domingo, 26 de fevereiro de 2023

 

Frustração e ética na vida pública

É inevitável revisitar estes temas, perante a geral apatia que eles geram na opinião pública. Já vimos a CAP e a CNA manifestarem-se contra a situação da agricultura, sabemos que algumas ONG tem tomado posição face à situação do Ambiente. Mas se houvesse um décimo da garra dos professores ou do pessoal da saúde, os sectores fundamentais que garantem o futuro estariam na ordem do dia – e não estão.

Pouca gente parece preocupar-se com os aspectos que têm a ver com políticas de médio e longo prazo que visam a sustentabilidade e a perenidade do território enquanto espaço biofísico. Sei que sou uma voz quase isolada…

Tenho perfeita consciência de que os novos "iluminados" definem aqueles que defendem posições como as minhas como ultrapassados, porque - embora as noções básicas de que falo sejam resultado de largo consenso internacional ao longo de muitas décadas - pensam agora que descobriram o segredo do fabrico da pólvora ( e os interesses que, no fundo, estão a servir).

Por um lado a fragmentação do sector primário terrestre (veremos o que sucederá com o mar), separando os sectores agrícola e florestal e esquecendo (propositadamente, como estratégia bem definida e que sabemos a quem aproveita ) que o sector deve ser - é - agro-florestal e dessa forma desprezando as críticas e pareceres que ao longo do tempo têm vindo  a lume de técnicos e de associações de produtores "agro-florestais"; por outro lado o  desmantelar da Política de Ambiente que surgiu em Portugal com o Abril de 74 ( e já com atraso face aos países mais avançados), voltando a manter a Conservação da Natureza (CN) presa às florestas como era há 50 anos atrás. Mas pior ainda -e isto também não foi por ignorância, antes com um fim preconcebido - retirando do Ambiente o Ordenamento do Território (OT) - brada aos céus e, volto a insistir, não tem havido. como se poderia esperar, uma viva reacção enérgica de ambientalistas e suas organizações e muito menos da população para quem estes assuntos passam ao lado.

A grande inovação das preocupações ambientais criadas em Portugal com o regime democrático, acompanhando os movimentos de pensamento mais proeminentes internacionalmente, foi ter lançado como  dois pilares da defesa e gestão do Ambiente a CN e o OT, que estiveram na base dos instrumentos legais fundacionais da Política de Ambiente como são a REN, a RAN, os PDM, os PROT e a Rede Nacional de Áreas Protegidas- e mal de aguentaram até hoje. Já no Governo de Durão Barroso houve uma tentativa de dois Secretários de Estado para promoverem esta manobra, anulada então pelo Ministro Eng. Amílcar Teias. Demorou, mas tudo começou a ficar de rastos nas últimas governações e agora culminou neste desastre institucional.

O primeiro ministro António Costa poderá ser um grande estratega político e capaz de enfrentar situações graves momento a momento, nomeadamente na Europa, mas tem sido responsável por uma confusão insuportável de falta de ética com a sua maioria absoluta e. pior, não tem revelado sensibilidade nem conhecimento, profundo e sustentado, para se libertar de interesses de mercado incompatíveis com uma esquerda democrática e assumir perspectivas e medidas de médio e longo prazo para o território - e isso é grave porque se ignora que estamos sob ameaças climáticas nas nossas condições mediterrânicas.

Fica a frustração!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

 Um ano

"Festeja-se "  por alguns lados, o primeiro aniversário da guerra que Putin desencadeou na Ucrânia. Para os que apoiam um ditador e megalómano, como todos os ditadores, pretendente a ser um novo czar e restaurador do  saudoso Império soviético, os culpados foram os EUA, a NATO e a EU, por terem dado força ao desrespeito pelos acordos de Minsk. Claro que estes têm culpas no processo, mas quem é que invade e quem foi invadido? Não é que aqueles não tenham culpas no cartório, sabemos bem que houve provocações mas as provocações não se resolvem com uma guerra, a não ser que haja  outros propósitos ... O fundo da questão é outro...´

 E lá vem a História contada por historiadores "credíveis" como o Manuel Loff, Escreveu ele  no Publico, que um ciclo foi aberto com a invasão americana do Afeganistão e do Iraque; esqueceu-se dizer que enquanto muitos de nós, como eu e milhares de europeus democratas, simplesmente democratas, protestaram sempre na rua contra os desmandos dos EUA, no Vietnam, no Iraque, no Afeganistão, etc,  nunca fomos mobilizados para protestar contra idênticas façanhas prosseguidas pela URSS de saudosa memória.

 Por exemplo que quem desestabilizou o Afeganistão - que era um país de seculares lutas tribais mas não passava daí e que por fim tinham encontrado um rei aceite por todas as tribos - foi a URSS,  que invadiu aquele país para apoiar um pequeno  partido comunista e instalar lá a sua maravilhosa democracia popular, desencadeando a fúria de todas as tribos - e nasceram os talibã. Acabaram por sair de lá com o rabo entre as pernas e nunca conseguiram incluir o Afeganistão nos países que compunham o seu império e onde hoje lavra uma raiva surda contra os russos ( eu estive no Uzbequistão e falei com as pessoas...). Depois vieram os americanos que são pouco dados à História e pouco clarividentes e foram para lá implantar o seu capitalismo espúrio- e fizeram a asneira que já tinham feito no Vietname.

Mas voltemos ao acordo de Minsk. Em 2013 houve na Ucrânia, em Kiev,   a "euromaidan", a revolução contra os pro -russos do Governo e que tinham recusado estabelecer um acordo com a UE. O Parlamento de então, que se julgava fosse fiel ao Presidente, afinal queria a adesão à Europa ( oh! escândalo, trocar a Rússia pela UE !!) e destituiu  o dito Presidente.

A Crimeia  foi anexada â Ucrânia pelo Krustchev ( imperdoável atitude da sacrossanta URSS) e voltou a ser confirmada no tempo de Ieltsin. Em 2014 uma parte dos russófonos da Crimeia instigados por Putin revoltaram-se, tomaram o Poder e proclamaram um referendo que naquelas condições já se sabia o que iria dar. Porque realizado em tempo de paz mesmo muitos dos russófonos prefeririam continuar ucranianos embora com autonomia o que era razoável. E em meados de Março Putin promulgou por diploma a anexação da Crimeia ou, como ele diz, a libertação da Crimeia face aos nazis ucranianos. Claro que a Ucrânia fez guerra, tentou travar a anexação, mas aqui é que a História começa  ser contada às avessas.

Como a Europa e o Ocidente em geral  ficaram calados perante a anexação da Crimeia, foi aqui que Putin deu prova da sua mediocridade - pensou que agora voltar á Ucrânia seria um passeio de quinze dias. Claro que todas as democracias têm que ajudar os ucranianos, um país invadido tem o direito absoluto, tem até o dever, de pedir o auxílio seja a quem for,

Na Assembleia Geral da ONU 100 países votaram contra a Rússia, 5 votaram a favor e os restante  cerca de 50, abstiveram-se. Claro que para Putin nada disto interessa, ele já deixou bem claro por diversas vezes, que o seu objectivo é recuperar o império da URSS - e é aqui que os comunistas embandeiram em arco e batem palmas. Querem lá saber que o povo ucraniano tenha sido invadido, eles querem é rever a saudosa URSS, mesmo que o comunismo não volte a ser lá implantado, antes um capitalismo desnaturado liderado por oligarcas ( Putin é um dos homens mais ricos do mundo) formados no tempo soviético e que nunca mais deixarão que o comunismo voltasse.

O que Putin faz é servir-se da pouca cultura da maioria do seu povo, servir-se da falta de consciência do que é a liberdade - um povo que foi sempre tratado como servos da gleba, que nunca conheceu a liberdade "burguesa" onde os comunas  afinal gostam de viver.

O terror de Putin é ver-se rodeado por países que escaparam ao seu controle, quando a URSS se desmembrou ( uma tragédia, diz ele  )e que querem cultivar a liberdade e a democracia, mesmo que esta seja ainda uma "aproximação", estejamos disso conscientes, como na Ucrânia, ou como na Hungria, na Polónia... O que marca esses países  ( e os do Cáucaso e das antigas republicas asiáticas)  é verem-se livres da pata russa, que sempre os oprimiu. E Putin sabe que sem esses países todos submetidos, a Rússia é grande mas nunca será aquilo que já foi. Se Putin esmagasse agora a Ucrânia que não restem dúvidas que a seguir iria acabar as tragédias que provocou na Chechénia, na Geórgia, vai querer a Moldávia e depois se verá o que mais. Onde não volta com certeza é ao  Afeganistão...

Hei-de continuar a pesquisar informações sobre esta tragédia de uma guerra na Europa em pleno seculo XXI, com o gáudio mal disfarçado de alguns portugueses que vivem em democracia ( que gozam e exploram) mas que  queriam viver noutra coisa... Eu fui um dos apoiantes  da geringonça que incluía o PCP e trazia um sopro de esquerda ao governo do PS - ainda bem que foi antes desta guerra!...

Viver em democracia é exigente demais para fanáticos do poder como Putin que diz combater o nazismo, não faz afinal coisa muito diferente. As atrocidades que os seus militares têm cometido  na Ucrânia nem as SS do Hitler as fizeram tão descaradamente e sem sequer um pouco de piedade.















 Um Governo sem emenda

Não passa uma semana sem que surjam tiques de arrogância  e protagonismo bacoco  de governantes, para além das pouca-vergonhas de falta de ética. Quando eu fui um dos que contestei a valia democrática da maioria absoluta de um  só partido  houve quem dissesse que não, o PS é um dos fundadores da democracia, o  que é verdade, e não iria comprometer o seu prestígio. o que quer dizer é que esses ignoram, talvez de boa fé, o clientelismo e o sentido de rebanho ( pior que o sentido de "família...) que o PS tem demonstrado, para meu enorme desagrado porque é  no âmbito da social democracia que eu me sinto.

Agora foi João Cravinho, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, pelos vistos useiro e vezeiro em gafes de protagonismo, se não for outra coisa... Vem então anunciar que o Lula da Silva vai discursar no dia 25 de Abril no Parlamento - custa a acreditar que ele tenha tomado essa atitude sem primeiro ter falado com António Costa, e se o fez deixou ficar mal o primeiro-ministro que, a ter concordado, está a perder qualidades e a demonstrar o tal ímpeto de  dominar tudo quanto é Estado. Se foi de ímpeto próprio do Cravinho então é mais uma para o seu currículo de asneiras, e  A. Costa não lhe diz "porque não  te calas!".

Então o Governo agora é que diz ao Parlamento como é que vai decorrer a sessão comemorativa do 25 de Abril? Que falta de respeito é esta por um órgão de soberania que, ao contrário do Governo, representa todos os portugueses  a bem e a mal?





segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

 Vergonha 

Impus-me, enquanto conduzia o carro, a ouvir na rádio depoimentos sobre os abusos sexuais de padres sobre jovens, ao longo de décadas. E digo impus-me porque o assunto é por demais revoltante, sabendo que a Igreja, só pela muita pressão da sociedade civil e por ter agora um Papa de excepção,  acabou por denunciar aquilo que sabia, aquilo que sempre soube, sem nunca resolver a maior vergonha que uma instituição como aquela podia ter dentro de si.

Mas acabei por desligar, dava vómito ouvir aquelas declarações de rapazes, hoje homens adultos, que transmitem uma angústia sem limites; e fala-se pouco das raparigas, quando se suspeita que sempre houve assédio sexual de padres a meninas que calavam por vergonha e as famílias também. Foi preciso o escândalo dos rapazes para se falar das raparigas, e haverá muito ainda a descobrir aqui, não tenho dúvida.

sábado, 11 de fevereiro de 2023

O discurso de Lula no encontro com Biden revela um cinismo que esconde a verdadeira posição que ele assume no conflito da Ucrânia. Então diz que não fornece armas aos ucranianos porque isso não contribui para a obtenção da paz- qual paz? Um país, a Rússia, invade outro país, a Ucrânia, por motivo de provocações dos contactos entre este e os EUA e a União Europeia, e em vez de propor conversar, invade; e agora não fornecer armas à Ucrânia quer dizer que ela perderá a guerra, a Rússia completará a destruição e a invasão e por isso... virá a paz. Porque não diz logo que o que pretende é que a Rússia ganhe a guerra? Não tem coragem para assumir essa posição? Quer estar de bem com Putin e com Biden e com os europeus e os países democráticos? Diga-o, sem cinismo. Não se pode estar com um pé em cada lado, há gente de todas as cores (como o Miguel Sousa Tavares) que me deixa atónito. Não gostam do Zelensky porque acabou com o domínio russo no país, porque inviabilizou alguns partidos como o partido comunista que era pró-russo, porque efectivamente teve práticas pouco democráticas nos primeiros tempos da sua governação ( não custa a aceitar, claro que fez isso) e porque é apenas um comediante de televisão, já ouvi esta, quer dizer, um tipo sem preparação para a figura que agora desempenha, não aceitam que ele foi capaz, talvez fazendo uso da sua prática de actor, de mobilizar o seu povo e de o manter neste caminho duro da independência. Há uma maneira decente de acabar a guerra e haver negociações: o país invasor retira as tropas e deixa de bombardear, e senta-se à mesa para converar. Mas isso era se Putim apenas quisesse calar a Ucrânia - ele já o disse, ele quer reconstruir a área de influência e de domínio da "saudosa" URSS. Depois da Ucrânia seguem-se os outros paises que tiveram a ousadia de quererem ser indepndentes, vejam lá !! Como é que isto é encoberto pelos que negam auxílio aos ucranianos, a não ser por cinismo? Querm um imperialismo oriental que se oponha ao imperialismo americano e estão sempre a enxovalhar a Europa por "estar a perder a sua perspnalidade ao subnmeter-se aos EUA". Aliada não é submissa, é concordância de pensamento. Também há na UE muita coisa que eu não gosto e me custa a calar, e se quiser falar, falo sem ser preso... Esta democracia neo-libertal não me agrada e denuncio-a - e bato-me por mudança. Castela sempre quis ter o domínio do seu espaço peninsular, conseguiu travar os catalães e os bascos e leva há séculos a tentar o mesmo com os portugueses; a última vez foi nos anos 40 quando Franco ganhou a guerra civil e esperava que de Hiter viesse o apoio para ocupar toda a Peninsula, o que com a derrota nazi não ocorreu. Conheci quem viveu esses tempos em Madrid. ENTÂO, se agora Castela retomasse o seu sonho de grandeza e invadisse Portugal, este não tinha o direto de recorrer a todos os seus aliados para o ajudarem a garantir a independência? Há assim uma diferença muito grande com o que ocorre na Ucrânia? Essa treta de que russos e ucranianos são o mesmo povo, ( os ucraniamos estão a demonstrar o contrário) é o mesmo argumento de Hitler para ter invadido todos os países germanófonos - ou também não se compara ? Sou ferozmente pela democracia total mas responsável- se o imperialismo americano me deixa ter essa liberdade e me deixa até falar contra ele sem represálias, não tenho outra escolha a fazer se do outro lado está um imperialismno que mata, envenena, assassina os adversários e que impede a liberdade de expressáo, etc etc

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

 Menos um...

Não tenho andado virado para esta escrita, com vários afazeres... mas agora vou aqui deixar  para memória futura. Morreu o Luís Moreira, mais ou  menos da minha idade, velho arquitecto e folião .

Conhecemo-nos na Madeira nos anos 60 do século XX; fizemos parte de uma equipa magnifica chefiada pelo Arq.º José Rafael Botelho e de que faziam parte entre outros, o Gomes Ferreira e o Keil do Amaral. Eu era o paisagista  de serviço...

Realizámos o primeiro PDM que se produziu em Portugal, muito antes de o GRTelles os ter colocado em lei em 1983 - o Plano Director do Funchal, entre 1968 e 1969.

Da equipa o Gois Ferreira morreu há muitos anos,  engº ( não me lembro do nome mas estou a ver a cara dele) também, o Pitum está bastante doente, agora o Luís foi-se - é menos um do meu tempo...Ah! O Rafael Botelho, grande senhor da arquitectura,  está com 100 anos, ainda vivo, mas cego e falando com ele ao telefone  há uns meses atrás pediu-me para eu não o visitar, queria ter a recordação de mim como eu era e falando comigo tinha essa lembrança.

O meu "universo" vai-se reduzindo...