sábado, 15 de fevereiro de 2020

Rectificação -  O texto aqui publicado sobre o Governo de esquerda e que havia sido enviado ao PUBLICO, acabou por ser publicado no Publico online,


Morte assistida -eutanásia
Em 2014 editei um livrinho intitulado "Viver a Vida, Lidar com a Morte- reflexões de um cidadão comum" em que abordava questões como  a vida, a morte e a quase morte,  a  crença e a descrença numa outra vida, o culto dos mortos,  a proximidade da morte, os desígnios dos deuses e o direito a morrer  com dignidade. E dizia logo de entrada, entre outras coisas, que "desde há muito que encaro a morte não como uma transformação, uma mudança de estado, uma passagem para outra vida , mas sim como um fim, sem apelo nem agravo, que está  inscrito no meu ser biológico como está em todos os seres vivos que existem sobre a Terra".
Reli agora o  livrinho e acho que está lá tudo o que pensava e continuo estruturalmente a pensar, sem exacerbar sentimentos, sem excessos ou falta de moral, apenas o reconhecimento de que cada um pode escolher - deve poder escolher - a forma como quer acabar os seus dias - se tiver oportunidade para isso.
O direito à morte com dignidade é um direito tão importante como o direito à vida, ao fim e ao cabo é sempre o mesmo direito de cada um poder ter a vida como quer  (excepto a nascença).
- Pode haver quem queira que a vida lhe seja prolongada  pelos cuidados paliativos  até ao último segundo de sopro, mesmo que agora não faça ideia do que será o sofrimento não já físico mas psíquico ( para este não há morfina que baste!!) de ver progredir  a degradação. E acabem com essa treta de que os cuidados paliativos resolvem tudo.
- Pode haver quem por misticismo ou seja lá porque for queira sofrer porque a religião diz que o sofrimento redime - e esses querem ser "redimidos". E têm direito a usufruir desse direito.
 - Mas há outros que não querem imaginar-se, através dos cuidados paliativos, como múmias vivas à espera que chegue o fim. 
Os que teimosamente negam este direito aos que querem tê-lo, acham-se  na posse da verdade que é a sua e isso não passa de  uma arbitrariedade apoiada na justiça de sociedades que teimam em reger-se por regras paradas no tempo. 
Sempre que há um movimento progressista que pretende romper com velhas questões de hábitos e cultura, em que imperam as regras (mesmo que não se dê por elas ) da religião - qualquer religião, diga-se - surge logo a reacção.  Não querem ver ( eu acho que não têm abertura mental suficiente para ver) que quando se trata de um direito que não é imposto a ninguém mas apenas a quem dele quiser fazer uso consciente, estão a cometer um abuso de autoridade sobre outros cidadãos iguais a si mesmo excepto  na pequenez da mentalidade - custa ofender, mas é mesmo assim, 
Dizem aos outros  que então recorram ao suicídio assistido - e acham que têm o direito de exigir a qualquer pessoa debilitada e muitas vezes já sem forma de comunicar, que tome por sua conta o medicamento fatal - é preciso ter  completa desconsideração pelos outros. E acabem com a outra treta de que pode haver erros na decisão de aplicar  o fim do sofrimento, porque isso é dizer que mesmo 3 ou mais médicos  examinarem o doente e a tomarem a decisão podem errar . E que não há retorno - não vale a pena repetir aqui os argumentos já fartamente difundidos dos cuidados que deve haver na tomada da decisão e perante a aceitação consciente do paciente. Ponto final deste assunto.
Os ferozes adversários da legalização da eutanásia são em regra  de um autoritarismo aflitivo, vê-se isso em todos os debates. Por regra quem está a favor quase nem pode falar,  argumenta normalmente,  mas quem é contra perde a cabeça e assume autênticas fúrias - o que reflecte a meu ver a falta de argumentos convincentes. Há dias num debate televisivo uma senhora de nome Roseta ( se calhar da família da conhecida arquitecta - que não é assim...) parecia uma daquelas máquinas falantes, em se colocando a moeda nunca mais param e repetem exaustivamente com voz acima de todos os decibéis aceitáveis, a mesma cassete. Há uma outra senhora que já foi deputada, Galriça acho eu, que vai na mesma pisada; e outros argumentadores do contra vão pela mesma bitola de perder as estribeiras e falam, falam , gritam como se deles viesse a palavra decisiva e acertada.  Com debates assim a sociedade não avança, não.
Por fim argumentam que a Ordem dos Médicos proíbe que o médico abrevie a vida do doente, embora se diga à boca fechada que isso acontece correntemente, e ainda bem, em todos os hospitais, sem qualquer publicidade ou escrutínio. Mas há entre nós centenas de médicos que apoiam a legalização da eutanásia e os médicos dos países em que isso já é legal também apoiam. E a Ordem dos Médicos não é sagrada, as suas regras têm de ser enquadradas, como as  de qualquer organização portuguesa seja de que foro for,  dentro da legalidade constitucional. De resto o Movimento pela Morte Assistida, de que eu faço parte já há vários anos, foi criado por médicos.
Uma coisa é certa : o Estado, através de uma justiça enviesada por convicções de séculos, quando o conceito de liberdade individual foi sempre menosprezado, não pode deixar de se modernizar e só actuar a reboque, só porque ainda há muitos reaccionários a mandarem no regime. Foi assim com a questão do aborto - vinha aí a desgraça de abortos a torto e a direito e afinal diminuíram os abortos  e deixaram de ser feitos  à revelia da saúde publica; foi assim com a droga e as salas de chuto, ia haver por aí drogados pelas ruas - e continua a haver mas muito menos e sobretudo muito mais controlados medicamente que antes; foi assim com o casamento de homossexuais - ai credo, que coisa(!!) e tudo se passa afinal dentro duma normalidade sem escândalo, 
A reacção não se rende facilmente...
Ainda tenho alguns livrinhos que referi e posso enviar a algum interessado







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