sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Depois de mais uns dias de interregno, por diversos motivos,  volto às minhas notas com o mesmo objectivo de sempre, deixar reflexões para memória futura.

 Ideologias ?- o liberalismo diz que só existe uma...

Em campanha eleitoral desde há semanas em pré-campanha e agora em campanha repara-se como os partidos não discutem ideologias, apenas atiram com as suas propostas em catadupa, para conseguir  atrair mais gente. Mas as ideologias é que determinam o futuro, haja quem as saiba defender por convicção e não apenas por arrangismo,

Nunca se ouve o PCP anunciar o seu marxismo leninismo como sendo a doutrina político-social que vai salvar o país, nem se ouve o BE defender o seu marxismo radical que nunca explicitou bem qual era ( e a confusão dá sempre jeito); o PS  nunca defende abertamente os princípios da social democracia de esquerda ( a social-democracia teve sempre uma ampla gama de tonalidades); o PSD diz que é de centro direita mas  faz por esquecer que Sá Carneiro e os outros pais fundadores do PPD (eu dei-me mais com o Magalhães Mota e recordo o que ele falava) quis inscrever o  Partido na Internacional Socialista, só que Mário Soares travou essa veleidade; o CDS ás vezes fala a correr da democracia cristã mas sem se alargar muito para não afugentar mais sócios, pois a maioria dos que enchem o IL e o Chega saiu do CDS - quer dizer que para além dos pais fundadores (Amaro da Costa, Freitas do Amaral, Bagão Félix, Adriano Moreira, e alguns mais que seriam conscientemente democratas cristãos) a maioria era de direita e foram para o CDS porque era o mais à direita que havia na praça... mas mal  houve esta abertura do espectro saltaram logo - uns para um partido fascista e os menos assanhados para os liberais.

Estou a insistir mais no CDS por que se liga directamente com o título destas notas de hoje - a origem das ideologias,  da democracia cristã e do liberalismo.

O liberalismo é como a hidra de mitologia, tem muitas cabeças e quando perde uma nascem logo outras e na hidra o seu hálito era pestilento... Ora desde o século XIX que é assim com o liberalismo.

Na Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII são combatidos igualmente o marxismo colectivista e o liberalismo individualista, por ambas serem ideologias que iam contra o essencial da liberdade do ser humano por um lado, e contra a necessidade do bem estar colectivo por outro. Tudo posições que a Igreja condena e daí ter nascido a doutrina social da Igreja que resultou na Democracia Cristâ - tão simples como isto. 

E dos que não tinham propósitos religiosos mas almejavam em teoria praticamente os mesmos objectivos de justiça e igualdade sociais surgiu uma forma atenuada de marxismo democrático ( que não aceita ditaduras seja de que tipo for) que se traduziu na Social Democracia, Em termos simples é este o processo de formação das ideologias que depois da 2ª Guerra Mundial deram á Europa e a uma boa parte do Mundo as décadas de maior paz social e progresso material em plena liberdade. 

 Portanto os democratas cristãos do CDS eram muito poucos... os muitos mais acabaram por aderir à hidra liberalista contra a qual haviam sido doutrinados ...  Mas voltemos à História.

Foi a queda do muro de Berlim e o ruir da hegemonia soviética que significaram, durante décadas, o triunfo do marxismo leninismo  (uma forma deturpada do marxismo, já que este que fora pensado para as sociedades industriais do tempo de Marx e Engels, afinal foi  "adaptado" à força a um país ainda  "medieval" no início do século XX) que abriram mais oportunidades ao surgir de mais cabeças da hidra.

Já o uso do termo liberal é um abuso. Liberais somos todos nós que nos opomos ao absolutismo, porque os que defendem o liberalismo económico não são liberais, são liberalistas ou até libertinos pelos excessos que  criam nas sociedades. E os actuais  liberais seguem a mesma cartilha  liberalista desde sempre ( como os marxistas seguem a mesma cartilha de Marx ) e a sua proposição mais altissonante é também a mesma de sempre, de que não há mais ideologias, há apenas a ideologia do mercado livre, a "supra divindade" a que todo o mundo acabará por se submeter. E a arrogância não esmorece, é uma característica de raiz, como se nota por exemplo no Cotrim de Figueiredo do IL ou num cronista do "Publico" que era CDS ferrenho - Mendes da Silva- e agora escreve que a direita ou é liberal ou não é direita, boa conclusão para um, até há pouco tempo.  dedicado  democrata cristão...  O liberalismo revive depois das crises  sistemáticas que ele mesmo provoca.

Já a Grande Depressão dos anos 30 do século passado nos EUA e que contribuiu para o crescimentos dos nacionalismos e fascismos desse século, fora consequência da desregulação dos mercados protagonizada pelos liberalistas e só a intervenção do Presidente  Roosevelt com o seu New Deal, através da injecção de enormes quantidades de dinheiro do Estado na economia, salvou  a sociedade americana dum fim mais trágico. O keynesianismo foi uma forte machadada nas cabeças da hidra, que quebrou força durante algum tempo. 

Mas  mais tarde de novo saltaram para a ribalta diversos ideólogos a favor da grande força motriz dos negócios, entre muitos outros   Milton Friedman Hayeck  em quem se apoiaram  Reagan e Thatcher, como muito outros políticos ocidentais incapazes de prever que, mais uma vez, a desregulação neoliberal iria conduzir a novas crises como a de 2008 que afectou todo o mundo.

Na euforia do fim da "guerra fria" outro economista famoso e grande paladino do neoliberalismo, Francis Fukuyama, havia proclamado com a arrogância secular dos liberais, o "Fim da História", onde previa que a queda do comunismo europeu eliminaria o último obstáculo que separava o mundo inteiro do seu destino fatal, a liberdade dos mercados como única ideologia de futuro. O certo é  que ele mesmo em 2019 confessou que nunca pensara que uma economia liberal como a dos EUA viesse a eleger um tipo como Trump e a culpa desses desvios, disse ao El Pais, foi a esquerda democrática ocidental não ter sido capaz de resistir  deixando deteriorar a democracia. Pois, a culpa não foi dos mercados em roda livre, foi da esquerda não ter tido força para se  opor à deterioração  dos mercados e da democracia... Boa, hem?

Pois estamos novamente num ciclo da História em que as democracias estão cercadas por dentro e por fora por extremas direitas, por populismos fáceis  de cair no goto da população mais desprotegia e menos informada e com a adesão de grandes magnates e patrões ansiosos por porem fim a esta "treta" das liberdades, esperando que venham  a "ordem e a paz". Ora quando a situação é esta e governos e partidos ditos democráticos e de esquerda fazem asneiras de grosso calibre, sem recuar e com arrogância dão os piores exemplos de clientelismo, incompetência e oportunismo, em quem é que grandes faixas da sociedade vai escolher ?

Penso que fenómenos como o Chega são assustadores pelo vozeirão, mas não tem substrato para se aguentarem  por ai fora, apesar de ser bom não lhes dar mais importância do que aquela que tem, mas  muita comunicação social é culpada disso. Agora  a eficácia e moderação de discurso do IL devem ser, essas sim, tidas em conta pois o que parece um pequeno partido é uma das cabeças da hidra que reacendeu em Portugal onde o neoliberalismo nunca tinha chegado com grande força - até agora...

 Com esse é que é preciso estar vigilante, sobretudo  quem defende uma esquerda democrática, socialismo ou social democrata e que, a par da democracia cristã  em toda  a Europa Ocidental, foram capazes de suster a hidra.

A quantidade de Partidos que concorrem a estas eleições diz bem da amplitude de ideologias que proliferam, algumas mesmo esdrúxulas, desde o quase mítico MRPP, um MAS que ninguém conhece, o fatídico RIR que é mesmo para rir apesar da simpatia do Tino ( só isso), a outros bem mais perigosos como o Ergue-te ( que acha o Chega, que se diz anti-sistema, um caso sem importância porque afinal é do sistema) até um partido negacionista AdN, que é contra a toda a politica de saúde publica, contra o sistema em vigor, contra a Constituição, enfim é um ror de enormidades -  e toda esta gente aproveita a possibilidade que a democracia lhes confere para falarem livremente e terem tempos de antena. Quando algumas destas ideologias chegam ao Poder pelos votos obtidos em regime de  democracia, dão logo cabo dessas facilidades como na Polónia, na Hungria, na Turquia, etc, etc.

Por isso aos governos democratas, como os que temos tido em Portugal, não lhes podemos tolerar que se continuem a verificar os escândalos que o PS tem permitido nestes seus últimos Governos e que já com o Pinto de Sousa foi um desastre de trágicas dimensões.

Vamos lá ver  com muito sangue frio e muita ponderação, em quem se vota nestas eleições...









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