quarta-feira, 4 de março de 2020

Os meus textos e o jornal PUBLICO

No panorama da nossa comunicação social escrita o jornal Publico ainda é de todos, em minha opinião, o que tem mantido alguma independência e um jornalismo credível, embora inevitavelmente sujeito também às contingências da realidade em que todos nos inserimos... Seguindo um velho hábito de muitas décadas, eu compro e leio, praticamente todos os dias, o "Publico" e até desde há alguns anos passei a colaborar eventualmente com textos. Recordo que, in ilo tempore,  quando o Diário de Notícias tinha como directores um Mário Mesquita  ou uma Helena  Marques, colaborei activamente com esse excelente diário português, até que veio um Betencourt e acabou com todos os colaboradores que não fossem reconhecidos por ele como intelectuais de confiança, e eu fui banido ( como foi, entre muitos outros, uma personalidade  como Barrilaro Ruas,...). Depois colaborei com "A Capital", quando foi Director o dr. Francisco Sousa Tavares. Nunca recebi um escudo pela colaboração, faz parte do meu conceito de independência.
Deixei há algum tempo de enviar artigos para o " Publico" porque só eram publicados quando lhes interessava  -  eu  não tenho senão que respeitar os critérios  editoriais - mas também tenho os meus critérios...  Depois a minha colaboração com o jornal passou a ser apenas de algumas Cartas ao Director, uma saem outras não e frequentemente alteram o texto retirando palavras ou frases, o que acho um abuso.
A última carta  que enviei foi publicada hoje e veio alterada no título e  suprimindo frases -  faz parte dos critérios editoriais. Mas aqui eu não aceito - se o texto não está conforme com o que entendem que devia ser escrito pura e simplesmente não publicam. Agora mexer no texto é abuso a mais. Se um José Saramago ( que me desculpem a imodéstia do exemplo) enviasse um texto com um parágrafo continuo, sem pontos nem virgulas, corrigiam o texto para ser publicado?
Para repor a verdade segue o essencial da carta que enviei, descontando a justificação do início e os cumprimentos finais.
Carta ao director do Publico , intitulada "A vergonha do Ocidente".
"A comunicação social faz eco logicamente dos temas que mais estejam na ordem do dia, por vezes dando excesso de protagonismo em detrimento de assuntos que escapam às grandes parangonas e ás aberturas dos telejornal. Ontem o apresentador duma televisão abriu o jornal da noite proclamando " Chegou o vírus !!" - só faltou acrescentar "ate que enfim!!". 
Mas um tema deixou de interessar : a carnificina na Síria. Eu creio que, depois da Segunda Guerra Mundial e embora tendo ocorrido outros trágicos acontecimentos, nunca o Ocidente assistiu, apenas com uns laivos de sobressalto,  a tamanha tragédia humanitária.
São milhares e milhares de homens velhos, mulheres e crianças - tantas crianças ! -  a fugirem só com a roupa que têm  vestida, sem dinheiro, nem comida, a suportarem as noites geladas e os nevões que cobrem os novos campos de concentração ! E a hipocrisia dum estupor Erdogan, que luta contra o ditador da Síria, sempre a apertar a mão a outro igual, Putin, aliado do ditador - e indiferentes aos milhares de inocentes que são sacrificados. E o Ocidente, em especial a Europa, continuam a reunir "conferências de paz" e depois vão todos  jantar e dormir - tal como eu que escrevo estas linhas. Tempos tristes estes em que assistimos a estes genocídios e apenas exportamos palavras, nada mais que palavras já sem sentido".
Cada um tem o seu estilo de escrever, desde que não chame filho de... ou mande por claro à outra banda, tem o direito de usar as  palavras como bem entende.
Por isso esta foi a última carta que enderecei ao Publico; acabou a minha eventual colaboração, assim nem "eles" têm que  se dar ao trabalho de cortar e colar  o que eu escrevo nem eu tenho que me submeter a critérios de que não gosto.

Justiça, a reserva da democracia
A democracia é, citado regularmente, um regime frágil, que tem de ser cuidado dia-a-dia. Há corrupção em todos os regimes, da extrema direita à extrema esquerda, só que nas ditaduras sabe-se da corrupção em voz baixa, pianinho... Em democracia e graças à liberdade de expressão e ao assumir judicialmente dos excessos de liberdade de uns que prejudiquem os outros, sabe-se mais sobre a corrupção e os vícios da sociedade em geral.
Nestes últimos anos da nossa vida publica têm sido conhecidos. quase diariamente mas seguramente todas as semanas. episódios de corrupção desde as autarquias, ao futebol, desde políticos a forças de segurança e até nas forças armadas, etc, etc,,,  Agora entrámos em choque com a corrupção descoberta na Justiça !! Só nos faltava mais esta ! A Justiça é a reserva da democracia em idoneidade e defesa dos valores supremos dos indivíduos e da sociedade no  seu conjunto. Depois de trapalhadas no Governo anterior entre negócios de família e compadríos ( uma especialidade mais marcada no PS, onde parece que fez escola...), de incompatibilidades entre membros do Governo, entre deputados e ocupantes de quadros públicos, esta semana rebentou o escândalo de Juízes dos tribunais superiores suspeitos de tráfico de influências e corrupção.
Eu sempre tive a opinião que o 25 de Abril não chegou verdadeiramente à Justiça. O que aconteceu aos juízes dos tribunais militares e políticos que, no regime salazarista e depois salazarento, julgavam os presos políticos? Alguns reformaram-se, mas muitos foram pacificamente integrados no regime democrático - alguém acredita que se esqueceram de todas as ideias e preconceitos ideológicos que traziam do antigamente ? Somos todos ingénuos ? A mentalidade  dos grandes executores da justiça - posso suspeitar -  não mudou. Depois o que aconteceu ao pides que estavam presos? E aos bufos que ninguém quis investigar e  passaram a fazer a sua vida normal? Se calhar muitos foram integrados nos Partidos políticos da democracia,...Não se tratava de exercer  vingança mas de fazer justiça, foram homens e algumas mulheres que atentaram contra a vida e a dignidade de milhares de oposicionistas ao fascismo. E a vergonha que foi, já em plena democracia aquele julgamento dos assassinos de Humberto Delgado ? 
É desta Justiça que hoje certamente estamos a pagar as consequências, entre homens e mulheres que vendem a dignidade a troco de benesses sejam lá melas quais forem. A Justiça  controla a sociedade  - e quem controla a Justiça? Fica em roda livre?











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