sábado, 28 de março de 2020

Incongruências

Num tempo de  peste mundial  é inevitável que brotem incongruências dos mais diversos campos da vida dos povos.
1 - O drama humanitário dos refugiados -  Não é possível esquecer o que se está a passar com os refugiados que acorrem à Grécia, empurrados pela chantagem que o proto-ditador turco faz com a UE.
Mas só quero acrescentar, para registo,  um depoimento  terrível.
Hoje ouvi um breve depoimento de uma jovem portuguesa de 23 anos que está a trabalhar num campo em Lesbos.  Sobre esta pandemia o que ela disse é arrepiante: quando o vírus chegar àqueles milhares de pessoas a viverem nas condições de miséria e despojo absoluto, não haverá nada a fazer senão vê-los morrer . Se para os dias de hoje quase não há apoio que chegue para mitigar a fome, se a pandemia entrar nos campos de refugiados, não haverá apoio para tratar seja quem for. Que Humanidade é a nossa ?!
2- O vírus e a economia -  Não é preciso ser economista para  um cidadão medianamente informado já ter entendido que as consequências desta pandemia para a economia mundial serão catastróficas. E pouco têm a ver com  anteriores crises, mesmo com a última Guerra Mundial - aqui morreu muita gente, foi destruída muita infraestrutura, muitas cidades, muitas fábricas, mas houve sempre alguma coisa a funcionar,  os homens iam para a frente de batalha e as mulheres invadiram as fábricas, as oficinas.  o comércio, etc, e mantiveram muita coisa a laborar. E a situação política mundial era muito diferente : não existia esta globalização neoliberal que agora se implantou mesmo em países como a China que se dizem não capitalistas mas usam as mesmas regras, e os Estados eram independentes, havia trocas comerciais mas cada país podia orientar a sua economia, as suas finanças e a sua moeda como entendesse melhor. Esta diferença é abissal  face à  interdependência que hoje se constata entre Estados e entre blocos económicos. As políticas económicas a aplicar para enfrentar os choques negativos da oferta e da procura não podem ser as receitas neoliberais que até aqui funcionaram,
Como referia o Prof. Paul de Grauve  as longas cadeias de produção, que hoje  são interrompidas pela paragem de funcionamento e por decréscimo da procura, são o resultado da globalização. Não podem ser eliminadas de um dia para o outro.
Haverá uma tendência para políticas mais sociais e para cadeias de produção de menor escala e menos  tão crucialmente interdependentes.
O capitalismo sem restrições desempenhou um papel central na criação das múltiplas crises que as sociedades enfrentam actualmente - escrevia o Prof. Joseph Stiglitz muito antes ainda da chegada da pandemia.
Estas ideias já circulam por aí e deixam muita direita de cabeça perdida. 
O último exemplo do abismo a que as políticas até agora seguidas nomeadamente pela UE, conduzem, está bem patente nestes últimos episódios sobre a instituição ou não dos eurobonds, onde países estruturalmente neoliberais no pensamento e na acção se opõem frontalmente à emissão de dívida comunitária que permitiria aos países em mais dificuldades recuperarem o seu equilíbrio económico e de finanças públicas.
Vamos olhando ao desenrolar da crise e veremos,  nem os maiores  experts sabem dizer o que virá  depois da passagem do pico desta pandemia. Cá estaremos se não formos  vítimas...





segunda-feira, 23 de março de 2020

Tragédia sobre tragédia
É fácil ser melodramático no meio desta crise que está a virar tragédia em vários pontos do mundo. Ainda ontem num mapa mundi surgido na televisão,  assinalando com círculos vermelhos  as áreas mais afectatas, aparecia a  África quase em branco - alguém acredita que a infecção naquele imenso continente, é assim tão reduzida? A informação sobre o que por lá se passa é muito dispersa e certamente não cobre os territórios como cobre aqui na Europa e um pouco em todo o resto do planeta.
Mas há uma região que até causa calafrios a quem pensar nela, como referia a crónica do Sena Santos da Antena 1 : todo aquele Mediterrâneo Oriental e o Próximo Oriente onde se amontoam milhares e milhares de refugiados em campos de concentração. Nos campos de concentração nazis também havia à porta aquela frase vergonhosa  " o trabalho liberta"...
Nestes campos de refugiados já não deve haver socorristas em numero suficiente para ajudar aquelas infelizes famílias,  sob frio, sob neve, sem roupa, sem higiene, sem comida, sem dinheiro para comprar comida mesmo que a houvesse...
É uma tragédia sobre a tragédia mundial do vírus, um pavor,  e vai continuar a ser notícia de fim de página  na imprensa e certamente deixada de referir nos telejornais. Nestas alturas  vem ao de cima o pior do ser humano, a par da heroicidade de umas minorias que continuam a arriscar a vida em todos os hospitais  e centros de saúde de quase  ( quase) todo o mundo.
A notícia daquela tentativa de Trump junto de uma farmacêutica alemã que está a preparar uma vacina contra o coronavírus, oferecendo milhões para que ela fosse fornecida apenas aos EUA, desapareceu dos escaparates, mas devia ser para sempre recordada por revelar até onde pode ir a falta de vergonha de um governante - é outro tipo de  tragédia a somar às tragédias que proliferam todos os dias.







domingo, 22 de março de 2020

Marafado vírus chinês
Não venho dar realce à campanha certamente oriunda dos americanos ( de que outro sítio poderia ter vindo? ) de que o coronavírus foi fabricado pelos chineses para estoirar com a economia mundial, em especial a dos EUA e assim poderem ascender ao primeiro lugar mundial. Parece certo que esse vai ser o resultado da pandemia, a China já está a recuperar da crise, já domina a epidemia, já está a comprar, fala-se  em 30%, as acções das maiores empresas estrangeiras, compradas a preço de saldo, e quando a economia retomar a normalidade as mais valias dessas acções dão-lhe uma supremacia  indiscutível. Mas que isso tenha sido uma conspiração malévola  e provocadora, que o Estado chinês ( imbuído daquele terrível espírito maoísta de destruir a burguesia) tenha posto a sua população infectada  com a previsão de a recuperar em pouco tempo ( e já está a recuperar) deixando o resto do mundo a sofrer, é coisa de algumas mentes distorcidas cá do ocidente que  são chauvinistas e populistas em extremo. Agora dizer que o vírus é chinês, é mesmo, pronto.
Cá pel Ocidente tem revelado muita coisa das nossas sociedades instaladas no consumismo e no desprezo pelos valores da biodiversidade, pela recusa em aceitar a gravidade das alterações climáticas, por tudo quanto seja alteração do  estilo do consumismo alienante que se instalou  nos nossos povos. Veja-se em que deu o fare niente dos italianos apesar de terem um dos melhores SNS do mundo; o que está a fazer em Espanha onde também algum laxismo inicial  deixou derrapar a situação; na Alemanha, na França, na Holanda, na Suiça, o país mais rico da Europa, a com a peste a crescer - por cá ainda nesta fase bastante pouco ameaçador mas deixando-nos expectantes dia a dia...
Nos EUA a reacção é tipicamente dos cow boys : disparou o comercio das armas, devem estar convencidos que vão matar o vírus a tiro Qualquer pretexto serve para comprar armas.
Agora a sério,  começo a convencer-me de que a ordem económica no mundo vai mudar e o liberalismo será  mais uma vez, na sua já longa História.excomungado, mesmo que as velhas ideologias  não renasçam, outras vão surgir porque  as novas gerações informatizadas , globalizadas mas muito  anti globalização ( no que isso pareça paradoxo) não vão suportar que  5% das pessoas no mundo possua para aí mais de metade da riqueza e do poder, em todo o mundo - só porque especularam, corromperam, fizeram sujeiras, desprezaram milhões de seres humanos e têm o  foguetão pronto  para partir para outro  ponto qualquer...,A tecnologia o dirá.





sexta-feira, 20 de março de 2020

Incongruências
Numa período destes, em plena crise de uma peste que, apesar de todas as nossas tecnologias e da nossa sofisticação medicinal e farmacêutica, continua a assustar a Humanidade, é de esperar que sujam incongruências e acidentes de comportamento justificáveis até certo ponto, injustificáveis quando partem da má  fé consciente, da incapacidade de ver para além do circunstancial, discutir pormenores irrisórios .
1 - - Tem sido motivo de gozo uma cena da drª Graça Freitas, Directora Geral de Saúde, a abrir uma garrafa de água com nítida atrapalhação; quem faz os comentários jocosos se calhar chega ao fim do dia, depois de ter feito pouco ou nada pela vida dos outros,  e vai dormir- não se importa de recordar que a visada passou o dia, como todos os dias do último mês, a coordenar uma guerra quase sem meios, que deve andar estourada, a dormir pouco e mal, pressionada noite e dia - quando, só por isso, por erros e faltas que cometa, não só deve ser perdoada como se lhe deve agradecer todo o esforço que tem feito. A ela e a todo o pessoal de saúde, sem excepção, que quase não dorme para se manter activo e quase também sem uma reclamação - com uma excepção, sim a daquele médico do Sindicato Independente que já nos habituou a misturar a política em tudo quanto é SNS,  do que não perde oportunidade de mandar farpas nitidamente políticas ao SNS dizendo que o defende é que está certo, e tudo errado quanto às Autoridades só porque não são dum Partido de que ele goste. Isso, que já é recorrente sempre que ele fala, é  que é má fé numa ocasião destas em que  devia estar calado e falar no fim.
2 -- António Costa, Primeiro Ministro, que eu tanto critico por posições e medidas que tem tomado, ele directamente,  em diversos domínios, desde a agricultura, florestas, ambiente, aeroportos, etc, está nesta conjuntura  revelar capacidade de chefia que, de resto já se reconhecia. À esquerda e à direita tem sido quase unânime considerar o bom senso, a ponderação, a capacidade de resolver problemas, a noção da proporcionalidade, da política a seguir nesta crise do vírus. Quase unânime porque há franjas da direita que não conseguem ultrapassar a aversão pessoal e política que nutrem contra ele e são incapazes de distinguir as falhas que têm que existir numa engrenagem destas ( nenhuma em qualquer parte do mundo estava preparada para enfrentar esta guerra de um dia para o outro)  da forma serena e eficiente como afinal as coisas têm corrido. E para essas franjas da direita ( se calhar não são apenas as franjas) o que estão a perceber e os atormenta é que Costa, assim , vai ganhar de novo as eleições, vai, vai... Isso é que não perdoam!
3 - Falha dos CTT - Os CTT foram uma das inaceitáveis privatizações do Governo PSD/CDS, que não cumprem agora o serviço púbico que é a sua única função. Tem sido anunciado que as pessoas podem ir levantar vencimentos e pensões nos CTT -mas hoje a meio da manhã o atendimento na aldeia de Estoi , para mais sendo fim de semana  a seguir, estava fechado. E nas outras aldeias como terá sido ? Pessoas que se deslocam de longe, agora com as limitações de deslocação impostas pelo Estado de Emergência, chegam aqui e dão com  a loja fechada. NÃO PODEM OCORRER COISAS DESTAS.
4 - Comentários à esquerda e à direita
  .1 -Muitas pessoas e alguns cronistas não se enxergam ! Há dias um cronista minorca, J.M. Tavares,  que ocupa regularmente uma página do "Publico", escrevia contra o Presidente da Republica por este ter ficado de quarentena na sua casa e ordenando-lhe que voltasse para Belém, que era ali que ele devia estar. Não se percebe onde é que o PR encontrou qualidades neste escriba para o encarregar das comemorações do 25 de Abril passado... O PR preside esteja em Belém ou em casa, mas na Presidência trabalham dezenas de pessoas que têm que lá estar e se havia suspeita de infecção de Marcelo, mesmo que o teste desse negativo, foi avisado que ele ficasse uns dias isolado. Mas a mente brilhante do cronista não viu isso e como gosta mais de discutir pessoas do que ideias,  ficou ali demonstrado mais uma vez, o  seu calibre...
  
  - 2- Um deputado do Bloco de Esquerda, P.F. Soares, vem apregoar que ainda não foram tomadas medidas para tratar do emprego que vai faltar com o desenrolar da crise, Deve ser para marcar posição e poder dizer que se antecipou. Na verdade com a crise a desenvolver-se todos os dias, com mediadas a serem anunciadas ( pode-se suspeitar se significa serem aplicadas, mas isso é outra coisa) para atacar diversas facetas da situação, nomeadamente as que se destinam a suportar as empresas, com medidas para acudir socialmente aos mais atingidos e aos mais carenciados, não podia o BE esperar mais uns dias ? Se não houver empresas a trabalhar não há emprego. Mas numa lógica de proporcionalidade e oportunidade, vamos lá aguentar as empresas que garantem trabalho e depois, quando houver sérios problemas de desemprego  (que vai acontecer) então trate-se dos desempregados,  Mas nitidamente foi uma manobra de antecipação que podia  ter ficado para mais tarde...
4 - A recessão de 2008 e a crise que se lhe seguiu devem ser superadas em consequências negativas com esta crise provocada pelo vírus. Historicamente as peste mundiais tiveram repercussão decisiva no desenrolar dos tempos que se seguiram para a Humanidade. Há coisas ligadas à Natureza e à Vida que passam ao lado das nossas tecnologias; podemos hoje ter meios para melhor controlar os males provocados  e não reconhecer isso seria tolice, mas no computo geral para o Planeta e para a Humanidade muita coisa vai voltar a mudar - e não quer dizer que seja para pior Veremos. os que cá estiverem...
5 ~O vírus nos EUA - combate a tiro
Quem leu a Volta ao Mundo do  célebre romancista de ficção Júlio Verne , ou viu o filme,  lembra- se da tentativa de baixar o balão em que seguiam os dois aventureiros, num local do EUA mas, ao verem lá de cima todos aos  tiros e tanta confusão,  fizeram subir o balão outra vez e zarparam. 
Dizem as notícias que, desde que começou a expandir-se a epidemia do vírus, aumentou em crescendo o comércio das armas... Será que estão a pensar matar o vírus a tiro? Que calibre devem usar ? Mas entre a loucura de esgotar  papel higiénico e esta de comprar armas quando aumenta a epidemia viral,  não se pode dizer que haja grande diferença em termos de irracionalidade, só muda é o recurso utilizado...




quarta-feira, 18 de março de 2020

Explicação
Para que fique esclarecido de uma vez, este blogue é uma expressão da minha opinião pessoal e não se destina a estabelecer polémicas seja com quem for. Por isso não publico comentários que recebo habitualmente; se publicasse só os comentários favoráveis fazia descriminação antidemocrática, se publicasse os desfavoráveis abria a polémica que é um objectivo que, como digo acima, não faz parte desta notas que escrevo.  Também não divulgo senão entre alguns amigos aquilo que vai saindo, mas é natural que a difusão acabe por ser maior e estas notas sejam afinal lidas por mais pessoas.
99,99% dos comentários são favoráveis e de apoio ao que escrevo na generalidade, e os restantes são comentários mais ou menos ofensivos, só que escritos por anónimos, como é evidente.  O anonimato é um sinal claro de cobardia, que se revela nas redes sociais que eu não frequento exactamente por esse facto: é um refugio de frustrados, de gente mal formada e incapaz de aceitar as diferenças de opinião sem o insulto. Triste realidade mas é a que temos.

terça-feira, 17 de março de 2020

Está a chover no Algarve
Está  a cair uma chuvita mas a vontade que chova é tanta que até digo que está a  chover...
Deixou de se falar de assuntos graves para lá da epidemia, mas aqui no Algarve - e eu que sou sempre optimista na vida desta vez deixei de ser - receio bem que no fim da crise do vírus dêmos de caras com a crise da falta de água - nas torneiras, nos furos, nas albufeiras.
Ninguém trata desta crise a tempo e se as autoridades de Lisboa não pensam nisso nem fazem nada, as autoridades do Algarve deviam preocupar-se desde já. Já devia estar em curso uma política de contenção dos gastos, não há desculpa para se consumir tanta agua nas estações de lavagem dos carros, para se  ter água a correr nas torneiras para lavar as  mãos ou para tomar diariamente e até duas vezes ao dia  chuveiros abundantes como se estivéssemos numa terra de abundância. Um horário diário para corte de água nas torneiras, mesmo que fosse para já ainda um corte pequeno, dava para as pessoas se habituarem a que mais tarde aceitem um horário mais apertado.
Dessalinização da água do mar
Há anos que abordo esta temática, cada vez mais urgente.
Ninguém ainda assumiu a sério a dessalinização da água do mar e há quem continue a falar em mais uma barragem no sotavento - para encher com quê?  Se não há água para encher as barragens que hoje existem de onde é que viria a água para a nova barragem?  Não insistam nessa ideia peregrina de transvaze do Alqueva, esta não dá para tudo e o futuro das precipitações abaixo do Tejo não prenunciam grandes hipóteses, é avisado não contar com o ovo no cu da galinha,
O stress hídrico do Algarve, nomeadamente no sotavento, deveria exigir  tratar do problema da dessalinização, mas de resto para todo o território português a médio prazo; a maior concentração urbana em Portugal ( como em todos os países que têm costa marítima) é ao longo do litoral; esta população está dependente das albufeiras do interior, onde vai chover cada vez menos, e a água ali armazenada manda o bom senso que deva ser prioritariamente para as populações do interior que não têm outra alternativa, e para a agricultura e indústrias.
A água dos mares  corresponde a quase 98% de toda a água do planeta, com uma salinidade que oscila entre os 30 e os 40 gr/l de sais .
Hoje em dia a água potável obtida a partir da água salgada resulta de mais de 20.000 estações que existem em todo o mundo, nomeadamente  no Golfo Pérsico, EUA, China e  Mediterrâneo , aqui com especial  importância em Israel. Mas na Argélia onde voltei no Verão passado, haverá umas 13 estações e prevêem mais duas.
A tecnologia mais usada nas grandes estações é a da osmose inversa, hoje bem conhecida, que aqui descrevo sumariamente e que beneficiou de consideráveis avanços tecnológicos nos materiais e no processo em si. Trata-se de, após a água salgada passar por filtros de areia e carvão para perder matéria orgânica e detritos,  fazê-la passar  sob forte pressão por membranas semi-permeáveis de porosidade imensamente apertada. Deste processo 2l  de água salgada dão 1l de água potável e 1l de água salobra que deve ser devolvida ao mar; por exemplo, a maior estação de dessalinização do mundo está em Israel e comporta mais de 50.000 membranas, produzindo 600.000 m3 de água doce por dia; o consumo varia entre 2 a 4  kwh/m3.
O grande obstáculo ao desenvolvimento deste processo foi sempre o custo de energia, mas as estações de tratamento não têm que ficar dependentes da EDP,  podem ser autónomas em energia, pois não falta sol e  vento no litoral que permitem ter produção de energia própria. O preço varia de pais para país, mas já é compatível com o custo da água para serviço urbano - e há um aspecto a realçar, se há sacrifícios que as pessoas têm que ter daqui em diante um deles e talvez o principal, é em gastar com a água potável, o bem mais precioso, o recurso natural insubstituível sem o qual...não há vida !
Por isso os cidadãos activos e intervenientes têm que pressionar os poderes públicos e os seus governantes, a todos os níveis, para que preparem o futuro a partir de HOJE!!





Crise do famigerado  vírus - exaltação a mais
Há certos  sectores, que são sempre os  mesmos por serem os  mais "securitários", prontos a pedir "a lei e a ordem", que não param de exigir medidas urgentes, drásticas e salvíficas contra o famigerado  vírus.  Escrevo isto antes do Presidente da Republica decidir pela instalação do Estado de Emergência, sim ou não, que certa gente anda a pedir para JÁ e devia ter sido promulgado na semana passada! Conhecendo-se o lado hipocondríaco de Marcelo Rebelo de Sousa, o mais provável é que ele decida pelo sim. Mas porquê tanto sufoco ? 
De uma maneira geral o pessoal português tem respeitado as medidas preconizadas pelas autoridades, salvo algumas patetices  induzidas pelo outro vírus, o do medo, como foi o assalto ao papel higiénico e o açambarcamento de produtos nos  supermercados, mas isto vai parar porque ou há muito dinheiro escondido debaixo dos colchões e nas contas bancárias, ou  o "cacau" acaba.
Estado de Emergência para já - e cada cabeça sua sentença, esta é a minha -  não se justifica. Tal significa parar mesmo o país o que  só agrava o stress e o medo; antes importa fazer respeitar as medidas já em vigor, deixando que a população se vá refazendo do susto e cumpra. E os portugueses até são resilientes. Ora há profissionais de saúde com as duas opiniões, uns querem tudo a parar já, outros propõem menos exaltação. Se estivéssemos habituados a uma ditadura como os chineses -  e acredito que aqueles bilião e meio de pessoas não conhecem outra forma de vida e só daquela maneira foi possível combater a epidemia - parávamos tudo; mas com algum treino que vamos tendo de um Estado de Direito, e sendo eu um optimista democrático, gostaria que se esperasse algum tempo para concluir que o vírus vai mesmo  proliferar com a velocidade  e a energia que os estudos matemáticos apresentam - até porque a vida ( e os vírus são formas de vida) nem sempre se comporta com a previsibilidade das máquinas que obedecem a leis físicas e matemáticas , há um outro élan que escapa aos modelos, ou não ? Eu tenho consciência de que a progressão de uma epidemia deste tipo é rápida e que neste momento há pessoas  em situação aflitiva, problemas quase de sobrevivência, falhas nos apoios, um cenário de catástrofe mas que é preciso não piorar por quem tem obrigação de, pelo menos manter a cabeça fria.
Os profissionais de saúde estão na primeira linha da luta, com esforços redobrados e em risco permanente, têm que ser estimados e  homenageados, mas cada guerra tem os seus soldados, conforme as ocasiões. Eu sei que é fácil estar, como eu, a debitar sentenças, mas não podemos deixar de intervir desde que estejamos de boa fé.
Também seria aconselhável que instituições como as Ordens dos Médicos e dos Enfermeiros e alguns sindicatos não fizessem politica nesta fase da crise; em vez de criticarem a torto e a direito o SNS, podiam deixar essa crítica para depois, quando for o balanço final - é pedir muito? No sector privado vai tudo em beleza, mas como é ao serviço publico que acorrem os milhares de pessoas aflitas, vá de atacar quem está na mó de baixo...
Daqui a pouco tempo verei se tenho ou não razão na minha posição




domingo, 15 de março de 2020

O coronavirus e eu
ou eu e o coronavirus
Os da minha idade têm tendência a contar muitas vezes a mesma história  e eu não fujo à regra. Creio já ter referido várias vezes a citação que vou fazer, mas é tão actual e acutilante que a vou repetir.   Atribui-se a Einstein ter dito, mais ou menos,  que " conhecem-se dois infinitos, o universo e a estupidez humana - mas não estou muito seguro quanto ao primeiro"...
Em todo o século XX ficaram bem patentes os casos de estupidez humana e as terríveis consequências que dai advieram, e este século XXI vai pelo mesmo caminho e só começou há pouco tempo.
Esta crise do coronavirus  é um bom exemplo e só vou falar cá dentro da "nossa casa". O primeiro caso já tem sido denunciado e é espantoso, que foi o assalto ao papel higiénico nos super mercados - mas porquê? Alguém avisou que o virus provocava caganeira ? Não sei se alguma tolice saiu nas redes sociais, porque não as frequento senão esporadicamente, mas é uma demonstração de total falta de senso.
Outro aspecto é ainda o açambarcamento de víveres nos super mercados e em todos os lugares onde se vende alguma  coisa para comer - mas porquê ?  Há greve dos transportes?
Eu esta manhã ia a caminho da Ilha de Faro e parei num supermercado para comprar o jornal, talvez pão e uns iogurtes; passavam uns 20 minutos  das 9 h da manhã e o super estava repleto de gente,  com filas enormes nas caixas de pagamento e, claro, desisti, nem entrei; tem de haver muito dinheiro e não percebo porque as pessoas se queixam de que vivem mal. É que há duas semanas que isto acontece todos os dias, até nas lojas de uma vila como S.Brás - grande negócio para as empresas !!Como não vendem a fiado, aquela mercadoria toda é paga na hora - quanto tempo as pessoas aguentam neste frenesim? É mais um exemplo de flagrante estupidez humana!!
Claro que a situação da pandemia é séria, mas o mais sério que podemos fazer é ter bom senso e não "engravidar pelos ouvidos" como se diz em brejeirice foleira.
Eu acabei de chegar da praia na "ilha" de Faro e sigo em consciência as recomendações - fui sozinho no meu carro ( mas podia levar 2 ou 3 pessoas de família),  estacionei num local onde havia poucos carros perto, andei na praia onde passeava uma dúzia de pessoas em todos aqueles quilómetros de areia, respirando bom ar e uma aragem fresca, com  um sol magnífico e tomei a minha banhoca, como faço sempre - acredito que o virus não sabe nadar e assim afogo-o... Passando a brincadeira, eu tenho consciência de que milhares de pessoas não podem fazer isto, por não terem essa  facilidade, mas muita gente pode fazê-lo e não o faz. seja na praia, no campo ou na montanha.  E tem-se visto entre a malta nova  que a estupidez humana prevalece e quando escolhem ir à praia vão aos magotes, nem sequer se separam minimamente uns dos outros.
A terceira idade ( ou quarta, sei lá!) não entende que uma forma de ganhar resistência a esta ou a qualquer outra "bichesa" é ter actividade física habitual e regularmente. Não é preciso ir tomar banho ao mar, nem todos são tão malucos como eu, mas há boas piscinas municipais em todas as cidades, e agora nestas circunstancias de maior cuidado  sem ser natação podem-se fazer caminhadas  e bicicleta  em parques ou no campo, com a intensidade necessária para produzir bom efeito. Não é preciso fazer etapas de campeonato. Pois por mais que eu pregue esta sentença com regularidade tenho um velho amigo que faz orelhas moucas, e dos que eu conheço nestas idades contam -se pelos dedos da mão os que praticam.
Vamos lá ver como se vence este virus, sem mais excessos desnecessários e até contraproducentes.















terça-feira, 10 de março de 2020

Aeroporto do Montijo - escândalo e má fé
- responsabilidades futuras -
O coronavirus está a monopolizar toda a informação. e com razão sem dúvida, mas está a deixar esquecer o assunto da construção do aeroporto no Montijo que tem sido um  enorme escândalo  enquanto matéria governamental, pelo que revela das tramóias que se fazem para levar por diante uma solução à revelia do bom senso e da defesa integral  do bem público. Já todos perceberam  que o que está por trás da insistência de o aeroporto ter mesmo que ser no Montijo é uma mera questão do negócio com a multinacional que vergonhosamente ficou com a ANA - uma das mais escandalosas privatizações que o Governo PSD/CDS levou a efeito. Mas o Governo PS que fez tantas  reversões das medidas do governo de direita, deixou ficar outras matérias em que não tocou e muito particularmente as que têm a ver como  ambiente, agricultura, florestas e este contra-senso do aeroporto que é urgente para Lisboa. Por isso em vez de, ao chegar ao Poder, António Costa e o seu excelso ministro do Ambiente terem lançado uma Avaliação Ambiental Estratégica ( se é que sabiam o que isso é) para decidir a melhor localização para o aeroporto que Lisboa exige, fizeram finca pé no Montijo. Várias foram as personalidades de relevo profissional de vários ramos do saber que vieram apontar as graves consequências  futuras daquela decisão e quão errado é um aeroporto naquela localização. E agora vem a má fé : o Ministério do Ambiente encomendou um Estudo de Impacte Ambiental que chumbou o projecto;entretanto engenheiros de grande gabarito declararam por escrito e nas Tvs os riscos daquela construção e comandantes da aviação civil denunciaram os riscos de grandes embates entre aviões e aves, provocando grandes acidentes. O que fez o Ministério do Ambiente ?Mandou fazer novo EIA -  ora, se o projecto não mudou e o estuário também não, porque é que um novo EIA haveria de contradizer o primeiro?...Sabe-se que os técnicos do ICN deram parecer negativo ao aeroporto mas o ICN deu parecer positivo,  Soube-se agora que em Outubro do ano passado a Protecção Civil não deu o seu aval  ao aeroporto naquela localização quer por questões de engenharia...quer por perigos de acidentes graves entre aviões e aves. E este documento não foi tido em conta ?
 Será que o Primeiro Ministro e o seu Ministro do Ambiente, que se ufana em declarar que não é ambientalista ( como se já não tivéssemos dado  por isso!) já pensaram na responsabilidade que estão a assumir quando ocorrerem acidentes  (é como os sismos, não é se, é quando) no aeroporto construído sobre todas estas contrariedades e incertezas?

Escândalo, má fé e irresponsabilidades que podem sair muito caras no futuro


quarta-feira, 4 de março de 2020

Os meus textos e o jornal PUBLICO

No panorama da nossa comunicação social escrita o jornal Publico ainda é de todos, em minha opinião, o que tem mantido alguma independência e um jornalismo credível, embora inevitavelmente sujeito também às contingências da realidade em que todos nos inserimos... Seguindo um velho hábito de muitas décadas, eu compro e leio, praticamente todos os dias, o "Publico" e até desde há alguns anos passei a colaborar eventualmente com textos. Recordo que, in ilo tempore,  quando o Diário de Notícias tinha como directores um Mário Mesquita  ou uma Helena  Marques, colaborei activamente com esse excelente diário português, até que veio um Betencourt e acabou com todos os colaboradores que não fossem reconhecidos por ele como intelectuais de confiança, e eu fui banido ( como foi, entre muitos outros, uma personalidade  como Barrilaro Ruas,...). Depois colaborei com "A Capital", quando foi Director o dr. Francisco Sousa Tavares. Nunca recebi um escudo pela colaboração, faz parte do meu conceito de independência.
Deixei há algum tempo de enviar artigos para o " Publico" porque só eram publicados quando lhes interessava  -  eu  não tenho senão que respeitar os critérios  editoriais - mas também tenho os meus critérios...  Depois a minha colaboração com o jornal passou a ser apenas de algumas Cartas ao Director, uma saem outras não e frequentemente alteram o texto retirando palavras ou frases, o que acho um abuso.
A última carta  que enviei foi publicada hoje e veio alterada no título e  suprimindo frases -  faz parte dos critérios editoriais. Mas aqui eu não aceito - se o texto não está conforme com o que entendem que devia ser escrito pura e simplesmente não publicam. Agora mexer no texto é abuso a mais. Se um José Saramago ( que me desculpem a imodéstia do exemplo) enviasse um texto com um parágrafo continuo, sem pontos nem virgulas, corrigiam o texto para ser publicado?
Para repor a verdade segue o essencial da carta que enviei, descontando a justificação do início e os cumprimentos finais.
Carta ao director do Publico , intitulada "A vergonha do Ocidente".
"A comunicação social faz eco logicamente dos temas que mais estejam na ordem do dia, por vezes dando excesso de protagonismo em detrimento de assuntos que escapam às grandes parangonas e ás aberturas dos telejornal. Ontem o apresentador duma televisão abriu o jornal da noite proclamando " Chegou o vírus !!" - só faltou acrescentar "ate que enfim!!". 
Mas um tema deixou de interessar : a carnificina na Síria. Eu creio que, depois da Segunda Guerra Mundial e embora tendo ocorrido outros trágicos acontecimentos, nunca o Ocidente assistiu, apenas com uns laivos de sobressalto,  a tamanha tragédia humanitária.
São milhares e milhares de homens velhos, mulheres e crianças - tantas crianças ! -  a fugirem só com a roupa que têm  vestida, sem dinheiro, nem comida, a suportarem as noites geladas e os nevões que cobrem os novos campos de concentração ! E a hipocrisia dum estupor Erdogan, que luta contra o ditador da Síria, sempre a apertar a mão a outro igual, Putin, aliado do ditador - e indiferentes aos milhares de inocentes que são sacrificados. E o Ocidente, em especial a Europa, continuam a reunir "conferências de paz" e depois vão todos  jantar e dormir - tal como eu que escrevo estas linhas. Tempos tristes estes em que assistimos a estes genocídios e apenas exportamos palavras, nada mais que palavras já sem sentido".
Cada um tem o seu estilo de escrever, desde que não chame filho de... ou mande por claro à outra banda, tem o direito de usar as  palavras como bem entende.
Por isso esta foi a última carta que enderecei ao Publico; acabou a minha eventual colaboração, assim nem "eles" têm que  se dar ao trabalho de cortar e colar  o que eu escrevo nem eu tenho que me submeter a critérios de que não gosto.

Justiça, a reserva da democracia
A democracia é, citado regularmente, um regime frágil, que tem de ser cuidado dia-a-dia. Há corrupção em todos os regimes, da extrema direita à extrema esquerda, só que nas ditaduras sabe-se da corrupção em voz baixa, pianinho... Em democracia e graças à liberdade de expressão e ao assumir judicialmente dos excessos de liberdade de uns que prejudiquem os outros, sabe-se mais sobre a corrupção e os vícios da sociedade em geral.
Nestes últimos anos da nossa vida publica têm sido conhecidos. quase diariamente mas seguramente todas as semanas. episódios de corrupção desde as autarquias, ao futebol, desde políticos a forças de segurança e até nas forças armadas, etc, etc,,,  Agora entrámos em choque com a corrupção descoberta na Justiça !! Só nos faltava mais esta ! A Justiça é a reserva da democracia em idoneidade e defesa dos valores supremos dos indivíduos e da sociedade no  seu conjunto. Depois de trapalhadas no Governo anterior entre negócios de família e compadríos ( uma especialidade mais marcada no PS, onde parece que fez escola...), de incompatibilidades entre membros do Governo, entre deputados e ocupantes de quadros públicos, esta semana rebentou o escândalo de Juízes dos tribunais superiores suspeitos de tráfico de influências e corrupção.
Eu sempre tive a opinião que o 25 de Abril não chegou verdadeiramente à Justiça. O que aconteceu aos juízes dos tribunais militares e políticos que, no regime salazarista e depois salazarento, julgavam os presos políticos? Alguns reformaram-se, mas muitos foram pacificamente integrados no regime democrático - alguém acredita que se esqueceram de todas as ideias e preconceitos ideológicos que traziam do antigamente ? Somos todos ingénuos ? A mentalidade  dos grandes executores da justiça - posso suspeitar -  não mudou. Depois o que aconteceu ao pides que estavam presos? E aos bufos que ninguém quis investigar e  passaram a fazer a sua vida normal? Se calhar muitos foram integrados nos Partidos políticos da democracia,...Não se tratava de exercer  vingança mas de fazer justiça, foram homens e algumas mulheres que atentaram contra a vida e a dignidade de milhares de oposicionistas ao fascismo. E a vergonha que foi, já em plena democracia aquele julgamento dos assassinos de Humberto Delgado ? 
É desta Justiça que hoje certamente estamos a pagar as consequências, entre homens e mulheres que vendem a dignidade a troco de benesses sejam lá melas quais forem. A Justiça  controla a sociedade  - e quem controla a Justiça? Fica em roda livre?











segunda-feira, 2 de março de 2020

A vergonha do Ocidente
A guerra na Síria é a maior vergonha que o Ocidente  conhece desde a última guerra mundial. Já a famigerada Primavera Árabe do Norte de África tinha sido um péssimo indicador da (in)capacidade da Europa para enfrentar e resolver os problemas mundiais. Longe vai  tempo  em que a Europa era governada por grandes políticos, grandes homens de Estado; hoje a decadência das ideologias o apego ao negócio e ao dinheiro e à solução imediata das coisas que mereciam ser tratadas com grande consciência, têm levado os países europeus a ser apenas portadores de palavras -em palavras ninguém os bate .
A Síria é uma carnificina e um genocídio perpetrados por um lado pela Turquia, por outro lado pelo ditador da Síria apoiado pela Rússia - mas que bela coincidência de partes envolvidas !! Milhares de mulheres, homens e crianças  fugidos dos bombardeamentos, entram pela Turquia dentro e ali ficam, no meio da neve, sem abrigos, sem comida sem roupa, sem nada !! Ouvimos as noticias das televisões e elas passam e voltamos todos ao nosso quotidiano, como se o que ali se passa já tivesse...passado.