terça-feira, 9 de outubro de 2018

Europa, Ocidente, Civilização, Cultura, 

   Vou meter-me em maus lençóis com esta temática, e não quero sequer tomar partido por qualquer lado da substancial contenda que a envolve. Mas como penso pela minha cabeça, embora com suporte em tudo quanto posso saber, lendo e ouvindo os Mestres dos diversos saberes envolvidos, vou discernindo um pouco sobre a temática...
    Uma entrevista do jornal Publico ao antigo  chanceler austríaco Wolfgang Schussel,  trouxe-me algumas reflexões, quando ele diz que "A Europa é o que resta do Ocidente". 
     Eu acho que o Ocidente foi sempre uma criação da Europa. A própria ideia geográfica do Mundo, plasmada nos mapas  ou  cartas planetárias e difundidas por todo o Globo, foi sempre concebida a partir de Europa e do Atlântico no centro da cartografia, o Oriente para leste, o Ocidente para oeste.
   A civilização representa o grau de organização de determinada comunidade ou grupos de comunidades próximas, com base na religião e nas leis que directa ou indirectamente advêm da concepção religiosa, e que dão forma a comportamentos sociais determinados. A civilização tem também a ver com o desenvolvimento de tecnologias e regras de aplicação do que é concebido pelas sociedades. 
       Os pigmeus não deixam de ser uma civilização  vivendo na floresta africana, sem telemóvel nem computadores ( talvez já tenha alguns...) mas têm a sua organização e a sua tecnologia.
     A cultura  advém da capacidade de um dado grupo humano reagir ao meio que o envolve, de criar formas  de representar as suas ideias, através de construções civis ou sagradas, de musica, de artes diversas, de criar idiomas e de os difundir por via escrita ou oral.
    Estes conceitos são discutíveis e cada um pensa o que lhe parece mais acertado. Muitas vezes misturam-se os dois.
Por exemplo eu penso que mais que falar em choque de civilizações devemos falar em choque de culturas.
  Nós falamos na civilização  egípcia, persa, suméria, etc. que correspondem a determinados estádios de organização e desenvolvimento das sociedades naquelas Geografias e naqueles Tempos ; falamos em civilizações ocidentais e orientais, mas aqui já estamos a misturar as culturas  desse dois horizontes.
   Hoje em dia  a maioria das sociedades tem acesso a praticamente  todas as ferramentas civilizacionais, mesmo quando as culturas das comunidades são profundamente diferentes. 
    As sociedades muçulmanas têm acesso a todos os meios de civilização de que dispõe a Humanidade  seja ela cristã, hindu, budista ou qualquer outra, mas as suas concepções culturais são radicalmente diferentes. Quando se confrontam, não estamos perante confrontos de civilizações, pois todas têm acesso maior ou menor ao mesmo arsenal civilizacional, mas sim confrontos de culturas
     Eu acredito na Europa;  quer queiramos quer não, foi deste Continente e dos povos que aqui habitam  que saíram ensinamentos, regras, concepções, modelos, que um pouco por todo o mundo foram sendo aplicados -  melhor ou pior, claro.
      Foi o clima, foram as condições de meio, foi a geografia, foi a riqueza de recursos, foi tudo isso certamente - porque "raça" não foi, o ADN é o mesmo, os genes são comuns, a origem foi a mesma naquelas áridos planaltos centro africanos onde tudo começou para o Homo...
        Da Europa saíram os conhecimentos gregos e romanos ( a bacia mediterrânica, alfobre da Humanidade...) que se expandiram pelo território continental, saiu a Renascimento que iluminou o  Mundo antes de o Iluminismo ter apurado esse  farol, a Revolução Francesa que fundou o Estado Moderno, mau grado atrocidades e desvios que ocasionou... Onde ela não chegou, como na Rússia, tivemos o Csar com o seu regime medieval até ao século XX!!
     Da Europa saiu aquilo que hoje são os EUA, desde que  um general francês, portador das ideias da liberdade, ajudou os americanos a desenvencilhar-se da Coroa britânica - e deram forma ao Ocidente.
    Foi na Europa que nasceu a Democracia que todos os povos procuram, melhor ou pior, introduzir nas suas sociedades.
    Por todo o mundo, mesmo dentro daqueles povos e culturas que têm notável antiguidade e sabedoria, a modernidade chegou-lhes da Europa. Dos milénios da China e da sua notável sabedoria o que ficou para o Mundo? Umas migalhas, que eu admiro e cultivo como a medicina alternativa que, vinda  de lá, ganhou forma ocidental; da Índia e da sua milenar cosmogonia o que ficou para o Mundo, alem de uns pequenos pormenores que são importantes mas não fundamentais? Mas todos esses povos, comunidades, religiões, não produziram Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Bach, Mozart, Beethoven, Picasso, Einstein ...-  porém todos eles usam os frutos desta  pujança intelectual. Alguém aguenta ouvir durante muito tempo as lengalengas islâmicas ou os acordes repetitivos da musica oriental? Não se lhes retira valor e importância, mas não são universais!
    A Europa está em crise, crise de velhice  e de perda generalizada dos valores que são a raiz da Europeidade; populismos de esquerda e de direita, egoísmos, xenofobia, corrupção, libertinagem dos mercados liberais, concupiscência, ganância, clientelismos... Mas temos que esperar pelo reverso, pela renovação  da consciência dos povos europeus que arquivam sabedorias de liberdade, fraternidade e igualdade. É preciso resistir, é preciso que cada um cerre fileiras com o parceiro do lado na defesa da casa comum.
A Europa vai ultrapassar estes Orban, Salvini e quejandos seguidores de Trumps ou de Maduros ou de Bolsonaros. Sãos todos políticos de pacotilha que só aguentam enquanto os povos não derem o safanão de limpeza...
   
            
     

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