quinta-feira, 29 de agosto de 2024

 Colónias e colonialismo

Tem sido assunto da comunicação social e têm-se ouvido e lido  grandes arengas sobre a escravatura e o colonialismo português - e continuam alguns a insistir nas reparações às antigas colónias, mesmo depois de  não ter vindo qualquer apoio a essa ideia da parte das autoridades africanas. Até de Angola foi dito pelo Presidente  que  essa não é questão que se lhes coloque.

A independência dos territórios africanos deu-se a seguir à nossa própria "independência" conquistada com o 25 de Abril de 74, pondo fim a uma estúpida guerra colonial que  o reaccionarismo salazarista produziu. Milhares de jovens portugueses morreram nessa luta inglória contra a evolução da vida e da História - tal como tantos milhares de africanos que foram igualmente sacrificados, mas estes lutavam pela grande causa da honra  e da dignidade das suas pátrias.

Nós não fomos mais colonialistas que os ingleses, os holandeses, os espanhóis ou os franceses, e não me recordo de nestes países haver uma grande contestação e a argumentação distorcida que por cá vai havendo. 

Portugal deu independência ao Brasil ainda no século XIX, em regime  monárquico, e durante a 1ª Republica ninguém se preocupou com as  colónias - também os países colonialistas europeus ainda não falavam disso; até que depois da 2ª Grande Guerra tudo mudou e a consciência das populações  das colónias começou a impor-se - mesmo assim com guerras prolongadas. Então a França foi vergonhosa com a guerra contra os argelinos.  

Nesse tempo da descolonização generalizada, de que é que o asceta de Santa Comba Dão se havia de lembrar? De que nós não tínhamos colónias, eram apenas extensões africanas do território português e, como por cá tínhamos as nossas províncias, lá fora tínhamos províncias ultramarinas - e com esse golpe de mágica que ele deve ter considerado que era própria dum génio, manteve uma estúpida guerra, como eu digo, contra a Vida e contra a História.

Já tínhamos ficado ingloriamente sem as colónias na Índia, porque Salazar se recusou a dar independência ao  Estado de Goa o qual, se tivesse sido criado, teria o apoio internacional da ONU e teríamos na verdade a continuação de uma cultura portuguesa naquelas paragens. Mas era um precedente que a casmurrice do velho ditador não podia compreender -não queria compreender.

Portugal, ao longo daqueles séculos em que manteve colónias, fez o que a consciência da Humanidade tinha como válido, séculos e séculos desde que há registos - a conquista de colónias e a manutenção da escravatura faziam parte  da "moral"; a Grécia criou colónias  que também eram uma extensão da sua civilização -  e graças a esse "colonialismo" grego o Ocidente  (primeiro o Sul da Europa, mais tarde os "bárbaros" da Europa central e nortenha) adquiriu valores civilizacionais e culturais que nos guindaram a um lugar ímpar na História da Humanidade. As colónias gregas, sobretudo  as  do sul da Itália e as da Sicília  - a famosa Magna Grécia - formaram a base da civilização  europeia !!

E os mesmos africanos que foram colonizados por europeus,  também  tiveram  entre si as mesmas práticas - faziam guerras para capturarem escravos pela simples razão que essa era uma forma de  afirmar Poder e por isso se praticava em todas as raças e religiões.

Se isto que digo  for interpretado por alguém  como estando  a fazer a apologia ou a desculpar as nossas culpas do colonialismo  e da escravatura é apenas má fé, porque para mim - que  sei que  tenho uma grande irreverência e intolerância interior contra os  excessos de poder - gosto e quero apenas  clarificar conceitos e atitudes.

Já não vou repetir a cena que vivi na ilha de Goreia, ao largo de Dakar, onde há o Museu da Escravatura, mas o certo é que os próprios chefes dos Estados africanos de hoje  nunca pediram desculpa por os seus antepassados terem feito o que fizeram.

Fizemos atrocidades? Claro que sim, mas, repito, só considero colonialismo  criminoso, porque era contra a História, o que foi perpetrado pelo Estado Novo, quando a consciência  da Humanidade já condenava  unanimemente essas práticas. É um erro grave julgar a História com os conceitos e a visão que temos nos dias de hoje.

Nas colónias, já no século XX, os colonos portugueses cometiam atrocidades? Claro que sim  e até eu, em plena guerra de Angola, assisti a dalgumas práticas detestáveis exercidas por alguns colonos. E vou contar um pouco do que vi. 

Numa roça,  a "Beira Baixa",  a seguir ao Onzo, parámos a nossa coluna e assisti ao capataz a chicotear um grupo de bailundos (povo do sul usado como trabalhador, quase  escravo,  nas roças do norte);  fotografei a cena, com intuito de mais tarde tomar posição, mas ingenuamente enviei o rolo para revelar, como fazia com todos os rolos, e claro veio com as fotos queimadas...

Mais tarde, já nos últimos meses que sabia ia estar em Angola, fui com o Jorge Serra, alferes médico, passar umas férias no sul  e estávamos em Moçâmedes numa esplanada, quando assistimos a um acto repelente;  entrou um casal de  africanos, com um miúdo pequeno, todos muito limpos,  o catraio vestido de marujo com um impecável fato branco, e sentaram-se a uma mesa. Veio o empregado, também negro, dizer-lhes que não podiam ser servidos ali, tinham que sair.

 Nós os dois demos um salto nas cadeiras! E chamámos  o casal para se vir sentar na nossa mesa. Dirigi-me ao patrão, lá dentro do café, e em voz alta para que toda a gente ouvisse, disse-lhe que "andam os portugueses a morrer no norte e vocês aqui no Sul a cometerem estes atentados  à  dignidade das pessoas". Que mandasse servir os africanos e que iria dali apresentar  queixa no quartel da cidade.

Assim aconteceu, os africanos  beberam o que pediram, pagaram do seu bolso e saíram com muitos agradecimentos. Fomos dali ao quartel. em plena hora de serviço (só estava o "sargento de dia", nem um oficial!) e eu, como capitão, apresentei queixa por escrito.

Um mês depois, já no meu quartel, recebi uma chamada do quartel de Moçâmedes, a perguntarem-me se eu queria manter a queixa  !!... disse que sim,  voltei a vociferar mas de certeza que não ligaram nada.

Portanto estes actos vergonhosos comprovam que os nossos colonos, sobretudo os que viviam em zonas rurais, nas roças, praticavam actos condenáveis  em pleno seculo XXMas era o Estado Novo que os impelia nesse sentido.

Por agora chega de narrativa.  





 










quarta-feira, 21 de agosto de 2024

 Tempo dos incêndios

Cá estamos em plena época alta dos fogos rurais ou florestais, e por sinal tem sido uma época calma, comparando  com outros anos trágicos.

O incêndio que lavra há uma semana nas serras da Madeira é que se torna  difícil de aceitar; como é que a ilha que conta apenas com um  helicóptero, não foi auxiliada até agora por meios aéreos da Governo da Republica? O pais não é o mesmo? Olhem se em Lisboa estivesse um Governo do PS a gritaria que já iria por aí fora!!...

No local onde começou, de noite, não deixa margem para dúvidas de que foi fogo posto.

Eu vivi na Madeira mais de sete anos e em metade desse tempo fui Administrador Florestal do Funchal e Porto Santo; em todos esses anos nunca houve  nada que se parecesse com estes incêndios. Durante o tempo em que chefiei aquele Serviço devo ter tido uns 3 ou 4 inícios de fogo nas serras, incluindo um no Pico Ruivo, de muito mau acesso. Este foi posto por criadores de gado;  havia pessoal que queria manter gado à solta nas serras, o que ia contra a missão dos florestais que era arborizar o mais possível -  tinham-se  criado 4 grandes rebanhos mantidos por pastores (eles e as famílias tinham ido da Serra da Estrela para lá) e a que os proprietários do gado pagavam uma bagatela simbólica.  Mas havia alguns poucos  do lado de Santana que continuavam a não aceitar e então pegaram fogo lá no alto.

Eu fiz-me acompanhar de 2 guardas-florestais, munidos de "mausers", subimos mais de 1 hora pela vereda e lá defrontámos os homens, cinco ou seis, que estavam ao lado do fogo que tinham iniciado e que, se continuasse, pegava a um povoamento magnifico de urze arbórea, espécie endémica; parecia uma cena de guerrilha  (e eu ainda não tinha ido para a guerra de África...), dei ordem por 2 vezes para eles começarem a apagar o fogo, e como não obedeciam disse-lhes que ia haver sangue e mandei os guardas e eu mesmo, meter a bala na câmara com aquele ruído característico de quando se  usavam as "mauser"...

 Ai eles começaram a apagar o fogo com ramagens, disse aos guardas que ajudassem e disse-lhes que quando o fogo estivesse apagado esperava por eles no café da povoação para conversarmos. Acabámos por  chegar a acordo, eles recuperavam os  ovinos e caprinos e eram incluídos  num rebanho daquela região

Como havia casas de guardas-florestais bem localizadas, sempre que houvesse uma pequena coluna de fumo havia sempre quem a detectava e eram debelados à partida.

Agora é o que se vê...





domingo, 18 de agosto de 2024

 Dia a dia

Falando do tempo - As altas temperaturas estão a prolongar-se por muito tempo e nem as características  nortadas  de Agosto que já se fazem sentir ( quem está na praia que o diga...) causam alívio; aqui pelo interior do Algarve as noites são quentes e abafadas  e em regra o céu fica nublado. Por esta razão, eu que me apressei a anunciar a muita gente as famosas chuvas de estrelas cadentes, acabo por não as ver - o céu nublado não permite.

Quero ver, com  o alto consumo de água que este turismo massificado está a  praticar, como vão ficar as reservas de água para o resto do ano.

Mas não é só o turismo, continuam em marcha projectos de agricultura intensiva.   Na estrada para Olhão fizeram uma enormíssima terraplanagem que está mesmo a ver-se que será para um pomar; ouvi falar em abacates, mas quero ter a certeza do seu fim para para poder  protestar pubicamente. Não há emenda!

Desigualdade económica - Continua a aprofundar-se o fosso entre as economias mais desenvolvidas e as de países pobres e subdesenvolvidos,  por mais  que a ONU e observadores independentes o denunciem. Eu não acredito no fim do capitalismo como alguns sociólogos e economistas de vanguarda  o digam, até porque o regresso ao capitalismo de Estado, que afinal é o que se passava ( e passa...) nos regimes comunistas, não é nada de aceitável pelas sociedades que conhecem e vivem a democracia "tour court", democracia liberal onde as liberdades são dominantes no comportamento  dos órgãos de soberania  e no comportamento  dos povos.

Agora que este capitalismo neoliberal vai ter que ser derrubado disso não tenho dúvida, os mercados desregulados continuam a ser a chaga do século XXI, aumentando o fosso entre os ricos da minoria e os pobres e remediados da maioria -e à medida que mais países e as suas sociedades ganhem consciência desta realidade maior será também  a força da mudança

Democracia em risco As democracias estão em risco, em todo o mundo forças de direita como na Hungria e Argentina ou da esquerda radical como na Venezuela ( e sem mais exemplos para não estender o "relatório"...) aproveitam-se da fragilidade da democracia e das suas liberdades, para galvanizarem populações indefesas, gabirus à espera da sua oportunidade e interesses económicos também na perspectiva de protecção com base em corrupção que a sustente. 

Eu pasmo quando  sei que certas pessoas que conheci toda a vida, aparentemente  aceitando a democracia e as sus falhas, de repente acreditam naquela cambada dos "chegas" como sendo os políticos redentores que vão colocar tudo no seu lugar. E isso é patente até na forma como tentam esconder a sua opção, para não darem muito nas vistas... Tenho para mim, creio com fundadas  razões, que os chegas não vão crescer muito mais, bem como pela Europa fora a extrema direita já dá sinais de fraqueza - tudo depende  de Trump perder as eleições nos EUA. Porque se o palhaço americano voltar a ganhar então teremos um mundo em franca convulsão e regressão democrática.

Ameaça nuclear - Continua erguida sobre as nossas cabeças a ameaça nuclear,  há dois países em guerra que a possuem, a Rússia e Israel, e talvez o Irão também já a tenha. Todos países governados por ditaduras (pois Israel deixou de ser uma democracia  autêntica desde que tem a extrema direita no Poder e não a tiram de lá)  são um risco terrível, pois a insanidade dos ditadores não conhece limites.

Os crimes praticados em Gaza - O que se está a passar em Gaza é uma das maiores tragédias que a Humanidade já conheceu nas últimas décadas.  Terríveis crimes contra a Humanidade, onde os EUA se estão a comprometer da forma mais indigna, pois o apoio a Israel  - que já se justificou em tempos idos -  não devia ser dado  a este Poder lá instalado que de democrata já nada tem. E a apatia ou indiferença do mundo muçulmano é uma autêntica vergonha.

Mais um do "nosso" tempo que desaparece-  Morreu Alain Delon, aos 88 anos. Vamos ver desaparecendo as figuras que fizeram parte das nossas vidas, directamente ou indirectamente. É o que nos espera...

.....

Estão 37º às 3 h da tarde, nunca antes visto, tanto quanto eu sei nestes quase 40 anos em que aqui moro



terça-feira, 13 de agosto de 2024

 Como é possível?!!

1- Há o risco evidente de ter que falar dos mesmos assuntos todos os dias. Mas  como é possível  que ninguém impeça Israel de continuar com a chacina que está a fazer na Palestina? Cada semana que passa é mais um chorrilho de atrocidades cometidas sobre a população local, sempre com o pretexto de esmagar mais um combatente do Hamas. Um terrorista quanto vale,  uma dúzia de civis ?

2- A invasão da Ucrânia continua, agora com pesadas baixas também para os russos; a população russa, anestesiada pelo regime "democrático" de Putin, vai vendo chegar os caixões dos seus rapazes mortos numa guerra  sem justificação, e não reage - como é possível? 

3.Esta Ministra da Saúde entrou cheia de raiva e preconceitos  e só faz asneiras. O SNS estava a dar corpo ao plano a longo prazo de Fernando Araújo, e como a sujeita queria mostrar serviço fez com  que ele se demitisse -nem creio que ele fosse membro do PS., foi nomeado pelo Ministro esse sim do PS - e agora está com esta desgraça de falta de planeamento para o Verão- como é possível que o Montenegro aceite uma coisa destas? Depois a sujeita pegou-se com o INEM, o Presidente demitiu-se  e afinal o Tribunal de Contas veio dar-lhe razão - mais uma sujeira  da sujeita. E estamos nesta situação dramática com a saúde, nitidamente por razões pessoais da senhora ministra.


sábado, 10 de agosto de 2024

 Novo holocausto

Continua a barbárie dos judeus israelitas sobre os palestinianos, um autêntico holocausto. Tudo já teria sido diferente se os EUA, apesar de se dizerem envergonhados, deixassem de apoiar Israel pelo que são coniventes com o morticínio que acontece todos os dias.

Israel não vai parar enquanto Gaza não ficar toda reduzida  a um montão de ruínas, onde ninguém conseguirá viver.

E continua a ser paradigmática a apatia dos países muçulmanos, não mexem um dedo  - aliás os Emiratos pelo menos tinham já estabelecido acordos com Israel por isso estão quietos,  que nem ratos no buraco,