domingo, 25 de fevereiro de 2018

A utopia democrática

Durante quase cinquenta anos vivemos debaixo de uma ditadura, que foi montada por Salazar e acabou com o final patético do marcelismo. Durante esse tempo  a sociedade portuguesa sobreviveu - é o termo -  a uma economia incipiente e agravada pela longa guerra colonial que nos levou recursos e sobretudo milhares de rapazes na força da vida, sacrificados à insanidade que representava a  manutenção  do "Império".
A democracia surgiu-nos em 1974 como uma utopia que valia a pena agarrar , como já acontecera em 1910, sendo que aqui desbarataram-se em dezasseis anos os valores e as conquistas que a Republica nos prometia.
Tantos anos de ditadura inevitavelmente que  marcaram viciadamente um povo com muitas qualidades - reveladas ao longo de uma História de  900 anos - mas também com muitos defeitos que só uma cidadania activa em democracia  pode corrigir.
Factos e mais factos escandalosos  têm vindo à luz do dia  com maior acuidade  ultimamente, trazendo ao conhecimento publico se calhar apenas a ponta do icebergue da pouca vergonha que escorre  por trás da fachada democrática. 
Não quero parecer moralista mas o mínimo que posso constatar é que a falta de ética de grande parte dos agentes políticos e económicos brada aos céus, surgindo de pessoas e instituições que são fundamentais para a credibilidade do regime democrático e do Estado Social que foi sendo erguido nestes 40 anos de democracia.
Um dos aspectos mais graves que se tem revelado nos inúmeros casos de criminalidade económica - eufemismo para classificar a roubalheira - é falar-se de que alguns actos são legais mas apenas eticamente reprováveis. 
Acho espantoso que as pessoas , nomeadamente gente da Justiça, da Política, do  Desporto, das Polícias ( pasme-se !!) se contentem  em que se diga que esses actos que chocam as pessoas ditas  " normais" ( aquelas que não roubam nem traficam influências,,,) são legais, mesmo que eticamente reprováveis. Há escutas gravadas que provam a pouca vergonha, há documentos que demonstram tráficos e compadríos, mas porque não foram obtidos de forma válida para a Justiça, pronto, é como se não tivessem acontecido - mas aconteceram !!  E os visados ficam satisfeitos com isso.
O que eu gostava mesmo, antes de desaparecer deste mundo e deste país, é que a cidadania entre os portugueses se tornasse activa e participativa, e que acontecesse a moralização da vida pública e política, desta forma dignificando a Democracia e a Republica. Amen !!

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