domingo, 27 de janeiro de 2019

A espuma dos dias
1 - 10 de Junho, o "dia da raça" - O 10 de Junho, que  antigamente por piada grosseira se chamava o dia da raça,  serve para todos os anos realçar as virtudes do povo português e da diáspora que leva portugueses a viverem em todos os cantos do mundo, sempre foi comemorado com pompa e circunstância e têm sido convidados para presidir à Comissão das Comemorações personalidades com substrato intelectual e realce político relevantes.
    Este ano o PR convida para essa função um cronista minorca, jornalista de crónicas que se mete com toda a gente que tenha algum gabarito social para poder sobreviver, pois o seu substrato intelectual é ínfimo. Quer ter piada não tem nenhuma, quer intelectualizar dissertações sobre política e sociedade e só diz banalidades. A intenção de Marcelo Rebelo de Sousa ao nomear um  sujeito de tão baixa craveira, é difícil de entender... Promover a mediocridade ? Dá jeito a quem ?
2 - Somos um povo racista  - Os recentes acontecimentos em Setúbal, Seixal e Lisboa apenas espantam por terem chegado só agora. Cultiva-se a ideia de que os portugueses não são racistas, e faz-se tudo por esconder a realidade : há uma elite e algumas camadas mais cultas da sociedade que efectivamente não são racistas, mas  uma boa parte da população, incluindo gente com formação mas que se posiciona à direita da direita,  é mesmo racista. De resto todos os povos são racistas :  nos africanos existe racismo  entre etnias e claro em relação aos brancos ( este pode entender-se por outras razões), entre os indianos há racismo, quando Mao Tse Tung  invadiu o Tibete disse que o povo tibetano era inferior e teria de  ser "formado" para melhor;   Entre nós não me digam que sou só eu que tenho ouvido  nos cafés,  na rua ou em conversa com gente do povo, o desprezo face aos ciganos ou aos negros; quando agora na África do Sul, que já foi um bastião de racismo branco, surgem movimentos negros  para a expulsão de todos os brancos, é apenas racismo.
     Claro que entre nós existem comunidades  excluídas social e economicamente, como acontece nesses imensos bairros de emigrantes africanos; muitos já são cá nascidos, tem vontade de  serem culturalmente aceites mas que nunca tiveram oportunidades de inclusão social. Por outro lado temos as numerosas comunidades ciganas que essas são culturalmente  resistentes a mudarem de vida; e atitudes de roubo e de comércio enganoso que alguns praticam, basta para que essas características  se generalizem a todo o povo  cigano. Não queremos ser racistas, mas somos como todos os demais povos de todas as etnias...

3 - A extrema direita institucionaliza-seEstávamos a ser uma excepção na Europa, como país sem extrema direita institucionalizada, excepto alguns movimentos neo nazis que se parecem mais com gangs de desordeirtos que movimentos políticos.  Agora começa a ser diferente: surgem os primeiros Partidos  formados a partir de gente que militava nos nossos "democráticos" partidos de direita. Começam a perder o pudor e assumem-se !Só falta agora que pelo menos o CDS, onde a democracia cristã morreu,  deixe de fingir que é do centro direita e se afirme mesmo convictamente que é direita pura e dura - assim o quadro começa  a ficar  mais composto!!




quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

2- China, Budismo e a hipocrisia do nosso tempo  (continuação)

2- Em Julho próximo Tenzin Gyatso, XIVº Dalai Lama, comemora 84 anos, dos quais  60 passados no exílio; a sua fuga para o norte da Índia foi um dos  fracassos que os comunistas chineses mais dificilmente conseguiram engolir, pois apesar da enorme força militar que o vigiava e tentou persegui-lo, com a grande adesão popular, foi possível que atravessasse a fronteira são e salvo, depois de longa caminhada nocturna através das montanhas.
     A invasão dos maoistas chineses em 1959 trouxe  o caos ao velho país, onde é certo que reinava um regime medieval, arcaico, mas que o Dalai Lama, apesar da sua juventude, se preparava para mudar e te-lo-ia conseguido se da parte dos invasores tivesse havido um mínimo de inteligência em vez do facciosismo que transportavam com eles.
O Budismo como religião é muito sui generis e até eu que sou convictamente não religioso se fosse obrigado a escolher uma seria certamente esta. O Budismo não evoca nenhum deus; o Buda  fundador e todos os budas que eles dizem passados e futuros, são apenas homens que pelo seu comportamento e grande poder de concentração em favor do Bem e contra todas as formas de progressão do Mal,  alcançam o mais alto grau de espiritualidade. A regra simples de "bons pensamentos,  boas palavras, boas acções" é a  base de toda uma profunda reflexão espiritual que leva os budistas a alcançarem  grande conhecimento. 
    Ler as obras do Dalai Lama e dos principais Mestres do Budismo é um excelente exercício de aprofundamento da nossa  capacidade mental, mesmo que não acompanhemos depois todo o cortejo de preceitos, símbolos e diabolizações que, como religião,  tem de fazer chegar ao povo que os escuta. O Dalai Lama,  além de arauto da paz, é talvez o pensador budista que levou mais longe as incursões sobre o poder da mente. As suas conversas com grupos de cientistas ocidentais, na Europa e nos EUA,  entre eles o nosso Prof.António Damásio, sobre a origem da consciência, os problemas da memória, as "propriedades" do espírito, etc, levaram já a revelar que a teoria da física quântica hoje cientificamente explica muitas das asserções e reflexões mais profundas do budismo - o que não deixa de ser espectacular!!
    A China actual, em vez de civilizadamente aceitar uma identidade, uma cultura, um direito inato a um povo de viver conforme as suas raízes, prossegue este caminho de total afronta e perseguição aos tibetanos e em especial ao Dalai Lama, acusando-o ainda ridiculamente  de ser o autor e instigador de alguns distúrbios que de vez em quando, grupos de jovens tibetanos promovem ao levantarem-se contra a opressão chinesa. 
    O Dalai Lama está fartíssimo de dizer e escrever que não pretende a independência do Tibete - seria pedir demais... - apenas deseja poder voltar para o seu povo e continuar a  orientar os seus destinos espirituais, embora sob a égide de um só país.  a China, 
    E esta que faz tanta gala em falar de um país com dois sistemas para abarcar Hong Kong e Macau com ( teoricamente.::) sistema politico diferente, essa China não tem a grandeza de alma para considerar o Tibete incluído na sua bandeira mas com a autonomia  e sistema diferente também, Pelo contrário, perseguem o Dalai Lama e procuram destruir o budismo entre os chineses, desprezando o que lhes devia  ensinar a experiência milenar da sabedoria chinesa : é que não conseguem, O que fazem então? Promovem o Confucionismo, e gastam avultadas somas a apoiar nos países ocidentais, em diversas universidades, os Institutos Confúcio.  Mas é evidente que o prestígio internacional do Budismo não tem qualquer paralelo com o Confucionismo ou o Taoísmo, e apenas põe em evidência a cegueira ideológica do governo comunista chinês. 
    Hipocrisia. Como hipocrisia é que leva todos os países do mundo, como disse ao iniciar este escrito,  terem medo da China e mesmo aqueles que convidavam oficialmente o Dalai Lama e o recebiam com honras devidas, já não o fazem-
.
   Eu tive oportunidade de conhecer o Dalai Lama numa sessão de outorga do grau de doutoramento honoris causa na Universidade Lusíada do Porto, onde lhe entreguei uma fotografia que colhi, meio escondida, num altar de um mosteiro tibetano, onde ele é interdito. Um mosteiro onde havia nesse dia uma reunião de monges sob o patrocínio ( é para rir...) do Partido e que esticava no pátio uma grande faixa vermelha onde se lia " Um bom monge é um bom comunista".. Que mais hipocrisia querem que eu  evidencie?
    Honra seja feita à Índia, que não teve medo e que acolheu o Dalai Lama e um hipotético governo no exílio, e muitos milhares de refugiados tibetanos que ao longo dos anos conseguiram fugir através dos Himalaias, Na  cidade  Dharamsala este ano a 6 de Julho vão comemorar-se os 84 anos do IVº Dalai Lama, para vergonha  da China ( se a tivesse!).






terça-feira, 22 de janeiro de 2019

China, Budismo e a hipocrisia do nosso tempo

  1 -   Alguém mais  ouviu ou leu, por uma vez que fosse,  nos últimos anos , algum país do mundo convidar o Dalai Lama para visitas oficiais ?     Algum  órgão de comunicação social refere a existência de exilado do chefe espiritual do Tibete ? Alguém comenta o que os chineses fizeram e fazem no Tibete ?
     Porque será este silêncio sobre um dos mais brilhantes espíritos que a Humanidade conheceu no século XX?
        A razão é só uma, medo da China ! Nem os EUA, nem a Alemanha, nem os países escandinavos, nenhum pais democrático e independente se atreve sequer a referir a existência dos milhões de tibetanos colonizados pela China. Qualquer referência a esse assunto fica sob a ira da China que ameaça com retaliações pelo menos económicas, e ninguém quer correr esse risco. 
     O Tibete é um país vizinho da China, não é uma etnia das muitas que a população chinesa integra. Durante mais de mil anos os dois povos viveram lado a lado e nunca a China mandou no Tibete; pelo contrário até em tempos recuados houve pelo menos um imperador chinês que era tibetano.
   Mao Tse Tung invadiu o Tibete como invadiu a Mongólia e fez desses países e povos suas colónias, sob a figura meramente retórica de serem regiões autónomas.  Região autónoma é se ela é administrada pelo seu povo, respeitada a cultura e a idiossincrasia desse povo. 
   Os chineses invadiram o Tibete, enviaram, e continuam a enviar para lá milhares de chineses que ocupam a economia, os postos de trabalho e todos os cargos administrativos. A quando da invasão destruíam  mosteiros, queimaram bibliotecas, mataram monges e pessoas indefesas.O palácio Potala, uma das maravilhas do mundo, foi salvo in extremis por Shou en Lai, que talvez fosse mais culto  e ajuizado que a demais gentalha que ocupou Lhasa e as outras cidades; em Lhasa deram cabo de toda a arquitectura, substituída pela arquitectura chinesa de tipo caserna, sem qualquer valor patrimonial. Apenas deixaram o bairro em volta do mosteiro de Jokdham, o mais antigo mosteiro tibetano, e onde acorrem milhares e milhares de peregrinos todos os anos,Também ali acorrem os turistas,  enfastiados com o resto da cidade e que apenas naquele bairro antigo respiram um  pouco da cultura e da civilização  tibetanas. Eu estive lá quando começou a abrir ao turismo, E estive na parte da Mongólia que a China não  libertou e a que chama Mongólia Interior; num dos maiores mosteiros de todo o  budismo, os invasores destruíram e queimaram uma das maiores bibliotecas com  manuscritos dos primeiros séculos e só  restou um  monge, que eu conheci já velho e que estava a refazer a comunidade com mais 12 novos aderentes.
Os chineses destruíram a Academia de Medicina Tibetana,  que se situava em frente ao Potala, e era um repositório de medicina alternativa; apenas escaparam alguns monges médicos que salvaram uma dúzia de tankas com prescrições de saúde datadas...do século IX.
                    Fixem Tenzin Gyatso 14º Dalai Lama
(continua)

domingo, 20 de janeiro de 2019


A  espuma dos tempos
e
a espuma dos dias
Os tempos que vivemos são de perplexidades e de perigos. Todas as épocas, todos os tempos, sempre foram assim, porque isso é inerente à condição humana, mas a organização das sociedades condiciona a forma como ocorrem os factos e as mudanças.  Hoje o mundo tecnológico, a crescente importância da inteligência artificial e em especial as  tecnologias de comunicação que  são também de controle , amplificam e aceleram os conflitos, as estratégias de convivência e domínio - e tornam o mundo ainda mais inseguro.
As chamadas redes sociais, em especial a Facebook e a Twitter, perderam o controle das suas plataformas  e elas são hoje armas poderosíssimas que ameaçam a qualidade de vida dos cidadãos e dos países. Enquanto o mundo não exigir a regulamentação das redes sociais estamos todos mais ameaçados.
- O FBI investiga  se o actual Presidente dos EUA, Trump, terá sido eleito como espião da Rússia - só o poder dizer-se isto já é um absurdo tão grande que brada aos céus!
- O Presidente eleito do Brasil, Bolsonaro, um  proto fascista declarado, foi eleito sem ter posto os pés numa sessão publica de campanha eleitoral -  ganhou as eleições apenas através das redes sociais. Como é que isto pode acontecer ? Que povo é este assim manobrado?
- Nunca como hoje a força do neo liberalismo, através dos poderosos fundos financeiros e das grandes multinacionais, controlaram a vida até dos países aparentemente mais esclarecidos que seriam os europeus. Cada vez se implanta mais a ideia de que não há esquerda nem direita, ou então a esquerda são os grupos extremistas  radicais e países  em colapso como a Venezuela, Cuba ou a Coreia do Norte; e a direita são os movimentos e grupos de direita radical e nazi que também pululam por todo o lado. Isto é a tentativa sempre renovada pelo liberalismo em anular as ideias e dominar tudo e todos pelo omnipresente MERCADO Mas os valores da esquerda e da direita democráticas continuarão a existir nas sociedades pelo menos europeias - porque, quer queiram quer não, é na Europa, mesmo entalada entre a China irredutível de um lado e os EUA inseguros e titubeantes em ternos ideológicos por outro lado, é aqui que se continuarão a desenvolver as ideologias ocidentais, que depois se espalharão, melhor ou pior, por outras partes do mundo.
O tempo das inseguranças e dos equívocos que hoje se vivem na Europa devem-se à incapacidade da esquerda democrática de resistir ao canto de  sereia do liberalismo que atrai com dinheiro, com pompas e circunstâncias, com falsos anúncios de prestigio e endeusamento; os partidos socialistas e social democratas europeus ao aliarem-se em governos com a direita, deram azo a esta falência e foram ao encontro das manipulações liberais. A ausência de partidos ao centro dá lugar à insatisfação das massas populares e ao surgimento da força dos extremos, das franjas à direita e à esquerda. Foi assim  que o nazismo de Hitler chegou ao poder, pois a população esfomeada, sem trabalho e sem perspectivas de futuro, aceitou as propostas de el dourado que o Adolfo prometia. Foi o que se viu depois. E em Espanha e em Portugal, com graus diferentes de gravidade mas o mesmo significado existencial.
-A  falta de valores e a ganância do `êxito e do lucro fomentam (está bem patente em vários sinais da sociedade portuguesa) maus sinais de convivência e  claramente são patentes em vários episódios tristes da comunicação social, Só 2 exemplos da TVI na busca de aumentar audiências que perdeu com a saída da "Cristrna":
- o destaque dado na TVI ao famigerado Manuel Machado, chefe de gangs de extrema direita racista, preso por crimes incluindo pelo assassínio, presente em dois programas, invocando o direito à liberdade de expressão !! Qualquer ideologia, mesmo das extremas, pode dizer o que pensa, mas um criminoso não tem esse direito em democracia, não pode ter os mesmos direitos de um cidadão comum, seja qual for a sua ideologia, de esquerda ou direita,
- a exposição televisiva dos filhos de Barbara Guimarães em litígio com Manuel Maria Carrilho, sem pejo nenhum pela privacidade das crianças. Uma vergonha.
E fico-me por aqui,..


quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

É raro tratar aqui  neste blogue de Partidos Políticos. Mas a situação do PSD é tão trágica, para um partido que foi desde a sua fundação social democrata, do centro direita mas social democrata, que a deriva neo liberal que lhe imprimiram os arrivistas chefiados por Passos Coelho  ( sem qualquer estofo intelectual), Miguel Relvas (  um oportunistas  sem qualificação) Maria Luísa Albuquerque ( o mais puto cinismo e frieza emocional em política!!) e outros que por lá andam, desvirtuou completam,ent qualquer ideologia social democrata. 


Rui Rio é um dos últimos social democratas  que ainda dá a cara pelos seus ideais; na Câmara do Porto conseguiu pôr as contas em dias mas deixou a cidade farta dele pois social  e culturalmente foi um deserto. Por isso à frente do PSD  além de ser um  bom contabilista, não terá estatuto para por exemplo Primeiro Ministro -. o seu desejo mais profundo e ou é agora ou nunca mais...
Mas os liberais que querem à força manter o PSD na direita mais aberta possível ao mercado e às finanças, esses não lhe perdoam.
E depois tem outro senão - é do Porto... Ninguém quer falar nisso mas a grande barreira que está a ser montada contra ele é pelo pessoal de Lisboa e do Sul, que não quer perder lugares do tacho mesmo que seja apenas o tacho de deputado ( e então europeu !!).
Lisboa a ver perder a hegemonia para o Porto, é la coisa que se cheire? Vão ver que isto pesa tanto com a deriva social democrata que Rio quer que o PSD volte a trilhar. Veremos em breve.

domingo, 13 de janeiro de 2019


Publicado no Sul Informação, 13-91-019

Avaliação de  Impacte Ambiental
- a sério ou faz de conta ? -
Um Governo progressista, numa Europa civilizada, não pode hoje em dia ignorar que a Política de Ambiente é um pilar fundamental da governação.
Subjacente à defesa do Ambiente está  todo um conjunto de intervenções sobre o território que determinam o grau de qualidade de vida da população e já não estamos propriamente agora a iniciar esse processo no nosso país.  Desde há mais de 40 anos, quando se criou a primeira Secretaria de Estado do Ambiente, que progressivamente  se foram aprofundando as medidas e as disposições legais com vista a orientar o País para um desenvolvimento sustentado, onde o usufruto da Natureza e dos seus recursos, implantados no nosso território, garantisse a perenidade dos processos produtivos.
Nessa altura Portugal cotou-se entre os países da linha da  frente da Europa no que concerne ás preocupações com o Ambiente, ainda estávamos longe das directivas que hoje em dia são apanágio da Comunidade Europeia !
Um dos instrumentos  que maior importância têm tido para o correcto ordenamento do território é sem duvida o dos Estudos de Avaliação de Impacte Ambiental (EAIA), que em princípio devem estar na base e anteceder todas as intervenções que, pela sua dimensão e características, possam interferir com a salvaguarda dos ecossistemas e com o seu equilíbrio dinâmico.
Ora a recente saga do actual Governo  sobre a construção de um aeroporto complementar ao aeroporto de Lisboa, aliás no seguimento de um processo sempre adiado desde há muitos anos e que revela pelo menos a fraca consistência da capacidade decisória dos governantes ( e a paciência dos governados…), é mais um caso paradigmático de querer parecer uma coisa e afinal ser outra.
A importância da dimensão da obra, o forte impacte no território e o seu volumoso custo,  deviam impor que em consciência se fizessem os estudos necessários para tomar a decisão de qual seria a melhor localização para o novo aeroporto; em vez disso e ao sabor sabe-se lá de que motivações, decidiu-se que seria no Montijo e então vamos lá depois ver se tem impacte ambiental significativo. E  por acaso tinha, o EAIA  “chumbou” o projecto do aeroporto.  E agora ? Faz-se novo estudo. Bom, mas se o projecto de obra é o mesmo  e se as condições ambientais também  não mudaram, que será que o novo Estudo vai decidir ? Ou fazem.se tantos estudos até que um deles dê certo?  a sério ou apenas fazer de conta ?
Não teria sido mais sério,  técnica e cientificamente mais acertado, menos oneroso em termos de custos ( porque os EAIA custam dinheiro…) e politicamente  mais correcto  e transparente ter encomendado uma Avaliação Ambiental Estratégica  ( a  UE até oferece um manual para os Governos não dizerem que não sabem o que é…) e depois então decidir a localização do aeroporto? Ou o Governo (em que o Ministro do Ambiente diz que não é ambientalista…) estava á espera que a fauna da Reserva Natural do Estuário do Tejo, uma das zonas mais importantes da Europa em termos de biodiversidade, se incomodasse com a obra e se mudasse para outro lugar ?
12-01-019 Fernando Santos Pessoa, arq.º paisagista
O autor escreve com a antiga ortografia

Publicado no PÚBLICO, como carta ao director, em 10-01-019

Aeroporto de Montijo -  Se este Governo tivesse uma Política de Ambiente minimamente credível e um Ministro dessa pasta que ao contrário do que confessa o actual tivesse convicções ambientalistas, o Pais não estaria a assistir a esta farsa sobre o projectado aeroporto para o Montijo. Há anos Gonçalo Ribeiro Telles disse que os Estudos de Impacte Ambiental (EIA), tal como são conduzidos, não passam de uma burla e isso está à vista neste caso. Elaborou-se um EIA que reprovou o aeroporto naquelas condições; vai fazer-se novo EIA para quê? Fazem-se tantos estudos até que um diga o contrário? Se o projecto do aeroporto não muda e as condições ambientais do Estuário do Tejo também não mudam, o que é que um novo EIA vai alterar?  Desclassificam a Reserva Natural do Estuário do Tejo e as aves incomodadas com isso vão para outro lugar...? E a poluição que vai recair sobre a zona mais nobre do estuário, não incomoda ninguém ? E o risco de tantos aviões sobre aquele habitat e sobre os milhares de pessoas que moram na envolvência? Não brinquem com o povinho!
Vir afirmar perentoriamente que o aeroporto vai ser mesmo construído ali, quase se pode dizer " a bem ou a mal", é uma atitude de enorme estupidez, arrogância e desprezo  pelo País e pela população. Se o Governo quisesse ser sério e rigoroso, para uma obra desta importância, antes de decidir a localização teria encomendado um Estudo de Avaliação Ambiental Estratégica que qualquer manual de Ambiente explica o que é. Porque é que não se explica o porquê desta teimosia? Que lobbies estão por trás do negócio? Porque é que se insiste em enxovalhar a seriedade que deve estar na base duma avaliação de impactes ambientais ?


segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

 Avaliação de Impacte Ambiental
               - o aeroporto no Montijo -             
Há muito que pessoas ligadas às preocupações ambientais referem que os Estudos de Impacte Ambiental, que são em si mesmo uma ferramenta fundamental para precaver atentados ao Ambiente, se tornam em regra numa farsa ou  como disse em tempos o Arq.º Gonçalo Ribeiro Telles,  uma burla, um embuste.
Quem os promove até pode ser uma equipa de gente competente - e tem que ser para pelo menos saber manipular os parâmetros analisados...Mas a apreciação fica depois sujeita a todas as pressões e tropelias que se possam imaginar.
Quem paga os custos do EIA é a empresa ou Entidade que tem a seu cargo executar determinada obra ou actividade, e ninguém vai pagar uma grande quantia de dinheiro para ver rejeitado aquilo que pretende executar. Isto parece evidente, não ?
A proposta de novo aeroporto em Montijo teve parecer negativo do EIA que foi feito para esse projecto; e agora, muda-se o projecto do aeroporto? Não senhor, faz-se é outro EIA e fazem tantos quantos os necessários  até dar certo... Este procedimento não é apanágio deste Governo, todos os governos procuram fazer o mesmo. A desonestidade do processo é que merece ser evidenciada.
Se a intenção fosse séria desde o início, o que deveria ser pedido era um Estudo de Avaliação Estratégica de Impacte Ambiental, onde seriam  avaliadas as alternativas possíveis para localização do aeroporto - porque há outras  possíveis. Mais uma vez vem a suspeita - havendo diversas localizações com prós e contras, porque é que depois dessas diversas opções, se escolhe apenas  o Montijo - que negócios estão por trás da escolha ? Se o processo fosse limpo e não  imposto por decisão governamental, fazia-se a análise ambiental prévia para as localizações mais prováveis, e ver-se-ia qual seria a melhor. Se à partida o Governo  estivesse apenas interessado em encontrar a melhor solução  para um grande aeroporto no melhor local, que desse garantias de segurança operacional e ambiental, teria pedido antes que fosse feita uma Avaliação de Estratégica de Impacte Ambiental - não o fez porquê? Há algum interesse particular por aquela localização ou existe algum lobby que esteja por trás  a exercer a sua pressão? O Ambiente nunca foi para o PS uma matéria a que desse grande importância, e muito menos quando tiver gente "sem  convicções" à frente da política ambiental.
Este novo EIA vai agora encontrar na região do aeroporto situações ecológicas diferentes daquelas que foram detectadas pelo Estudo anterior?  ou as áreas de Reserva integral de importância mundial do Estuário do Tejo deixam de ser consideradas ? Pensam  talvez que, desclassificando a área, as aves se aborreçam e  vão para outro lado... Não tem piada nenhuma  brincar com coisas sérias.
Devia era haver vergonha e arrepiar caminho enquanto  é tempo; antes do Governo assinar convénios e acordos com  a ANA ou seja com quem for, se é uma pessoa séria e acha que o Ambiente é também para levar a sério, primeiro munia-se das ferramentas sólidas para justificar a obra.



domingo, 6 de janeiro de 2019

A espuma dos dias

Há tanta coisa que anotar neste início de 2019 que daria para um grosso relatório. mas atenho-me apenas a tres assuntos.
1 - Marcelo Rebelo de Sousa  no Brasil -  A visita do Presidente da Republica ao Brasil para a posse do novo Presidente Bolsonaro, pode entender-se face ao especial tipo de relações que ligam Portugal e Brasil - mesmo sendo Bolsonaro um indivíduo perigoso, incompetente e que poderá vir a trazer graves problemas para a já sacrificada sociedade brasileira. Sendo o único Chefe de Estado europeu a estar presente na investidura, esperava-se um certo comedimento na postura do nosso PR - mas não o que se passou!! Penso que ele deveria ter estado diplomaticamente na cerimónia mas com uma pose discreta - mas ser discreto é coisa que o Prof., Marcelo não consegue em situação alguma. Mas foi longe demais com aquelas estapafurdias declarações, entre sorrisos e aperto prolongado de mãos, que estavam ali dois irmãos, e pior ainda, dar-se ao desplante  (não é outra coisa) de convidar Bolsonaro a visitar Portugal já no próximo ano. Com franqueza ! dispenso-me de  mais comentários.
- Manuel Machado na TV - Em democracia todos têm direito de expressar as suas ideias mesmo que sejam fascistas - embora na nossa lei esteja proibida a presença publica de organizações nazis, fascistas e quaisquer outras que despejem ódio racial ou religioso na sociedade. Aceita-se que pessoas como Le Pen da França  e outros lideres da extrema direita, chefiando partidos com aceitação popular, maior ou menor, possam ser entrevistadas e  expliquem ao que vêm. Mas Manuel Machado que apareceu em dois programas da TVI, não é apenas um lidere político de extrema direita, ele é um criminoso que esteve preso por matar pessoas, chefia um gang, que assassina e provoca ofensas graves em nome de racismo e xenofobia. Um bandido tem o mesmo direito que qualquer político de expor ideias em publico num órgão de comunicação social ? Em nome da liberdade de expressão? Para mim é ir longe demais,  o seu exemplo e com a projecção que lhe está a ser dada, é um incentivo a que outros façam o mesmo. Democracia sim, mas com defesa de princípios que são a base das nossas liberdades.
3 -  Roubo de azulejos no Colégio de Odivelas - O antigo Colégio de Odivelas é património nacional, e está abandonado desde que parece por pressão da troika ( ou do Passos Coelho que se aproveitou  para ir além da troika?) foi encerrado. Pertence ao Ministério da Defesa.
Ora tem sido de lá roubada grande quantidade de azulejos que fazem parte da riquíssima colecção de azulejaria que faz daquele  imóvel uma preciosidade.
Quer dizer, o Ministério da Defesa que devia ser exemplo de segurança e defesa, já foi roubado em Tancos e agora em mais este caso, dando que pensar quantos mais roubos não terão acontecido em instalações militares.  Todas as suspeitas são admissíveis, ou não ?

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

2019
       Mais um ano nas nossas vidas, nas vidas daqueles que estão vivos e na nossa  memória dos que já partiram.
         Este ano comemoram-se coisas notáveis e para já lembro-me de duas : em Junho passam 50 anos sobre a primeira vez que um homem desceu na Lua; mas no mesmo dia também se devia comemorar em Portugal o que quase todos ignoram - o primeiro transplante de órgão executado no nosso País, por um grande cirurgião o Prof. Alexandre Linhares Furtado, de quem tenho a honra de ser amigo há muitas décadas.

        Acabámos o ano 2018 com terríveis situações em todo o Mundo, desgraças que afectam milhões de seres humanos para quem nunca há um Ano Novo, pois todos os anos são anos velhos, terríveis, de sofrimento, de desesperança ; milhares e milhares de crianças que nunca chegam a ser crianças, porque perdem a inocência mal despontam para o conhecimento da vida, porque as que sobrevivem à fome e aos ataques odiosos dos grupos armados ou dos próprios Governos  que os deviam proteger apenas têm pela frente mais fome, mais sofrimento, mais ignorância que nem lhes dá certamente para se interrogarem porque é que vieram a este mundo !!
          A hipocrisia dos Governantes raia índices de barbárie, que revelam que o homem tem evoluído materialmente mas nada mudou no seu âmago espiritual - continuamos a ser animais em competição, já não usamos as nossas mãos e as armas  que temos connosco, mas accionamos botões que provocam  destruição e morte - numa escala nunca antes imaginável. A hipocrisia campeia, a desvergonha, a corrupção, a especulação, tudo quanto é mau e perverso, são os novos títulos de cidadania e de Poder.
            Pela Europa e pelo Mundo vai uma explosão de focos de proto-fascismo, implantam-se governos de xenófobos, de demagogos, de usurpadores da liberdade, de falsos arautos da liberdade que dela se servem para a destruir - em nome do povo, em nome da ordem, em nome de tudo quanto a humanidade já devia ter aprendido que só trás repressão e asfixia da vontades de cada um.  "Não, só quero a liberdade ! Amor, glória, dinheiro são prisões. Bonitas salas? Bons estofos? Tapetes moles? Ah! mas deixem-me sair para ir ter comigo. Quero respirar sozinho. ...Não quero! Dêem-me a liberdade! Quero ser igual a mim mesmo! Não me capem com ideais! Não me vistam as camisas-de-forças das maneiras! Não me façam elogiável ou intelegível! Não me matem em vida !- gritava Álvaro de Campos. E eu com ele !!