sábado, 30 de outubro de 2021

 Democracia em risco

A democracia dita liberal, ocidental, é um regime exigente em educação e meios económicos. Sociedades europeias muitas décadas sujeitas a regimes ditatoriais tem muita dificuldade em manter sistemas democráticos de amplas liberdades e distribuição equilibrada de bens e serviços. Isso é patente não só na Hungria e na Polónia onde Partidos e líderes populistas e autocráticos se serviram da democracia e do voto livre para chegar ao Poder e depois o procuram conservar recorrendo a manobras anti democráticas, mas de maneira mais ou menos velada nos outros países da antiga órbita soviética. Não deixa de ser curioso que Portugal e Espanha, também sujeitos a ditaduras de várias décadas, apesar de tudo tem conseguido manter as suas  democracias a funcionarem regularmente. 

Caso preocupante é o dos EUA, considerada a grande democracia   mundial, e onde metade da população votou em Trump e em tudo o que ele significa de aberração política; se a Administração de Biden não for capaz de cimentar uma vida económica e social sólida, aquela grande nação corre o riso de resvalar perigosamente para um regime autoritário como Trump tentou fazer com as suas mentiras e atitudes paranóicas que, no entanto, convenceram tantos milhões de americanos - isso é que é preocupante, até pelo exemplo e impulso que dá a movimentos e indivíduos do mesmo tipo na Europa e resto do mundo  ( veja-se o Bolsonaro no Brasil ou Erdogan na Turquia).

Forças reaccionárias até na super democrática França conseguem chegar a beira do Poder com a família  Le Pen - e mais uma vez a Espanha, Portugal e a sempre preocupante Itália tem conseguido afastar do Poder essas ideologias  Até quando ?

Portugal governado mas sem Governo...

Situação estranha esta que mais uma vez se vive em Portugal; estranha porque se repete o que sucedeu em 2011 quando a esquerda se aliou à direita para derrubar o Governo e deu entrada à troika e à austeridade neoliberal da UE; agora  BE e PCP puseram mais uma vez os seus interesse partidários (ou que assim julgam que são) à frente dos interesse do País. Sabe-se bem que António Costa joga a sua tentativa de vir a ter maioria absoluta, o que não é previsível, e o mais certo é terem de se entender de novo todos os que estão à esquerda do PSD.  E Marcelo Rebelo de Sousa a conduzir subtilmente a sucessão de acontecimentos, pois é ele que sai a ganhar com  esta situação. E teve o desplante de intervir na vida interna do PSD, porque lhe interessa,  ao receber em audiência Paulo Rangel que defronta Rui Rio nas próximas eleições para a chefia do partido. Desde quando o PR  recebe em Belém candidatos à chefia de Partidos que estão em luta interna ? Desde quando? O CDS vai pelo mesmo caminho e só o Chega e a IL vão certamente aproveitar o desnorte da direita que se soma ao desnorte da esquerda. Grande e bela coisa é a democracia !!




quarta-feira, 27 de outubro de 2021

 Acabou mesmo...

Acabou de ser chumbado o OE e por isso o Governo do António Costa acabou mesmo.

O BE desempenhou um papel crucial neste desfecho e deixou o PCP sem outra alternativa. Como dizia ontem o Manuel Carvalho, e eu concordo inteiramente, a Catarina e a Mariana ficaram frustradas por não irem para um governo - era isso que sempre pensaram que aconteceria. 

Mas se A. Costa tivesse caído nessa esparrela não só ficaria amarrado às permanentes chantagens  a que o BE já nos habituou como deixaria  o PCP como inimigo para sempre - e entre um e outro que viesse o diabo escolher.  Apesar de tudo o PCP é mais fiável porque é conservador e cultiva a imagem dum Partido sério, e pode vir sempre em socorro do A. Costa se não houver manigâncias do BE - difícil, hem?

O mais provável é que depois das eleições volte a ficar um panorama semelhante ao actual, uma maioria dos partidos da esquerda e a chantagem vai continuar - a não ser que PS e PCP tenham maioria por exemplo também com o PAN.

A grande cambalhota seria se a direita conseguisse maioria nem que seja de um voto - sem o Chega, mas não restem dúvidas de que se for precisa esta corja da extrema direita para formar governo nunca mais sairia de lá.

António Costa se voltar ao Governo que faça mea culpa, arranje um número reduzido de Ministros e S. Estado competentes - mas quem de entre as pessoas mais qualificadas e com alguma independência aceitaria ir para um Governo agora ...- e proponha uma estrutura que vise políticas a médio e longo prazo. E não tenha pudor de aumentar o número de empregos no Estado, ainda estamos longe da média da UE e há casos aflitivos que tem que ser colmatados : em especial a saúde, mas também a justiça, as escolas e em especial universidades. Um Governo de esquerda deve  assumir essa causa, e não faltam grandes economistas de renome mundial a dizer que deixem de se  basear nos 60% da dívida e nos 3% do déficit porque esses valores foram arbitrariamente atribuídos por países como a  Alemanha para zelarem pelos seus próprios interesses.

Que se lancem políticas de apoio a uma agricultura sustentável e se deixem dos disparates dos abacates outras tretas que são anti alterações climáticas. Ainda não choveu uma pinga que se veja abaixo do Tejo!! Importamos alimentos que podiam ser cultivados cá se houvesse uma lógica ambiental e de esquerda!!

Precisamos de retomar uma política florestal adequada ás novas características da aridez mediterrânica que nos aflige - em  vez dos disparates a que assistimos desde há umas duas décadas para cá por submissão aos privados, submissão ás celuloses, incompetência de ministros  a leste do que deviam fazer - Cabrita. Matos Fernandes, nem sei o nome da manda chuva da agricultura - e poupo  apesar de tudo a Ministra da Saúde que, com altos e baixos como em todo o Mundo e em toda a Europa, conseguiu aguentar o barco, com uns médicos a dizerem  A e outros médicos da mesma  especialidade a dizer B, e com A, Costa e João Leão a tirarem toda a chance de ela poder escolher e contractar médicos e enfermeiros. Queria ver nestas condições quem é que faria  melhor e o SNS aguentou-se também  muito melhor do que as más línguas como o Bastonário da Ordem e o palavroso Presidente do SIM esperavam e que não reconhecem...





segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Medidas  concentracionistas ( no mínimo...)

A apetência de António Costa (PM) pelo controle completo  do aparelho do Estado começa a ser preocupante - e como já tenho dito noutras alturas, que os deuses nos salvem de maioria absoluta.

Um dos  aspectos preocupantes, para mim, é o constante reforço de competências do Ministério da Administração Interna, que o actual líder do PS e do Governo tem prosseguido; isso ajuda a perceber, juntamente com a arrogância e auto-suficiência do PM porque é que Cabrita se mantem no seu cargo apesar das intoleráveis asneiras que foi cometendo - não é só o facto de ser amigo do peito, é porque é nele que o PM confia inteiramente. E o poder do MAI não pára de aumentar, agora até se fala na transferência do Instituto Hidrográfico que funciona na Marinha, e muito bem. É  que nas Forças Armadas haverá sempre um certo pudor para controlar - mas até aqui o Governo está a tentar meter a sua força controleira, basta ver o sarrabulho que reina nesse sector.

Não é por acaso que os oficiais de alta patente, com Ramalho Eanes à frente, não se tem poupado a críticas severas, mas o excesso dos militares neste fim de semana, que foi além do que a  ética  permite é sinal do adiantado mau estado da disciplina das tropas.

O reforço do MAI é sinal de concentracionismo próprio da democracias musculadas e está a passar ao lado da maioria da população.

A tal crise anunciada

Os dois partidos de esquerda, PCP e BE afinal vão votar contra o OE o que quer dizer que será dissolvida a Assembleia da República e convocadas novas eleições.  Em democracia é assim, tudo bem nessa perspectiva. Mas pergunta-se o que e que a esquerda ganha com isto é o que estamos cá para ver; pois mesmo que o Governo de A. Costa tenha imensas culpas na presente situação seria bom que se pesassem os prós e contras da decisão daqueles dois Partidos. São ambos contra a Europa, esse o mais importante argumento que me afasta deles, mas é cegueira política fazer disso um motivo para, tendo na  mão a chave do problema. o deixarem cair. Recordo que quando a esquerda se aliou à direita para chumbar  Pack 4, por muito insuportável que fosse o Sócrates, pergunta-se se a austeridade daquele documento  (que era apoiado pelo Sarcozy e pela Merkel) era superior àquela outra austeridade que a Europa nos impôs com a vinda da troika. Vamos repetir a mesma cena ?

O mais provável é que com eleições volte a repetir-se o quadro actual, uma maioria das esquerdas mas com os mesmos entraves. Seria bom que a esquerda se lembrasse - e António Costa também -  que se na crise com a Troika ainda se organizou uma maioria confortável do PSD e CDS, por direita que fossem  os dois (e com Passos Coelho o neoliberalismo entrou no PSD em força) vinham do inicio da democracia e sempre a respeitaram á sua maneira; mas desta vez os mesmos dois ´é fortemente duvidoso que tenham maioria para se entenderem sozinhos - agora quem vai crescer é o "basta"  ou "chega" e é fatal como o destino que se quiserem fazer governo terão de recorrer aos amantes do Estrado Novo. 

E creio bem que o PCP em vez de ganhar eleitorado vai perder e o BE a mesma coisa e deviam perder para aprenderem a pesar bem as decisões em termos de futuro a breve prazo e não na base do que julgam serem os seus interesses partidários .








sábado, 23 de outubro de 2021

Esta crise  anunciada

Estamos no tempo da queda das folhas, tenho aqui em frente duas tílias que já estão de cor amarelo dourado e começam a dar um trabalhão para limpar as folhas que caiem; não me recordo de um início de Outono tão quente como este ano e sem uma pinga de chuva. 

Quente também na vida política; não sei se haverá a famigerada crise,  mas admira-me tanto "democrata" aflito ou zangado porque poderá  ter de  haver novas eleições. Essa agora, tal está a moenga, hem? Então eleições não são o testemunho de que a democracia funciona? Atrasa alguma coisa, pois atrasa, mas eu sei que há muitos que não arriscando a dizer "chega de democracia", no fundo preferiam paz e ordem - ora eu já ia para lá dos meus trinta anos e temia nunca mais me ver livre da "paz e ordem". Churchill dizia, mais  ou menos, que a democracia é o melhor dos maus sistemas e é isso que temos que ter na cabeça: aperfeiçoar dia-a-dia a democracia. E que os deuses nos livrem de maiorias absolutas seja de que partido for, porque nisso é o mesmo que suspender o parlamentarismo .

Jerónimo de Sousa disse o que outros disseram antes e até eu, que não peso no assunto já o escrevi: pode haver governos de esquerda ou de direita em cada país, que as regras neoliberais da UE é que mandam; significa que as nossas democracias são imperfeitas porque na UE a política não muda - e não quer isto dizer que tivesse de mudar para o marxismo leninismo, claro, bastava que se alterasse entre medidas de esquerda democrática  ou direita democrática consoante a maioria que estivesse na mesma UE. Foi essa alternância entre  as duas políticas que trouxe à Europa as décadas de mais paz social e maior desenvolvimento no pós guerra mundial - seria essa alternância que traria maior harmonia à Europa de hoje.

O PS de António Costa está amarrado às obrigações ideológicas da UE e a política de mais esquerda que tem feito  deve-se à pressão dos Partidos da esquerda radical - que os deuses nos livrem desses partidos  serem governo, a economia totalmente planificada já mostrou ao mundo o que dá  ( eu visitei vários países  desses regimes e nem queiram saber os "paraísos" que encontrei...). A diferença está  na China,  uma mistura irrepetível de partido único comunista e capitalismo selvagem  mundial  ( onde é que estão os idealistas do maoismo?... que internamente é uma ditadura implacável e ameaça directamente a ordem  universal - quando do outro lado estão uns EUA, exemplo máximo das democracias ocidentais mas onde 50% da população vota num Trump...

Custa a aceitar a passividade que a Europa tem demonstrado no meio destas ameaças á vida democrática, o que revela a confusão que também por cá reina, mas eu sou arreigadamente duas coisas : mediterrânico e europeu. Foi do Mediterrâneo que nasceu a civilização ocidental e foi da Europa, sobretudo da Europa meridional que foram evoluindo as ideias e as convicções culturais e civilizacionais : o exotismo egípcio, a aprendizagem fenícia/libanesa, a origem e o cadinho de ideias da democracia grega, o espirito latino, o Renascimento que rompeu com os tempos escuros da Idade Média, depois o Iluminismo e por aí fora até ao nosso tempo, quando a Europa central e do norte acabou por apreender o que lhe chegava do sul e lhe deu uma forma mais consistente...

Por isso se reconhecemos que, para o bem e para o mal, foi a Europa que determinou grande parte dos últimos séculos da Humanidade, eu tenho esperança que também agora se venha a superara nas suas fraquezas.

A democracia é um regime caro e exigente, só população com elevado nível de cultura e de noção do que  deve ser a dignidade da pessoa humana com pleno  respeito pelo social e o colectivo.

Por agora basta, quando se começa a  reflectir as ideias surgem em catadupa...




quarta-feira, 20 de outubro de 2021

 

  Ordenamento do Território

Politica de Conservação - Ambiente

 

Uma das preocupações de um Governo de esquerda democrática deverá ser renovar JÁ  a Política de  Ambiente que se  tornou num simples ornamento da composição  do Executivo, afectando a integridade e o futuro do território.

     Continuo bem convicto de que uma Política de Ambiente é fundamental aqui como em todo o mundo e particularmente na Europa  e em especial num País desorganizado como o nosso, o que exige uma estrutura governativa forte, esclarecida e eficaz e dirigentes convictos e que não estejam apenas a fazer currículo e a ganhar posição para outros voos políticos.

Fundei e fui o primeiro Presidente do Serviço que antecedeu o actual ICNF, por isso creio ter ideias firmes sobre a Politica de Conservação, que tal como a do Ordenamento do Território são as bases de uma política séria de Ambiente.

A Conservação é uma política nacional e global, não é sectorial, é transversal a todas as actividades que afectam o território, essas sim sectoriais : florestas, agricultura, estradas, energia, infra-estruturas - todos os sectores da economia devem ter, tanto mais neste século XXI ameaçado pelas alterações climáticas, uma componente conservacionista.

Um dos grandes disparates dum anterior Governo de pendor neoliberal, de resto  em concordância com obrigações e compromissos  ideológicos e financeiros, foi ter juntado os serviços florestais ao ICN – criando o ICNF.

O desaparecimento dos Serviços Florestais como entidade autónoma foi em erro tremendo -  no nosso País este serviço vinha do século XIX  e era um património cultural e institucional arreigado nas populações e que foi mantido através dos anos e dos regimes. Devemos ser um dos  raros países do Mundo, se é que há mais algum, que não tem  Serviços Florestais. Eu fui Administrador Florestal e sei bem o empenho e a obra notável que aquele Serviços faziam, e o papel indispensável dos Guardas Florestais. Muitos fogos florestais eram contidos à nascença porque havia sempre um posto de guarda florestal que avistava a primeira coluna de fumo, possibilitando o ataque ao incêndio na origem.

Hoje sob uma mentalidade liberal e sob a falsa alegação de maior eficiência, prefere-se combater os fogos do que preveni-los, dando milhões a ganhar aos privados, em vez de prevenir o seu aparecimento. Não temos guardas florestais dependentes do seu Serviço próprio, como sucede em todo o mundo. Os guardas florestais não são apenas polícias para terem sido integrados na GNR, eles são verdadeiros guardiões do território, orientados pelos técnicos florestais  e não pêlos oficiais e sargentos da Protecção Civil e da GNR; eles obrigavam os proprietários a limpar as matas, vigiavam os cortes ilegais, e em termos de economia não se vê diferença entre pagar os honorários a guardas integrados na GNR ou pagar-lhes o mesmo estando onde deviam estar que são os Serviços Florestais. Ou comparar os encargos com os Serviços Florestais com os milhares de milhões que hoje se gastam em  práticas sucedâneas que a prática demonstra não resolverem nada.

        O que interessou a quem teve essa ideia foi facilitar a vida aos proprietários florestais, à custa do abandono da vigilância quotidiana, e foi garantir e ampliar a actividade privada dos meios aéreos de combate aos incêndios. Negócio de milhões.

      Por isso, reconstituir de novo os Serviços Florestais é uma obrigação moral de quem vier fazer política séria e não comprometida com os interesses instalados. Enquanto eu tiver um sopro de ânimo, não me calo !

 Aliás não me canso de denunciar que o Estado, para "ser melhor Estado", acabou com tres classes de trabalhadores que eram indispensáveis à organização do território : os guardas florestais, os guarda rios e os cantoneiros das estradas. Com o combate aos fogos rurais entregue a uma Protecção Civil (nunca se vêem engenheiros silvicultores ou florestais nessas ocasiões, não são precisos...) , a limpeza das ribeiras  deixada aos abandono, as bermas e taludes das estradas entregues a umas empresas privadas que de vez em quando limpam tudo - é mesmo assim  limpam tudo! - o Pais ficou muito mais bem servido...

Mas tão mau ou pior ainda foi a descaracterização do ICN com a junção dos serviços florestais. Não há razão nenhuma que o justifique. Dizer, como já ouvi, que as Áreas Protegidas dizem respeito prioritariamente às florestas ( com mais precisão, o que nós temos são matas, não são florestas) é um treta : existem APs dos estuários dos rios, dos paúis, das dunas, das Berlengas, etc, que nada têm a ver com florestas; e os Parques Naturais como a Serra da Estrela, Montesinho, Serra d'Aires e Candeeiros, Baixo Guadiana, Ria Formosa, etc, têm a ver com a paisagem humanizada onde entram as matas, é claro, mas não especificamente com elas - têm a ver com o ordenamento do mosaico da paisagem, as pastagens, os campos de cultura, as aldeias, os monumento naturais e culturais, etc.

Foi comigo que foi criada a maior parte dos Parques Naturais e das Reservas deste País e desminto categoricamente que as matas fossem o principal motivo de classificação do território a proteger. As matas estavam, como deviam estar,  a cargo dos Serviços Florestais, que têm ainda a função de produção que não pode caber nas competências dum Serviço de Conservação da Natureza. É misturar alhos com bugalhos. Os Serviços Florestais, repete-se, devem ser autónomos e estar no Ministério da Agricultura pois a gestão do território não urbano passa pelo reconhecimento da ordem secular do ager-saltus-silva  e não precisam de inventar nomes, designem-no como em todo o mundo, por Serviços Florestais.

     Juntar os dois serviços serviu não só  para retirar estatuto aos florestais  mas também para  reduzir a margem de manobra que a política de Conservação do ICN devia prosseguir transversalmente sobre toda a actividade com impacte no território. Um ICN forte, conduzido por técnicos empenhados e convictos e não apenas à procura de currículo, é fundamental para a “sanidade” da Administração Pública portuguesa – e isso incomoda os interesses especulativos que governam, afinal, este País.

 Quer a nível nacional quer sobretudo a nível regional e local, a confusão actual nas estruturas do ICNF é completa, tornando quase impossível a administração correcta dos dois serviços num só, como está à vista de todos.

A situação das APs é deplorável, ainda há bem poucos tempo uma conhecida personalidade  com destaque e responsabilidades no domínio do Ambiente, me dizia quanto lhe custa ver a situação actual das APs, que já foram exemplares em termos europeus. Devemos ser o único país do mundo onde parques naturais como a Serra da Estrela, Arrábida, Ria Formosa, etc, não têm um Director responsável.

Por isso o ICN devia acrescentar não o F mas um P, ICNP - de paisagem. Nós aderimos à Convenção Europeia da Paisagem, temos paisagens que são Património da Humanidade. Atirar com Planos de Renovação ou de Transformação da Paisagem até daria para rir se não fosse trágico.

É mais uma maneira de encobrir os lobbies que procuram todos os trechos de paisagem notável para especular, seja com eucaliptais, seja com regadios intensivos que depauperam a água e os solos ou com  as urbanizações maciças como se estivéssemos ainda nos anos 60 do século passado. No Algarve a Quinta da Ombria é o bom exemplo de um mastodonte de urbanização maciça e a destruição da várzea e da ribeira, tudo com o aval da APA que deve ficar orgulhosa  com esta aprovação a uns finlandeses que na terra deles certamente não obtinham autorização para fazer um erro paisagístico e ambiental desta dimensão. E esperara, mais de 20 anos pela aprovação...

Nós fomos sempre elogiados na Europa, quer desde a antiga CEE, da UE  quer da OCDE, pelo carácter pioneiro da nossa legislação e pelas nossas realizações em termos de controle do território.

A Política de Ordenamento do Território  só voltará a ser eficaz e a garantir a salvaguarda da integridade do nosso reduzido espaço comum, se for conduzida com base numa Política de Conservação independente, interveniente e capaz de resistir aos lobbies especulativos que se abatem sobre nós, agora abrandados pela crise, mas prontos a afiar as garras mal exista uma ”aberta”.

       Aqui ficam pois algumas considerações sobre matérias que deviam ser básicas numa política de esquerda democrática.

O PSD, nos seus tempos social democrata embora do centro direita ( hoje procuram esquecer que Sá Carneiro quis inscrever o PPD na Internacional Socialista…) foi um dos Partidos que maior contributo deu para a Politica de Ambiente). Hoje a esquerda democrática ou é ecologista ou não é esquerda – e a nossa esquerda representada pelo PS não é .

Para uma política  ambiental eficaz tem que ser dado incremento ao sector primário – agricultura e florestas – e ter uma organização do Estado e do Governo que o permita. Este disparate de um Governo com 50 membros ( 19 ou 29  são ministros…) é incompatível com uma governação eficiente e só revela, por um lado  a dificuldade que António Costa tem em convencer a entrar para o Governo um número mais reduzido de pessoas mais  competentes, por outro a necessidade de dar tachos a todos os amigos e amigos dos amigos mesmo que sejam incompetentes ou zeros “ à esquerda”- Cabrita, a da Agricultura, o morcão do Ambiente, e por aí fora.

Quem convictamente serve a defesa do Ambiente não abdica de transmitir as suas ideias, sejam elas aceites  e compreendidas ou não, porque sabemos que são indispensáveis a uma política de esquerda democrática; é com os PS e PSD europeus que se aliam os partidos verdes ( que nada têm a ver com o nosso partido “melancia”, verde por fora, vermelho por dentro). Por cá não temos um partido verde independente, mas temos gente capaz, sem estar partidariamente vinculada, para assumir as funções de uma Política de Conservação.

Assim houvesse ao menos vergonha pelo estado a que se chegou nestes domínios.

 

 

 

 


segunda-feira, 11 de outubro de 2021

 Porque não te calas ?...

O artigo publicado por Cavaco Silva no  último Expresso é digno de referência por vir dum sujeito que foi responsável por medidas altamente lesivas do futuro integrado do território português. E como ninguém se refere a ele e ninguém se lembra de o recordar seja para o que for, tem ele a necessidade de tentar ser publicitado. Ele que se diz o verdadeiro social democrata foi um dos que mais contribuíram  para o  desequilíbrio do sector primário. Só numa coisa tem razão, também não é difícil, é que António Costa tem feito políticas igualmente gravosas  do futuro a médio e longo prazo.  E como "bom" social democrata elogia Passos Coelho que foi o mais liberalista dos PSDs até hoje no Poder- 

O comentador televisivo que  se julga a ele mesmo ter ocupado o lugar  deixado vago por Marcelo R Sousa,  Marques Mendes, no seu comentário dominical, disse que ele tinha muita razão e que tem o direito, dado os cargos  que já desempenhou, de dar sempre a sua opinião - mesmo que ninguém a peça...

No domingo enviei uma "carta ao director" do Expresso, que não acredito que seja publicada até porque  assumidamente tinha dimensão acima do que é exigido e como não acedo á edição online, resolvo deixa-la aqui.

" Exº Senhor Director do Expresso

A arenga que Cavaco Silva escreve no Expresso desta semana é mais um caso em que apetece dizer "porque não te calas?".

Ultimamente falou-se com  mais enfase e de forma genericamente elogiosa de dois antigos Presidentes da Republica, Jorge Sampaio e Ramalho Eanes, e Cavaco Silva sentiu-se isolado  e não quis nitidamente ser esquecido; vai daí sai-se com aquele arrazoado -mas é preciso confrontar o ex-Primeiro Ministro e ex-Presidente da Republica com aquilo que de desastroso ele deixou para o País ao contrário dos auto-elogios  que constantemente faz de si próprio e poderíamos juntar inúmeros testemunhos de técnicos, e não de políticos, que demonstrariam o que Portugal sofreu.

Francis Fukuyama, paladino do fim da história com o triunfo do neoliberalismo reconhecia em 2019 #...mas que os EUA elegessem alguém como Trump é algo que não previ", e como é que os portugueses, mesmo os de direita democrática e equilibrada elegeram Cavaco  durante 20 anos ? Pode explicar-se, mas não é aqui o lugar apropriado. Porque Cavaco Silva que se intitula o paladino da social democracia o que ele promoveu foi um mal encapotado neoliberalismo facilmente demonstrável.

Joseph Stigliz, Nobel da Economia, escreveu em memoráveis colunas do Expresso, "os efeitos da liberalização do mercado de capitais foi particularmente odioso".

Ora Cavaco Silva foi o principal causador do despovoamento do interior e da queda das nossas produções alimentares internas. Quando ele deu subsídios aos pequenos e médios agricultores para deixarem de produzir, foi o primeiro e decisivo passo  para o abandono de terras. Não foi por acaso, pois foi uma estratégia bem pensada de cariz neoliberal, repete-se, ele que se diz o maior executor da social democracia. É que simultaneamente extinguiu os Serviços de Extensão Rural que davam apoio técnico à pequena e média agricultura, auxiliando os proprietários na escolha das culturas, das técnicas e do associativismo rural e deveria ajudar a chegada ao sector de novos e jovens agricultores, pois os grandes grupos empresariais tem os seus próprios  técnicos.

Por ouro lado os fundos europeus que poderiam ser distribuídos por pequenos e médios produtores passaram a engordar sobretudo os grandes grupos de economia agro-industrial. A seguir ao abandono das terras vieram os agentes das celuloses para comprar ou alugar as terras e aumentar, como se viu, a área de eucaliptais. Foi com Cavaco Silva nos finais dos anos 80 que estiveram à frente da agricultura e florestas técnicos vindos directamente da industria da celulose - tudo isto por acaso?

E agora neste texto vem defender as políticas de Passos Coelho que não eram dele porque lhe faltava preparação para isso, mas da troika que nos impôs uma governação neoliberal e anti social que todos conhecemos e a própria UE veio depois a condenar... É esta a social democracia de Cavaco Silva? É altura de ele nos deixar de vez em paz e os seus arrependidos eleitores que o convençam a isso... Cavaco Silva contribuiu decisivamente para o empobrecimento do País ."





sexta-feira, 8 de outubro de 2021

 Dia a dia

Desde que Salazar assumiu a predominância das Finanças sobre todo o resto da governação que os Ministros das Finanças lhe seguem o exemplo e se sobrepõem a todos os demais Ministérios.

A política de infraestruturas  de João Leão

A política de infraestruturas, bem pode clamar contra o Ministro Pedro Nuno Santos, é determinada pelas Finanças, já não importa que na elaboração dos Orçamento de Estado cada Ministério julgue que conseguiu o que queria. Depois ou se faziam as cativações que Centeno  activava para travar logo as perspectivas dos colegas, ou se faz como agora: deixam-se passar os meses sem serem aprovados os planos de actividades e respectivos orçamentos e os Ministérios e serviços ficam de mãos e pés atados A política de pontes e calçadas é de João Leão.

A politica de saúde de João leão

Os hospitais estão a rebentar pelas costuras, os Directores e Chefes de Serviço estão a demitir-se por todo o país e as declarações de irresponsabilidade feitas por médicos por causa da falta de recursos  somam-se todas as semanas. Ao Ministério das Finanças quanto  menos encargos com a saúde houver, melhor - quem mais morre em regra são pessoas idosas ( um peso insuportável para os cofres do Estado na visão dos financeiristas) - por isso atrasar ou impedir a contractação de médicos e outros trabalhadores da saúde é a melhor política. Apesar de politicamente censurada a Ministra da Saúde, eu sou daqueles que acha que ela se aguentou muito bem nestes terríveis anos da pandemia, que conseguiu obter até mais ajustes orçamentais  extraordinários do que lhe queriam permitir- e é determinada o que irrita muita gente, em especial o bastonário da Ordem dos Médicos e o seu parceiro Roque da Cunha do Sindicato (In)dependente dos Médicos, como se não existisse outra organização sindical de médicos em Portugal - só que não é afecta ao PSD...

A política de saúde não é, portanto, tanto da respectiva Ministra mas antes de João Leão - ah, grande leão! E a quem obedece o nosso leão se não a António Costa ? Assim todas as políticas são efectivamente do Costa por interposta pessoa do Ministro das Finanças.

Mas o pessoal começa a ficar bastante farto da arrogância do PM e das falsas promessas; estamos todos á espera que a bazouka vá ser distribuída por pontes, calçadas, obras de fachada e que nem sequer sejam implementadas políticas de médio e longo prazo como deviam ser as do sector primário.

E vem aí o aeroporto no  Montijo...

Ai vem, vem! Se pensam que António Costa desiste da ideia mesmo sendo má sob vários pontos de vista, excepto o da negociata já deixada do antecedente, enganam-se. Ele dá  as voltas que forem precisas e para já conseguiu mudar o Presidente duma das Câmaras Municipais que se opunham ao projecto - já só fica a do Seixal, ele negoceia isso com o PCP e com algum dinheiro da bazouka. veremos...

A Quinta da Ombria no Algarve

Prosseguem em grande ritmo as obras na Quinta da Ombria que devem encher de orgulho a APA  que o aprovou. E creio que nem sequer fiscalizam as obras, nomeadamente no que se refere à ribeira e à sua defesa dos relvados do golfe; ninguém quer saber, e a gente pasma como é que em pleno seculo XXI, com tantas paragonas sobre as alterações climáticas,  se deixa construir aquela monstruosidade  para um turismo massificado à moda dos anos 60 do século passado. E tudo aquilo vai consumir água do aquífero Querença-. Silves..






terça-feira, 5 de outubro de 2021

 Isto está a ficar lindo...

Estive uns dias afastado, em viagem pela bela terra transmontana - quem quiser falar do País ( ou seja daquilo que for) tem que o conhecer bem para abordar com conhecimento de causa. Foram poucos dias  mas entretanto passaram-se coisas sérias outras ridículas - começo por estas...

Provincianismo lisboeta

30 de Setembro era o último dia da exposição no museu do Palácio da Ajuda sobre a Dª. Maria II, que parece abordar aspectos importantes para quem estiver interessado naquele período do liberalismo. Aí fomos,  minha mulher e eu, depois de uma bela viagem de autocarro atravessando o Parque de Monsanto que já há vários anos não se visitava, e apeámo-nos na Calçada da Ajuda, Ao entrar no acesso ao pátio estava formada uma pequena força da GNR com fanfarra e tudo e dissemos aos polícias que barravam a entrada que só queríamos atravessar o pátio e entrar no museu. Não era possível, ia haver ali no pátio uma troca de embaixadores, informaram-nos que teríamos de dar a volta e entrar pela fachada principal do Palácio.    Lá fomos, eram 4h da tarde e um grande e pesado calor, palmilhámos toda aquela volta, galgámos entre o arvoredo, chegámos à frente do Palácio e vimos lá ao fundo o pátio com o aparato já descrito. Aos polícias da entrada dissemos que íamos ao Museu que, como se sabe, tem a porta logo ali ao lado esquerdo - não se podia por causa da cerimónia que haveria de  decorrer no pátio, lá ao fundo.  Nem seria precisa uma grade, bastava um dos polícias vigiar a entrada no museu e impedir que se avançasse pelo acesso ao pátio - não senhor, adiaram a exposição e para diminuir o ridículo alargaram o prazo para Outubro. Saloísse, por causa  duma cerimonia no pátio do Palácio não se podia entrar na porta logo ao lado - não é programação, é provincianismo e sujeição à cagança  dos embaixadores estrangeiros para que não houvesse misturas. E os "comandantes" não foram capazes de informar os policias do lado de trás que também não se podia entrar pela frente...

O PS  no seu melhor e nós no nosso pior...

Episódio A -O Presidente da CP demitiu-se porque não tem meios para gerir a empresa, estamos no último trimestre do ano e nem sequer tem aprovado o plano de actividades deste ano. 
Onde é que já se viu? Então António Costa não sabe que  mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo? Não há cativações, claro, mas reter o plano de actividades até ao fim do ano, é apenas planeamento cuidado. É preciso descaramento, que teve como consequência Pedro Nuno Santos - que entre outras qualidades parece ter a da frontalidade - criticar publicamente e em tom sério o Governo de que faz parte.

António Costa tem vindo a governamentalizar todo o  aparelho do Estado de uma forma escandalosa, e a sua  arrogância, que toda a gente já detectou, começa a ser inaceitável. É precisa decência!!

Episódio B - A sem-vergonhice com que o Cravinho, Ministro da Defesa, resolveu anunciar a demissão do CEMA ( porque este aqui há tempos criticou o plano de reforma das Forças Armadas como o fizeram quase todos os oficiais superiores, como Ramalho  Eanes, por ser a submissão das FA à política partidária ...) e levou-o ao desplante de anunciar também que iria ser substituído por Gouveia e Melo. o vice almirante que foi excelente na questão da campanha de vacinação. E A. Costa não sabia deste anúncio, alguém acredita? Levou uma ripada do Marcelo para aprender...

Isto deixa-nos perante o melhor do PS, que é a liberdade de expressão interna, como a independência de opinião dum Ministro na defesa de um empresa de interesse crucial para o País, a CP, e o pior que é esta ardilosa procura  de controlar tudo - Justiça, todo o aparelho do Estado e agora as Forças Armadas.

Ainda vamos voltar a ver mais episódios desta telenovela, o Costa  a fugir a uma remodelação do Governo e os Ministros, quase todos, a darem tiros nos pés... Remodelação que, a acontecer,  vai revelar a dificuldade em recrutar novos ministros capazes- quem é que, com categoria profissional e ética, aceita ir para um Governo por dois anos com as cenas que ´tem ocorrido?