sábado, 27 de março de 2021

 Ainda o Ministério do Ambiente

O Ministro do Ambiente continua a pensar que endromina toda a gente e que, com aquele seu carão de barba mal feita e voz de baixo desafinado, consegue que alguém de bom senso acredite no que vai dizendo. Só a inimaginável  capacidade de António Costa para dar tiros nos pés e aguentar até  à última os que o ajudam a compor a  máscara, pode justificar que mantenha Ministros tão desastrados. Até aposto que o Primeiro Ministro ainda vai apontar para uma condecoração ( e o PR apoia, ai não...) o Matos Fernandes e aquele outro empregado para todo o  serviço que está à frente da APA, porque lhes fica a dever favores de grande monta.

A situação do Estuário do Tejo, no que se refere ao empreendimento para o Mouchão do Lombo do Tejo, e que motivou a Carta Aberta que eu  dinamizei, conheceu agora uma paragem, pois a famigerada APA chumbou o projecto - mas não há qualquer garantia de que seja feita uma "revisão" e tudo venha mais tarde a ser aprovado depois de, como usam dizer aqueles oportunistas governamentais, ser feita a correcção das irregularidades...

Agora o mesmo perclaro  Ministro anda às voltas. até com o Ministério Publico, por causa da venda das barragens da EDP aos espanhóis e sem pagarem alguns impostos devidos. A trapalhada de argumentos, (não merece aqui repetir o que a comunicação social tem esclarecido)  dá vontade de rir; para qualquer lugar para onde se vira, lá andam coisas esquisitas que envolvem sempre milhões e milhões, negócios  feitos sobre o joelho ou com cumplicidade declarada. Como escreveu o Miguel Sousa Tavares ( que nem sempre acompanho nos juízos que faz), é um ministro que tem por alcunha Ministro do Ambiente...





domingo, 21 de março de 2021

 Espuma dos dias...

Ainda a pandemia - As pessoas em regra têm respondido bem  às exigências de confinamento, apesar de se darem conta de anomalias perfeitamente desnecessárias, que foram sendo descritas até hoje ( proibida a  venda de livros das livrarias mas autorizada nos supermercados onde os ajuntamentos serão sempre maiores,  poder entrar-se nas lojas das estações de serviço para pagar o abastecimento de combustível e poderem ser adquiridos todos os artigos existentes...menos uma garrafa de água, etc).

Mas basta haver uma minoria que falha nas regras mínimas e todo o edifício da prevenção vem abaixo  - e  vejo com frequência pequenos grupos de pessoas a falarem umas com as outras na rua e sem a máscara, ou sentados nas cadeiras das esplanadas  vazias, em pequenos grupos e sem máscara, ajuntamentos nas filas para os supermercados  quando podem perfeitamente estar a uns 2 m uns dos outros, e por aí fora. Mas as coisas estão a melhorar em ternos gerais  e países que consideramos mais "avançados", como a Alemanha, Holanda, França, Republica Checa e outras estão a voltar ao confinamento porque os números de infectados aumentaram assustadoramente - outra vez !

A Eutanásia Já tenho escrito noutras alturas que haverá sempre reaccionários quando uma sociedade procura dar um salto em frente e introduzir inovações nos usos e costumes, reacções que chegam por motivos religiosos ou ideológicos. E em geral chamam-se reaccionários  a pessoas da direita mais extrema, que não aceitam mudanças políticas progressistas.  Mas em reacção ao problema da eutanásia  reagem contra ela à direita e à esquerda, por mais incrível que pareça.   Depois de discutida no Parlamento a proposta de eutanásia, votaram contra o PCP e o CDS e sabe-se que o Marcelo é contra e  fará tudo o que puder para empatar.

Mas até uma pessoa com capacidade para reagir de forma mais progressista, o António Barreto, também escreve barbaridades típicas da "arraia miúda"...  Diz ele " Pasme-se ! Em plena pandemia, de  confinamento em confinamento, ...."  " não havia tempo  menos indicado, momento mais desajustado e oportunidade  mais perversa do que esta. Eles não percebem o mal que fazem."  O que tem a ver uma coisa com a outra ? Eu pasmo com este chamamento ao sentimento, à comiseração, como se o facto de estarem a morrer pessoas com a pandemia não se possa falar de morte. Há cada uma!

Depois parece que apoia o suicídio assistido mas não a eutanásia - e esta é mais uma manifestação de pieguice forçada e total incompreensão do que é uma pessoa estar em aflição terminal, consciente, mas sem poder sequer alimentar-se sozinha e nessas condições não poder ser ela a tomar a droga para pôr fim à vida. É preciso total  falta de consideração pela dignidade de quem sofre.  Se assistisse, com eu já assisti a uma pessoa meses e meses, consciente, nos poucos intervalos que os tais paliativos a deixavam abrir o olhos e falar, mas cada dia menos consciente até ficar tolhida e que enquanto podia perguntava "  para morrer é preciso passar por isto", ou "já estou morto e eles não sabem"- como é que se pode negar o auxílio de uma comissão médica para providenciar um fim digno?

Outra balela usada " a vida humana é inviolável", mas o aborto não é ( se calhar também  foi dos que se opuseram,  pior  se o apoiou, nem quero saber), e "o suicídio  assistido não é  uma violação da vida humana""O valor da inviolabilidade da vida humana não é respeitado pela  eutanásia, dado que alguém tem de agir contra a vida de outrem."

Mesmo com todos os cuidados, que já foram propostos até à exaustão, para que não haja abusos nem erros, é descaradamente não acreditar na capacidade de uma equipa de médicos ser capaz de determinar a irreversibilidade da doença e que ainda  tenham que calcular o grau de sofrimento, como se houvesse uma escala igual para toda a gente. Puxa, tanta hipocrisia.

Volto sempre ao mesmo : quem impede a eutanásia está a impor a sua vontade a todos, quem pede a eutanásia está a pedi-la só para si,

Até a Espanha acaba de autorizar a eutanásia, 

Quando dá para o reaccionarismo os portugueses são dos piores  neste mundo ocidental evoluído!





quarta-feira, 17 de março de 2021

 Opiniões e contra-opiniões

As vacinas - É impossível não falar das vacinas e da vacinação em curso; tanto faz ter à frente da campanha um Dr qualquer ou um almirante, vão ocorrer sempre falhas e zig-zags. O mal já vem da própria UE onde, com tanto especialista e tanto Governo importante a jogar na "solidariedade", o certo é que não foram capazes de dar a volta às farmacêuticas que continuam a controlar o negócio bilionário das vacinas, prometendo e assegurando o compromisso duma quantidade e depois adiando as entregas enquanto forem vendendo  país a país que pague melhor...

Por precaução a DGS, seguindo o exemplo de vários países europeus mais informados que nós,  da UE e da própria OMS, suspendeu a aplicação das vacinas da Asta devido a suspeitas de graves efeitos secundários. Pois apareceu logo aqui um Prof e certamente especialista  a dizer que estava errado, ia atrasar a vacinação, não se devia ter suspendido.    Pois, não se suspendia, e daqui a alguns dias se surgissem em Portugal casos dos tais efeitos secundários graves que ocorreram noutros países, aqui d'El Rei que tinha sido um descuido indesculpável...

Ministro do Ambiente - serve para tudo - Um plano para uma nova ponte sobre o Douro, no Porto, foi apresentado pelo Ministro do Ambiente que mostra como ele sabe de tudo menos... de Ambiente. É um descarado yes man do Primeiro Ministro, tem o futuro político assegurado...







sábado, 13 de março de 2021

 Democracia e governação - o que nos falta

Já tenho deixado a indicação que estas notas que escrevo são sobretudo para mim mesmo, para minha memória futura, embora venham a ser lidas por quem aceder ao blogue. Mas não pretendo entrar em polémicas ou desaguisados - quem não concordar e não gostar, pronto, não lê. Não impinjo a ninguém...

Este ano comemoram-se 47 anos da chegada da democracia a Portugal, graças ao movimento de uns militares progressistas e moderados que souberam suster os extremismos dos dois lados do espectro. Embora com altos e baixos a população portuguesa tem sabido mostrar-se digna do regime que permite a todos a liberdade - até àqueles que se servem dela e, se puderem, a liquidam. Estivemos mais de quarenta anos sem uma extrema direita visível, estava escondida no CDS e no PSD, como se revelou desde que esse grupelho de proto fascistas, fascistas e até, segundo o que a comunicação social às vezes informa,  nazis, apareceu na praça publica.  

Do outro lado temos um  PCP que é apenas uma aberração ao manter-se fiel - não ao marxismo ( o que até poderia considerar-se  uma evolução, como por exemplo Carlos Brito e outros têm exposto) - ao leninismo, que foi uma adaptação  a uma sociedade feudal como era a russa, de uma teoria pensada para as sociedades industrializadas e modernas do finais do século XIX e inícios do  século XX. Mal de nós se voltássemos à ditadura do proletariado e à democracia popular que eu visitei em vários países europeus ou em  Cuba, mas que ainda leva os comunistas a dar vivas à democracia dinástica da Coreia do Norte... No entanto o PCP, ultrapassado  que foi o  período mais acérrimo da revolucionarite, adaptou-se ao regime democrático e foi uma peça fundamental para empurrar o PS, durante a geringonça, para a tomada de medidas sociais que, de outra maneira, António Costa não teria tomado.

E temos o BE, um conglomerado  que juntou comunistas de outras tendências e onde, com o tempo, parece que se vão esbatendo os mais extremistas e caminha para uma social democracia mais avançada, com repúdio de muitos dos valores dos marxistas leninistas. Mas daí a chamar extrema esquerda a estes dois partidos só mesmo por enviesamento da direita, ignorando o contributo que têm dado para a melhoria do Estado Social - claro que os liberalistas ( liberal sou eu,,) não se cansam de propalar  quem mais se opõe ao mercado livre do  laisser faire laisser passer.

O PS já teve a sua fase mais neoliberal e recordo que até eu, que não sou um especialista em ciência política, escrevi em Dezembro de 2005 uma crónica sobre o socialismo liberal do Pinto de Sousa ( deixo o Sócrates  para o insigne filósofo grego..). A ala esquerda do PS tem estado mais activa e foi responsável pela abertura à esquerda.

Mas há ainda muitas falhas e o que eu acho que é imperdoável aos  governos de esquerda democrática, mais do que exigiria a governos da direita democrática, é não terem contribuído de forma mais decisiva e  eficaz para que o Estado Social de Direito seja mais forte e menos atreito às concessões ideológicas que as direitas procuram sempre impor. É que, se a esquerda democrática - o socialismo democrático ou social democracia - se deixou impregnar por laivos do liberalismo, e já citei várias vezes alusões a essa realidade -  a direita democrática conservadora ou da democracia cristã então foi completamente apropriada pelas práticas liberalistas.

Já tenho citado, que tendo nós segundo números do INE cerca de 13% de trabalhadores do Estado, a média europeia anda pelos  17% e essa diferença de uns 4% para a média europeia actual já permitiria que tivéssemos serviços públicos com efectivos suficientes para realizarem as principais tarefas da res publica; e os governos socialistas portugueses até ao dos dias de hoje, não têm sido capazes de concretizar uma governação exemplar, isenta, eficaz e sobretudo com visão de médio e longo prazo.

Eu não estou tão contra, como outros, face à governação nestes longos meses de pandemia; houve falhas, houve um zig-zag acentuado - mas que país o não teve ?  Muito bem nos safámos nós que somos por tradição dados às baldas - e veja-se o que aconteceu com o afrouxamento das medidas pelo Natal, em que todos os Partidos concordaram para virem depois acusar essa fragilidade que teve consequências trágicas em termos sanitários, económicos e sociais. Desde a OMS até à UE todos têm andado aos zig-sagues, e assiste-se agora a esta pouca vergonha das empresas farmacêuticas multinacionais - o supra sumo do neoliberalismo e do mercado livre sem regulação - a lucrarem biliões com o negócio da saúde pública e a prometerem que entregavam aquilo que sabiam  que não seriam capazes de entregar, mas fecharam o negócio !

O que é mais grave nesta governação dita "de esquerda" é a incompetência de muitos ministros, a conivência em trapalhadas monumentais, o amiguismo  e o círculo fechado do António Costa como forma de sobreviver dentro do saco de gatos que é o PS -a hipocrisia de políticas que envergonham a esquerda e deviam ser exemplares, sérias e transparentes  e é a falta de, como já disse atrás,  políticas de médio e longo prazo quer na industrialização quer sobretudo no sector primário  e  do Ambiente e qualidade de vida. Havemos de falar nisso.







quarta-feira, 10 de março de 2021

 A democracia é frágil

Não podemos pensar só na peste que nos caiu em cima neste ano da (des)graça de 2020 que findou, já bastam as parangonas dos jornais e as exclamações bombásticas de alguns pivots das televisões, que causam uma atmosfera de susto e de quase paranóia, tanto quanto causam  cada vez mais o encolher de ombros de muita gente farta deste clima e destas regras que, sendo indispensáveis, se tornam opressivas e perturbam  a sensibilidade em largos sectores da sociedade.    Pensemos em outros assuntos...

 A democracia é frágil e  sofre as consequências das suas fragilidades que são também a sua razão de ser. Por ser permissiva e aberta aos confrontos de ideias, mesmo daquelas que a querem destruir, torna-se em muitos casos vítima de si  própria.

Há cada vez mais países no mundo que se revelam incapazes de sustentar a democracia que foi criada e desenvolvida sobretudo na Europa e  estendida a vários continentes. Uma sociedade para receber e aceitar viver em democracia tem que ser exigente naquilo que se ouve dizer à boca cheia, a ética, mas que  em muitos casos não passa de retórica. Há países onde se tentou implantar a democracia mas onde a sociedade não estava maioritariamente consciencializada para isso; veja-se  "Primavera árabe" sonhada por algumas elites europeizadas  mas nitidamente minoritárias, naquilo em que resultaram. Tirando a Tunísia, de mais forte influência francesa  e pouca população, e onde lá se vão aguentando as instituições democráticas embora com alguns solavancos, em todos os outros países  as ditaduras voltaram a impor-se; no Egipto a Irmandade Muçulmana ganhou as eleições com larga  vantagem para logo de seguida começar a impor a sharia e os demais preceitos islâmicos - resultado : o regresso dum ditador, única forma de manter o país dos faraós em ritmo de cruzeiro.

Na Europa é flagrante  a falência da democracia na Rússia e em muitos dos países que durante décadas estiveram sob a alçada da União Soviética.  A Revolução Francesa que, para lá dos seus excessos foi fundadora do Estado Moderno, nunca  chegou às estepes russas; Catarina "a Grande" ainda  tentou, convidando para sua Corte os filósofos franceses mais proeminentes, mas a nobreza feudal não deixou e os camponeses continuaram como servos da gleba até á revolução bolchevique.

E os países da Europa oriental ensaiaram mas não conseguem aguentar a democracia, já não falando naqueles que ainda ficam a satelizar a Rússia, como a Bielorussia e a Ucrânia, mas outros que tentaram modelos "ocidentais", veja-se a Hungria, a Polónia, a Eslovénia... A submissão à ditadura do proletariado durante décadas, precisamente quando a Europa ocidental ia melhorando e evoluindo nas suas  práticas  de liberdade e abertura democrática, moldou as mentalidades e os resultados estão à vista.

E até os EUA, padrão da democracia ocidental, que se alcandoraram ao primeiro lugar das potências mundiais cultivando a democracia,  até aí passaram-se quatro anos de  tentativas absurdas de subverter o regime por um Presidente paranóico, exemplo e estímulo para outros fantoches em todo o mundo. É o que está a vir à tona de água depois de décadas de  uma globalização neoliberal que tem tentado eliminar ideologias e deixar que os mercados funcionem em roda livre.

Depois da queda do bloco soviético recorda-se que surgiu um guru liberalista,  Fukuyama, a proclamar o fim da História  - já não haveria mais direita nem esquerda, apenas  a liberdade dos liberalistas e os seus mercados livres também, O mesmo arauto dizia em 2019, numa entrevista, que nunca esperou que o sistema que ele defendia gerasse tanta desordem e permitisse a eleição dum Trump; e atribuía uma das razões para isso acontecer à incapacidade da esquerda democrática ocidental de reagir e se ter deixado  influenciar pela ideologia do mercado.

Vamos continuar a pensar nestas coisas...








terça-feira, 9 de março de 2021

 Ainda e sempre o aeroporto no Montijo...

Continua a dizer-se na comunicação social que a  ANAC "chumbou" o aeroporto no Montijo, e isso não é verdade.

O que a ANAC fez foi simplesmente recusar-se  a apreciar o projecto por falhas legais relacionadas com a oposição de algumas autarquias e decidiu " indeferir liminarmente" o pedido de apreciação.

Portanto a ANAC não chumbou  o projecto conforme as suas competências técnicas, sobre o qual terá de vir a pronunciar-se no futuro, seja o aeroporto no Montijo ou noutro qualquer local.

Já se afirmou dúzias de vezes que há mais de 50 anos que se fazem estudos para o novo aeroporto de Lisboa e isso significa muitos milhões de euros inutilmente gastos -  gastou-se  e vai continuar a gastar-se.  São sempre estudos para viabilizar uma opção escolhida por razões politicas ou do negócio infeliz que foi a privatização da ANA nas condições desastrosas em que foi feita, amarrando o Estado a compromissos espúrios se o aeroporto não for feito no local mais barato e mais de acordo com as exigências e conveniências da multinacional francesa que ficou com esse encargo.

Tudo teria sido resolvido de início com  base em motivos científicos sérios e de ordenamento do território se algum dos Governos que já tiveram o assunto nas mãos quisesse escolher a melhor opção e tivesse encomendado uma Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) que analisasse todas as localizações e soluções  possíveis, incluindo a opção zero que será apenas a  das possibilidades da Portela.

Fala-se agora, graças à pressão da opinião pública e do escândalo que tem sido esta trapalhada  do "Montijo + um ", etc,  numa AAE  - mas quem é que acredita na seriedade da encomenda que vier a ser feita por este Governo com este Ministério do Ambiente ?

A única credibilidade para que a AAE seja realizada livremente e sem pressões políticas será através de um concurso internacional - duvida-se que isso esteja nos planos governamentais, depois do negócio com a ANA.  Ainda iremos assistir a outros  episódios desta  telenovela bufa...










domingo, 7 de março de 2021

 O país que temos...

Um exemplo a realçar-  São raros entre nós os exemplos de isenção  no que toca à apreciação  de políticos por pessoas de quadrantes ideológicos afastados e até  opostos. Conheço há muitos anos o Miguel Esteves Cardoso, muito culto e escrevendo com a maior das facilidades mesmo sobre assuntos que na aparência pouco teriam que  pudesse ser escrito. Não tenho especial intimidade com ele, mas não esqueço que ele foi um dos cinco que, comigo e com o GRTelles, pensaram na criação do Movimento Partido da Terra, nada daquilo em que depois se transformou.

Agora é exemplar o elogio que MEC fez, na sua crónica do Publico, ao PCP pelos 100 anos da sua existência como Partido.  Fica bem ser democrata neste caos de mediocridades e polarização que infecta a vida política portuguesa.

A múmia que ainda fala -  É inacreditável que um personagem tão caricato como é Cavaco Silva ainda se dê ao desplante de vir pronunciar-se em tom dramático aos portugueses, para apostrofar contra os adversários políticos fazendo jus, pelo tom das sua agressividade, aos mais obscuros dos populistas  e revanchistas da  direita trauliteira. 

Não há ninguém que lhe diga : porque não te calas ? Já nos julgávamos livres daqueles esgares de múmia que fala, mas ele aproveita a primeira ocasião,  mesmo a despropósito, para em vez de tratar do assunto para o qual foi solicitado a comentar, espraiar a sua mensagem de desesperada hostilidade e mau parecer com que nos presenteou durante tantos anos Mal vai a direita se continua a apoiar-se, seja para o que  for, num personagem destes...

Veio a propósito e com a elegância que se lhe conhece, de forma lapidar, o Jerónimo de Sousa, quando lhe perguntaram o que achava das palavras do Cavaco,  " está velho, está muito velho..."

António Costa fala, fala, mas...

Em grandes declarações António Costa descobriu que a pandemia nos tinha revelado o caos causado pelas politicas neoliberais - altura para perguntar, que medidas anti  liberais tomou ele ? Durante a geringonça ainda, graças às pressões do PCP e do BE, se assistiu a uma politica de cariz social que, sozinho, o PS nunca teria realizado.  Agora neste Governo tem andado a governar à vista, ora apoiando-se nas esquerda ora no PSD porque este também não sabe onde anda...

Mas se o PS tem culpas os outros dois também as têm; continuem a esticar a corda, como fizeram no final do Governo de Sócrates ( que a verdade é que já era de socialismo liberal...) e depois aqui d'el  Rei que veio o liberalismo mal aprendido  do Passos Coelho, do Portas, do Relvas e daquela tropa toda... Voltem a fazer o mesmo, vá  lá...








quarta-feira, 3 de março de 2021

Aeroporto no Montijo - continua a saga ridícula

Ai temos de novo um escarcéu dos diabos porque a ANAC chumbou a construção do aeroporto - antes tivesse chumbado pelas razões técnicas que àquela entidade competem, depois de apreciar correctamente o projecto. A ANAC  apenas se recusou liminarmente a apreciar a questão  por legalmente existirem Municípios que se opõem : por esse motivo  a Autoridade da aviação civil decidiu "indeferir o  pedido de apreciação prévia da viabilidade de construção do aeroporto complementar no Montijo apresentado pela ANA". Talvez seja uma posição institucional correcta, mas é dar mais uma oportunidade aos dois Partidos do "arco do Governo" para alterarem a lei que, na verdade é um contra-senso - fazer depender da aprovação de uma Câmara Municipal uma obra, seja ela qual for, considerada de interesse nacional. Depois da lei revista, se verá...  Isto é o que  também  nos deve preocupar

Realmente andar há uns 50 anos a discutir a localização do aeroporto, é típico da incapacidade  política dos nossos governantes, todos eles, para aceitarem razões técnicas contraditórias de decisões que se querem tomar por interesses colaterais fortes, em regra os grandes negócios...

O Presidente da ANA, que sabemos ser uma peça forte do PSD, vem dizer que construir o aeroporto em Montijo demora 2 a 3 anos e se for em Alcochete demora uns 6 a 8 anos ( e se for preciso ainda se dirá um número de anos  maior...) e, exclama,  não podemos esperar!! Tal é a pressa, hen? Quando é do conhecimento geral que a aviação vai levar muitos anos a retomar  algo de parecido ao que era antes da crise pandémica, é mesmo a altura de perguntar : qual é a pressa?

Do Governo e do seu competentíssimo Ministério do Ambiente e das decisões a favor do que é bom para o Ambiente, como em regra de todo o PS para quem ser ambientalista deve ser um  luxo desnecessário, nada podemos esperar se não voltar a  encomendar outro Estudo de Avaliação de Impacte Ambiental... A primeira AIA sobre o Montijo chumbou o projecto,  e embora nem a situação do estuário tivesse mudado nem o projecto, fez-se outra AIA e essa já foi favorável - mas faziam-se quantas fossem precisas até que uma desse certa...

Claro que, desde há muitos anos, quem se interessa pelas questões ambientais sabe e defende que deveria ter sido feita uma Avaliação Estratégica Ambiental, entregue a uma entidade independente e credível ( difícil...)  porque uma análise dessas dependeria sem apelo qual a localização mais adequada em termos de economia, de ordenamento do território e de problemas ambientais.  

Porque é ainda difícil para esta gente, mesmo vivendo em pleno século XXI,   aceitar que o mais importante na localização de uma infra-estrutura como um grande  aeroporto  sobre um Estuário que por sinal é  Reserva da Biosfera (mais  uma bagatela para os "produtivistas"...) que o mais crucial na tomada de decisão serão mesmo os problemas ambientais - e espera-se que a palavra final da UE  (que teremos que aceitar já que queremos solidariedade europeia em tudo, e ainda bem!!...) terá certamente esse sentido.

A Reserva Natural do Estuário do Tejo é uma preciosidade que temos no nosso País, tal como a vizinha  do Sado, e é uma das mais relevantes áreas europeias como habitat  para  dezenas de espécies de aves aquáticas, além de ser um testemunho da qualidade ambiental da região que beneficia todo o Centro do País.

Não são uns quantos passarinhos como depreciativamente alguns tecnocratas e políticos de carreira garantida costumam afirmar; são aves aos milhares e de diversas dimensões,  e construir um aeroporto em cima destes habitats é simplesmente criminoso e inconsciente,  e demonstra grande menoridade intelectual de quem a defende também por razões de outra ordem e é dessas outras razões que se espera a ANAC venha a ter opinião decisiva.

Não há forma de afastar as aves do local, a não ser dizimando- as e essas aves, muitas de grande porte, constituem um perigo real para os aviões, quer ao descolar quer ao aterrar,  pela possibilidade real de elas interferirem com os motores a jacto e provocarem acidentes.  Já se escutaram relatos de aparelhos que fizeram aterragens de emergência por terem colidido com aves,  e posso suspeitar que haverá muitos outros casos que não chegam ao conhecimento público. 

Agora imagine-se com um tráfego intenso de aviões a sobrevoarem o estuário, a intranquilidade que isso provocará na avifauna.  Vimos em dada altura dois pilotos da aviação civil virem à televisão denunciar isto mesmo, o risco da aviação naquelas condições-  não seria altura de voltar a ouvir os profissionais que voam aos comandos dos aviões e que, melhor que ninguém, sabem o que pode acontecer? Ou é melhor não os ouvir ?

Este é um dos aspectos em que a opinião da ANAC será indispensável - não por causa dos Municípios que estão contra.

Ainda sob o aspecto ambiental, protesta-se e com razão contra o ruído e o incómodo psicológico criado  na população por tantos aviões a sobrevoarem Lisboa de e para a Portela. E então os milhares de pessoas que vivem nas imediações do Montijo? Esses já podem suportar os mesmos incómodos que se querem retirar aos lisboetas ? Ou convencem-nos que as "medidas  de minimizar" os efeitos venham a criar um paraíso para quem ali vive? Tretas que sabemos não passarem de eufemismos e sem efeito prático - colocam escudos anti som,  melhorias das condições das habitações, e mais o quê ?

Por fim ainda outra série de problemas que não me compete mesmo valorizar, mas ouvimos todos na altura em que discutia o Montijo :  alguns prestigiados engenheiros civis falarem das dispendiosas e difíceis obras de engenharia sobre o estuário, para consolidar as áreas das pistas, sobre grandes profundidades de lodos e sem um fixe próximo - certamente são graves problemas a ter em conta.

Bom, por esta pequena amostra se vê que uma Avaliação Estratégica Ambiental assume grande responsabilidade e não pode repetir-se a cena de, se esta der negativa para Montijo, faz-se outra...  Que tal encomendar a uma entidade internacional credível?