quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

 A pandemia e o resto

A situação criada pela crise da pandemia em Portugal, não  sei se terá as mesmas consequências nos outros países, certamente umas sim, outras não, pois as nossas idiossincrasias são só nossas. 

Fala-se muito no desgoverno do nosso Governo  na condução das medidas contra a peste que nos caiu em cima, mas para mim  - neste aspecto - trata-se mais de politiquice e vontade exacerbada de protagonismo do que verdadeira razão para essas tomadas de posição. O mal do País e do Governo é outro.  Criticar depois das medidas tomadas é fácil, e acho  que já referi noutra altura,  o curioso é os críticos, mesmo os especialistas que saltam para as pantalhas todos os dias no seu minuto de fama ( e agora está mais calado mas chegava a ser insuportável de politiquice e arrogância o Bastonário dos médicos, só suplantado pela sua homóloga dos enfermeiros) se vissem aplicadas as medidas que preconizam  teriam de se confrontar com as críticas dos outros especialistas que hoje são criticados.

Claro que o Governo tem tido falhas, por vezes planeamento errado -  mas veja-se como em todos os países tem andado  tudo à nora; de uma semana para a outra os próprios organismos da UE que orientam a política geral de saúde, alteram posições.  Países que estavam muito melhor que nós de uma semana para a outra pioram drasticamente. Queria ver quem se comportaria melhor no lugar da Ministra  da Saúde, goste-se ou não do seu estilo, mas há  um ano incessantemente,  dia após dia, com carga de trabalho  de fazer cair qualquer fortalhaço, a defender o SNSaúde que, apesar de ser anunciado todos os dias pelos críticos e pelos pivots das televisões que vai rebentar,  afinal esteve sempre muito sobrecarregado e  perto dos limites, sem dúvida, mas aguentou. Quem mais fala contra é quem defende o serviço privado, despudoradamente -  se o Governo tivesse feito a requisição civil  (em tempo de guerra é o que se faz), teria posto os privados a funcionarem não para o lucro mas para o bem geral de todos. Aqui d´El Rei que vem aí o  comunismo, pois...

Piores que os críticos têm sido os noticiários televisivos e as páginas inteiras, quase cadernos,  dos jornais a dissecarem cada detalhe das coisas que correm mal; ainda me recordo  de em Março do ano passado o pivot da RTP proclamar em alta voz e de braços a abertos como se estivesse a anunciar um facto fantástico :  "chegou a Portugal!!"- chegou o quê ou quem? Era o primeiro caso da pandemia. Puxa, para este jornalismo. 

Uma das coisas mais preocupantes é o mau exemplo governativo  que indica por um lado desnorte e por outro arrogância, clientelismo e o pior exemplo que uma esquerda democrática poderia dar.

António Costa tem a sorte de a direita estar desmantelada, mas em vez de organizar o país em termos de modernidade e estabilidade, vai dando tiros nos pés que só facilitam a vida em especial à  extrema direita, aos populismos e a todos os oportunistas que se servem de cada lacuna ou asneira para pontuar.

Quando era preciso um governo coeso e funcional, pouco despesista, com peritos nas diversas disciplinas, temos um governo em que ao saco de gatos que é hoje o PS,  ele deu uma posta a cada gato. Um Governo com  19 ministros, com nomes pomposos e confusos, Economia e Transição Digital ( não bastava uma direcção geral para essa última tarefa?); Modernização do Estado e Administração Publica (metade do nome chegava);Ambiente e Acção Climática ( entregue a um "cão fiel" que trata de tanta coisa, incluindo exploração mineira e energia e tudo o mais, menos duma política de ambiente a sério); Coesão Territorial embora haja um de Planeamento que deveria tratar do mesmo; Agricultura sem as florestas ( mas que promove os pomares de abacateiro no Algarve, pouco importa se há água ou não...); E depois vem uns 50 Secretários de Estado, com atribuições outra vez pomposas ; Comércio e Defesa do Consumidor ( que esteve anos, e bem, no Ambiente); Transição Digital; Internacionalização: Cidadania e Igualdade;  Recursos Humanos e Antigos Combatentes ( uma mão cheia de trabalho!); Descentralização e Administração Pública ( a UE tem uma média de 17% de trabalhadores públicos, nós com Governos "de esquerda" andamos pelos 13%, os liberais clamam que é de mais e o PS agacha-se);  Cinema, Audiovisual e Média  (eu até gostava do rapaz na Tv, mas tem sido um avanço espantoso nestes domínios...); Acção Social, além da Ministra, coitada com trabalho a mais; Conservação da Natureza, Florestas e Ordenamento do Território, a caldeirada que deixa as Áreas Protegidas a morrerem por asfixia e o caos na política florestal e nos incêndios rurais sempre que estes irrompem cm força; Mobilidade ( deve tratar das cadeiras de rodas, das ciclovias, tudo muito a sério); Desenvolvimento Regional, devia bastar mas não, sozinho não vai lá; aparece o da Valorização do Interior- temos visto como o interior progride, toda a gente se sente atraída por aquilo que o "interior" oferece, pasme-se; mas para que nada falte ainda há outro, da Agricultura e Desenvolvimento Rural, cá está - a Ministra tem tanto trabalho, coitada, que precisa de quem promova o desenvolvimento rural, a par de, noutros Ministérios, haver quem trate da coesão territorial, do desenvolvimento regional e  da valorização do interior.

Com escândalos institucionais que, é agora moda, se não são ilegais face à legislação,  passam mesmo que sejam imorais, é a pior contribuição que um Governo que se diz de esquerda pode dar ao país. As nomeações abusivas em termos éticos para o Tribunal de Contas, a passagem do Ministro das Finanças para o Banco de Portugal, as poucas vergonhas  na Administração Interna, incluindo um crime sobre um estrangeiro perpetrado por agentes oficiais em instalações publicas( e vão acabar por provar que o homem era epiléptico ou coisa parecida e morreu de susto), a nomeação sem necessidade das aldrabices para a Procuradoria Europeia, os açambarcamentos de lugares  por gente apenas da cor que interessa, sem concursos credíveis, etc. etc.

O pior é que uma alternativa de direita democrática não está no horizonte, eu creio ter sido dos primeiros aqui há mais de um ano, a prever que se a direita vier ao Poder, agora aconchegada no sinistro Chega, não é com Rui Rio e o que restar dos social democratas, não pensem nisso - na box de partida está o "eminente e clarividente"  troykista Passos Coelho, com os seus relvistas  e aquela malta  que só tem teoria liberal da cartilha e o que quer é abrir tudo ao privado seja de que forma for. Não pensem que é invocando Sá Carneio que iludem  as pessoas com algum conhecimento ( mas não há muitas...), e esquecem que o infeliz ex líder do PPD quis inscrever o partido na Internacional...Socialista.

A esquerda soma a maioria dos votos em Portugal -por enquanto. Se PCP e BE (que eu não gostaria de  ver num Governo mas podem ajudar a manter) quiserem contribuir para não se repetir a cena que trouxe a troyka para cá,  que façam das tripas coração e proponham  uma aliança com  PS em termos estáveis e fidedignos; mas para isso é preciso que António Costa, que deve sair rebentado, é bom reconhecer isso depois destes dois anos de pandemia e de Presidência da UE,  ponha o interesse do País e da esquerda democrática acima de da sua agenda pessoal -  embora tenha direito a ela.   Mas com o panorama das democracias europeias e um pouco por todo  mundo, felizmente com a mudança dos EUA do anormal Trump para Biden,  (única excepção válida)  se as populações mais informadas e actuantes não reconhecerem a causa deste caos devido ao neoliberalismo, que é apenas e sempre o velho liberalismo,  podemos ver repetir a História -isto fica para outro dia..

A pouca vergonha das vacinas

Começa a ser  demasiado evidente a pouca vergonha das grandes empresas fabricantes de vacinas e a forma desonesta como negociaram o seu fabrico e a sua  distribuição. Segundo se noticiava há dias a própria ONU declarava que só  10 países mais ricos  adquiriram a  maior parte das vacinas produzidas  - é assim que funciona o mercado desregulado que é o orgulho dos liberalistas que usurpam a designação de liberais - repito liberais somos todos nós que não queremos nem fascismos nem comunismos. E também se revela como a própria UE, que tanto se afirma com políticas de direita liberal,  afinal está a ser enganada : contrata com as empresas o fornecimento das quantidades necessárias do medicamento e como elas vendem a quem pagar mais caro, claro que venderam aos países que pagam melhor. Vêm depois com a descabelada desculpa de problemas na fabricação ...mas  cheira a burla.





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