentro de limites aceitáveis, vale mais ter uma divida bem gerida do que ter  contas certas e o povo a sofrer  - mais de 4 milhões de portugueses na pobreza!

Políticas de sustentabilidade que assegurem a perenidad

O pior deste Governo é o continuar numa linha de neoliberalismo disfarçado a fazer o dia-a-dia e sem medidas de médio e longo prazo, que são fundamentais para assegurar a sustentabilidade. São o sector primário, a Cultura e o Ambiente que estão a ser delapidados com a pseudo-descentralização -  ou seja simplesmente a passagem para as mãos da raposa das regras com que ela vai  tomar conta do galinheiro.

E pelo mundo fora...

Este 2022 vá ficar especialmente na memória ( e nos registos) por razões das mais terríveis que se podem viver: a guerra, as guerras, o terrorismo a governar. Podia enunciar outras( Birmânia, Síria, Tunísia, Palestinianos subjugados e dizimados pelos judeus, etc etc), mas vão apenas algumas das actualmente mais graves situações com repercussões mundiais.

Iémen, guerra interminável, suportada pela Arábia Saudita com auxílio dos EUA, crise humanitária de extremas proporções.

Centro de África, extremistas islâmicos, sustentados por países islâmicos,  que permanecem no silêncio - quem é que lhes fornece armas ou dinheiro para as comprar?- causam o terror nas pequenas aldeias; raptam e violam mulheres apesar da hipocrisia da religião, que dizem professar e pela qual lutam, de proteger a mulher e escondê-la da vista dos homens.

Curdos, um dos povos mais injustiçados do mundo, continuam a ser dizimados em todos os países em que a política colonial da Inglaterra os dividiu nos séculos XIX e XX. O Iraque só nasceu como país creio que em 1920, instituído pelos ingleses, subtraindo uma grande fatia ao Irão, para retalharem o Médio Oriente e melhor o controlarem. Os curdos são mais de 30 milhões, tem história, cultura e língua próprias e nunca tiveram ninguém que tomasse posição por eles, nem a Sociedade das Nações nem agora a ONU. Repartidos pela Turquia, Síria, Iraque e Irão, lutam ingloriamente pelo seu Curdistão e então para os turcos servem de moeda de troca para as politiquices de apoio ou não à NATO e à Ucrânia. Uma vergonha internacional.

O corno de África, a eterna luta da miséria, entre tribos rivais que alguns países traficantes de armas sustentam e a ONU e a maioria dos países, como a guerra é lá ao longe, não fazem nem dizem nada.

Os balcãs, ninho de pequenas nacionalidades e recontros de religiões, continuam em surdas guerras que podem despoletar outras maiores quando nelas se envolvem países  terceiros. Foram os responsáveis pela 1ª Grande Guerra e lá andam, em especial os sérvios, a criar conflitos com o Kosovo e outros vizinhos, alguns de que pouco se fala como a Albânia. Lá estão tropas da ONU a apagar fogos. Sérvia que dissimuladamente apoia os russos nesta guerra...

Ucrânia, finalmente  a guerra à nossa porta, a estúpida guerra de um verdadeiro nazi russo em nome de acabar com os nazis ucranianos. Hitler invadiu os países vizinhos e deu início à 2ª Grande Guerra para proteger os povos germanófilos, garantindo a sua área vital - qual é a diferença para a invasão dos povos vizinhos da Rússia   russófobos e russófilos ( não foi nem é apenas a Ucrânia) e garantir a sua área de influência vital ? Entre a ditadura nazi, com domínio absoluto sobre todos os opositores, polícia política, assassinatos, e a ditadura tipo soviético de Putin, antigo funcionário superior do KGB, com os opositores democráticos na cadeia, o controle da comunicação social, assassinatos de opositores, qual a diferença? Os opositores ocidentais "suaves"  desta guerra falam em surdina nas negociações de paz, e no negócio americano do armamento, como se não houvesse negócio de amamento russo que precisava, tal como o americano, de vender armas; a paz virá rapidamente se a Ucrânia deixar de receber armas, como diz quase diariamente Putin,  e desse modo a Rússia ocupará o que quer e ficará tudo em paz. Não seria um final feliz?! E outros críticos até de direita - ou indefinidos como Miguel Sousa Tavares- e  aquela cronista das "alfarrobas" disfarçada de moderada, no Publico, não suportam o Zelensky, que pode ter, e terá, muitos defeitos - mas que encarnou com enorme coragem física  e anímica a defesa do seu povo. Ou porque era apenas um comediante (o que parece ser um defeito ou uma incapacidade...), ou porque mente e usa desinformação, como se nas guerras estas coisas não fossem sempre usadas pelos dois lados...) ou porque exige demasiado aos ocidentais, enfim - o que os chateia é a influência mundial que ele adquiriu, certamente usando as suas capacidades de comunicação que a profissão de actor lhe confere e o seu grande feito conseguir que os tais 3 meses que Putin dizia que duraria a "sua" guerra, não ter agora fim à vista.

Os crimes de guerra, sujos, próprios dum exército sem vergonha que não respeita o mínimo da ética da guerra (são tantos que não cabem nestas  notas) devm  ficar de aviso para todo o mundo - aquilo que pode vir a ser feito por qualquer desavergonhado que governe um país amordaçado.

Fico  por aqui, pois ainda este ano falarei de novo no assunto.


O ataque às democracias

Este é um dos aspectos que mais ficou realçado ao longo deste ano. Países como Rússia e outras "democracias" como aquelas que agradam aos do PCP e alguns intelectuais de esquerda ( que votam a lado do Chega em questões de liberdades individuais...) não suportam a superioridade moral - porque não me importo de ser considerado pretensamente superior!!- sim, superioridade moral dos povos que adoptam a democracia "tout court", sem mais adjectivos, com liberdade individual com respeito pelos interesses colectivos, e poder dizer  e escrever o que quiser apenas assumindo  responsabilidade criminal se for  caso disso.  Esses países de democracia "musculada", onde os governantes se aproveitaram da breve democracia que existiu  para assumirem o poder e transformarem logo  o regime em poder pessoal ( Turquia, Hungria...) têm afinal inveja, talvez mal  disfarçada, dos povos que o conseguiram .

Apesar de tantos ataques as democracias têm sobrevivido, e como exemplos temos quer  Trump quer Bolsonaro, dois casos em dois  grandes países em que a democracia esteve em risco eminente, foram sido afastados.

 Mas os riscos não desapareceram; Itália, Polonia ( disfarçada com a chegada da guerra  da Ucrânia) Hungria, só na Europa, têm estado na beira do precipício. Veremos o que o novo ano nos vai trazer.


O incrível Irão

A revolta das mulheres no Irão é um dos mais espectaculares casos que nos fazem acreditar que as ditaduras não duram sempre - até nós estivemos sob uma durante  quase 50 anos e acabou. 

O descalabro do regime dos ayatolas com a  sua violência extrema significa talvez que as coisas terão que mudar, e se as forças armadas se fartarem dos excessos e actuarem, os padres xiitas  têm os dias contados,

Enforcar  jovens em público e deixa-los ficar pendurados uns dias só para meter medo, é do mais tenebroso que se pode imaginar- em pleno século XXI.

Eu estive no Irão, a que prefiro chamar Pérsia, e conheci lá um dos povos mais acolhedores, educados e fraternos que já visitei.. Depois do descalabro dos governos do Xá, com os seus excessos, vieram os padres e a sua religião atrasada vários séculos em relação á actualidade, só comparável, pelo lado mau, com os taliban no Afeganistão.

Que triste fim de 2022!!






 contra

sábado, 24 de dezembro de 2022

 

REGIONALIZAÇÃO?

De vez em quando fala-se na regionalização – e eu sou um dos que me interrogo sobre as vantagens ou não de a adoptar. Por isso vou avançar com algumas ideias .

Historicamente não temos tradição de descentralizar os poderes centrais para as regiões, talvez porque, tirando o Algarve, de características mais acentuadamente mediterrânicas e que foi um Reino “anexado” até à instituição da República, nunca se definiram em Portugal verdadeiras regiões político-económicas. E porque também não existem diferenças étnicas , linguísticas ou outras suficientemente importantes para terem peso institucional.

Regiões biofísicas, essas sim, temos - e num relativamente pequeno território como o nosso são profundas as diferenças naturais de umas para as outras, verdadeiro mosaico eco- geográfico - mas não se afirmaram nunca como identidades de governação autónoma. Falou-se sempre em poderes condais de aquém e além Douro, de entre Douro e Mondego, etc, mas o poder real acabou por centralizar a governação.

O poder real, desde os primórdios da nacionalidade, baseou a descentralização nos municípios, uma forma também do Rei se distanciar da nobreza – e, não sendo eu historiador, creio poder afirmar que o feudalismo foi entre nós pouco significativo, sendo dados ao povo, através dos forais, poderes autárquicos sucessivamente renovados que o libertavam da submissão à nobreza.

Mestres como José Matoso falam da nobreza medieval como uma nobreza rural que a Coroa incentivava e nas quais se apoiava - ricos-homens, infanções e cavaleiros- precisamente porque interessava ao Poder diminuir a força da nobreza condal, bastas vezes irrequieta e comprometedora da autoridade real e podendo dar azo a poderes regionais. Outros historiadores, como hoje João Paulo Oliveira e Costa, defendem igualmente o caracter municipalista que predominou em Portugal ao longo dos séculos da História.

Apenas as ilhas atlânticas, pela suas localizações afastadas do continente, tiveram  sempre mais poderes regionais, através de governadores nomeados pelo poder central. Mas com o caciquismo sempre à espreita…

Evidenciaram -se sempre em Portugal duas grandes regiões, uma a norte e a outra a sul do rio Tejo sendo que este, na realidade, funciona como uma fronteira natural - e poderiam essas ter resultado em poderes regionais diferenciados, atendendo que no Norte, mesmo antes da nacionalidade, houve a forte influência suévica com a divisão paroquial e a Sul o predomínio muçulmano, onde apenas resistiram as dioceses que o islão basicamente aceitou.

Claro que o poder local ou autárquico também pode dar lugar ao caciquismo e não faltam exemplos no nosso país, mas é sempre mais volátil e passível de reversão porque as pessoas conhecem-se de perto e sabem impor travões - ou o poder central intervém para repor casos mais gravosos.

No fim, para  mim que sou municipalista, entendo que a descentralização administrativa deve recair sobre associações de municípios, sem prejuízo de alguns sectores, como o Ambiente e o agro-florestal (porque a Natureza não tem fronteiras) que devem ser tutelados por uma política nacional embora participada localmente, não regionalmente. 

Não me chocam umas CCDR para as grandes regiões-plano desde que passem a ser democraticamente escolhidas pelos munícipes e respondam directamente às necessidades intermunicipais. Mas isso não significaria a institucionalização da regionalização, antes a verdadeira  descentralização em favor das autarquias. Mesmo neste caso  não se pode ( não se deve) estar perante um acto tão sério de alterar a governação do Pais só porque conjunturalmente  existe uma maioria absoluta de um Partido.

Proceder a uma transformação destas, sub-repticiamente como se está a fazer agora, sem obter no mínimo uma votação favorável de 2/3 dos deputados, é claramente um abuso de poder. Seria bom que os portugueses aprendessem que uma maioria absoluta de um só Partido, seja ele qual for, é um risco, como de resto tem vindo a acontecer em vários países ocidentais que são ( ainda são ?) democracias.

Por isso interrogo-me: regionalização? Para quê multiplicar estruturas de governo e poderes de decisão se temos historicamente, desde o tempo dos forais, as autarquias locais?



Entretanto publicado no Sul Informação 

 

domingo, 18 de dezembro de 2022

 Esta maneira de "descentralizar"...

A  Resolução nº 123/2022 do Conselho de Ministros que acabou de sair, como já habitual  passa   ao lado das preocupações da opinião pública; quando alguém dá por ela ... encolhe os ombros. por culpa nossa, de todos nós,   e falta de interesse generalizado  pelas políticas  que nos governam - por isso estou para ver quantos   darão  importância ao que nela se propõe, a não ser muito mais tarde quando tudo já estiver decidido e arrumado.

Agora simplesmente o Governo diz estar a "descentralizar" atirando para o poder regional algumas políticas. de acordo com a prometida aproximação ao povo  - mas o poder regional é representado pelas CCDR que são apenas emanação do Poder Central, não representam o verdadeiro poder regional. Se as CCDR emanassem das Autarquias Locais, aí sim, seria o poder local aglutinado numa organização regional - mas isto da regionalização é assunto para ser pensado noutra ocasião em que se confronte o nosso histórico municipalismo com o regionalismo caciqueiro que alguns querem impor.

Lavar as mãos

O que interessa agora é mostrar que o Governo vai tentar lavar as mãos de certas  políticas, algumas das quais são políticas eminentemente  nacionais" tout court", o que não tem nada a ver com a necessidade e a mais valia do envolvimento e da participação dos poderes locais. 

Não se está a ver que sejam" regionalizadas" a política dos Negócios Estrangeiros, a política de Defesa Nacional ( que tal governadores militares "regionais?...). Mas se calhar muita gente ( já estou a imaginar  alguns presidentes de Autarquias a esfregarem as mãos) há-de concordar com o que se define nesta Resolução em apreço e que é  a "regionalização" da Politica de Ambiente . 
Quer dizer, o ICN(F) - que já é de nascença um aborto notoriamente neoliberal e para gáudio dos grandes interesses anti-Conservação  - deixa de ter mão  num dos pilares do Ambiente que é a Conservação da Natureza (CN) - que devia  ser sempre considerada uma política eminentemente nacional pois a natureza e os ecossistemas não têm fronteiras; e já se está a ver como é que local e regionalmente se vão interpretar as exigências nacionais nesse domínio tão frágil da nossa vida como País,  se elas  tiverem de contrariar costumes ou interesses locais...  Mas uma vez desmembrada por estes últimos Governos a Política da Ambiente, de onde foi retirado o outro pilar que é o Ordenamento do Território (OT), levado para outro ministério meramente  político, (  o OT é um processo biofísico, técnico-científico, que se interliga com a CN para gerar a gestão ambiental) está agora a ficar claro que existe desde o anterior Governo uma estratégia orientada e faseada por forma a ir passando despercebida. Por isso é que são chamados para tutela do  Ministério do Ambiente "políticos" que podem ser grandes especialistas em quase  tudo- menos serem ambientalistas ou que se preocupem e saibam  o que de mal e perigoso estão a fazer. Não é por ignorância, antes fosse -  tudo aponta  para objectivos orientados  para certos interesses. 

De resto aconteceu o mesmo - e já foi denunciado em vão,  até pela CAP - com o desmembramento do sector agro-florestal, separando a agricultura das florestas, quando uma gestão racional e eficiente do sector primário implica a gestão conjunta do ager  e da silva.

 O que confrange é que estas alterações de politicas nacionais - que  passam ao lado da grande opinião pública,  porque a informação  técnica da população infelizmente é reduzida- mas também passam ao lado de inúmeros profissionais que a repudiam em privado mas depois não assumem posição pública.

E as ONG ambientalistas? Essas deveriam ser implacáveis, os problemas de médio e longo prazo do Ambiente não dizem respeito apenas aos parâmetros químico-físicos, poluições, ruídos e as extracções mineiras problemáticas em que vemos algumas ONG manifestar preocupação - os assuntos acima referidos são cruciais em termos de futuro da biodiversidade e sustentabilidade do território - e do povo!

Tudo isto tem um historial já explicado noutras ocasiões e a mim custa-me especialmente assistir a este género de políticas em governos que se dizem da esquerda democrática - ao longo da  minha vida  já longa  fui sempre ideologicamente da social democracia, a concepção que a par da democracia cristã deu à Europa e a boa parte do mundo o mais longo tempo de paz e bem estar social em plena liberdade. E a liberdade vale mais que todos os amanhãs que cantam ou os delírios dos mercados desregulados que acabam em tragédia humanitária.

O lento caminho de desmontar o sector primário e o ambiente

Tudo começou com  o desmontar do sector agrícola possibilitando o progressivo abandono do interior. Cavaco Silva primeiro ministro, "o mais lídimo social democrata" segundo  as suas próprias palavras, encantado com os subsídios que iriam chegar da PAC, incentivou os pequenos e médios agricultores a deixarem de produzir, subsidiando-os com esse fim  e milhares de hectares agricultáveis foram abandonados.  Não passou muito tempo que viessem os agentes da indústria da celulose  oferecer aos agricultores "reformados à força" que plantassem eucaliptos, as despesas eram por "conta da casa" ou arrendassem as terras. Nesses anos eu dava aulas na Univ. de Évora e conheci muitas denuncias feitas desse  processo que estava em curso. Muitos milhares de hectares viraram eucaliptais e outros milhares ficaram abandonados.

Depois veio a extinção dos Serviços de Extensão Rural, que eram fundamentais para orientar a pequena e média agricultura. fomentando novas culturas e promovendo o associativismo rural, bem como atraindo gente nova e mais instruída para o sector agro-florestal. Foi um golpe decisivo, pois as grandes empresas da agro-indústria têm dinheiro para pagarem aos seus próprios  técnicos e para os seus objectivos que pouco ou nada têm a ver com as culturas alimentares de que somos tão carentes. Quem lucrou com esta medida?  - a grande agro-indústria.

Veio a seguir o desmantelar dos Serviços Florestais; em dada altura todo o Ministério e  Secretarias de Estado estiveram entregues a pessoas oriundas da industria da celulose. Apesar disso a ética profissional de muitos silvicultores não possibilitava a livre expansão da eucaliptização, pois restava alguma  resistência   ao  abandono do ordenamento florestal de todo o país que devia ser implementado de acordo com as condições edafo-climáticas.

Acabou a autoridade florestal nacional que cobria o país com uma quadrícula de defesa e gestão das área de mata e de mato  Quem lucrou com isto? ´a grande indústria das celuloses.

O desabar das Áreas Protegidas

Por outro lado as Áreas Protegidas - os grandes parques naturais e reservas naturais- tinham os seus planos de ordenamento orientados para a defesa da biodiversidade e da gestão racional das suas vastas áreas sensíveis, eram incompatíveis com o avanço indiscriminado dos eucaliptais e de outros povoamentos monoespecíficos. Eram também mais um alvo a abater.

Em dada altura houve um complot entre dois Secretários de Estado, um das Florestas outro do Ambiente, que se  propunham acabar com o  serviço nacional de parques entretanto  chamado ICN e juntar tudo com as florestas - assim podendo ser controladas as limitações à expansão da indústria florestal.  O assunto só foi conhecido por ter sido denunciado pubicamente pelo então Ministro do Ambiente, engº Amílcar Teias, que o travou. Por acaso esteve muito pouco tempo no cargo ...

Depois,  um Secretário de Estado do PS disse taxativamente, numa reunião em que eu  estive presente, que os parques tinha  poder a mais e teria de haver um controle nacional , nessa altura, e não foi assim há muitos anos, a descentralização do PS ainda não nascera; o tal poder a mais significava  que as AP tinham, como em todos os países do mundo,. um Director que nas nossas AP presidia a um Conselho Geral (CG) onde estavam as Câmaras Municipais, as Juntas de Freguesia e os Serviços técnicos regionais mais importantes, e era nestes CG que se discutiam as acções a desenvolver em cada AP, o que tinha um carácter pedagógico e didáctico. O Director era o garante da unidade nacional da política ambiental e a mensagem ia passando para o poder local e para as populações. 

Resultado : uns iluminados instituíram a presente orgânica que tem apenas servido para levar o caos às AP, as populações deixaram de se rever nas suas AP e os planos de ordenamento deixaram de ser implementados. Em que país  decente   Parques Naturais com a importância e a dimensão da Serra da Estrela, Arrábida ou Ria Formosa e Reservas Naturais com a relevância do Estuário do Tejo ou do Sado não têm director? Inovação do PS em matéria de CN.

Continuar o descalabro das AP

No anterior Governo deu-se outra machadada crucial : a cogestão das Autarquias Locais quanto ao turismo dentro das AP, Ora não tendo estas um director que garanta a fidelidade à politica nacional  de Ambiente, pois os critérios da Conservação da natureza e dos ecossistemas  são universais e não adaptáveis, é como colocar a raposa a tomar conta do galinheiro. As Autarquias em regra têm legitimamente a sua política de poder e não lhes cai bem que haja áreas de território sujeitas a regras nacionais especiais.  A sensibilidade ambiental não atinge todas as Autarquias por igual embora existam bons exemplos, mas um grão de areia não faz um areal. Mas para a insensibilidade ambiental dos nossos  Governantes assim é que está bem...

Quando as AP "tinham poder a mais", apesar de existir um controle funcional as Autarquias participavam activamente nas decisões, para os "ambientalistas" do PS estava mal - agora para eles é que está bem, quando deixou de haver um responsável directamente delegado da política nacional  de Ambiente.

Como já está desmantelado o sector agro-florestal, a favor dos grandes interesses da economia de mercado livre - fica também agora aberto o total descalabro do Ambiente, e o risco para a perda dos valores matriciais dos parques naturais e das reservas naturais  será cada vez maior.

É uma prática muito pouco condizente com uma ideologia de social democracia, que para o PS português tem os seus  particularismos...; e não é de agora, pois tirando o 1º Secretário  de Estado do Ambiente que foi o Prof. Gomes Guerreiro (uma personalidade ímpar no panorama ambientalista dos socialistas) ninguém mais deixou marca no sector, embora alguns titulares - e recordo o arqº Gomes Fernandes, e o dr. Humberto Rosa - pudessem ter deixado nome se a política do partido o permitisse. Isto ao contrário da social democracia europeia na qual me revejo e que é cada vez mais ambientalista e conservacionista.  vem de trás - em 2005, perante o programa de Governo de José Sócrates a orientação  era tão evidente que ate eu escrevi uma crónica no  "Barlavento"  designada "Este socialismo liberal"- e continuou-se  sempre no mesmo caminho.

Porque não é apenas fazendo medidas de apoio aos mais desfavorecidos com as sucessivas crises que abalam a Europa e o mundo, que se demonstra ser social democrata, qualquer regime "assistencialista" faria o mesmo perante tanta pobreza e tanta insegurança na vida das pessoas como existe em Portugal - o que revela os valores da social democracia são as preocupações genuínas sobre o Ambiente e a integridade das políticas  a ele dedicadas das quais depende  a sustentabilidade do Mundo. Mas  quando se governa em maioria absoluta,  para qualquer partido, seja ele qual for, é sempre uma tentação de fazer o que lhe dá na real gana sem protestos, aglutinando os amigos e a família com um bloco fechado. No México durou uns 70 anos e sempre em "democracia"...

 O mundo todo está a ir neste sentido,  se não nos precavermos acabamos  com um Orban ou um Erdogan  em cima de nós.

Agora, fazer de conta que esta Resolução nº123/22  demonstra que se está a descentralizar, e que ninguém se incomode com essa maneira de o fazer, é que devia levar a um sobressalto nacional  - mas não há sinais de que quer a opinião pública, quer os técnicos conhecedores que permanecem calados, nem mesmo as ONG ambientalistas se sobressaltem, e os governantes continuam o seu caminho implacável para fazerem o que uma maioria absoluta de um só partido permite. Os portugueses não mereciam este agravamento das suas condições de sustentabilidade e de qualidade de vida!

Rede Nacional de Áreas Protegidas, Sistema Nacional de Áreas Protegidas... coisas do passado quando tudo estava mal, agora é que tudo está como nunca esteve. A propósito, o Parque Nacional do Gerês,  deixa de ser nacional ou também passa para a CCDR do Norte?










quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

O estado da situação...

 Estou no terceiro mundo, pois mal cai um pingo de chuva o equipamento MEO que serve a zona rural onde vivo vai logo abaixo com os primeiros pingos. É assim há anos e o pessoal que ao fim da vários dias vem resolver o problema diz sempre que é falta de investimento da empresa. Tanto faz protestar, como eu faço, ou ficar calado o resultado é o mesmo.  As caixas que estão ali em cima num poste não aguentam a chuva, o que chega a ser ridículo neste século XXI. Safo-me com recurso a um portátil de rede móvel da Vodafone.

As cheias em Lisboa

Toda a região de Lisboa está há vários dias sob o assalto das chuvas e das cheias, e de todos os lados surgem os treinadores de bancada com soluções. Também estou na bancada e vou dizer qualquer coisa, pois acompanho o assunto há décadas.

Já poucos se lembram das cheias de 1967, de que o regime escondeu a gravidade, mas a surpresa foi um dia depois dos graves acontecimentos, ter surgido na Tv o Gonçalo Ribeiro Telles, que opor força das suas posições politicas estava fora da comunicação social - foi um deslize imperdoável que ficou para a História.

E ele explicou, com a sua facilidade de expressão, que as causas das cheias eram o estado desordenado das bacias hidrográficas que ocorrem na região; cabeceiras de linhas de água impermeabilizadas,  leitos de cheia ocupadas por habitações abarracadas, impedimentos diversos ao escoamento... Foi uma surpresa ouvir um técnico falar de aspectos que até aí quase ninguém sabia. Eu, que vivia na Madeira, vim a Lisboa e visitei com o Gonçalo as zonas afectadas

Em Novembro de 1983 voltaram a repetir-se grandes cheias, já com menores consequências gravosas embora tenha feito vítimas e prejuízos avultados. Eu visitei as zonas afectadas, as mesmas de 67, onde nada tinha ocorrido de melhoria nos aspectos que GRT havia apontado e que todos os que estavam ligados ao prolema conheciam. Logo no inicio de 1984 o então responsável  pelo Ambiente, Eng.º Carlos Pimenta, nomeou um Grupo de Trabalho para Estudo das Causas das Cheias na Região de Lisboa, interministerial, com técnicos de vários organismos como LNET  e diversos Serviços ligados ao território. Esse Grupo produziu ao longo de 5 ou 6 anos, várias propostas de intervenção nas principais bacias hidrográficas da região e começaram a ser intervencionadas algumas ribeiras.

Ora era importante fazer um levantamento de quantas ribeiras foram intervencionadas e que importância deram ao assunto quer o Estado quer as Autarquias. E seria curioso - e importante- a comunicação social ouvir hoje o Eng. Carlos Pimenta sobre a matéria -  querem ou não saber o que se passou?

Logo nessa altura estava a praticar-se um crime de lesa território que foi a construção da autoestrada de Loures para Lisboa assente em cima daquela esplêndida  baixa de Loures; na DGO, onde eu estava co técnico,  protestou-se sem sucesso e recordo  um Engº da obra  se ter queixado ao Arqº Viana Barreto que a autoestrada estava a sair mais cara porque a altura de solo arável era tão grande que exigia muito mais aterro sólido para suportar a estrada. Tratava-se só dos melhores solos agrícolas da Região de Lisboa, capazes de abastecer de frescos o mercado, e que foram destruídos cinicamente - e todos sabiam o que se estava a fazer. Desaparecia uma das grandes áreas de absorção  e infiltração de água. E, como esta, continuaram a fazer-se obras comprometedoras da retenção e infiltração das águas que acorrem a Lisboa

E hoje, em que se reptem as mesmas causas, ninguém fala nas soluções do problema a montante, onde se geram as cheias; fala-se dos túneis subterrâneos que custam milhões - e lá vêm sempre os milhões à frente para ilustrar uma iniciativa-  mas não se fala em mais nada. Os túneis serão uma ajuda, não se lhe retira o seu valor, mas ninguém fala em intervir a montante, reordenar as bacias, aumentar as zonas de infiltração, deixar de impermeabilizar e rebentar com algumas impermeabilizações que comprometem a infiltração, tratar dos leitos de cheia, criar bacias de retenção temporária - numa palavra fazer o ordenamento do território da Região de Lisboa,  






quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

 A bola

Lá temos ganho no Mundial e isso deve-se certamente à presença do PR Marcelo no primeiro jogo e do Silva, do Parlamento, no segundo jogo... Foi tal o ânimo que os representantes da Republica imprimiram aos jogadores que tinham que  se esfolar todos até ganharem!! Agora o PM não pode ir ao terceiro jogo que já não é decisivo, está com gripe, e  querem ver que a seleção vai sentir-se menos apoiada, por ir lá uma suplente?

A tragédia

 Não se vê o fim da tragédia da Ucrânia e começa a fazer caminho a estratégia de Putin de ser preciso que o invadido aceite as condições de rendição para a guerra acabar. Por muitos defeitos que o Zelensky tenha, por muita contra informação que exiba, aquilo que as Tvs nos mostra  todos os dias é de uma crueldade sem limites, a morte das pessoas pela fome, pelo frio e pelo abandono. É a indústria militar dos EUA que está a  lucrar com a guerra? E a indústria militar da Rússia, não ganha ? Não tinham que dar vazão ao armamento que iam fabricando? E os que vendem à Rússia, como o Irão ( outro exemplo de ampla democracia !!)  não estão a lucrar? 

Não se deve  usar seja que argumento for para desculpar a invasão da Ucrânia, porque ou se está a favor ( como os comunas que dão uma no cravo e outra na ferradura e os da direita original que encontram aqui motivo para se salientarem ) ou se está contra, mesmo que isso favoreça os ímpetos militaristas do Secretário geral da NATO . A NATO não invadiu a Rússia nem a ameaçou, já fez muitas intervenções nefastas pelo mundo fora e não se devem desculpar, mas aqui - mesmo que tenha admitido a entrada da Ucrânia ( e que País independente não pode escolher o caminho que quer?) -isso teria que ser debatido por conversações e não pela acção unilateral de um czar soviético.

Nada se compara à nossa noção de democracia, de liberdade responsável, os outros que não conseguem lá chegar  estão mais atrasados  que nós - este é o meu ideal de vida pelo qual vale a pena lutar!!




segunda-feira, 28 de novembro de 2022

 A morte de um amigo

Fiquei abalado; o Manuel António Antunes morreu há dois dias. Soube já a noite ia adiantada e fiquei abalado.  Inesperadamente, aliás como deveria ser a morte de toda a gente: sentado num sofá, à noite, em casa de um vizinho a ver pela Tv um jogo de futebol, tombou para o lado e pronto.

O "Nelinho" era um dos meus quatro alferes da Companhia que comandei em Angola; passámos maus bocados por lá, outros mais animados e depois ao longo dos anos convivemos bastante - até porque ele tinha casa e alguma família aqui em Monchique. Estivemos juntos há pouco mais de um mês num convívio.

Dos "meus" alferes o Carreira morreu pouco tempo depois de chegarmos de  África, o Teodósio desapareceu de um dia para o outro, aqui há uns anos, emigrando para o Brasil e nunca mais deu sinais de vida, o Dâmaso vive em S. Miguel e convivemos de vez em quando - só o Antunes cá estava, ano após anos, nas nossas reuniões de convívio. Recordo-o já com saudade pois tínhamos combinado um almoço aqui pelo Algarve, um dia destes. É assim a vida - mas a morte deste jeito é o que deveria caber a cada um de nós, sem sofrimento e sem aviso. Pronto!!

A vergonha nacional dos trabalhadores escravizados

Tanto alarido por causa da situação dos emigrantes escravizados no Qatar e sabíamos ( mas esquecemos) que tínhamos e temos por cá  o mesmo negócio. Desde para ai  há um ano o caso dos trabalhadores  em Odemira e agora a PJ sentiu.se estimulada e lá anda de volta de traficantes de trabalhadores, escravizados no Alentejo e certamente noutros pontos do país.,








quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Tanta coisa!...

Tanta coisa para comentar e deixar para memória futura, alguns dislates e atitudes inconcebíveis.

Mundial de Futebol - Agora é que todos descobriram que o Campeonato foi vendido por milhões  a um país socialmente atrasado apesar de nadar em dinheiro, que ainda por cima é muçulmano com todas as  limitações que isso implica-  enquanto um muçulmano vem cá e faz a vida que quer, quem não for desse credo e viaje a um pais desses é obrigado, lá, a respeitar as leis locais. Eles cá podem fazer mesquitas e lá não se podem construir igrejas ou templos hindus ou budistas...Pequena diferença...

Durante os anos das construções das infra-estruturas já se sabia que havia vítimas entre os trabalhadores, falava-se em surdina  e agora que despertaram para a desumanidade  que foi ocorrendo vêm com desculpas como a do nosso PR que desporto  é desporto...

Acabo de saber que hoje a nossa equipa empatou com o Gana - a enxurrada de comentários que vão aparecer - vai ser de fugir e não se poderão abrir as Tv... (*)

Tráfico de seres humanos - em Portugal 

Já se sabe desde há anos que há máfias a trazer trabalhadores de países asiáticos para a nossa agricultura ( imagina-se o que poderá haver por essa Europa fora,  Itália, Espanha,,,).  Como a propósito do Qatar se falou mais dos direitos humanos, pronto, a nossa PJ actua com espavento e já prendeu uma data de traficantes - ou pelo menos presumíveis  traficantes,  não faltarão advogados para os defender e, se possível , inverter o ónus da situação. 

Então as Direcções Reginais de Agricultura não deveriam ter o controle sobre todas as explorações e estarem a par de quem chega a cada exploração e em que situação ?

Direcções Regionais de Agricultura

Então não parece que querem acabar com elas? Brada aos céus este desmantelar do sector agro-florestal.

Quem são as eminências pardas que aconselham estes últimos  Governos quer de direita quer de "esquerda"? Ninguém parece  importar-se, tantos técnicos competentes que ficam calados, a opinião pública indiferente  É o país que temos.

A vergonha da guerra suja

Continua a atrocidade da guerra suja  que a Rússia do Putin impõe à Ucrânia. covardemente a atacar de longe porque já se viu que no terreno perdem vergonhosamente para os ucranianos,  Estes defendem a sua casa, é a diferença. 

O novo manda chuva do PCP vem dizer que a culpa é do Ocidente, claro, porque - pergunta ele -  já viram o que acontece quando se atiça um cão ? Não é lá muito lisonjeiro para Putin, mas como este novo líder quer imitar o Jerónimo com as frases populares, vá de dizer o que primeiro lhe vem à cabeça. Mas os outros intelectuais de esquerda e mesmo sem ser de esquerda como o Miguel Sousa  Tavares - que quer parecer original e diferente - alinham pelo diapasão já gasto de fim a guerra e a paz à frente de tudo. Mas que paz? Deixar que a Rússia ocupe território da Ucrânia e esta deponha as armas, é isso ? Claro que é isso. digam-no.

Nós, portugueses, que andámos séculos a defendermo-nos dos castelhanos, devíamos ser dos primeiros a reconhecer. a legitimidade de todas as armas que Zelensky consiga arranjar.

Embirram desde o início com o Zelensky, porque era teatral  tentando diminuir o seu ofício de comediante - o certo é que ele , com todos os defeitos que possa ter ( e tem com certeza) encarnou o seu povo e resiste como um herói à perseguição  dos russos, Porque  usa mentira e contra informação para obter ajudas externas  - claro, todos usam a contra informação e a mentira, muitos que são muito mais justificáveis nele que é do país invadido , mais pequeno, mais frágil e está a ser despedaçado pelo poderio aéreo russo.

Estes críticos deviam ter vergonha de não serem explícitos, esconderem-se por trás de  meias palavras para agradar aos dois lados - uma vergonha!  Claro que a NATO conta a sua versão e fomenta a resistência ucraniana - mas porque é que um país independente não pode escolher o que quer fazer ? Independência limitada é isso que propõem? Também acho que será prudente que a Ucrânia fique fora da NATO, mas olhem para a Suécia e a Finlândia se não acabaram pro se juntar à NATO para se sentirem protegidas ? O que  Putin está a conseguir, ao contrário do que pretendia, é reforçar a aliança europeia e - sabe-se lá...-   do Médio Oriente e Ásia Central onde vários países da orla da ex -URSS agora querem afastar-se dos russos a todo o custo, com  este revanchismo  de Putin e seus  ideólogos.,

No fundo, o que a Rússia tem  ( e já o tenho dito outras vezes ) é inveja de não conseguir criar um  regime de democracia plena como a nossa do Ocidente ( e do Oriente pois Japão, Austrália, Coreia do Sul, etc,  são "orientais"...

É absolutamente injustificável uma guerra quase mundial no seio da Europa; Putin nem se importa com a expansão do ódio anti-Rússia que ele está  a criar em toda a Europa e um pouco pelo mundo. Mas se a Rússia não for desfeiteada todos os países à sua volta ficarão em risco eminente. .

Ainda se teve ocasião para ouvir o balofo do ministro Labrov a dizer, de olhos baixos e sem olhar para as câmaras, que não estavam contra o povo ucraniano, estavam sim contra os neonazis que governam a Ucrânia; não me admira se existem neonazis na Ucrânia., como os há na Rússia  e estão no apoio a Putin, E como se o que Putin e Labrov estão a fazer não seja  exactamente o mesmo que Hitler fez em nome da protecção dos povos germanófilos e do seu espaço vital- qual a diferença?

Eu fui dos muitos que se manifestaram contra as guerras promovidas pelos EUA e a NATO, desde o Vietnam ao Médio Oriente e as suas alianças  com regimes autocráticos e insuportáveis como as monarquias do Golfo  e da Península Arábica- desde que obtenham os recursos de que precisam assim como fechem os olhos ao que se passa na Turquia.  Mas não me recordo de ver os comunistas- que agora  protestam contra o rearmamento da Ucrânia( porque isso dificulta a tarefa "patriótica" da Rússia) terem protestado contra a invasão dos russos no Afeganistão, onde tentaram implantar uma  das suas democracias populares e de onde saíram com o rabo entre as pernas. Tudo o que os EUA fizeram depois, de errado, teve origem nesta acção soviética.  

E o que a Rússia está a fazer agora é absolutamente criminoso e não poderá repetir-se, doa a quem doer. Não consigo suportar a ideia de que um ditador despótico, que mantem a Rússia em absoluta desinformação, sem qualquer vestígio de democracia, se dê ao desplante de provocar uma guerra destas em pleno século XXI. 


(*) Acrescento umas horas depois : afinal ganhámos ao Gana!




domingo, 20 de novembro de 2022

 Continuar pensando nas coisas da vida...

Não admira que, no nosso tempo, continuemos a pensar como as gerações anteriores:  o nosso tempo é terrível, passam-se coisas inaceitáveis...  E voltando à História, é difícil imaginar as tragédias mundiais das pestes e das guerras.

Desde que há dados históricos sabe-se de pestes  durante os últimos séculos do Império Romano e depois por toda a Idade Média, com grande realce para a peste negra que dizimou  muitos milhões em todo o mundo e de europeus, considerada a mais grave peste conhecida da Humanidade; mas já no início do século XX ocorreu a gripe espanhola também chamada  pneumónica, que matou novamente muitos milhões - os meus avós maternos, da Serra da Estrela, morreram com essa peste. Por isso com este coronavirus do século XXI - um de vários coronavirus conhecidos, com existência em animais e passagem para o ser humano- o  Covid 19, só graças â medicina e à farmacologia que existe neste século XXI é que foi possível que não tivesse ocorrido outra grande tragédia, mas mesmo assim foi dramático em todo o mundo - e mais uma vez não se conheceram fronteiras.

Indesculpável, por todas as razões, é que neste seculo XXI se tenha iniciado uma guerra na Europa. 

O nosso continente conheceu ao longo dos séculos várias guerras terríveis, que  assolaram todos os países embora uns mais que outros; até nós levámos boa parte da nossa Historia em guerra para nos livrar-nos dos vizinhos castelhanos, que não aceitavam  a nossa independência  tal como quiseram sempre - e conseguiram-  abafar os outros povos peninsulares. Passámos anos de horrores por causa dessas guerras.

Todos conhecem a guerra dos 100 anos, que decorreu entre 1357 e 1453, e que foi uma sucessão de várias batalhas, às vezes com décadas de intervalo mas com os mesmos intervenientes, em especial França e a Inglaterra. Havia interrupções e recaídas, numa sucessão que deixou os países europeus de rastos.  E ainda houve a guerra dos 30 anos, que dizimou a Europa Central; tivemos depois as guerras napoleónicas, devidas a um louco com a mania que era o senhor do mundo e só com a sua derrota total e prisão ( safou.se de ser enforcado...) tivemos paz na Europa. Mas mais tarde a guerra franco-prussiana  voltou a deixar marcas mas apesar disso não foram capazes de evitar a 1ª Grande Guerra mundial do século XX -     que devia ter marcado os países e os povos, mas não.

 Uns vinte anos depois estávamos noutra, a 2ª Grande Guerra, provocada por outro louco egocêntrico e paranóico. guerra mais destruidora ainda até porque com ela nasceu a arma mortífera mais poderosa de sempre e  que se inventou então, a bomba nuclear, que foi usada. Nunca esqueçamos isto, hem?

77 anos depois aí está mais uma guerra europeia,   que outro louco, paranóico, egocêntrico e ditador, vindo da "grande" Rússia mas que se está a revelar um tigre de papel e com as garras cortadas rente, se deu ao abuso de cometer.  E como sempre há quem o apoia: quem?- os ditadores das democracias populares, os regimes de onde só fala quem segue a voz do dono e aceita todos os caprichos e todas as imposições que a elite de Poder lhe impõe. E quem mais ? - alguns  "progressistas de esquerda", comunistas e afins, que não gostam do imperialismo americano que os deixa falar à vontade  e os atura sem os molestar - e preferem o imperialismo russo, saudoso  da caduca  União Soviética, que só deixa falar quem o chefe quer e mete na cadeia ou manda  matar os que se lhe opõem. Estranho? A mente humana é um universo cheio de mistérios...





quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Pensando nas coisas da vida...

 Vivemos tempos conturbados e, porque estamos neles inseridos, temos tendência certamente a pensar que são tempos excepcionais, mas não são. Em todas as gerações se passam factos perturbadores, ocorrem situações dramáticas, e em cada geração  se descreve o que se passa como sendo coisas terríveis,  coisas excepcionais. É natural, os seres humanos sentem aquilo que vivem e enfrentam sem alternativa, pois aquilo que se conta do passado,  mesmo recente, diz respeito a outros que não a quem está numa dada altura a pensar e a sofrer -  ou a beneficiar - de agressões psicológicas  ou  de invenções e grandes descobertas. E em todas as gerações se fica espantado com aquilo que  se viveu e que se julga  acima do que acontecia  antes.

Recordo o que o  meu pai, que nasceu no último ano do século XIX, me contava - e também aqui estou a ser igual aos velhotes da minha idade que é o  recordar as coisas mais antigas dos pais  e avós.  Dizia ele que conhecera as maiores transformações da sociedade que se podiam imaginar, e tinha razão: nasceu na monarquia, viu surgir a República,  o meu avô, seu pai, aderira desde muito novo ao ideal republicano e era uma bom operário mecânico dos caminhos de ferro, onde chegou a chefe torneiro; fora o primeiro aluno a matricular-se na Escola Industrial aberta pela Republica na Figueira da Foz e esteve na fundação da delegação local do Partido Evolucionista do António José de Almeida, por quem o meu pai conservou ao longo da vida um grande respeito e admiração "porque era entre os políticos republicanos o mais sério e dedicado ao povo, sem pensar em  benesses".  Depois, dizia ele, tinha visto aparecer a caneta de tinta permanente e não ter de continuar a  escrever com aparo e tinteiro,  viu surgir o cinema insipiente, mudo e a preto e branco e depois chegar ao filme sonoro e a cores; viu aparecer a televisão; viu a 1ª guerra mundial, morreram dois irmãos, o António em exercícios  em Tancos e o José na batalha em La Lys .  Sofreu com a chegada da ditadura de Salazar, mantendo-se secretamente na oposição e, dizia, votava sempre com um traço a cortar a lista do regime.

Assistiu à 2ª guerra Mundial, que eu mesmo recordo - era pequeno mas lembro os exercícios à noite e em especial o dia do armistício, a meio da tarde: estávamos todos à mesa na sala de jantar até que a voz do Fernando Pessa proclamou que a guerra acabara - e abriram uma garrafa de champagne. Ele viu os foguetões no espaço, os avanços duma medicina que já nada tinha a ver com as mezinhas da sua juventude, etc. etc. Quer dizer para ele tinha passado por tempos excepcionais e isto foi o que aconteceu ao longo da vida das sociedades humanas, sempre!

Penso muitas vezes no período dramático que foi, por exemplo, os últimos anos do Império Romano do Oriente e em especial um episódio relevante; quando o Imperador Constantino, por influência da mãe que veio a ser a Stª Helena. proclamou o fim do paganismo e a adopção do cristianismo como a única religião permitida  em todo o Império. Deve ter sido um trauma de proporções  sobre-humanas! Destruição de templos e perseguição aos que teimavam em seguir a religião dos seus antepassados, com  aquela multidão de deuses que cobriam todas as necessidades do ser humano e todas as coisas que sucediam na Terra e no Cosmos - era um mundo de farta imaginação e onde cada um podia escolher para si os  deuses de que mais gostava.

Com o Cristianismo veio um só deus ditador, misericordioso mas capaz de permitir as maiores calamidades sem intervir, e com ele  uma miríade de  santos que fazem as vezes dos pequenos deuses gregos e romanos  - e toda a gente foi obrigada a aceitar e calar. Muito mais  tarde, Santo Agostinho, com a sua vasta cultura e ao que tudo leva a crer uma inteligência acima do vulgar, veio dizer ( in De Vero Religione) que todas as religiões foram sempre verdadeiras até que surgiu  religião cristã e passou então a ser a  religião verdadeira - coisa que a Igreja não deve gostar nada e faz por esquecer.

Mas voltando aos últimos séculos do Império Romano, a instituição do Cristianismo como única religião permitida deve ter trazido traumas indescritíveis às sociedades  onde chegava a força do Império; até que foi eleito como Imperador Juliano no ano de 361 e que morreu com 32 anos de idade, apenas dois anos depois numa batalha contra os persas. Apelidado de Apostata, Juliano ficou célebre por ter proclamado o fim da exclusividade do cristianismo  e defendeu o paganismo . A sua carta " Defesa do Paganismo -  Contra os Galileus"  é um documento notável, onde mete a ridículo os mitos cristãos comparando-os com outros mitos também ridículos do paganismo,  que ele não esconde. Só que proclama que todos têm o mesmo direito de acreditar naquilo que quiserem. Isto dito em pleno século IV  da nossa era é simplesmente fantástico e talvez a primeira proclamação da liberdade de expressão e de crença!

Só que com a sua morte prematura, o seu sucessor repôs o cristianismo, daí em diante sem mais equívocos. Mas pensemos que, se Juliano tem tido uma vida longa e normal como seria de esperar com 32  anos,  a História teria sido diferente daí em diante e o cristianismo não passaria de mais uma seita como tantas que pululavam  nesses tempos no Próximo Oriente e na Índia.  

Imagine-se o que terão sido as convulsões dos seres humanos destas sociedades apanhadas nas ressacas destas alterações!

Vou continuar a pensar nestas coisas num próximo  escrito...









terça-feira, 8 de novembro de 2022

 Os nossos tempos são assim

Cimeira da ONU sobre o clima

Em pleno Outono ameno, numa bela estância de turismo  de uma democracia exemplar como é a egípcia, estão os manda-chuvas da maior parte das nações a jantar e a conversar nos intervalos sobre as alterações climáticas. Que países como Sonda e outras nações insulares estejam cada vez mais submersas pela subida dos oceanos, também se fala lá, mas quem pensa que enquanto não estiverem mesmo a afogar-se vai lá alguém dar uma ajuda, esqueça - quando isso acontecer então todos os grandes  países enviarão para lá barcos de socorro, carradas de latas de conserva que se estão a estragar por falta de uso..., mas é preciso que eles estejam a mesmo a afogar-se.

Estão também lá António Costa e acho que com ele o  ministro do Ambiente, dois especialistas  cheios de soluções para  os problemas ambientais ...dos outros. Por cá os nossos parques naturais continuam a "apodrecer", acolhem eucaliptos e actividades agro-industriais, como deve ser o papel das Áreas Protegidas..


A "família" de António Costa

A série interminável de compadrios, de incompatibilidades entre cargos no Governo e ocupações privadas e familiares, a aceitação de casos dúbios, enfim, uma série de atropelos à ética estão a acontecer todas as semanas e já quase dia sim dia não.  Será que António Costa não se dá conta do mal que está a fazer á politica em democracia ? Claro que dá conta, sabe muito bem mas não se importa, é um  misto de arrogância e desprezo pela opinião pública. Trata todos os assuntos da governação entre amigos e amigos dos amigos, como família que se sujeita a trabalhar para ele sem ganir.  Arguidos em processo de tribunal são nomeados para o Governo? Pois, arguido não é culpado...mas pode ser ou não ? As consequências para a opinião pública  sobre uma governação de esquerda democrática serão desastrosas, os "chegas" e não só, também os liberalistas e a manhosice do PSD estão à espera do seu bocado do bolo - mas quem é que disse que esta governação é da esquerda democrática? Isto tem alguma coisa a ver com a social democracia europeia?  O futuro próximo vai ser trágico, sem exagero desta palavra.


sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Este texto foi escrito em 19.10.22 e tem estado a aguardar…

A desagregação do sector agro-florestal

A falta, acentuada nas últimas décadas, de políticas de médio e longo prazo, ameaça o futuro sustentável do  nosso país. Tão mau como isto só o descalabro do Serviço Nacional de Saúde.

O nosso país tem perdido capacidade de se auto-sustentar e de assegurar um futuro aceitável para as próximas gerações. Palavras como alterações climáticas, transição digital, não passam disso mesmo, de palavras para encher os ouvidos sem se traduzirem em garantias de perenidade dos nossos recursos renováveis, raros e escassos, como o solo e a água.

Desde que nas décadas de oitenta-noventa do século passado o Governo deu subsídios aos pequenos e médios agricultores para deixarem de produzir, invocando a solidariedade europeia, foi a abertura para o abandono do interior e de todas as zonas minimamente agricultáveis. A solidariedade europeia deveria ter-se afirmado pela atribuição de subsídios para melhorar a produtividade, certamente baixa de parte dos nossos solos, e incentivar novos agricultores.

Depois a extinção dos Serviços de Extensão Rural foi o golpe fatal; em vez de fazer desse Serviço a forma de atrair gente nova para a agricultura e de ter investido na investigação e na experimentação agrárias (agro-florestal), o que se fez foi destruir tudo quanto as Direcções Regionais de Agricultura faziam em termos de investigação e experimentação que eram tão fundamentais para introduzir novas culturas, nomeadamente de ciclo curto, e novas tecnologias. 

Por mais que um ex primeiro-ministro diga que foi ele o primeiro e autêntico social-democrata o que na verdade fez foi abrir as portas à agro-indústria e ao aumento exponencial da mata industrial de eucalipto. Houve certa altura, não preciso de citar nomes, em que o Ministério da Agricultura e Florestas esteve por inteiro entregue a políticos oriundos da indústria da celulose. Grave é que nenhum outro Governo depois foi capaz de travar a política neoliberal que se insinuou, como sempre fez o liberalismo ao longo dos tempos desde o século XIX. Em 2005 era tão patente que até eu escrevi uma crónica intitulada “Este socialismo liberal”, em que previa que a primeira palavra cairia e ficaria apenas a segunda…

É o que acontece, apesar dos governos ditos socialistas que temos tido, com o estado depauperado a que chegou o nosso sector agro-florestal e, consequentemente, a política ambiental. O neoliberalismo que ocupa as mentalidades de muitos é como a hidra que renasce sempre, quando lhe cortam uma cabeça faz nascer outras; e apesar das tiradas de fé dum Fukuyama ( nada pior que o fanatismo…) que anuncia há várias décadas que a História  acabou e só o liberalismo está para ficar, há quem, como Joseph Stiglitz, Prémio Nobel da  Economia, avisasse já em 2001 que o liberalismo prejudica a democracia há 40 anos, e voltou a denunciar em 2019 que continua  a haver economistas a pensarem não haver grandes motivos para preocupação se mantivermos o aumento da temperatura global  até aos 3 e 4ºC, o que é uma aposta insensata e “não temos mais para onde ir se perdermos a aposta”.

Precisa-se se sensatez e realismo e, quanto a nós, à falada solidariedade europeia devemos exigir apoio para refazermos uma agricultura alimentar e forrageira que tanta falta nos faz, dessa forma compensando a menor produtividade de alguns solos, em vez de estarmos a gastar solo e água, tão escassos sobretudo no Sul. com o regadio de olivais e pomares industriais de fruteiras. Quem é o agrónomo credenciado que aceita ser ministro da agricultura sem controlar todo o sector? Quem é o cérebro iluminado, mas sem qualquer especialidade e experiência, que aceita ser ministro do ambiente e das florestas sem conhecer nada desses assuntos?

Quando poderemos voltar a ter governos que dediquem o máximo das suas capacidades e competências (não de clientelismo) aos problemas centrais da sobrevivência?

Olhem para o mapa abaixo, com origem no IPCC (que até já saiu no Publico num artigo de Patrícia Carvalho) e que mostra áreas das grandes secas no mundo, mas olhem com olhos de ver e cabeça para entender. E devolvam-nos uma política agro-florestal eficaz e adaptada à garantia do nosso futuro. Basta de palavreado oco de sentido, é mais que tempo do realismo, do conhecimento e de políticas que visem o médio e o longo prazo no sector primário do qual depende a nossa sobrevivência como povo e como Pais.  Uma política democrática e social não se pode ficar pelo assistencialismo aos mais necessitados, tem que garantir o futuro para todos.

 




E completo este assunto com outro mapa mundial com origem também no IPCC. que revela as zonas de maior escassez de água -  estamos lá, hem ?




Agora perguntamos ao Governo o que é que se está a fazer para enfrentar esta realidade? Já se viu alguma campanha maciça voltada para  a população nas TVs, rádios e imprensa, para  mobilizar para a economia da água, sobretudo no Sul? Não se trata de lançar o pânico, mas sim de sensibilizar as pessoas para menores consumos supérfluos da água.

Já se está a preparar alguma estação de dessalinização da água do mar para fornecer água à população urbana que se estende ao longo do litoral? A água disponível hoje é quase só obtida no interior e é necessária para as populações desse interior que não têm outra alternativa -  e água para a agricultura .

Todo o Mediterrâneo já faz abundantemente uso da água dessalinizada - e nós estamos à espera de quê?







domingo, 30 de outubro de 2022

 Incompatibilidades e corrupção

Não passa uma semana sem que se anunciem casos de incompatibilidade de cargos do Governo com actividades privadas e casos de corrupção, no Estado e nas Autarquias.

As incompatibilidades têm que ser, no entanto, encaradas com  frieza e sem politiquice rasteira; quem é empresário, profissional liberal ou sócio de uma empresa e de repente é chamado para um cargo no Governo, não é de um dia  para o outro que larga tudo o que tem. Nem deve ter que deixar, Só funcionários públicos é que não terão essas ligações  -  então vamos ter governos só de funcionários públicos?!! A quem for chamado para um Governo  tem de ser imposto um regime de X anos em que a sua empresa ou da sua família não faz contractos ou qualquer trabalho para o Estado, e mesmo depois de deixar o governo deve continuar um prazo de X anos ( tres, pelo menos) em que esse regime se mantém.

Claro que estando o PS há uns vinte anos no Poder a teia de ligações é cerrada, e a tentação para o abuso é evidente; mas que venha o PSD qual vigem ofendida apontar o dedo ( ou a IL e o Chega pasme-se) é sobretudo escandaloso no tom em que o faz.

 E agora com maioria absoluta, bom, o PS tem que aproveitar bem todas as ocasiões para colocar peões nos lugares chave, e  garantir o futuro...

Este tempo de Verão

Continuo a usufruir deste tempo de Verão, com banhocas no mar que nem em plena época estival são melhores - um mar calmo, temperatura ( que não sei qual a anunciada pelos "mentirológicos") que permite lá ficar o tempo que se quiser, sem vento. E com a certeza de que vou  -vamos todos - pagar juros altos por estas delícias.

Mas há mais indícios claros do que está a acontecer : eu  moro aqui neste sítio do barrocal algarvio há 35 anos, todos os anos sempre apanhei azeitona, escolhida à mão, para curtir. Pois este é o primeiro ano em que não tenho, nas diversas oliveiras do terreno e terrenos vizinhos,  um só bago de azeitona. Portanto a 1ª vez que não faço a minha azeitona curtida que sai sempre tão boa!

Tenho uma "montanha" de desperdícios de vegetação,  das podas e das limpezas, vamos entrar em Novembro e não há autorização para queimar.

Ideias antigas - a eutanásia

Há ideias que muitos pensam ser de hoje mas afinal são bem antigas entre a Humanidade pensante.

O assunto da eutanásia é um assunto de compaixão por quem sofre  sem possibilidades de cura e embora as dores físicas  se superem muitas vezes nem que seja  colocando o  doente em letargia ( eu já assisti a casos desses), já o sofrimento psicológico, sobretudo de pessoas com algum a superioridade cultural e mental, é um sofrimento não tem remédio que o  alivie.

Mais uma vez no nosso país por causa da beatice do Presidente da Republica (que se sobrepõe à maioria dos portugueses pensantes) e dos pruridos de alguns médicos treinados para pensarem assim,  continua a adiar-se a institucionalização da eutanásia - já se sabe que se impõe com toda a parafernália e cuidados para evitar abusos.

Mas esta ideia da morte assistida para aliviar sofrimentos é já muito antiga. Ao reler agora a UTOPIA de Thomas More, séc.XV e XVI, para lá de muitos aspectos hoje inaceitáveis da tal civilização ideal que ele propõe como teoria, no pais chamado Utopia onde se levava uma vida de plena consciência - e nesses aspectos estão a religião, a escravatura como opção à pena de morte, o papel secundarizado da mulher, mesmo assim com grandes mudanças face ao que então se praticava na Europa e em Inglaterra, etc - há o atrevimento de propor o seguinte, e cito "No caso da doença não só ser  incurável mas originar também dores incessantes e atrozes, os sacerdotes e magistrados exortam o doente, fazendo-lhe ver que se encontra incapacitado para a vida, que sobrevive apenas à própria morte..."

"...E já que a sua vida é agora um tormento, que não se importe com a morte, antes a considere um alívio, e consinta em libertar-se dela como de uma prisão ou de uma tortura ou  então permita que os outros o libertem dela. "

E " Estando incapacitado para a vida, que sobrevive apenas à própria morte, tornando-se um empecilho e um encargo para os outros e fonte de sofrimento para si próprio e que deve decidir não mais alimentar o mal doloroso que o devora. ,,, E " ...nada perderá com a morte, antes porá termo a um suplício cruel"; ..."E se, finalmente, o doente se persuade a executar os seus conselhos, pode por termo à vida voluntariamente, quer pela fome, quer no meio do sono, sem nada  sentir. No entanto a ninguém obrigam a morrer contra a sua vontade e nem por isso o tratam com menos cuidados e carinhos, aceitando a morte como um fim honroso"

Esta possibilidade de quem pede a  eutanásia para si próprio e não a impõe aos outros está a ser negada aos portugueses: aqueles que não gostam da eutanásia para si  mesmos impõem  essa sua vontade a todos - falta de respeito pela personalidade e dignidade  de cada um. Não vale a pena voltar a falar do rigor que a lei deve ter, da salvaguarda de todos os desvios criminosos - tudo isso são "paliativos" de quem tem, por enquanto, a maioria ou o lugar privilegiado de Presidente da República,










segunda-feira, 24 de outubro de 2022

 Notas avulsas

Adriano Moreira

Faleceu Adriano Moreira depois de ter completado, há muito pouco tempo, os 100 anos de vida.  É consensual dizer que era um conservador, mas nem por isso deixou de ter papel importante na definição da democracia.  Lembro-me que teve problemas com Salazar e com os mais extremistas do regime já velho desde a nascença que se chamava Estado Novo, e depois de Abril 74, embora no CDS, não deixou de manifestar uma abertura muito mais ampla até que alguns considerados mais democratas que ele; e era um homem da Cultura, com vastos conhecimentos da nossa História e do pensamento em geral. Se a direita fosse mais inteligente  tê-lo-ia proposto para Presidente da Republica e certamente teria desempenhado com rigor e honestidade intelectual essa  função, e poderíamos ter sido poupados ao Cavaco, ao seu bolo-rei e às mediocridades da Maria.  Aqui fica para memória futura

Chove no Algarve

Há uns 3 dias que chove no Algarve, alternando umas boas chuvadas com horas seguidas de pingue-pingue, mas é muito pouco. Se tivesse chovido razoavelmente em meses anteriores, estas chuvinha acabava por  ser significativa, mas com a extrema seca que aguentamos há meses - e a pouquíssima chuva dos outros anos - pouco mais dá do que para arrebitar a flora do barrocal que estava a entrar em stress.

A "minha" ribeira, a ribeira que passa aqui abaixo da minha casa, é o melhor indicador do estado das reservas hídricas. Só corre quando os aquíferos estão cheios e  então transbordam; por agora nem sequer pequenos poços se avistam.

A guerra suja continua

Não pode haver a mínima indulgência com Putin e a guerra suja que está a empreender; as repercussões mundiais são cada vez mais aflitivas. Agora fala-se em 150 navios que deveriam transportar cereal e  que estão impedidos de navegar  e cumprir a sua missão. Mas que f.d.p é este, o que pensa ele que vai poder mostrar ao mundo com esta loucura?

Claro que é preciso entregar muito mais armas à Ucrânia, para se defender; se o Ocidente entregasse  aos ucranianos uma boa parte da força que na realidade existe, acabavam com o Putin em pouco tempo. E custa a crer que ele seja mesmo tão louco que aproveitasse para usar bombas nucleares, ele é do tempo em que o  KGB  fez quase os impossíveis para evitar que as radiações de Chernobil chegassem Moscovo, inclusivamente fazendo  artificialmente chover a meia distância e com isso forçar as partículas radioactivas a caírem e a não chegarem à capital.   Duvida-se que ele agora tenha capacidade para repetir a proeza - e se caíssem chuvas radioactivas em plena Rússia, bem não se deseja tão mal como esse à maioria ignorante do povo russo que não  tem culpa., mesmo quando apoia a guerra fiado naquilo que lhe impingem. Já estamos fartos de ver coisas dessas pelo mundo fora quando as multidões são galvanizadas para apoiarem os seus chefes mesmo -   os piores ditadores.




sexta-feira, 21 de outubro de 2022

 A propósito da guerra

Uma invasão de um pais europeu por outro que é mais euroasiático do  que propriamente europeu ( por mais que eles se torçam...) em pleno século XXI, só pode ser entendido como um acto terrorista de um Estado com regime pária, manifestação de um imperialismo cego e insultuoso que tem de ser contida por todos os meios.

Tenho pensado em como é  espantoso perceber como a História tem tanto peso com o passar dos séculos. Os povos ocidentais, europeus mas  que não conheceram o Renascimento continuaram mergulhados  nas condições morais e  sociais duma Idade Média que se prolongava; foi com  o Renascimento, que se corporizou na Itália e nos países meridionais europeus, os quais também já tinham a herança grega e romana e os avanços da filosofia, tal como  as primeiras noções de que poderia obter-se, se os povos assumissem por si o domínio do Poder, um regime  mais avançado,   a democracia.  Por isso uns séculos depois esses mesmos povos do sul conheceram o Iluminismo e a Revolução Francesa que, com horrores e contrariedades, trouxeram o Estado moderno que se expandiu, para o mal e para o bem,  para toda a Europa - mas ideais esses que não passaram para lá das estepes !... Os povos eslavos e russos continuaram arredados das práticas democráticas e da justiça social. Mesmo os povos germânicos só mais tarde alcançaram e vivenciaram o conhecimento dessas luzes de avanço espiritual - e a tal ponto que na educação dos alemães passou a incluir-se com paixão o conhecimento do latim e do grego, que levou estudiosos e académicos alemães a serem dos primeiros a estudar, a escavar e a interpretar as civilizações mediterrânicas.

Quando Catarina a Grande chamou Diderot e  Rousseau  para São Petersburgo só ela e uma pequena elite ilustrada tiraram algum proveito do contacto com esses enciclopedistas; as suas bibliotecas continuam no Palácio do Hermitage. Mas não chegou nada ao povo russo e aos  povos vizinhos. Quando os sovietes  implantaram o comunismo, os camponeses ainda  eram servos da gleba, medievais, sem direitos nem propriedade fosse do que fosse, eram eles mesmos pertença dos latifundiários que dominavam as sociedades russas e vizinhas - como hoje quem domina, saídos do comunismo, são os oligarcas que  de que ouve tanto falar agora....

O que está em jogo nesta  invasão da Ucrânia pelo psicopata Putin é essencialmente uma reacção de terror, de temor, que as ideias ocidentais de democracia, de liberdade, de vida em regime de Estado Social de Direito que eles apelidam  de burguês ( mas vida que os oligarcas praticam entre si...) se propagassem pela imensa população russa que nunca conheceu a liberdade como nós a conhecemos, essa é que é a grande questão. O objectivo imperialista de Putin e dos seus oligarcas é reconstituir o seu império, já não como marxista leninista mas como, dizem eles, nacionalista russo, continuação da Santa Mãe Russa que os ilumina porque ilumina os poderosos e estes instilam nos milhões de seres humanos  que não podem  ter  outra voz.  Quando algum tem a veleidade de se dedicar a lutar pela democracia.,. perguntem ao Navalny o que acontece...

Mas nesta guerra suja imposta por Putin à Ucrânia, o que se percebe é que Putin foi enganado pelos que  rodeiam: como a invasão da Crimeia quase não levantou senão protestos de circunstância, devem-no ter convencido que com o resto da Ucrânia seria o  mesmo. Mau estratega. Mas lembremos que a Crimeia foi sempre russa, até que um dos manda-chuvas soviéticos  ( talvez Krutchev, não recordo bem) ofereceu aquela região à Ucrânia. As "amplas liberdades do povo e dos trabalhadores" dava para isso, para oferecer parte dum país a outro pais em nome da solidariedade internacionalista.

Ora os nossos comunistas, pelo menos os seus  manda-chuvas e alguns  intelectuais envergonhados de esquerda, como aquela cronista Carmo Afonso no Publico, fazem  um contorcionismo impressionante com as palavras para não condenarem os russos e atiram sempre as culpas para os dois lados, mesmo que um seja invasor e o outro invadido, repisando as guerras imperialistas dos EUA ao longo dos tempos; claro que não citam idênticas guerras feitas pelos russos - só para lembrar algumas, a invasão do Afeganistão para impor o comunismo, que incendiou aquele país até hoje,  e de onde fugiram com o rabinho entre as pernas, as carnificinas feitas na Chechénia, na Geórgia  e na Síria (onde aqui impuseram a paz...). Ler uma crónica da referida cronista e ouvir, na mesma semana, a entrevista radiofónica do Jerónimo de Sousa, pareciam  episódios da mesma cena, o mesmo impulso de dar a volta às palavras.

O tipo de guerra que os russos estão a fazer é uma guerra suja e covarde- não têm coragem para enfrentar no terreno os ucranianos porque perdem sempre e então bombardeiam de longe e destroem centrais eléctricas, escolas, edifícios de habitação e abastecimentos de água- acham sinceramente que o Hitler faria melhor?

Do lado de Zelensky nem tudo é limpo, mas o que "eles" não  perdoam foi a revolução de 2014 em que correram com o governo pró-comunista e pró russo. Inviabilizaram  depois alguns Partidos, incluindo o comunista ? E na Rússia quantos partidos de oposição existem? Mas o uso e abuso dos argumentos a favor do nuclear começa a ser preocupante, porque se Putin é psicopata e capaz de tudo, também Zelensky - se não for travado pelos líderes  mundiais moderados- pode querer, como já deu a  entender, antecipar-se.

O mundo está numa espiral de loucura colectiva e nunca as nossas democracias estiveram tão em risco. Dizemos  democracias ocidentais, mas elas existem também no Oriente, como Coreia do Sul, Japão, Austrália, Nova Zelândia...  No ocidente, por exemplo na América Latina, a prática democrática dá regularmente lugar a autocracias terríveis- mas até os EUA estão ameaçados por um Trump e quase metade da população que vota nele.

 Que tempos nós vivemos!! Sabemos que a noção de "ocidental" e "oriental" é europeísta, mas penso que a Europa sempre teve esse papel definidor; não se trata de maior ou menor cultura trata-se efectivamente de um domínio civilizacional que levou os europeus pelo mundo fora.

Apesar das dificuldades que hoje se atravessam eu continuo a pensar no papel de evidência cultural que a Europa desempenha no mundo - e passadas que sejam as crises de "velhice", continuará a desempenhar. Mesmo com esta guerra suja que está a afectar todo o mundo com fome e pobreza. sobretudo os países mais vulneráveis - agradeçam isso à democracia russa.  Não se pode é ficar indiferente e não tomar posição, mesmo sabendo das faltas do lado de cá.

Imagine-se agora se esta situação  dos russos contra ucranianos acontecia durante a gerigonça do António Costa - que sorte este tem tido sempre, hem?

Conclusão: os nossos regimes de democracia liberal ( que não significa de liberalismo) são os mais apurados regimes que os seres humanos já criaram para equilibrar a harmonia e a paz entre ricos e pobres, entre patrões e trabalhadores - desde que exista  uma regulação honesta das leis do mercado. Será que a Carmo Afonso, e os outros intelectuais de esquerda envergonhada que podem escrever e falar o que lhes apetecer e irem dormir tranquilos para casa, preferiam o regime "democrático" do Putin e a sua "voz do dono " como lei??Será que a paz e o fim ao armamento que estão sempre a apelar quer dizer outra coisa senão que devemos deixar de dar armas à Ucrânia para a Rússia a esmagar e assim termos paz - é esse o entendimento? Então que o digam sem contorcer as palavras e nós ficarmos todos esclarecidos. E a vergonha do exército russo, um dos mais poderosos do mundo,  a ser derrotado ruidosamente há mais de 6 meses, não lhes diz nada sobre o quão podre está aquele regime? Coitados...