domingo, 27 de setembro de 2020

 Liberdade e democracia - ideais em causa

Há hoje um mundo cada vez mais submetido a extremismos, e países democráticos serão cada vez menos - até na Europa, pasme-se!

Eu sou europeísta, é neste Continente que, desde a remota Antiguidade, se foram formando os mais elevados ideais da Humanidade.

 A liberdade é inerente ao ser humano como a qualquer outro ser vivo - isto é uma  banalidade,  mas falar dela e recorda-la nunca foi tão imperioso. Há religiões e regimes que cerceiam a liberdade em nome de verdades construídas sobre falsidades - são religiões que apelam ao mais sombrio da alma humana e que servem o Poder de quem quer controlar as sociedades.
Mesmo religiões de benevolência e  compaixão, como o  Budismo, acabam por gerar tentações de domínio que se julgariam longe da sua prática, e basta ver o que sucede na Birmânia e na intolerância e brutalidade exercidas pelo poder budista sobre as minorias étnicas e religiosas. Embora seja uma religião "sem deus" e apele ao mais elevado da alma humana e à energia cósmica que a anima, pode ser desviada  dos seus preceitos por interesses venais de quem dela se apropria.

As religiões politeístas, quer as da Antiguidade quer as de hoje como o Hinduísmo, são abertas por natureza à diversidade de cultos e dessa forma a uma liberdade de vida interior mais ampla. Mas já alguns filósofos pré socráticos se atreviam a dizer que os deuses eram inventados pelos homens para suprir as suas próprias deficiências e receios perante o mundo.

As religiões monoteístas são, por natureza,  centralizadoras e dominadoras do  ser humano, principiando logo pela imposição de um só deus e impedindo a liberdade de cultos diferenciados. Mesmo assim houve sempre cismas, particularmente evidentes no Cristianismo mas também presentes no Islamismo, a ultima das grandes religiões a constituir-se.

Isto para dizer que as religiões, com o que apresentaram sempre de fantástico, de misterioso e com a capacidade auto proclamada por alguns indivíduos de saberem interpretar a vontade divina e quase dialogarem com a divindade - os sacerdotes - tornaram-se instrumentos na mão do Poder para dominar as liberdades individuais e melhor controlar tudo.

Foi na Europa que mais cedo começou a desenvolver-se  a mentalidade de autonomia espiritual do ser humano, séculos e séculos de luta e sacrifício, desde o despontar da Democracia na velha Grécia, ainda insipiente e imperfeita mas onde se começou a falar de cada homem ter o direito de gerir a sua "cidade", a polis. O Renascimento, o Iluminismo, até ao Estado Moderno, foram sendo conquistas progressivas com vista á independência de pensamento e de acção, a conquista das liberdades individuais mas também colectivas que se puderam mostrar ao mundo - saíram da Europa.

Daqui se expandiram esses ideais para as Américas,  um pouco para certa África e certa Ásia, Oceanía ... -  da Europa para todo o Mundo.  Reacções totalitárias nunca faltaram, com os mais diversos  pretextos - fascismo e nazismo, estalinismo e maoísmo assombraram o mundo.  Mas o liberalismo, que  já despoletara a reacção marxista e a não menos sintomática  do Vaticano no século XIX contra a sua cegueira face ás necessidades colectivas das sociedades e aos direitos das maiorias trabalhadoras,  provocou crises do capitalismo que catapultaram para o Poder os sempre protagonistas da reacção. à esquerda e à direita.

Mussolini, Hitler, Franco, Salazar e lá pelos Orientes Mao e tantos facínoras que provocaram a morte de milhões de seres humanos em nome de um fanatismo  que nada se diferencia do fanatismo religioso do tempo das Cruzadas cristãs, da Inquisição, ou do islamismo para quem a lei da Sharia é um imperativo a impor a todo o mundo, tomaram conta do mundo. Tal como no Cristianismo ao longo de séculos de obscurantismo para o Poder manter esse poder, também agora  o Islão consubstancia uma ameaça às liberdades no mundo, porque como  denunciou o filósofo argelino Mohammed Arkoun, o islamismo é um humanismo mas foi "nacionalizado" pelo poder dos vários Estados para seu próprio benefício.

Depois da 2ª Guerra Mundial em que se desbaratou o fascismo, o nazismo e o imperialismo nipónico, ficando os comunismos acantonados, entrou-se na mais longa era de paz social e política, a partir da Europa onde se criou o Estado Social, contra ventos e marés,  que mostrou aos europeus - e mostrou mais uma vez ao mundo - como é possível conciliar a ordem e o bem estar colectivo com as liberdades individuais  fundamentais.

Com a derrocada das falsas democracias populares comunistas que, em nome da libertação dos trabalhadores, os escravizavam ao Estado todo poderoso e onde a corrupção lavrava impunemente, a Europa teve um retrocesso ideológico protagonizado pelo reviver do liberalismo, a hidra do  liberalismo económico-financeiro que iludiu mais uma vez as sociedades.  Todas as ideologias democráticas europeias, agora a reboque da locomotiva norte americana, deram lugar à deriva neoliberal em todo o mundo, mais uma vez  um universalismo mas desta vez que não saiu da Europa mas encontrou nela um  suporte...

A crise da pandemia veio denunciar abertamente a dependência doentia e fatal face aos interesses  capitalistas neoliberais de todo o mundo - como este ridículo exemplo,  para tomarmos um Paracetamol, o princípio activo vem da indústria indiana, ninguém mais  fabrica porque lá ...é  mais barato.

Trump, Orban. Erdogan, Bolsonaro, Maduro, os  crescimentos dos fascistas, populistas e quejandos em toda a Europa e em todo o Mundo,  aí estão a tentar banquetear-se com esta crise. 
Perante duas grandes ameaças reais às liberdades e às democracias universais - a China e o Islão - muitas nações encolhem as suas próprias democracias, pois o autoritarismo, o populismo e a xenofobia são ideias  atractivas para mobilizar pelo medo as sociedades- salvo aquela que tiverem 
alma para resistir. Resistir é a solução

Fico por aqui, agora : acredito que será da Europa que vai renascer a Democracia e a Liberdade, contra islamismos, fascismos, trumpismo e outros que tais.















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