quarta-feira, 3 de novembro de 2021

 O debate franco é essencial em democracia

As redes sociais podiam ser um instrumento  de excepcional importância para a democracia, mas como se prova ao longo dos anos e agora especificamente nos últimos dias, a mentira e a ofensa, o ódio e a calúnia ensombram as vantagens que  elas  representam.

Numa sociedade organizada, como são as sociedades actuais, tem que haver regulação que assegure a plena liberdade de expressão a par da responsabilização e da condenação criminal, como sucede em todas a comunicação social.   E a participação dos agentes políticos tem que se basear na verdade e na transparência - duas qualidades que faltam  frequentemente no debate  público.

Já é dos "tratados" avançar com o nome da Donald Trump para exemplificar até onde pode ir o descaramento em propalar as falsas notícias - fake news tornou-se um termo corrente na nossa linguagem desta década do século XXI. Mas não é preciso ir até ao famigerado Presidente dos EUA que fez tudo quanto podia para desacreditar a democracia - neste nosso encantador rectângulo ibérico também assistimos com demasiada frequência a manifestações desse tipo.

Os anos da pandemia  tem sido particularmente férteis em episódios  por parte até de figuras gradas da sociedade, como os falsos "médicos pela verdade" ( se fossem mesmo médicos não tomariam aquelas atitudes), os "advogados pela verdade" que tiram partido da elasticidade das regras jurídicas, até  àquele inacreditável juiz que acabou expulso da Magistratura. 

Mas sem chegar a esses extremos quase diariamente temos  muitos políticos a torcerem a realidade e a verdade para satisfazer os seus interesses.

A vontade geral de que já tratava Rousseau deve corresponder ao interesse geral e não apenas ao interesse de grupos ou de lobbies, sejam de que natureza forem - eu posso torcer por um lobbby pela Conservação da Natureza mas não posso ( não devo) usar argumentos falsos ou informações sem base científica suficientemente demonstrada.

Uma cidadania activa é fundamental para que a sociedade  atenda aos interesse colectivos, com transparência, revelando as opções possíveis, alargando os horizontes da vida democrática.

Como escreveu a jornalista e especialista em análise dos regimes Anne-Cécile Robert "não há democracia sem verdade, não há verdade sem discussão" e "Um Poder autoritário pode defender os interesses de casta com a maior transparência. O cinismo que rompe com uma linguagem oficial rígida. como aquele de que fazia gala o antigo presidente americano  Donald Trump, pode revelar uma transparência habilmente conduzida. Não  se trata aqui de verdade  porque esta atitude é fundamentalmente unilateral e exclui toda a partilha real do espaço social e intelectual. Uma governação transparente pode, pois, ser uma governação falsa".

Nós estamos a viver agora no nosso país, com esta crise que veio ao de cima com a falência da geringonça, um tempo de distorção consciente da verdade dos factos  que, esses, falam por si - mas cada grupo interpreta-os com uma parte da verdade e insufla fake news sempre que se pronuncia sobre eles. O resultado pode ser um crescente desinteresse dos cidadãos pelas coisas da res publica e abre-se assim caminho a uma maior discricionaridade  do poder, subtilmente instalando dispositivos de concentração desse poder.

Continuaremos a  pensar nestas coisas...









 

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