sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

 A espuma dos dias...

Anticolonialismo disparatado

Estamos a entrar numa espiral de falta de bom senso e de razoabilidade, e eu não frequento sequer ( a não ser quando me mandam alguns excertos) as chamadas redes sociais, falo só do que se passa na comunicação social  escrita e áudio visual e já basta. Não vou alargar muito a conversa sobre  este assunto, mas revelar dois disparates para mim  de igual gravidade. Um vem pedir que se destrua o Padrão dos Descobrimentos ( porque não os Jerónimos?), como se fosse uma estátua do Salazar ou do Hitler. Outro ( ou outra) vem dizer que o Império Colonial não era salazarista, o tal de Santa Comba Dão recebeu-o da História  - pois aí é que está a questão, numa época em que todos os países colonialistas estavam a dar a independência às colónias e depois de Portugal ter sido pioneiro ao a fazê-lo com o Brasil,  ficámos orgulhosamente sós a manter as colónias baptizadas de províncias ultramarinas,  para a ONU ver, e mandaram milhares dos nossos rapazes morrer por esse recuo anacrónico  da História.

Ainda a floresta e a política florestal -   Já cansa escrever sempre sobre estas matérias, pois o descalabro a que se assiste parece que não mexe com os políticos, decisores e até tantos  técnicos competentes que deveriam dar a cara.  O que mais choca na actuação e programação governamentais é que tudo se prepara com medidas de curto prazo e "efeito vistoso" de imagem pública, mas não se prepara o País para aquelas medidas estruturantes e de longo prazo que, no sector primário,  garantam a sustentabilidade do espaço nacional. Agricultura e florestas são um vazio  inquietante.

De vez em quando sai uma opinião, de longe em longe, de alguém que, como eu, sofre com esta penúria e descrédito, mas de nada serve.

Agora é o Presidente da CAP que vem escrever e marcar lugar na fila dos que esperam os milhões da UE,  mas diz algumas verdades que os políticos continuam a não ouvir. " Medidas decididas nos gabinetes dos corredores do poder em Lisboa não têm servido o país rural ", Pois não,  a política florestal devia ser concertada com e pelos técnicos regionais que administravam o património florestal, mas desapareceram. E acrescenta a dada altura : " A recente dispersão governamental da tutela sobre a floresta, a falta de visão de conjunto, o desconhecimento técnico e de terreno, a degradação do VAB da silvicultura, uma execução medíocre de apenas 55% do Programa de Desenvolvimento Rural das Florestas ( então como é que se arranjam os superavits orçamentais, pergunto eu ?) onde estão os apoios ao investimento florestal, são aspectos muito negativos que se somam ao desastre de mais de 855 mil hectares de superfícies rurais ardidas desde 2015...",

Só faltou  dizer o que, para muitos de nós é a causa primeira do caos actual - enquanto não se implantar uma Autoridade Florestal Nacional (AFN) como eram os Serviços Florestais (SF) (corrigindo os defeitos que eles tinham em vez de os ter extinguido) não haverá uma  solução eficaz para a defesa e a gestão das áreas florestais.

Perdeu-se realmente a visão de conjunto, mas não foi senão por submissão a interesses bem conhecido e fazendo uso duma também reconhecida e assumida ignorância. Desde o tempo dos "atrasados" romanos ( cá volto eu à cartilha) que o ordenamento do espaço rural se fazia através do ager, saltus e silva, mas é claro que os iluminados de agora foram incapazes de perceber que o agros deve ser pensado em conjunto - daí  inventaram um ICNF e com uma cajadada mataram dois coelhos" :  menorizaram a Política de Ambiente e condenaram a Política Florestal ao caos, o que a esses iluminados desta conjuntura nada incomoda, haja incêndios ou não, haja falta dos investimentos florestais ( que dão poucos votos), deixe-se de arborizar ao ritmo que o país devia exigir se tivéssemos uma cidadania que se interessasse por isso...

Assim, num rápido apanhado, vou deixar aqui uma quantidade de "entidades" que não se sabe bem se ainda existem todas, mas certamente que ainda haverá mais: Comissão de Acompanhamento das Operações Florestais, Dispositivo Integral de Prevenção Estrutural (DIPE), Unidade de Coordenação e PlaneamentoGrupo de Analistas e Utilizadores do Fogo, Grupo de Gestores do Fogo Técnico, Fundo Florestal Permanente, Rede de Salvaguarda do Território Florestal, Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais, Estratégia Nacional das Florestas 20-30, Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 20-30... e sabe-se lá quantas mais destas entidades andam por aí.

Tudo  isto e muito mais  porque foi desmantelada a quadrícula de Administradores Florestais, que aplicavam regionalmente as orientações duma Política Nacional para as áreas florestais publicas e privadas e a rede de postos e casas de guardas florestais, que hoje teria de ser revista mas que é ( não era, é!) fundamental para assegurar o uso de boas práticas florestais e a vigilância ao longo de todo o ano  e sob a orientação não dos graduados da GNR mas de engenheiros silvicultores competentes, que os há. E estes qualquer dia deixam de ser necessários, o MAI  resolve tudo,  como temos vindo a observar...

Mas o Presidente da CAP ainda comenta que " o eucalipto, essa árvore "maldita"  que tanta riqueza traz à nossa  economia ( e o reverso da medalha, pergunto eu ?) continua proscrito por motivos ideológicos, a que agora se pretende juntar o pinheiro bravo com o apelido de "monocultura". Os motivos ideológicos no século XXI chamam-se Ecologia, e infelizmente apesar de termos na Assembleia da Republica Partidos que se arrogam dessa ideologia, nada se vê sair deles de concreto. Agricultura sem matas, sem matos  e sem pastagens, ordenadas em conjunto, é contra-senso que só cabe  na fraca capacidade de muitos dos que nos governam.

O eucalipto está cá, mas tem que ser integrado  num ordenamento florestal com base científica que  deveria ser promovido por uma AFN - talvez, quem sabe (...),  o desmantelamento dos SF tenha afinal a ver com os entraves que colocavam à livre expansão do eucalipto que, por vontade da industria da celulose,  tornaria Portugal num imenso e formoso eucaliptal !

Um rasto de politica interna... -  Os Partidos em Portugal andam confusos e baralhados e sacrificam alguns dos seus melhores. Não tenho nada a ver com o PSD mas acho que tem sido, desde a sua fundação, um suporte da direita democrática; mas hoje está em palpos de aranha e a queimar cartuchos. O Engº Carlos Moedas é atirado para as chamas como candidato à Câmara Municipal de Lisboa - ou acontece um terramoto político na capital para ele ganhar ou ele vai perder, e embora possa estar a marcar terreno para futuros voos, penso que é pena ver queimar assim alguém com mérito e decência já demonstrados na Europa. Enfim, malhas que a politiquice tece...

O estado de emergência Por toda a Europa, para falar só no que mais nos interessa directamente, o confinamento tem sido a grande arma de defesa contra a expansão da pandemia. Sem margem para dúvidas. 

Mas para aplicar medidas restritivas das liberdades de cidadania de que todos nos orgulhamos e queremos manter, é necessário que o Governo -  qualquer Governo - tenha competência  legal  para as aplicar.  Se fossem determinadas medidas restritivas sem apoio legal adequado, era certo e sabido que caíam queixas nos tribunais para as combater. A maioria dos portugueses deve perceber isto, por muito cansados que estejam todos de não se poderem movimentar nem fazer a vida livre que sempre fizeram - mas há Partidos que não o compreendem, e já não só os "aconchegados",  Os comunistas e os liberais votam contra o estado de emergência - queriam tudo a funcionar, inventam as balelas de que querem o planeamento do que vai acontecer mesmo sem se saber mo que vai acontecer - e se não é por estupidez é por manhozisse... Os comunistas têm medo de quê.  que se implantem as "amplas liberdades" das suas democracias populares ? Para pedir  mais apoios sociais aos desfavorecidos não é necessário negar a imperiosidade do confinamento. E os liberais libertinos querem o quê? Que se infectem cada vez mais pessoas, afinal querem que o Estado que tem que ser o mais pequeno possível  seja suficientemente forte para pagar a todos os apoios,  aos desempregados, aos infectados? Para sem estado de emergência puderem activar acções em tribunal contra o Governo que  eles combatem ? Hipocrisia dos dois lados do espectro ideológico, hen?







quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

 A pandemia e o resto

A situação criada pela crise da pandemia em Portugal, não  sei se terá as mesmas consequências nos outros países, certamente umas sim, outras não, pois as nossas idiossincrasias são só nossas. 

Fala-se muito no desgoverno do nosso Governo  na condução das medidas contra a peste que nos caiu em cima, mas para mim  - neste aspecto - trata-se mais de politiquice e vontade exacerbada de protagonismo do que verdadeira razão para essas tomadas de posição. O mal do País e do Governo é outro.  Criticar depois das medidas tomadas é fácil, e acho  que já referi noutra altura,  o curioso é os críticos, mesmo os especialistas que saltam para as pantalhas todos os dias no seu minuto de fama ( e agora está mais calado mas chegava a ser insuportável de politiquice e arrogância o Bastonário dos médicos, só suplantado pela sua homóloga dos enfermeiros) se vissem aplicadas as medidas que preconizam  teriam de se confrontar com as críticas dos outros especialistas que hoje são criticados.

Claro que o Governo tem tido falhas, por vezes planeamento errado -  mas veja-se como em todos os países tem andado  tudo à nora; de uma semana para a outra os próprios organismos da UE que orientam a política geral de saúde, alteram posições.  Países que estavam muito melhor que nós de uma semana para a outra pioram drasticamente. Queria ver quem se comportaria melhor no lugar da Ministra  da Saúde, goste-se ou não do seu estilo, mas há  um ano incessantemente,  dia após dia, com carga de trabalho  de fazer cair qualquer fortalhaço, a defender o SNSaúde que, apesar de ser anunciado todos os dias pelos críticos e pelos pivots das televisões que vai rebentar,  afinal esteve sempre muito sobrecarregado e  perto dos limites, sem dúvida, mas aguentou. Quem mais fala contra é quem defende o serviço privado, despudoradamente -  se o Governo tivesse feito a requisição civil  (em tempo de guerra é o que se faz), teria posto os privados a funcionarem não para o lucro mas para o bem geral de todos. Aqui d´El Rei que vem aí o  comunismo, pois...

Piores que os críticos têm sido os noticiários televisivos e as páginas inteiras, quase cadernos,  dos jornais a dissecarem cada detalhe das coisas que correm mal; ainda me recordo  de em Março do ano passado o pivot da RTP proclamar em alta voz e de braços a abertos como se estivesse a anunciar um facto fantástico :  "chegou a Portugal!!"- chegou o quê ou quem? Era o primeiro caso da pandemia. Puxa, para este jornalismo. 

Uma das coisas mais preocupantes é o mau exemplo governativo  que indica por um lado desnorte e por outro arrogância, clientelismo e o pior exemplo que uma esquerda democrática poderia dar.

António Costa tem a sorte de a direita estar desmantelada, mas em vez de organizar o país em termos de modernidade e estabilidade, vai dando tiros nos pés que só facilitam a vida em especial à  extrema direita, aos populismos e a todos os oportunistas que se servem de cada lacuna ou asneira para pontuar.

Quando era preciso um governo coeso e funcional, pouco despesista, com peritos nas diversas disciplinas, temos um governo em que ao saco de gatos que é hoje o PS,  ele deu uma posta a cada gato. Um Governo com  19 ministros, com nomes pomposos e confusos, Economia e Transição Digital ( não bastava uma direcção geral para essa última tarefa?); Modernização do Estado e Administração Publica (metade do nome chegava);Ambiente e Acção Climática ( entregue a um "cão fiel" que trata de tanta coisa, incluindo exploração mineira e energia e tudo o mais, menos duma política de ambiente a sério); Coesão Territorial embora haja um de Planeamento que deveria tratar do mesmo; Agricultura sem as florestas ( mas que promove os pomares de abacateiro no Algarve, pouco importa se há água ou não...); E depois vem uns 50 Secretários de Estado, com atribuições outra vez pomposas ; Comércio e Defesa do Consumidor ( que esteve anos, e bem, no Ambiente); Transição Digital; Internacionalização: Cidadania e Igualdade;  Recursos Humanos e Antigos Combatentes ( uma mão cheia de trabalho!); Descentralização e Administração Pública ( a UE tem uma média de 17% de trabalhadores públicos, nós com Governos "de esquerda" andamos pelos 13%, os liberais clamam que é de mais e o PS agacha-se);  Cinema, Audiovisual e Média  (eu até gostava do rapaz na Tv, mas tem sido um avanço espantoso nestes domínios...); Acção Social, além da Ministra, coitada com trabalho a mais; Conservação da Natureza, Florestas e Ordenamento do Território, a caldeirada que deixa as Áreas Protegidas a morrerem por asfixia e o caos na política florestal e nos incêndios rurais sempre que estes irrompem cm força; Mobilidade ( deve tratar das cadeiras de rodas, das ciclovias, tudo muito a sério); Desenvolvimento Regional, devia bastar mas não, sozinho não vai lá; aparece o da Valorização do Interior- temos visto como o interior progride, toda a gente se sente atraída por aquilo que o "interior" oferece, pasme-se; mas para que nada falte ainda há outro, da Agricultura e Desenvolvimento Rural, cá está - a Ministra tem tanto trabalho, coitada, que precisa de quem promova o desenvolvimento rural, a par de, noutros Ministérios, haver quem trate da coesão territorial, do desenvolvimento regional e  da valorização do interior.

Com escândalos institucionais que, é agora moda, se não são ilegais face à legislação,  passam mesmo que sejam imorais, é a pior contribuição que um Governo que se diz de esquerda pode dar ao país. As nomeações abusivas em termos éticos para o Tribunal de Contas, a passagem do Ministro das Finanças para o Banco de Portugal, as poucas vergonhas  na Administração Interna, incluindo um crime sobre um estrangeiro perpetrado por agentes oficiais em instalações publicas( e vão acabar por provar que o homem era epiléptico ou coisa parecida e morreu de susto), a nomeação sem necessidade das aldrabices para a Procuradoria Europeia, os açambarcamentos de lugares  por gente apenas da cor que interessa, sem concursos credíveis, etc. etc.

O pior é que uma alternativa de direita democrática não está no horizonte, eu creio ter sido dos primeiros aqui há mais de um ano, a prever que se a direita vier ao Poder, agora aconchegada no sinistro Chega, não é com Rui Rio e o que restar dos social democratas, não pensem nisso - na box de partida está o "eminente e clarividente"  troykista Passos Coelho, com os seus relvistas  e aquela malta  que só tem teoria liberal da cartilha e o que quer é abrir tudo ao privado seja de que forma for. Não pensem que é invocando Sá Carneio que iludem  as pessoas com algum conhecimento ( mas não há muitas...), e esquecem que o infeliz ex líder do PPD quis inscrever o partido na Internacional...Socialista.

A esquerda soma a maioria dos votos em Portugal -por enquanto. Se PCP e BE (que eu não gostaria de  ver num Governo mas podem ajudar a manter) quiserem contribuir para não se repetir a cena que trouxe a troyka para cá,  que façam das tripas coração e proponham  uma aliança com  PS em termos estáveis e fidedignos; mas para isso é preciso que António Costa, que deve sair rebentado, é bom reconhecer isso depois destes dois anos de pandemia e de Presidência da UE,  ponha o interesse do País e da esquerda democrática acima de da sua agenda pessoal -  embora tenha direito a ela.   Mas com o panorama das democracias europeias e um pouco por todo  mundo, felizmente com a mudança dos EUA do anormal Trump para Biden,  (única excepção válida)  se as populações mais informadas e actuantes não reconhecerem a causa deste caos devido ao neoliberalismo, que é apenas e sempre o velho liberalismo,  podemos ver repetir a História -isto fica para outro dia..

A pouca vergonha das vacinas

Começa a ser  demasiado evidente a pouca vergonha das grandes empresas fabricantes de vacinas e a forma desonesta como negociaram o seu fabrico e a sua  distribuição. Segundo se noticiava há dias a própria ONU declarava que só  10 países mais ricos  adquiriram a  maior parte das vacinas produzidas  - é assim que funciona o mercado desregulado que é o orgulho dos liberalistas que usurpam a designação de liberais - repito liberais somos todos nós que não queremos nem fascismos nem comunismos. E também se revela como a própria UE, que tanto se afirma com políticas de direita liberal,  afinal está a ser enganada : contrata com as empresas o fornecimento das quantidades necessárias do medicamento e como elas vendem a quem pagar mais caro, claro que venderam aos países que pagam melhor. Vêm depois com a descabelada desculpa de problemas na fabricação ...mas  cheira a burla.





segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

 Não  era preciso ser bruxo...

Cada um pensa o que quer e manifesta como quer, já proclamava  Espinosa  no século XVII. E se mais cidadãos interviessem nas coisas da res publica e trocassem opiniões, sem estarem à espera dos especialistas encartados, a sociedade seria mais viva e possivelmente mais justa. Mesmo incorrendo em erros, desde que se tenham dois dedos de informação e de cultura geral, pode-se contribuir para a vontade geral de que também  há séculos falava Rousseau - e pronto, só nestas linhas  duas manifestações de intelectualite ...

Em Maio de 2017 escrevi a seguinte crónica que acabei por não enviar para publicação, mas acho que o que pensava naquela altura veio a confirmar-se e revelar-se hoje  actual e notório.

" A França, a Europa e nós

Não se tem falado noutra coisa senão nas eleições que ocorreram em França, toda a gente tem a sua opinião e eu...tenho a minha.  E começo por realçar que, se consultarmos as duas voltas das eleições, 50% da população francesa votou na extrema esquerda e na extrema direita, com divergências naturais entre os dois campos, mas com uma coisa séria em comum : serem contra a União Europeia e contra o euro !

Os partidos e os políticos tradicionais que se batem pela actual UE e pela manutenção da moeda única, afinal representam metade dos franceses e isso não pode deixar de ser considerado o fenómeno mais grave e mais sério da actualidade. Se fizéssemos uma análise do que se passa nos outros países, excluindo talvez os alemães e um ou outro país da sua órbita, será que a situação dos outros povos seria diferente?

Os países do norte não aceitam a manutenção das ajudas aos do sul, estão fartos de pagarem ( dizem eles) para copos e mulheres - ou acham que aquele sujeito holandês, de caracóis com laca, disse o que disse apenas como opinião pessoal?

E nos países do sul já se generalizou um crescente mal estar contra a estrita ordem liberal que a Europa mais rica impõe - limites da dívida e do deficit arbitrários, austeridade asfixiante sobretudo sobre os estratos sociais mais desfavorecidos, política expansionista e pouco solidária dos alemães que acumulam excedentes que as próprias regras europeias proíbem...

O jornal Publico trazia uma ampla reportagem sobre o início da CEE, onde um grupo de eminentes políticos europeus, entre os quais Jacques Delors, coordenados pelo belga Robert de Maldague, publicou em 1975 um relatório que foi pura e simplesmente destruído pela organização porque - vejam bem- afirmava que a liberalização dos mercados de capitais estava a minar a autoridade dos governos democráticos. E ainda apontava o dedo ao comportamento das grandes empresas na formação de preços, no emprego e nos mercados de capitais onde tinham uma posição dominante. Denunciava-se ainda que essas grandes empresas estavam a reduzir a capacidade produtiva da Europa e a  pôr em risco a coesão social! E, não menos grave, advertia o relatório que não sendo levadas a efeito reformas de longo alcance existia o risco de que métodos autoritários possam gradualmente controlar as nossas sociedades. Quer dizer, era um libelo contra o liberalismo que começava a tomar conta da Europa.

Como a CEE e depois a UE seguiu exactamente o caminho que os autores do relatório ( de 1975) previam e que foi eliminado liminarmente, chegámos a este ponto do desnorte".

Ora parecia adivinhar : temos assistido ao aumento dos governos autoritários pela Europa fora, à dificuldade que a UE tem em lutar contra as  grandes multinacionais ( os recentes episódios com as empresas das redes sociais são o exemplo mais  mediático), até que a pandemia veio destapar o caos económico-social a que a globalização neoliberal nos conduziu.

Já citei em outras ocasiões o que o Prof. Joseph  Stiglitz, Prémio Nobel da Economia em 2001, que escreveu : " O neoliberalismo prejudica a democracia há 40 anos. Os efeitos da liberalização do mercado de capitais foram particularmente odiosos ...os eleitores enfrentavam assim uma escolha dolorosa: ceder a Wall Street  ou  enfrentar a crise financeira. Era como se Wall Street  tivesse mais poder político que os cidadãos do país".

Não era preciso ser bruxo quando escrevi aquela crónica em 2017, bastava estar um pouco atento ao caminho da Europa e que o próprio PS em Portugal estava a seguir -  por isso não se estranhe que tanto Merkel como Sarcozy tivessem dado apoio à política de José Sócrates. E só para refrescar ideias em Dezembro de 2005, depois de ter apreciado as medidas propostas pela PS do então Primeiro Ministro, escrevi outra crónica que saiu no "Barlavento", intitulada "Este socialismo liberal...".





domingo, 21 de fevereiro de 2021

 Assim vai  a vida...

Anti  semitismo  e anti sionismo 

Eu não sou nem mais nem menos anti judeu do que anti cristão ou anti muçulmano, as tres religiões fazem-me sempre pensar na irracionalidade  que acompanha a evolução do Homem, apesar de toda a espantosa evolução da Consciência e do Conhecimento. 

Mas sou frontalmente anti sionista porque o comportamento dos judeus enquanto Estado de Israel ( desde a sua fundação...) é uma vergonha para a Humanidade de hoje.  A dispersão histórica dos judeus não é caso único, houve outros povos e religiões que se dispersaram e acabaram por se integrar - assunto para outra divagação.  Mas  essa dispersão deve-se muito também ao próprio comportamento colectivo dos judeus que congregaram  más relações com os outros povos, por mais que agora tentem desmentir. O povo judeu foi vítima  da maior tragédia dos tempos modernos, que foi o Holocausto nazi, mas em vez de humildemente terem aprendido que vale a pena a misericórdia e a humildade, adoptaram sempre, desde que são um país, o comportamento mais  desumano  que se possa imaginar, como foi agora noticiado com o que fizeram com as vacinas que deviam chegar aos palestinianos. É  UMA VERGONHA! ! E depois queixem-se que aumenta o anti semitismo, pudera!!

 Mas  também tem que ser denunciada a hipocrisia dos países islâmicos, as poderosas monarquias do petróleo  e as ditaduras civis e religiosas, que não utilizam o seu poderio económico e bélico para mexer um dedo a favor dos palestinianos. Muitas proclamações, muita conversa, mas lá enfrentarem as companhias petrolíferas ocidentais ou chinesas, e os seus Governos, é o enfrentam! Vendem-se como quase todo o mundo hoje faz, os palestinianos são poucos e fracos em poder, não esperam ajuda de ninguém.  Viva a hipocrisia mundial !!

Resquícios da guerra colonial - O falecimento de Marcelino da Mata veio acordar recordações da  guerra colonial  e da qual ainda persistem resquícios nas cabeças e nos sentimentos de muitos portugueses: não foi em vão que o Estado Novo e as suas arreigadas idiossincrasias martelaram o espírito dos portugueses explorando os sentimentos nobres de amor à Pátria e escondendo com isso o atraso ideológico e civilizacional que significava, em todo o mundo, a manutenção de um Império  colonial.

Contrariando a própria tradição ecuménica que Portugal já tinha revelado ao dar a Independência ao Brasil - e se  ainda há hoje gente da extrema  direita e monárquicos absolutistas que acham que foi uma traição de D.Pedro IV   muito mais natural é que persista em muitas cabeças, (sobretudo dos colonizadores brancos que foram espoliados dos seus bens e forçados a deixar as colónias, em regra nas piores condições, é certo)  a celebrada heroicidade e benignidade das presença dos portugueses nas colónias.

Quando todos os países europeus colonialistas já tinham dado a independência aos territórios que colonizavam, Portugal persistia naquela cegueira, pensando que se iludia o mundo inteiro com balelas sobre a igualdade de direitos entre "todos os portugueses" -quando cá na Metrópole havia presos políticos por delito de opinião... e passar a designar  Províncias Ultramarinas ás colónias.

E a guerra foi como todas as guerras, com injustiças e falhas, e também crimes de guerra, de que se conhecem casos indiscutíveis. Eu também andei nessa guerra, contrariado  e "pelos cabelos" : já casado com dois filhos e a profissão suspensa, chamado 10 anos depois de ter feito o serviço militar obrigatório, tendo perfeita consciência de quanto errada era a luta contra os independentistas africanos,  só tinha duas opções : ou ir  ou desertar. Confesso que, se tivesse algum vislumbre de que um 25 de Abril estava tão perto, eu teria acatado o "sopro de ouvido" que me deram em Mafra para desertar e ir até à Argélia. Mas não havia sinais  de quantos anos  estaria fora da família, mantendo-a com quê ? E fui, contrariado como aconteceu a milhares de portugueses. Não me coube tarefa fácil - capitão comandando uma Companhia de Intervenção, independente, sem Batalhão (ainda assim foi melhor, teria tido muita dificuldade em aturar majores e tenentes-coronéis de batalhões, absolutamente intragáveis e iria ter problemas, como ainda tive uns arremedos...). Andei na guerra, em zona  de grande actividade como era a região de Nambuangongo, com os combates que ela proporciona, mas nunca se cometeram -nem alguma vez pactuaria -  crimes de guerra de qualquer natureza.  Mas chegavam-nos noticias de  alguns casos criminosos que ocorriam em Angola e noutras terras, como Moçambique e Guiné - alguns vieram a confirmar-se mais tarde. Um dos  meus objectivos,  primeiro foi nunca deixar transparecer ao pessoal a minha posição sobre a guerra, pois a moral era a primeira condição para evitar baixas e falhas e porque o outro objectivo era regressar com todos os homens com que tinha partido, infelizmente não foi possível, 

Em termos de colonialismo ofensivo,  eu presenciei alguns casos mas por parte dos civis  brancos. Um caso foi na Roça Beira Baixa, onde havia um grande número de bailundos nas tarefas do café, e quando certo dia  lá parei com uns grupos de combate da minha Companhia, assisti e fotografei o capataz a chicotear os trabalhadores na movimentação dos sacos de café que transportavam às costas. Ingenuamente mandei o rolo fotográfico, como fazia regularmente, para revelar e esse "por acaso" veio queimado... Foi o único rolo, das centenas que mandei revelar durante a guerra, que veio queimado, o que me impossibilitou de denunciar o acto. Mas mesmo denunciando não devia dar nada- porquê ? Eu conto ; estive uns dias de férias no sul de Angola, com o Alferes médico  dr. Jorge Serra, visitando as cidades do sul e o deserto de Moçâmedes onde não havia já qualquer actividade de guerra. Uma tarde estávamos os dois numa esplanada em Moçâmedes e entraram um casal de negros e o filhito, bem vestidos, asseados, o miúdo com fatinho de marinheiro, quando veio o empregado também negro a dizer que tinham de sair, não se podiam sentar. Demos quase um salto (!),  chamámos o casal, dissemos que se sentassem na nossa mesa e pedimos ao  empregado que os servisse, eram nossos  convidados - perante o esbracejar lá no balcão do dono do café. Andava tudo em guerra lá no norte, tínhamos os nossos homens a morrerem e a ficarem feridos e mutilados,  e aqueles estúpidos do sul a praticarem racismo descarado em 1970. Fomos ao quartel da terra, não estava lá quase ninguém a não ser um sargento - de- dia, participámos por escrito -pois um mês depois recebi  uma mensagem a perguntar se queríamos manter a queixa- era assim que uma parte do nosso próprio exército funcionava...

Marcelino da Mata  foi um guineense que se colocou ao lado do exército ocupante, o exército português, e lutou contra o seu povo. O que devem os guineenses pensar dum sujeito que  toma esta opção, simplesmente desculpar ? Que se diz dos franceses que se colocaram ao lado do exército alemão, ocupante da França, contra os seus próprios compatriotas? E se um exército castelhano ocupasse o território português o que se diria de portugueses que pactuassem com esse exército contra os seus concidadãos ? E houve  desses ao longo da História, em regra nobres não gente do povo...

Além disso o "oficial português mais medalhado"  não se limitou a actos de guerra que ocorrem sempre, cometeu crimes de guerra e o testemunho de Vasco Lourenço para mim basta; foi condecorado pelo regime de Salazar ? Pois, os pides também foram e até  Cavaco Silva condecorou alguns por "serviços prestados à Pátria"... e em plena democracia portuguesa -  há estômagos e almas piedosas para tudo e em qualquer lugar... Que estômago tem um cidadão guineense que a dada altura  preferiu ser português, para cometer atrocidades contra os seus concidadãos da véspera?

Por muito que a "honra militar" seja difícil de entender, podiam os oficiais portugueses que combateram, é certo,  em nome da sua pátria, apoiar um "camarada" que cometeu crimes de guerra e devia ter sido julgado por isso?  Mas foi por isso que  recebeu as maiores condecorações do velho e iníquo Regime  proto fascista salazarista  do Estado Novo ( para não escrever mesmo fascista e evitar a  discussão se foi fascismo ou um simulacro...).


Escritas estas reflexões, vamos lá pensar no outro assunto da ordem do dia que é a do  colonialismo e da escravatura  serem em Portugal um ícone  do pior que se fez no mundo.

Qualquer historiador, de esquerda ou de direita, sabe que a escravatura existe desde que o homem se constituiu em nações,  fez guerras e prisioneiros, e adoptou o escravo como instrumento de trabalho. Desde que o homem é homem! Todos os povos praticaram a escravatura, todas as religiões ocidentais a consentiram. Excepção que eu conheço, o budismo, mas não é ocidental e não adora deuses...

Não podemos julgar a História com o olhos de hoje, é já um lugar comum dizer isto, mas há quem teime em olhar dessa maneira e muitas vezes com olhar enviesado.     Vou contar mais uma história.

Aqui há uns anos estive, com minha mulher, em visita à ilha de Goreia, em frente a Dakar, onde existe um Museu da Escravatura, a "casa da Sinhá" ( cheira a português brasileiro,,,).  Eramos os únicos portugueses entre franceses. O cicerone, um senegalês antigo sargento da marinha francesa, explicava  o local onde eram armazenados os escravos e a porta por onde entravam para os barcos  e que os portugueses, mais isto e mais aquilo, e só falava de portugueses.    Em dada altura identifiquei-me e pedi para  falar, com o meu francês macarrónico; disse-lhe porque só falava de portugueses quando no salão de entrada havia um painel com os nomes dos principais negreiros da ilha, havia nomes franceses, ingleses, holandeses mas nenhum português, e noutro painel estavam as personalidades importantes que passaram na ilha - todos portugueses, navegadores entre eles Pedro Alvares Cabral e a D. Maria II quando vinha do Brasil. 

O homem embatocou, mas pior ficou a seguir, quando disse aquilo que já tenho dito noutras ocasiões : ninguém hoje teria a desfaçatez de defender a escravatura, Karl Marx analisou-a com seriedade como uma etapa na evolução económica da Humanidade. Já houve que pedir desculpa pelos erros dos tempos passados mas não foram  todos que  pediram desculpa...

Os negreiros portugueses ( como todos os outros) chegavam com as caravelas às  praias e não desembarcavam tropas para irem por terra dentro açambarcar os escravos - eram os sobas  que vinha do interior vender - VENDER - os seus homens; chefes de aldeia animistas ou muçulmanos, que muitas vezes guerreavam com etnias vizinhas para arrebanharem escravos que depois vendiam, 

E perguntei ao cicerone : alguns europeus já pediram desculpa pela escravatura de épocas passadas,  mas já viu algum chefe africano  pedir desculpa por os seus antepassados terem vendido os seus próprios cidadãos? O homem não respondeu e houve um sussurro no museu...

 Já escrevi isto noutras ocasiões, os muçulmanos praticaram a escravatura até há bem pouco tempo, não me recordo de algum ter pedido desculpa  (pode ser falta minha...).  Só se fala de escravos negros, ninguém quer recordar os escravos brancos, por exemplo os milhares de irlandeses que os ingleses escravizaram durante mais de um século e enviaram para a América a preço mais baixo que os escravos negros porque eram menos resistentes e trabalhavam menos. Alguém já pediu desculpa? Pode ser falta minha nunca ter ouvido ou lido...










domingo, 14 de fevereiro de 2021

 Continuando...

Se  houve um documento que influenciou decisivamente as minhas convicções ideológicas foi, sem dúvida, a Encíclica Rerum Novarum proclamada em 1891  pelo Papa Leão XIII, Nela se rebatem duas filosofias político-económicas que nos finais do século XIX  dominavam o universo das ideias, uma na esquerda o marxismo, que teria na sua extrema  o comunismo e o sufoco do individuo pelo Estado e a outra na direita, o liberalismo que, levado às suas consequências finais, que eu designo de liberalistas libertinos, acabaria num extrema direita dos poderosos,  

Teve piada nas últimas eleições presidenciais, num frente a frente entre o candidato comunista e o liberal, este ter apontado ao outro que ele estava agarrado a ideais do século XIX_- então e ele? É ignorância ou esquecimento propositado...

Consequências da expansão dessa carta pontifícia : directas foi a doutrina social da Igreja que criou a democracia cristã nos seus vários cambiantes, indirectas foi o impulso dado à social democracia  também com as suas diferentes variantes. De forma simplista, reconheço, quem não era assumidamente praticante da religião orientou-se pela social democracia, quem acatava as práticas religiosas e um certo elo a ideias mais conservadoras, aderiu à democracia cristã. 

Ambas as ideologias tinham o mesmo fim -  criar o Estado Social. 

E teorias económicas de  conceituados  economistas e pensadores, em que destaca Keynes ( que utilizadas pelo Presidente Roosevelt salvaram  os EUA da Grande Depressão)  contribuíram decisivamente para o sentimento geral nas sociedades  europeias, depois ocidentais, de que o capitalismo é um sistema natural inerente ao homem, deve é ser regulado porque às leis naturais que orientam a vida dos seres humanos, como as de todos os seres vivos, contrapõem-se as leis sociais que resultaram do despertar e do evoluir da consciência  ( que Teillard de Chardin chamou de hominização ) e da criação inalienável do espírito colectivo que deve prevalecer sobre o espírito individualista - dentro dos limites também indiscutíveis da liberdade e da criatividade individuais,

Liberdade, igualdade e fraternidade é a trilogia que, despida dos excessos e horrores que acompanharam a sua génese  e quase sempre acompanham as acções dos homens (desiguais em consciência e em  noção de misericórdia e de compaixão) passou a ser, no Estado Moderno, a máxima de construção e gestão das sociedades evoluídas.

Liberdade porque  é um sentimento existente   em  todos os seres vivos, como afirma sem margem para dúvidas, o Prof. António Damásio, e onde apenas, passe o lugar comum.  a liberdade de cada um se limita pelo prejuízo que possa causar ao colectivo.

Igualdade, não como uma imposição do tipo leninista ou maoista, em que são todos iguais nivelando por baixo e apenas uma casta de líderes se movimenta  na alta esfera da vida e a maioria  esmagadora da sociedade se fica por lhe ser atribuída uma " democracia popular"  e uma "ditadura do proletariado" que são apenas esquemas ideológicos  para esconder a verdadeira ditadura - quem as viveu ou quem as visitou, como eu, fica vacinado...

Fraternidade, é um ideal de amor e compaixão entre os seres humanos, sabemos muito pouco partilhado, é certo. E esta vergonha actual da luta da indústria farmacêutica para fornecer vacinas contra a pandemia, depressa e a bom preço (negócio de biliões, a mais poderosa industria mundial, ainda superior à do armamento) vem apenas confirmar que no capitalismo selvagem  em que essas empresas se criaram e desenvolveram, não há lugar para a misericórdia  nem para a compaixão - tanto no capitalismo libertino ocidental como no capitalismo maoista da China...- portanto não existe para eles a fraternidade.

Esta extensa divagação vai conduzir-nos ao nosso País, ao PS e ao futuro próximo pós pandemia. É  um exercício de reflexão que faço para mim mesmo e deixo escrito para memória futura,  sem qualquer intenção de polémica.













sábado, 13 de fevereiro de 2021

 A espuma dos dias

A paranóia e a falta de escrúpulos

É raro o dia em que não ouvimos ou lemos disparates e autênticas barbaridades de linguagem que continuam a revelar aquilo que já referi antes, o tal "vírus" da paranóia que, fora este exagero, se traduz em problemas mentais de muitas pessoas derivados da pressão da pandemia, do prolongado confinamento, da falta de convívio, etc. Mas há  coisas que extravasam tanto a decência que virão a exigir medidas disciplinares e até do foro criminal. Têm sido escandalosos, a exemplo do que se passa nos sectores mais retrógrados de outros países do mundo, aqueles famigerados  "Advogados pela Verdade" que negam a pandemia e as medidas de defesa  que se tomam em todo o mundo, mas sobretudo os "Médicos pela Verdade", com a acrescida responsabilidade de serem os profissionais que mais deviam estar ao lado do combate à peste que nos aflige.  E não são apenas os actos públicos praticados por esses grupos, mas também a linguagem utilizada.

Mas por falar em linguagem a gente lê e quase nem acredita naquilo que escreveu nas redes sociais aquela desbocada e protofascista Bastonária dos Enfermeiros,  Ana Rita Cavaco. A reacção de muitos enfermeiros  não  basta : se aquela sujeitinha não for destituída e accionada a questão  em tribunal, fica de vez em cheque a credibilidade da Ordem e a profissão exemplar e sacrificada dos enfermeiros. Ler aquelas diatribes revela também, não só a promiscuidade e indecência das redes sociais,  como as pessoas escondem durante anos as anormalidades psíquicas de que enfermam. 

O PS e o Governo

Ninguém com a cabeça no seu lugar gostaria de estar no lugar de António Costa e do seu Governo sobretudo nestes dois anos de 2020 e 2021.

As críticas de vários quadrantes que  açoitam o Governo e visam em especial António Costa, são em parte injustas no que se refere ao combate à pandemia. Eu queria ver qualquer outro dos políticos de pacotilha que temos no rol, desde o Passos Coelho com a sua total falta de preparação política e apenas formação retórica aprendida à pressa na cartilha do liberalismo a Rui Rio com a sua incapacidade real de gerar consensos no seu próprio Partido, a enfrentarem o caos.  Houve erros, houve falhas e é muito fácil  acusar a falta de planeamento, mas sensatamente e sem  fins de promoção política, não se poderia fazer outra coisa senão governar â vista,  circunstância a circunstância, porque a ignorância mundial e europeia tem sido a nota dominante- a começar pelos inumeráveis especialistas que todos os dias se contradizem,  

Já mencionei anteriormente o  agravamento da pandemia em todo o país, a partir das facilidades  dadas no Natal  - devem-se não tanto a uma  falta de planeamento do Governo ( P. da  Republica e todos os Partidos políticos e associações empresariais concordaram com essas facilidades) mas ao comportamento dos portugueses. Não quero servir de exemplo, mas na minha alargada família que todos os anos festeja em grandes reuniões o Natal, este ano ninguém se reuniu senão os núcleos familiares quotidianos  - fez pena, mas  teve de ser.  De resto o  pessoal viajou por todo o País,  espalhou-se pelo interior a doença onde ela  estava quase desconhecida em muitas regiões,  houve ajuntamentos de policias e outros grupos  sem respeito pelas regras sanitárias. Foi este comportamento  que tornou o nosso País no pior de mundo em termos de gravidade da pandemia.

Eu até parece que defendo António Costa, mas é que  as minhas críticas são de outra natureza e dizem respeito ao desconsolo e à gravidade do que tem sido uma governação que, por se dizer   de esquerda democrática, deveria ser exemplar e  tem sido uma série de  escândalos, compadrios e irregularidades que,  quando não são mesmo ilegais pisam o risco da ética - não são ilegais mas moralmente desprezíveis.

Isto  vai dar pano para mangas, como seria de  esperar ... Só agora comecei



quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

 O vírus da paranóia

Já algumas pessoas e até alguns especialistas da comunicação - que agora abundam por aí, quase tantos quantos os epidemiologistas, intensivistas, infecciologistas e outros istas que nos aparecem em cada dia nas Tvs, já tem feito notar que circula por aí o vírus da paranóia que bem pode ser mais perigoso e persistente que o marafado do coronavírus. E não me refiro às redes sociais, que como sabem os que sedão comigo, são de um universo que eu não frequento, apenas aos que surgem nos órgãos escritos.       Há dias citei um cronista medíocre que escreve no "Publico" e que, como não sabe fazer outra coisa, escreve baboseiras com muito  ódio e críticas estapafúrdias. Mas até uma jornalista normalmente cheia de bom senso e com credenciais  de grande intelecto e independência, a Clara Ferreira Alves escreveu a sua cronica semanal do Expresso  com um teor de paranóia, absolutamente impróprio para quem tem obrigação de garantir idoneidade.

A pressão dos confinamentos e dos sustos provocados pela pandemia sobre as pessoas deixa a descoberto os espíritos afinal mais fracos e menos resilientes, que na vida antes normal apareciam com uma grande  sensação de autodomínio. Uma coisa é a crítica fundamentada, outra a explosão de palavras e de previsões á vontade do que cada um gosta e não tanto da realidade  - e um ou uma jornalista com créditos não pode, não deve, cair nesses ataques de paranóia. Simplesmente anuncia ela que António Costa morreu, está morto e já nada o salva - há muitos  que o desejam, mas para quem pensa, como eu que, a alternativa é o Passos Coelho ( não é o Rui Rio...)com os seus rapazes tipo Relvas e aconchegados agora no Chega, venha o diabo e escolha. E eu prefiro a anormalidade do normal, Costa, apesar de tudo...









   

sábado, 6 de fevereiro de 2021

 Pensando sobre política

Uma carta ao Director do "Público"

Os discursos de ódio são só comparáveis aos desaforos de comportamento de tanta gente, neste País, E nem falo nas redes sociais, pois só de vez em quando alguém me faz chegar algum apontamento do que lá se passa - é um universo paralelo que eu não visito.  Mas na comunicação social escrita e visual, nomeadamente em jornais online de  que também me chegam de vez em quando alguns pedaços, a falta de noção da decência e a capacidade de reflectir sem excessos chegam a causar repulsa.  Enviei uma Carta ao Director  do "Publico" que certamente não será publicada, mas seja ou não seja, fica aqui para memória futura ;

" Vou deixar de escrever na comunicação social depois desta pequena carta dedicada ao Discurso do Ódio.

Seja esta carta publicada ou não ( que é o que acontece mais vezes) este vai ser o meu último contacto directo  com a comunicação social - nem cartas nem artigos. Prefiro ir deixando algumas notas num blogue. Mas hoje e perante o panorama dominante na comunicação social ( e nem pela cabeça me passa referir a pouca vergonha das redes sociais) que é o do discurso do ódio, aumenta em muitos a descrença na viabilidade da nossa democracia que tanto esforço, tanta vítima e tanto fervor exigiu para se erguer -há 47 anos. E se há por vezes  maus exemplos que vêm da esquerda é sobretudo dos quadrantes  da direita que diária e constantemente nos bombardeiam com ódios e suspeitas, tudo afinal resultado de estar há muito tempo fora do Poder. Veja-se no "Publico" de hoje a crónica que chega a ser repelente do J.M. Tavares e compare-se com a dignidade dos últimos editoriais do Director Manuel Carvalho. Há  tanta gente decente na direita, a escrever bem e sensatamente, logo caiu na desdita dos leitores deste Jornal apanharem com as aberrações dum cronista medíocre. A direita tem que começar a seleccionar quem escreve por ela."

Ainda a esquerda - As eleições presidenciais de Janeiro passado trouxeram ao de cima as contradições da política caseira, quer à esquerda quer à direita. À esquerda mais ou menos tudo na mesma com uma certa baixa dos votantes no PCP e no BE, à direita o surgimento dos protofascistas  aconchegados no Chega.

No entanto foi propagandeada - e sabe-se por quem, óbvio - a derrota da esquerda ; o pateta do líder do CDS até proclamou que o CDS tinha tido uma grande vitória e o Rui Rio a dizer que a direita ( leia-se o Chega) até tinha ganho ao PCP no Alentejo e que a derrota da esquerda era evidente.

Deve começar por se dizer que só votaram 40% dos portugueses, 60% ficou em casa, por isso extrapolar os resultados para a posição relativa dos partidos é um processo falso; nas sondagens fora das eleições o PS tem entre 35 e 40% e o CDS 2% e até abaixo... Ora nas presidenciais os Partidos da esquerda somaram 21,84%, se dos 60% do Marcelo estimarmos que pelo menos 35 % eram socialistas, a esquerda fica com 56% - onde está a derrota? Mas se escolhermos apenas 30% dos votos em Marcelo mesmo assim ainda dá 51%.

O problema da esquerda será unicamente o PS e António Costa terem a capacidade de entender que, mais importante que a sua agenda própria, é  garantir que a direita não volte tão cedo ao Poder. E verenos adiante porquê. 

 Mas os Partidos da esquerda, já referi nisso antes, têm que também pesar se as exigências que fazem são aceitáveis em termos da conjuntura europeia em que vivemos  ( e não poderíamos viver fora dela!) ou se preferem esticar a corda para que ela rebente e se repitam situações como a que antecedeu a chegada da Troika.

A ameaça liberal vai recrudescer quando amainar esta crise pandémica que se tornou igualmente crise económica, social, direi mesmo de sobrevivência da Humanidade em termos da Vida tal qual a conhecemos. 

Problemas da direita - A direita está em maus lençóis, e isso em termos de estabilidade democrática é preocupante. Os valores mais conscientes da direita, direi social e mesmo conservadora,  estão remetidos ao silêncio ou na sombra, sem influência já na vida partidária.

O PSD tem em Rui Rio um líder  moderado, certamente  rigoroso em termos de gestão da res publica, mas cada vez mais refém dos galifões que o cercam e rosnam nas periferias... Os social democratas que estiveram na razão do nascimento do PPD, foram mudando para liberais, como aconteceu em toda a Europa  - os que hoje erguem a voz  quanto à  autoridade moral dos fundadores, deviam ter sempre presente que Sá Carneiro  quis inscrever o partido na Internacional Socialista, e que só fundou a AD com o CDS depois de falharem as  tentativas junto de Mário Soares para que se unissem os dois num Governo nacional - mesmo assim com muitas reservas e impondo a entrada do PPM para equilibrar a composição.

O CDS está a desaparecer, os democratas cristãos desapareceram  em toda a Europa ( Merkel é uma sobrevivente notável mas exclusiva,,,) e por cá, claro, também,  e viraram liberais - ou pior entraram para os fascistas do Chega onde se proclama que depois de 46 anos surge  finalmente um partido a defender não o nefasto 25 de Abril mas o auspicioso 24 de Abril. A grande viragem do CDS para a desgraça foi com Assunção Cristas, que tomou medidas de nítido sentido liberal,  abrindo a porta à  falência de serviços fundamentais no Estado e deixando a porta aberta para os liberais lá de dentro se manifestarem. Todos os que agora dão a cara, Adolfo M Nunes á cabeça. Não quer dizer que este não seja um bom político, capaz e inteligente, mas é liberal assumido, nada tem a ver com a democracia cristã fundadora do CDS.

Do PSD também saíram já muitos para a extrema direita, começando pelo cabeça de cartaz, um tipo bem falante, sem convicções mas esperto e ambicioso que fará e dirá tudo o que for preciso para ganhar projecção pessoal ( tendo por trás uns tipos famigerados que a comunicação social tem apontado a dedo).

A direita ainda conta coma Iniciativa Liberal. um grupo de amigos bem  falantes, urbanos, que como se mostrou na campanha eleitoral não conhecem nada do país real. Propagandeiam o liberalismo fazendo por esquecer que  a teoria do mercado desregulado tem sido a causa do caos a que chegou o mundo, e que em Portugal se não fosse um apontamento de Estado ainda forte, como afinal temos, nesta altura já estaríamos de  novo na bancarrota ou numa ditadura.  Liberais que exigem baixa de impostos mas mais dinheiro atirado para as empresas, não é para os trabalhadores, não é para o Serviço Nacional de Saúde nem para a escola publica aberta a toda a gente;  é para  os privados oferecerem os mesmos serviços em concorrência com o sector publico - mas o Estado que pague quem preferir o  privado. É o máximo da pouca vergonha . É este liberalismo libertino ( abuso do termo liberal, porque liberais somos todos nós que não sejamos comunistas). que IL propõe, e onde se  alojaram os falsos democratas cristãos e social democratas que se escondiam do CDS e no PSD.

A direita, e agora houvesse uma reviravolta,, não se pense que era com Rui Rio à frente, este será cilindrado na primeira oportunidade, Já está na box de partida- quem? Passos Coelho, o  desejado, o aglutinador de toda a direita incluindo o  Chega que já o nomeou como a sua esperança de ir para o Governo. É esta alternativa desta direita que a esquerda tem que ter em mente, porque então estaríamos a remar contra a maré de "renovação mental" da Humanidade que eu espero e acredito que esteja em marcha, pelo menos entre os países e povos que sabem o que é DEMOCRACIA SOCIAL.

Há sempre uma luz ao fundo dos túneis, e  agora foi a  vitória dos democratas nos EUA e a presidência de Joe Biden. Veremos se ele é capaz de repor o sentido da democracia social de que o mundo tanto precisa para responder aos desafios planetários. 










quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

 Tempo para tudo, até para mais reflexões

O capitalismo é uma filosofia natural  e egoísta sobretudo se o deixarem à rédea solta, sem controle. É natural porque ele nasceu com o desenvolvimento do ser humano e das suas sociedades primitivas, já que na Natureza  não há moral, nela  impera a lei do mais forte e o domínio de quem pode exercer esse domínio. Nos grupos da fauna superior e em especial nos primatas as regras são as da defesa intransigente das necessidades do grupo e na submissão a chefes que tudo determinam, como garantia das leis da sobrevivência. Nas sociedades humanas, a partir do desenvolvimento da consciência que o Homem adquiriu, passaram a existir leis sociais que,  para benefício do próprio Homem, para benefícios de todos os homens, devem sobrepor-se ( sem as anular) às leis naturais. E é egoísta porque procura fazer esquecer  as conquistas sociais e colectivas  que protegem a maioria do seres humanos e não apenas os mais poderosos.  O capitalismo serve-se sobretudo da especulação e promove mais valias por processos que nada têm a ver com o valor real dos bens e serviços, provoca crises que beneficiam os especuladores  e com isso dá razão a Marx, quando este afirmava que o capitalismo trás consigo o germe das suas próprias crises .

A concentração de capital em poucas mãos é uma das consequências  imediatas do capitalismo sem regulação. A procura de rentabilidade em curto prazo e em crescendo, nomeadamente nas grandes empresas  de produção tecnológica mais avançada, conduz a que poucos empresários e cada vez mais poderosos, possam controlar a produção com cada vez menos trabalhadores. É como uma bola de neve a rolar, até que a especulação faça rebentar as "bolhas" e tudo tenha que recomeçar .

Depois segue-se o domínio sobre as formas de condicionamento das opiniões publicas, adquirindo os meios de comunicação social - jornais, rádios, televisões  e cada vez mais as redes sociais, antros de calúnia, anonimato e descontrole absoluto, escapando aos poderes democráticos -  só uma China ou uma Rússia controlam essas redes.

Daí vai um curto passo  para o outro lado da realidade socio - político-económica que será a estatização ou colectivização da produção e o domínio absoluto das sociedades ( previsto por Orwell mas na prática, sem qualquer dúvida,  em curso nos casos aberrantes da Coreia do Norte e da China e cada vez mais descaradamente na Rússia).

Assim, como  há umas décadas atrás um Fukuyama propalava o Fim da História porque a realidade passaria a ser unicamente o liberalismo dos mercados livres, agora também do outro lado há os que prevêem  que o capitalismo acabará dentro de 30 a 40 anos.

Esta falta de conhecimento e  de reflexão sobre as formas como as sociedades humanas  reagem  (por vezes tarde, mas reagem ) andam associadas a ambições desmedidas de tomar o poder e dominar os outros homens - é tão velho quanto o próprio homem, em sociedade.













 Política de Ambiente - continua o descalabro

"O ordenamento do território, em termos ambientais, não pode fazer-se com aquilo que eu considero a maior burla do século: os estudos de impacte  ambiental para obras que já estão realizadas ou a realizar, sem haver uma referência que só pode ser dada por uma política de ordenamento do território."  " Tratamos das estradas, das cidades, do transporte de energia; e depois, para contentar os ecologistas, marcamos mais uma reserva agrícola nacional..."

Isto parece que se refere a hoje, com tantos escândalos dos EIA como quanto ao aeroporto Montijo em que o próprio Ministério do Ambiente  não aceitou o estudo que chumbava o projecto e...mandou fazer outro a condizer; a exploração do lítio, a expansão dos abacateiros no Algarve, para referir apenas aqueles casos  que vem de súbito à memória. Mas aquelas palavras foram proferidas por Gonçalo Ribeiro Telles numa entrevista  em 1990...

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

 Histórias pouco edificantes

Estas ocorrências  fraudulentas  das pessoas que se antecipam  para serem vacinadas sem estarem nos grupos de risco e sem outra justificação que não seja a de  serem chicos-espertos e sem vergonha, passa das marcas. Na sua quase totalidade segundo o que +é noticiado, é gente ligada ao PS,  e  nem sequer têm o pudor de pedir desculpa. Lá houve uma que se demitiu, mas de resto todos acham que estão no seu direito a antecipar-se ao que está decidido por quem programa a vacinação. E não há um só dirigente do PS - até à hora em que estou escrever estas notas -  que tenha vindo apontar o dedo aos abusadores. Histórias pouco edificantes,  de poucas vergonhas que falam do açambarcamento de posições do Estado e de diversos postos de direcção pelo PS, pelos vistos há demasiado tempo a governar e, pasme-se, em nome da esquerda.

A alternativa da direita ainda assusta mais : como já escrevi antes não são os social-democratas do antigamente, que restam á volta de Rui Rio  e os democratas cristãos dos tempos de Amaro da Costa, Freitas do Amaral ou Adriano  Moreira, que aparecerão se essa oportunidade chegar : é o fatal Passos Coelho e os liberais  até há pouco envergonhados escondidos no PSD e no CDS. E com os "chegas" a dar a sua ajuda, claro. "Não haverá governo em Portugal do PSD sem o Chega"  - quem é que disse ? Fanfarronadas ?Fiem-se nessa e acordamos um dia com a extrema direita do 24 de Abril de novo no Poder.