segunda-feira, 28 de novembro de 2022

 A morte de um amigo

Fiquei abalado; o Manuel António Antunes morreu há dois dias. Soube já a noite ia adiantada e fiquei abalado.  Inesperadamente, aliás como deveria ser a morte de toda a gente: sentado num sofá, à noite, em casa de um vizinho a ver pela Tv um jogo de futebol, tombou para o lado e pronto.

O "Nelinho" era um dos meus quatro alferes da Companhia que comandei em Angola; passámos maus bocados por lá, outros mais animados e depois ao longo dos anos convivemos bastante - até porque ele tinha casa e alguma família aqui em Monchique. Estivemos juntos há pouco mais de um mês num convívio.

Dos "meus" alferes o Carreira morreu pouco tempo depois de chegarmos de  África, o Teodósio desapareceu de um dia para o outro, aqui há uns anos, emigrando para o Brasil e nunca mais deu sinais de vida, o Dâmaso vive em S. Miguel e convivemos de vez em quando - só o Antunes cá estava, ano após anos, nas nossas reuniões de convívio. Recordo-o já com saudade pois tínhamos combinado um almoço aqui pelo Algarve, um dia destes. É assim a vida - mas a morte deste jeito é o que deveria caber a cada um de nós, sem sofrimento e sem aviso. Pronto!!

A vergonha nacional dos trabalhadores escravizados

Tanto alarido por causa da situação dos emigrantes escravizados no Qatar e sabíamos ( mas esquecemos) que tínhamos e temos por cá  o mesmo negócio. Desde para ai  há um ano o caso dos trabalhadores  em Odemira e agora a PJ sentiu.se estimulada e lá anda de volta de traficantes de trabalhadores, escravizados no Alentejo e certamente noutros pontos do país.,








quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Tanta coisa!...

Tanta coisa para comentar e deixar para memória futura, alguns dislates e atitudes inconcebíveis.

Mundial de Futebol - Agora é que todos descobriram que o Campeonato foi vendido por milhões  a um país socialmente atrasado apesar de nadar em dinheiro, que ainda por cima é muçulmano com todas as  limitações que isso implica-  enquanto um muçulmano vem cá e faz a vida que quer, quem não for desse credo e viaje a um pais desses é obrigado, lá, a respeitar as leis locais. Eles cá podem fazer mesquitas e lá não se podem construir igrejas ou templos hindus ou budistas...Pequena diferença...

Durante os anos das construções das infra-estruturas já se sabia que havia vítimas entre os trabalhadores, falava-se em surdina  e agora que despertaram para a desumanidade  que foi ocorrendo vêm com desculpas como a do nosso PR que desporto  é desporto...

Acabo de saber que hoje a nossa equipa empatou com o Gana - a enxurrada de comentários que vão aparecer - vai ser de fugir e não se poderão abrir as Tv... (*)

Tráfico de seres humanos - em Portugal 

Já se sabe desde há anos que há máfias a trazer trabalhadores de países asiáticos para a nossa agricultura ( imagina-se o que poderá haver por essa Europa fora,  Itália, Espanha,,,).  Como a propósito do Qatar se falou mais dos direitos humanos, pronto, a nossa PJ actua com espavento e já prendeu uma data de traficantes - ou pelo menos presumíveis  traficantes,  não faltarão advogados para os defender e, se possível , inverter o ónus da situação. 

Então as Direcções Reginais de Agricultura não deveriam ter o controle sobre todas as explorações e estarem a par de quem chega a cada exploração e em que situação ?

Direcções Regionais de Agricultura

Então não parece que querem acabar com elas? Brada aos céus este desmantelar do sector agro-florestal.

Quem são as eminências pardas que aconselham estes últimos  Governos quer de direita quer de "esquerda"? Ninguém parece  importar-se, tantos técnicos competentes que ficam calados, a opinião pública indiferente  É o país que temos.

A vergonha da guerra suja

Continua a atrocidade da guerra suja  que a Rússia do Putin impõe à Ucrânia. covardemente a atacar de longe porque já se viu que no terreno perdem vergonhosamente para os ucranianos,  Estes defendem a sua casa, é a diferença. 

O novo manda chuva do PCP vem dizer que a culpa é do Ocidente, claro, porque - pergunta ele -  já viram o que acontece quando se atiça um cão ? Não é lá muito lisonjeiro para Putin, mas como este novo líder quer imitar o Jerónimo com as frases populares, vá de dizer o que primeiro lhe vem à cabeça. Mas os outros intelectuais de esquerda e mesmo sem ser de esquerda como o Miguel Sousa  Tavares - que quer parecer original e diferente - alinham pelo diapasão já gasto de fim a guerra e a paz à frente de tudo. Mas que paz? Deixar que a Rússia ocupe território da Ucrânia e esta deponha as armas, é isso ? Claro que é isso. digam-no.

Nós, portugueses, que andámos séculos a defendermo-nos dos castelhanos, devíamos ser dos primeiros a reconhecer. a legitimidade de todas as armas que Zelensky consiga arranjar.

Embirram desde o início com o Zelensky, porque era teatral  tentando diminuir o seu ofício de comediante - o certo é que ele , com todos os defeitos que possa ter ( e tem com certeza) encarnou o seu povo e resiste como um herói à perseguição  dos russos, Porque  usa mentira e contra informação para obter ajudas externas  - claro, todos usam a contra informação e a mentira, muitos que são muito mais justificáveis nele que é do país invadido , mais pequeno, mais frágil e está a ser despedaçado pelo poderio aéreo russo.

Estes críticos deviam ter vergonha de não serem explícitos, esconderem-se por trás de  meias palavras para agradar aos dois lados - uma vergonha!  Claro que a NATO conta a sua versão e fomenta a resistência ucraniana - mas porque é que um país independente não pode escolher o que quer fazer ? Independência limitada é isso que propõem? Também acho que será prudente que a Ucrânia fique fora da NATO, mas olhem para a Suécia e a Finlândia se não acabaram pro se juntar à NATO para se sentirem protegidas ? O que  Putin está a conseguir, ao contrário do que pretendia, é reforçar a aliança europeia e - sabe-se lá...-   do Médio Oriente e Ásia Central onde vários países da orla da ex -URSS agora querem afastar-se dos russos a todo o custo, com  este revanchismo  de Putin e seus  ideólogos.,

No fundo, o que a Rússia tem  ( e já o tenho dito outras vezes ) é inveja de não conseguir criar um  regime de democracia plena como a nossa do Ocidente ( e do Oriente pois Japão, Austrália, Coreia do Sul, etc,  são "orientais"...

É absolutamente injustificável uma guerra quase mundial no seio da Europa; Putin nem se importa com a expansão do ódio anti-Rússia que ele está  a criar em toda a Europa e um pouco pelo mundo. Mas se a Rússia não for desfeiteada todos os países à sua volta ficarão em risco eminente. .

Ainda se teve ocasião para ouvir o balofo do ministro Labrov a dizer, de olhos baixos e sem olhar para as câmaras, que não estavam contra o povo ucraniano, estavam sim contra os neonazis que governam a Ucrânia; não me admira se existem neonazis na Ucrânia., como os há na Rússia  e estão no apoio a Putin, E como se o que Putin e Labrov estão a fazer não seja  exactamente o mesmo que Hitler fez em nome da protecção dos povos germanófilos e do seu espaço vital- qual a diferença?

Eu fui dos muitos que se manifestaram contra as guerras promovidas pelos EUA e a NATO, desde o Vietnam ao Médio Oriente e as suas alianças  com regimes autocráticos e insuportáveis como as monarquias do Golfo  e da Península Arábica- desde que obtenham os recursos de que precisam assim como fechem os olhos ao que se passa na Turquia.  Mas não me recordo de ver os comunistas- que agora  protestam contra o rearmamento da Ucrânia( porque isso dificulta a tarefa "patriótica" da Rússia) terem protestado contra a invasão dos russos no Afeganistão, onde tentaram implantar uma  das suas democracias populares e de onde saíram com o rabo entre as pernas. Tudo o que os EUA fizeram depois, de errado, teve origem nesta acção soviética.  

E o que a Rússia está a fazer agora é absolutamente criminoso e não poderá repetir-se, doa a quem doer. Não consigo suportar a ideia de que um ditador despótico, que mantem a Rússia em absoluta desinformação, sem qualquer vestígio de democracia, se dê ao desplante de provocar uma guerra destas em pleno século XXI. 


(*) Acrescento umas horas depois : afinal ganhámos ao Gana!




domingo, 20 de novembro de 2022

 Continuar pensando nas coisas da vida...

Não admira que, no nosso tempo, continuemos a pensar como as gerações anteriores:  o nosso tempo é terrível, passam-se coisas inaceitáveis...  E voltando à História, é difícil imaginar as tragédias mundiais das pestes e das guerras.

Desde que há dados históricos sabe-se de pestes  durante os últimos séculos do Império Romano e depois por toda a Idade Média, com grande realce para a peste negra que dizimou  muitos milhões em todo o mundo e de europeus, considerada a mais grave peste conhecida da Humanidade; mas já no início do século XX ocorreu a gripe espanhola também chamada  pneumónica, que matou novamente muitos milhões - os meus avós maternos, da Serra da Estrela, morreram com essa peste. Por isso com este coronavirus do século XXI - um de vários coronavirus conhecidos, com existência em animais e passagem para o ser humano- o  Covid 19, só graças â medicina e à farmacologia que existe neste século XXI é que foi possível que não tivesse ocorrido outra grande tragédia, mas mesmo assim foi dramático em todo o mundo - e mais uma vez não se conheceram fronteiras.

Indesculpável, por todas as razões, é que neste seculo XXI se tenha iniciado uma guerra na Europa. 

O nosso continente conheceu ao longo dos séculos várias guerras terríveis, que  assolaram todos os países embora uns mais que outros; até nós levámos boa parte da nossa Historia em guerra para nos livrar-nos dos vizinhos castelhanos, que não aceitavam  a nossa independência  tal como quiseram sempre - e conseguiram-  abafar os outros povos peninsulares. Passámos anos de horrores por causa dessas guerras.

Todos conhecem a guerra dos 100 anos, que decorreu entre 1357 e 1453, e que foi uma sucessão de várias batalhas, às vezes com décadas de intervalo mas com os mesmos intervenientes, em especial França e a Inglaterra. Havia interrupções e recaídas, numa sucessão que deixou os países europeus de rastos.  E ainda houve a guerra dos 30 anos, que dizimou a Europa Central; tivemos depois as guerras napoleónicas, devidas a um louco com a mania que era o senhor do mundo e só com a sua derrota total e prisão ( safou.se de ser enforcado...) tivemos paz na Europa. Mas mais tarde a guerra franco-prussiana  voltou a deixar marcas mas apesar disso não foram capazes de evitar a 1ª Grande Guerra mundial do século XX -     que devia ter marcado os países e os povos, mas não.

 Uns vinte anos depois estávamos noutra, a 2ª Grande Guerra, provocada por outro louco egocêntrico e paranóico. guerra mais destruidora ainda até porque com ela nasceu a arma mortífera mais poderosa de sempre e  que se inventou então, a bomba nuclear, que foi usada. Nunca esqueçamos isto, hem?

77 anos depois aí está mais uma guerra europeia,   que outro louco, paranóico, egocêntrico e ditador, vindo da "grande" Rússia mas que se está a revelar um tigre de papel e com as garras cortadas rente, se deu ao abuso de cometer.  E como sempre há quem o apoia: quem?- os ditadores das democracias populares, os regimes de onde só fala quem segue a voz do dono e aceita todos os caprichos e todas as imposições que a elite de Poder lhe impõe. E quem mais ? - alguns  "progressistas de esquerda", comunistas e afins, que não gostam do imperialismo americano que os deixa falar à vontade  e os atura sem os molestar - e preferem o imperialismo russo, saudoso  da caduca  União Soviética, que só deixa falar quem o chefe quer e mete na cadeia ou manda  matar os que se lhe opõem. Estranho? A mente humana é um universo cheio de mistérios...





quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Pensando nas coisas da vida...

 Vivemos tempos conturbados e, porque estamos neles inseridos, temos tendência certamente a pensar que são tempos excepcionais, mas não são. Em todas as gerações se passam factos perturbadores, ocorrem situações dramáticas, e em cada geração  se descreve o que se passa como sendo coisas terríveis,  coisas excepcionais. É natural, os seres humanos sentem aquilo que vivem e enfrentam sem alternativa, pois aquilo que se conta do passado,  mesmo recente, diz respeito a outros que não a quem está numa dada altura a pensar e a sofrer -  ou a beneficiar - de agressões psicológicas  ou  de invenções e grandes descobertas. E em todas as gerações se fica espantado com aquilo que  se viveu e que se julga  acima do que acontecia  antes.

Recordo o que o  meu pai, que nasceu no último ano do século XIX, me contava - e também aqui estou a ser igual aos velhotes da minha idade que é o  recordar as coisas mais antigas dos pais  e avós.  Dizia ele que conhecera as maiores transformações da sociedade que se podiam imaginar, e tinha razão: nasceu na monarquia, viu surgir a República,  o meu avô, seu pai, aderira desde muito novo ao ideal republicano e era uma bom operário mecânico dos caminhos de ferro, onde chegou a chefe torneiro; fora o primeiro aluno a matricular-se na Escola Industrial aberta pela Republica na Figueira da Foz e esteve na fundação da delegação local do Partido Evolucionista do António José de Almeida, por quem o meu pai conservou ao longo da vida um grande respeito e admiração "porque era entre os políticos republicanos o mais sério e dedicado ao povo, sem pensar em  benesses".  Depois, dizia ele, tinha visto aparecer a caneta de tinta permanente e não ter de continuar a  escrever com aparo e tinteiro,  viu surgir o cinema insipiente, mudo e a preto e branco e depois chegar ao filme sonoro e a cores; viu aparecer a televisão; viu a 1ª guerra mundial, morreram dois irmãos, o António em exercícios  em Tancos e o José na batalha em La Lys .  Sofreu com a chegada da ditadura de Salazar, mantendo-se secretamente na oposição e, dizia, votava sempre com um traço a cortar a lista do regime.

Assistiu à 2ª guerra Mundial, que eu mesmo recordo - era pequeno mas lembro os exercícios à noite e em especial o dia do armistício, a meio da tarde: estávamos todos à mesa na sala de jantar até que a voz do Fernando Pessa proclamou que a guerra acabara - e abriram uma garrafa de champagne. Ele viu os foguetões no espaço, os avanços duma medicina que já nada tinha a ver com as mezinhas da sua juventude, etc. etc. Quer dizer para ele tinha passado por tempos excepcionais e isto foi o que aconteceu ao longo da vida das sociedades humanas, sempre!

Penso muitas vezes no período dramático que foi, por exemplo, os últimos anos do Império Romano do Oriente e em especial um episódio relevante; quando o Imperador Constantino, por influência da mãe que veio a ser a Stª Helena. proclamou o fim do paganismo e a adopção do cristianismo como a única religião permitida  em todo o Império. Deve ter sido um trauma de proporções  sobre-humanas! Destruição de templos e perseguição aos que teimavam em seguir a religião dos seus antepassados, com  aquela multidão de deuses que cobriam todas as necessidades do ser humano e todas as coisas que sucediam na Terra e no Cosmos - era um mundo de farta imaginação e onde cada um podia escolher para si os  deuses de que mais gostava.

Com o Cristianismo veio um só deus ditador, misericordioso mas capaz de permitir as maiores calamidades sem intervir, e com ele  uma miríade de  santos que fazem as vezes dos pequenos deuses gregos e romanos  - e toda a gente foi obrigada a aceitar e calar. Muito mais  tarde, Santo Agostinho, com a sua vasta cultura e ao que tudo leva a crer uma inteligência acima do vulgar, veio dizer ( in De Vero Religione) que todas as religiões foram sempre verdadeiras até que surgiu  religião cristã e passou então a ser a  religião verdadeira - coisa que a Igreja não deve gostar nada e faz por esquecer.

Mas voltando aos últimos séculos do Império Romano, a instituição do Cristianismo como única religião permitida deve ter trazido traumas indescritíveis às sociedades  onde chegava a força do Império; até que foi eleito como Imperador Juliano no ano de 361 e que morreu com 32 anos de idade, apenas dois anos depois numa batalha contra os persas. Apelidado de Apostata, Juliano ficou célebre por ter proclamado o fim da exclusividade do cristianismo  e defendeu o paganismo . A sua carta " Defesa do Paganismo -  Contra os Galileus"  é um documento notável, onde mete a ridículo os mitos cristãos comparando-os com outros mitos também ridículos do paganismo,  que ele não esconde. Só que proclama que todos têm o mesmo direito de acreditar naquilo que quiserem. Isto dito em pleno século IV  da nossa era é simplesmente fantástico e talvez a primeira proclamação da liberdade de expressão e de crença!

Só que com a sua morte prematura, o seu sucessor repôs o cristianismo, daí em diante sem mais equívocos. Mas pensemos que, se Juliano tem tido uma vida longa e normal como seria de esperar com 32  anos,  a História teria sido diferente daí em diante e o cristianismo não passaria de mais uma seita como tantas que pululavam  nesses tempos no Próximo Oriente e na Índia.  

Imagine-se o que terão sido as convulsões dos seres humanos destas sociedades apanhadas nas ressacas destas alterações!

Vou continuar a pensar nestas coisas num próximo  escrito...









terça-feira, 8 de novembro de 2022

 Os nossos tempos são assim

Cimeira da ONU sobre o clima

Em pleno Outono ameno, numa bela estância de turismo  de uma democracia exemplar como é a egípcia, estão os manda-chuvas da maior parte das nações a jantar e a conversar nos intervalos sobre as alterações climáticas. Que países como Sonda e outras nações insulares estejam cada vez mais submersas pela subida dos oceanos, também se fala lá, mas quem pensa que enquanto não estiverem mesmo a afogar-se vai lá alguém dar uma ajuda, esqueça - quando isso acontecer então todos os grandes  países enviarão para lá barcos de socorro, carradas de latas de conserva que se estão a estragar por falta de uso..., mas é preciso que eles estejam a mesmo a afogar-se.

Estão também lá António Costa e acho que com ele o  ministro do Ambiente, dois especialistas  cheios de soluções para  os problemas ambientais ...dos outros. Por cá os nossos parques naturais continuam a "apodrecer", acolhem eucaliptos e actividades agro-industriais, como deve ser o papel das Áreas Protegidas..


A "família" de António Costa

A série interminável de compadrios, de incompatibilidades entre cargos no Governo e ocupações privadas e familiares, a aceitação de casos dúbios, enfim, uma série de atropelos à ética estão a acontecer todas as semanas e já quase dia sim dia não.  Será que António Costa não se dá conta do mal que está a fazer á politica em democracia ? Claro que dá conta, sabe muito bem mas não se importa, é um  misto de arrogância e desprezo pela opinião pública. Trata todos os assuntos da governação entre amigos e amigos dos amigos, como família que se sujeita a trabalhar para ele sem ganir.  Arguidos em processo de tribunal são nomeados para o Governo? Pois, arguido não é culpado...mas pode ser ou não ? As consequências para a opinião pública  sobre uma governação de esquerda democrática serão desastrosas, os "chegas" e não só, também os liberalistas e a manhosice do PSD estão à espera do seu bocado do bolo - mas quem é que disse que esta governação é da esquerda democrática? Isto tem alguma coisa a ver com a social democracia europeia?  O futuro próximo vai ser trágico, sem exagero desta palavra.


sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Este texto foi escrito em 19.10.22 e tem estado a aguardar…

A desagregação do sector agro-florestal

A falta, acentuada nas últimas décadas, de políticas de médio e longo prazo, ameaça o futuro sustentável do  nosso país. Tão mau como isto só o descalabro do Serviço Nacional de Saúde.

O nosso país tem perdido capacidade de se auto-sustentar e de assegurar um futuro aceitável para as próximas gerações. Palavras como alterações climáticas, transição digital, não passam disso mesmo, de palavras para encher os ouvidos sem se traduzirem em garantias de perenidade dos nossos recursos renováveis, raros e escassos, como o solo e a água.

Desde que nas décadas de oitenta-noventa do século passado o Governo deu subsídios aos pequenos e médios agricultores para deixarem de produzir, invocando a solidariedade europeia, foi a abertura para o abandono do interior e de todas as zonas minimamente agricultáveis. A solidariedade europeia deveria ter-se afirmado pela atribuição de subsídios para melhorar a produtividade, certamente baixa de parte dos nossos solos, e incentivar novos agricultores.

Depois a extinção dos Serviços de Extensão Rural foi o golpe fatal; em vez de fazer desse Serviço a forma de atrair gente nova para a agricultura e de ter investido na investigação e na experimentação agrárias (agro-florestal), o que se fez foi destruir tudo quanto as Direcções Regionais de Agricultura faziam em termos de investigação e experimentação que eram tão fundamentais para introduzir novas culturas, nomeadamente de ciclo curto, e novas tecnologias. 

Por mais que um ex primeiro-ministro diga que foi ele o primeiro e autêntico social-democrata o que na verdade fez foi abrir as portas à agro-indústria e ao aumento exponencial da mata industrial de eucalipto. Houve certa altura, não preciso de citar nomes, em que o Ministério da Agricultura e Florestas esteve por inteiro entregue a políticos oriundos da indústria da celulose. Grave é que nenhum outro Governo depois foi capaz de travar a política neoliberal que se insinuou, como sempre fez o liberalismo ao longo dos tempos desde o século XIX. Em 2005 era tão patente que até eu escrevi uma crónica intitulada “Este socialismo liberal”, em que previa que a primeira palavra cairia e ficaria apenas a segunda…

É o que acontece, apesar dos governos ditos socialistas que temos tido, com o estado depauperado a que chegou o nosso sector agro-florestal e, consequentemente, a política ambiental. O neoliberalismo que ocupa as mentalidades de muitos é como a hidra que renasce sempre, quando lhe cortam uma cabeça faz nascer outras; e apesar das tiradas de fé dum Fukuyama ( nada pior que o fanatismo…) que anuncia há várias décadas que a História  acabou e só o liberalismo está para ficar, há quem, como Joseph Stiglitz, Prémio Nobel da  Economia, avisasse já em 2001 que o liberalismo prejudica a democracia há 40 anos, e voltou a denunciar em 2019 que continua  a haver economistas a pensarem não haver grandes motivos para preocupação se mantivermos o aumento da temperatura global  até aos 3 e 4ºC, o que é uma aposta insensata e “não temos mais para onde ir se perdermos a aposta”.

Precisa-se se sensatez e realismo e, quanto a nós, à falada solidariedade europeia devemos exigir apoio para refazermos uma agricultura alimentar e forrageira que tanta falta nos faz, dessa forma compensando a menor produtividade de alguns solos, em vez de estarmos a gastar solo e água, tão escassos sobretudo no Sul. com o regadio de olivais e pomares industriais de fruteiras. Quem é o agrónomo credenciado que aceita ser ministro da agricultura sem controlar todo o sector? Quem é o cérebro iluminado, mas sem qualquer especialidade e experiência, que aceita ser ministro do ambiente e das florestas sem conhecer nada desses assuntos?

Quando poderemos voltar a ter governos que dediquem o máximo das suas capacidades e competências (não de clientelismo) aos problemas centrais da sobrevivência?

Olhem para o mapa abaixo, com origem no IPCC (que até já saiu no Publico num artigo de Patrícia Carvalho) e que mostra áreas das grandes secas no mundo, mas olhem com olhos de ver e cabeça para entender. E devolvam-nos uma política agro-florestal eficaz e adaptada à garantia do nosso futuro. Basta de palavreado oco de sentido, é mais que tempo do realismo, do conhecimento e de políticas que visem o médio e o longo prazo no sector primário do qual depende a nossa sobrevivência como povo e como Pais.  Uma política democrática e social não se pode ficar pelo assistencialismo aos mais necessitados, tem que garantir o futuro para todos.

 




E completo este assunto com outro mapa mundial com origem também no IPCC. que revela as zonas de maior escassez de água -  estamos lá, hem ?




Agora perguntamos ao Governo o que é que se está a fazer para enfrentar esta realidade? Já se viu alguma campanha maciça voltada para  a população nas TVs, rádios e imprensa, para  mobilizar para a economia da água, sobretudo no Sul? Não se trata de lançar o pânico, mas sim de sensibilizar as pessoas para menores consumos supérfluos da água.

Já se está a preparar alguma estação de dessalinização da água do mar para fornecer água à população urbana que se estende ao longo do litoral? A água disponível hoje é quase só obtida no interior e é necessária para as populações desse interior que não têm outra alternativa -  e água para a agricultura .

Todo o Mediterrâneo já faz abundantemente uso da água dessalinizada - e nós estamos à espera de quê?