quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O blogue tem estado de férias, mas agora vou guardar aqui alguns dos documentos de tomadas de posição que assumi desde 2016 sobre a questão florestal , as áreas protegidas e o INCF

Assunto:Incêndios Florestais de 1980 a 2012


  Ninguém quer assumir o que para mim é a principal  causa da proliferação em incêndios das matas e a causa do desleixo em que caiu o tratamento das matas que, como diz muito bem, não são florestas : foi o desmantelamento dos Serviços Florestais que há mais de um século tinham a preocupação de vigiar as matas. Embora o tratamento das matas privadas deva recair sobre os proprietários, é ao Estado que compete vigiar e orientar esse tratamento.  Não sei se existe algum outro país na Europa e no mundo, em que tenha deixado de existir um corpo de guardas florestais, aqui agora integrados na GNR- quando as funções desta nada têm a ver com a política florestal; a rede de casas florestais espalhadas pelas serras eram os postos avançados de vigia  das imensas áreas cobertas de arvoredo e matagal, sendo que este é tão importante sob o ponto de vista ecológico e de equilíbrio para a Biosfera como o arvoredo - seja o arvoredo natural ( as florestas) seja o arvoredo exótico plantado, as matas.
  Eu fui Administrador Florestal e sei por experiência própria a importância dessas casas florestais - bastava aparecer no horizonte uma coluna de fumo os serviços eram logo avisados pelos guardas e em pouco tempo o incêndio era controlado a tempo. Não se acudia a todos os fogos, alguns seriam difíceis de controlar, mas muitos deles atacados logo de início, perdiam importância, e não se estava no terror em que hoje se vive todos os anos.
  Esta ideia de menos Estado para melhor Estado foi um subterfúgio para deixar de ter encargos directos dos Serviços, para depois dar lugar a negócios lucrativos de empresas privadas que fazem do combate aos incêndios um negócio lucrativo. Não quer isto dizer que a rede de guardas florestais fosse a panaceia para tudo, mas eram esses guardas e os velhos e sábios Mestres florestais que percorriam as serras e instavam os proprietários a limpá-las.
  Passa-se o mesmo com os guarda-rios, que também foram extintos, para poupar dinheiro aos serviços de hidráulica, outra asneira de enormes e graves consequências : nunca mais ninguém vigia a limpeza das ribeiras ( entregue de tempos a tempos a empresas privadas, claro) : eram eles que pressionavam os proprietários ribeirinhos a limpar os troços de margens das suas propriedades, o que nunca mais foi feito, e eram eles que com pequenas equipas, ao longo do ano,  limpavam leitos e reparavam estragos nos muros e açudes. Muitas cheias de hoje resultam do estado de abandono em que cairam as linhas de água, de norte a sul do País.
  Outra classe de funcionários que desapareceu foi a dos cantoneiros de estrada; eram eles que com pequenas equipas mantinham as bermas e taludes das estradas limpas, sendo que é das beiras das estradas que rompem muitos fogos ou se espalham com  maior facilidade. Também dá interesse a empresas privadas serem encarregadas de fazer essa limpeza, esporadicamente e sem a eficiência que era apanágio dos cantoneiros, que até rivalizavam uns com os outros para mostrar quem tinha os lanços de estrada mais bem preparados.
  Quer dizer, as tres profissões que efectivamente TRABALHAVAM e eram fundamentais para garantir o bom funcionamento do território, foram extintas : os guardas florestais, os guarda-rios e os cantoneiros de estrada. Há anos que escrevo e digo isto, e devíamos interpelar os Ministros da Agricultura e os seus Chefes de Governo que decidiram esta situação - ninguém neste País é responsabilizado pelas asneiras publicas que praticadas.

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