quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

A anunciada tragédia da seca

Quando há uns meses eu falei que se não chovesse abundantemente poderíamos estar a caminho de uma catástrofe no final da Primavera, fui chamado de alarmista por um jornalista que falou comigo sobre o problema da água. Eu não estava a fazer futurologia nem a inventar notícias alarmistas,  apenas sigo com atenção as opiniões de especialistas  portugueses e estrangeiros credíveis sobre o caminho das alterações climáticas, que muita gente, logo começando pelo Trump, diz que  são apenas  acções de marketing . 
Agora começa  no nosso País a ver-se onde estamos a chegar em termos de seca ; não se fazem as sementeiras das culturas cerealíferas e forrageiras, o gado começa a não ter que comer e beber, e o Ministro da Agricultura em vez de cair publicamente na verdade ainda veio dizer que também  ano passado se esteve na mesma e foi um ano recorde em vinho e azeite. Só que o ano passado - ele se soubesse de agricultura teria conhecimento disso - ainda se contou com um teor de água no solo que vinha dos Invernos anteriores ( mesmo esses fracos em chuva) que aguentou as culturas arbustivas permanentes o que este ano não sucede. Um amigo meu aqui no barrocal algarvio arrancou umas cêpas antigas de videira e a um metro de profundidade a terra está sêca, sem um mínimo de humidade.
Se não chover abundantemente em Março e em Abril - não são umas pingas, é chuva certa e metódica durante umas semanas-chegaremos ao Verão sem água para distribuir pela agricultura e pecuária e - os deuses nos livrem - para abastecer as torneiras em nossas casas.
Na altura em que eu falei, aí por Outubro, o Governo devia ter logo iniciado campanhas de  sensibilização da população para a economia da água; o resultado não se obtém num dia nem num mês,  são precisas muitas acções continuadas durante bastante tempo para que a população lhes dê ouvidos , já sabemos que é assim. Criar alarme publico é uma coisa a evitar, mas avisar com tempo as pessoas do que pode acontecer, é uma obrigação do Governo
Vem também agora o perclaro Ministro do Ambiente com a sua voz forte e grossa, dizer que daqui a umas semanas vai começar uma campanha de sensibilização - a tal que já deveria ter começado há 2 ou 3 meses - e vamos lá ver que tipo de campanha será essa. E que o Governo - leia-se ele, como Ministro do Ambiente !!- não deixará que falte a água para a população. Posso perguntar, vai busca-la onde ?...
Por altura de Outubro escrevi um artigo para o PUBLICO sobre a previsível seca  não só em Portugal como em toda a latitude mediterrânica e com especial incidência no sul da Península Ibérica, e sugeria que era tempo de se falar em dessalinização da água do mar, mas o jornal não quis publicar. O recurso a essa tecnologia está hoje disseminado pelo Mediterrâneo, há uns anos estive na Argélia e já lá existiam 15 estações de tratamento da água do mar;  Marrocos, Israel e a Espanha já têm essas instalações.  Claro que não será água para regar em agricultura mas para abastecimento publico; a população que habita ao longo do litoral português deveria ser abastecida por esse meio, libertando as barragens do interior para as populações interiores e para a agricultura. O custo da energia, que é o que encarece a tecnologia da osmose inversa, pode ser minimizado  com o uso das eólicas integradas nas instalações de dessalinização, pois vento é o que não falta no litoral português.
Ninguém do Governo sequer fala deste assunto; mas ainda hoje ouvi o Prof. Filipe Duarte Santos, com a sua autoridade científica, a falar na opção da dessalinização para o caso da escassez de água  que se julga que  não é episódica, antes se insere numa das mais graves consequências da alteração climática que nos afecta.
E não é aos privados que compete tomar esta decisão, a EDP e as outras empresas do sector só falarão nisso quando o negócio estiver "maduro " ,  é ao Estado - leia-se ao Governo - que compete avançar com o processo.
Os deuses permitam que em Março e Abril venha chuva abundante, não aqueles aguaceiros torrenciais bastante usuais nesta época do ano, em que maior parte da água que cai se perde - mas umas boas chuvas mansinhas e continuas. E faço votos que a comunicação social e os  especialistas comecem a debater este problema da aridez  crescente das nossas latitudes para que a população acabe por se consciencializar quanto às medidas urgentes que terá de tomar. Embora  a ex Ministra Assunção Cristas tivesse sugerido que se rezasse para resolver o problema da escassez de água, vão começando a acreditar que não é rezando para que chova que o problema se resolve. Fiquem-se pela orações e verão aonde nos leva a seca. 

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