segunda-feira, 23 de julho de 2018

“Requiem pelas Áreas Protegidas”

Quando em 1976 foram criadas as primeiras áreas protegidas, estas foram escolhidas pela emergência dos valores inscritos na paisagem que eram necessários salvaguardar. sendo que estas deveriam corresponder a áreas de grande qualidade e portanto exemplares para o Ordenamento do Território.
Hoje estamos tão longe desses patrióticos objetivos, que urge pelo contrário nesta ânsia de atropelar os Valores, esquecê-los para que se possa fazer o que alguém queô, atropelando a Ecologia a favor da economia imediata - é o capital sem freio ao sabor de quaisquer interesses. Isto é o liberalismo económico que tudo devassa.
Um sítio, é um lugar assinalado por acontecimentos que conferem ao local determinado caráter. Eles, ou não têm valor especial, carecido de  cuidado, ou apresentam capacidades importantes que lhes conferem uma vocação que deve ser aproveitada o mais cedo possível; conforme o seu caráter; ainda que valioso  e também explicito , mas de não tão urgente aproveitamento falamos então em aptidão; há ainda situações que se apontam como adequadas a um tipo de aproveitamento falando-se então em potencialidade, dependente da dimensão do investimento.
A explicitação das capacidades de um sítio é feita por pessoas de formação em ecologia capazes de trabalhar com matrizes, que cruzadas  expressam o valor do sítio e por isso não estão à mercê da escolha de qualquer pessoa.
Acontece também que para além da estrita dimensão do sítio, ele depende também da expressão ecológica regional.
Os Planos de Ordenamento Regional devem conter o Planos Diretores  Municipais e o seu conjunto coerente, sujeitará com a adequada minuciosidade as diversas pretensões.
Enunciados estes essenciais aspetos, vamos abordar situações que pela sua natureza determinam qualidades ecológicas de especial significado para o uso do território : o relevo e a água.
Considerando que sob o ponto de vista topográfico, são mínimas as situações completamente planas, temos então as que são :  convexas e côncavas.
Não atendendo a variações subterrâneas da natureza do solo considera-se que na generalidade as convexas são superfícies donde superficialmente emigram as águas, tornando-se posteriormente secas e aquelas para onde se vão acumular as águas, as côncavas, que se tornam temporariamente húmidas.
A secura e a humidade  determinarão por sua vez condições específicas do solo e com elas natural singularidade dos terrenos para a vida biológica.

João Reis Gomes,
arq.paisagista


( O autor escreve com a ortografia do AO)



sexta-feira, 20 de julho de 2018

A sociedade e a tecnologia

   Hoje ouvi na Antena 1 um pedaço da crónica do veterano Sena Santos em que referia um livro dum autor, creio que americano ( não guardei na memória...) tratando de um assunto em que penso muitas vezes. Penso eu e todos nós, estou certo, desde  que tenhamos alguns conhecimentos culturais e científicos - isto é,  tenhamos um mínimo de cultura : o efeito que as imensas e novas tecnologias virão a ter, ou estarão mesmo já a ter, sobre as sociedades, as suas estruturas e o seu futuro  humanista ( e humano...).
     É já impensável admitir a nossa sociedade sem tecnologias de comunicação e sem internet, e esquecer as enormes vantagens que elas trouxeram à Humanidade.
     Não se trata de questionar o uso das tecnologias, mas sim o abuso que delas se faz. Em qualquer lugar e em todas as situações o que vemos ? Seja nas paragens dos autocarros, seja dentro dos transportes, seja nas salas de espera dum consultório médico ou do hospital, nos pátios das escolas , nos intervalos das aulas ( e às vezes mesmo dentro da sala de aula...), nos cafés, nas reuniões de amigos - e em família, nas nossas casas - toda a gente está agarrada a um zingarelho com "phones" ou sem eles, a comunicar, a jogar, a  consultar a net, a fazer  quase tudo  menos conversar uns com os outros, repete-se, mesmo  na família.
      É quase impensável impedir os filhos e os netos de estarem agarrados a um qualquer aparelho dessa panóplia que a sociedade de consumo nos impinge  constantemente, às vezes com pequenas alterações de funcionalidades e de aspecto, mas o suficiente para atrair a cobiça do pessoal!
   Falta um estudo sério e exaustivo, pelo menos é o que penso,   que analise  como as sociedades estão a evoluir e a reagir a esta situação e o que pode resultar de negativo ( ou de positivo, quem sabe?)  deste abuso das novas tecnologias.
   Um dos aspectos que se foca normalmente é a perda da vontade ou do hábito de ler livros impressos. Poderíamos pensar que não é assim atendendo, num pequeno mercado como o português, ao número impressionante de títulos de livros que saem todos os anos e ao número de pequenas e grandes editoras que tem sobrevivido. Mas nos nossos contactos, até em nossas casas, certamente que reparamos que os nossos adolescentes na sua  maioria pouco ou nada lêem impresso - ou será um juízo precipitado?
    Um outro aspecto que já vi referido embora escassamente, é a perda da capacidade de manipular que  foi a arma da evolução do ser humano desde os seus primórdios. Desde a mais tenra idade, mesmo antes de saberem falar e articular frases, as nossas crianças aprendem a bater nas teclas dos aparelhos.  Será que as actividades escolares de artes criativas ( os antigos trabalhos manuais...) compensam  a pouca  utilização da mão humana para realizar actos de criação e de manipulação de materiais e equipamentos manuais ? 
      Que efeitos a médio e longo prazo esta perda da manipulação pode acarretar para o desenvolvimento do cérebro humano e das suas capacidades criativas ? Hoje a maior parte do tempo dos jovens e dos adultos é a bater com os dedos no mesmo movimento em teclas ou a "clicar" em indicadores de monitores. Acho que nos devíamos todos preocupar um pouco mais sobre estes assuntos, por mais que pareçam caturrices de "velhos do Restelo"...


quinta-feira, 19 de julho de 2018

A maldade humana e os chico-espertos

     Saiu hoje na comunicação social uma notícia de que em Pedrógão Grande houve aproveitamento por alguns oportunistas, dos fundos para reconstrução de casas ardidas no ano passado; ruínas anteriores  aos incêndios e que nem sequer arderam, foram reconstruidas por alguns chico-espertos que registaram nas Finanças as ruínas como sendo primeira habitação.
       Se isto se confirmar é um exemplo vergonhoso da maldade humana que leva uns energúmenos a usarem o dinheiro oferecido para os desgraçados que ficaram sem nada e dessa forma obterem a reconstrução das suas casas como se fossem também vítimas.
          Junta de Freguesia e Câmara Municipal, que devem conhecer todos os requerentes, como é que participam numa fraude tão chocante?
         Mas também a facilidade com que as Finanças aceitam qualquer declaração de pagamento sem quererem saber da veracidade dos bens apresentados como válidos,  fala bem do papel que  as Finanças desempenham agora e sempre, não é de agora.   
      Se esta notícia se confirmar e forem identificados, como tudo leva a crer que será fácil, os que cometeram tal fraude , o mínimo que se pode exigir é um castigo exemplar para esta manifestação de maldade humana e desprezo pela infelicidade das vítimas inocentes dos incêndios - muitas da quais ainda estão a aguardar que lhes reconstruam a moradias que arderam . Passa das marcas !!  

domingo, 15 de julho de 2018

Sul Informação
   O jornal online Sul Informação, dirigido pela ilustre jornalista Elisabete Rodrigues, inaugurou anteontem, 6ª feira dia 13 de Julho. o seu novo site, com um grafismo mais atraente  e novas funcionalidades, que tornam mais fácil e mais aliciante a sua leitura e a procura das notícias que mais possam interessar a cada leitor.
      A apresentação do novo visual e novos conteúdos foi feita na redacção do jornal, no Campus de Gambelas, na zona do CRIA, ninho de empresas criado na Universidade.
       Com grande participação de autoridades, académicos e outras  pessoas interessadas na existência e no progresso do Sul Informação, a apresentação foi expedita e interessante, seguindo-se -lhe um agradável momento de convívio com um põr-do-sol de vinhos algarvios e petiscos regionais - mesmo a calhar !!
Parabéns à Elisabete, e aos seus tres outros colegas jornalistas que animam a Redacção do jornal, e bem assim a todos os fotógrafos  e outros colaboradores, com os nosso votos de que  o  vento sopre de  feição e o Sul Informação vá por esses anos fora!! 
  Também lá tenho deixado algumas coisitas escritas que a Elisabete faz o favor de ir publicando. Continuarei!!
O Prof. Manuel Gomes Guerreiro homenageado pela
Tertúlia Farense  em Querença
12 de Julho de 2018
    A pequena aldeia de Querença tem dado ao Algarve e ao País grandes personalidades na Cultura e na Ciência. Destacam-se o Prof. Manuel Viegas Guerreiro, Mestre antropólogo e  autoridade em literatura popular, e de cuja  herança resultou a Fundação com o seu nome, e o Prof. Manuel Gomes Guerreiro, silvicultor, ecologista, grande académico, ligado à instituição de várias Universidades, desde Moçambique, Angola, Nova de Lisboa,Évora, Algarve e Internacional em Lisboa.
  Foi Secretário de Estado do Ambiente no 1º Governo Constitucional, em 1976, e deixou uma valiosa obra escrita e uma aura de Mestre no ensino universitário.
      A Tertúlia Farense, (TF) que há mais de onze anos reúne todos os meses excepto em Agosto, umas dezenas largas de participantes à volta de um bom jantar regional e de assuntos da Cultura e da Ciência, resolveu homenagear o Prof. Gomes Guerreiro na sua terra, Querença, reunindo-se pela primeira vez fora do Concelho de Faro.
        A sessão da TF teve início `às 20 h do dia 12 de Julho, na sede da Fundação Manuel Viegas Guerreiro, tendo os cerca de 60 participantes sido recebidos no seu auditório pelos Corpos Gerentes -  Presidente Engº Gabriel Gonçalves, Vice Presidentes Idalio Revez e dr. José Maria Guerreiro. Esteve presente o dr. Vitor Aleixo, Presidente da Câmara Municipal de Loulé e a drª Dália  Paulo, dirigente do mesmo Município e habitual participante dasTertúlia.
   Foi apresentado sumariamente o projecto do Percurso Eco-botânico Manuel Gomes Guerreiro, a construir nos terrenos da FMVG, e da autoria dos arqºs paisagistas Fernando Pessoa, João Marum e João Rodrigues. Trata-se de um jardim botânico in situ que reúne as plantas autóctones do barrocal e da serra, e um percurso que depois se continua pelas encostas ainda cobertas de vegetação natural.
            No habitual jantar da TF, que se seguiu , e teve lugar na Tasquinha do Lagar, no momento da palestra falou o arqº paisagista Fernando Pessoa sobre a personalidade do Prof. Gomes Guerreiro, a que se seguiu um comentário oportuníssimo do dr. Álvaro Café sobre o homenageado. 
           O Presidente da FMVG elencou os principais projectos que a Fundação vai levar a efeito, e que já referira antes na sessão do auditório, entre eles o Festival Literário no próximo mês de Agosto.
          

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Liberdade e Biodiversidade -2-( continuação)

´     A vida no Planeta rege~se  por ciclos de trocas de energia e de matéria, organizados em sistemas eco-biológicos - os ecossistemas - que têm os seus clímaces e os seus pontos de menor vitalidade.              Quanto maior e mais complexa for a diversidade biológica e genética, também maior é a garantia da perenidade da Vida.
   A biodiversidade permite naturalmente que as espécies se organizem, se estruturem e se enfrentem nas escolhas que a Natureza faz por si mesma, na procura de equilíbrios dinâmicos próprios dos sistemas vivos. A redução do número de espécies e da sua capacidade de trocas é um sinal do estado de menor equilíbrio climácico - ou seja, de menor garantia da perenidade da Vida.
         Os ecossistemas de substituição criados pelos homens para tirarem melhor partido dos recursos naturais de que dependem, são tanto mais sustentáveis  ou perenes quanto maior for a diversidade que potenciam e, por isso, mais se aproximem do funcionamento dos ecossistemas naturais que eles vieram substituir.
            O homem e as suas comunidades estabelecidas e organizadas primeiro como tribos ou clãs, depois a pouco e pouco como povos, são tanto mais independentes e próximos da sua realização como seres e comunidades, quanto mais dispuserem de diversidade biológica e genética, as quais não só o sustentam no presente como garantem a continuidade no futuro. Daí que as agriculturas de policultura tenham sido sempre situações de vantagem para a Vida, face às monoculturas.
   Desde há muito que se conhecem as consequências  das monoculturas na vida dos territórios, em especial quando as características edafo-climáticas são precárias, seja à escala continental casos como a degradação provocada pela cultura do algodão sobre o Sahael ou sobre as bacias do Mar de Aral, seja á nossa escala a monocultura cerealífera ou mais tarde do eucalipto ( de que a Serra d'Ossa é um exemplo trágico).
    A Biodiversidade é fundamental para a própria sobrevivência do ser humano na Terra.
      Ao longo da História da Terra a Vida foi drasticamente alterada algumas vezes por razões naturais, sejam movimentações tectónicas sejam modificações climáticas profundas alterando completamente os sistemas e os ciclos geo-bioquímicos. Muitas situações de convulsão entre povos, com vagas maciças  deslocando-se através dos continentes, ficaram a dever-se a alterações climáticas profundas e a acidentes geológicos arrasadores.  Porém hoje  assistimos a uma terrível diminuição da biodiversidade, a envenenamento de solos e oceanos, e a alterações climáticas silenciosas mas persistentes - tudo provocado por acção humana.
    Nas últimas décadas desapareceram muitas centenas de espécies de seres vivos existentes na Natureza, e por outro lado as grandes multinacionais dos sectores agro-alimentares e agro-químicos controlam cada vez mais o fornecimento de sementes seleccionadas e de variedades transgénicas, reduzindo o mercado a uma meia dúzia de cultivares de cereais, de hortícolas e de fruteiras - e controlam cada vez mais os Governos nacionais e as organizações internacionais como a UE.

      As centenas de cultivares e de variedades locais das culturas tradicionais de todos os países do mundo vão desaparecendo , reduzindo fortemente a biodiversidade e as reservas genéticas de alimentos ao dispor da Humanidade. A Natureza vai tendo cada vez menos liberdade de se organizar como exigem as leis da sobrevivência dos seres vivos e dos seus ciclos - e nós vamos ter cada vez menos liberdade de escolha daquilo que achamos que melhor nos serve e do que achamos melhor para a Humanidade,.
      Dai que a perda ou a limitação da Biodiversidade acompanhe a crescente limitação da nossa Liberdade, um pouco por todos os continentes e países. .Temos que lutar pela supremacia destes dois conceitos afinal tão interligados : a Liberdade e a Biodiversidade





quinta-feira, 12 de julho de 2018

Liberdade e Biodiversidade
   
       Num primeiro relance estas duas palavras parece não terem  nada em comum, mas os conceitos que elas encerram são, para mim, dois dos conceitos mais importantes , são mesmo fundamentais, para a Humanidade, sobretudo no tempo presente.
       A liberdade é desde a remota Antiguidade considerada  como o sentimento mais intrinsecamente ligado à natureza humana. E já mais perto do nosso tempo Spinosa proclamou no séc- XVII, quando não era fácil dizê~lo,  que a liberdade é inalienável, a liberdade inata, natural, que é intrínseca ao ser humano e antecede  a liberdade que nos é outorgada pelas leis que nos governam.
    Porque no seu estado natural o homem não tinha ainda consciência do meu, do teu, do justo ou menos justo para além da satisfação das exigências fisiológicas individuais ou do grupo familiar; o homem era sereno e livre como qualquer outro animal superior.
      Foi pela compreensão de que a sua segurança estava melhor salvaguardada se reunisse os seus entes mais próximos em estruturas gregárias, que o homem fez nascer as relações sociais e as leis que as regem, dando início ao domínio da Razão sobre a Natureza.
Liberdade significa, antes de tudo o mais, poder escolher - mas deixou se ser um direito absoluto porque em sociedade a liberdade de cada um não pode ir contra ou prejudicar a liberdade dos outros. Dispomos porém da liberdade matricial que nos dignifica enquanto homens livres, condição em crise no mundo de hoje - quando se poderia supor que estaria afastado o fantasma do autoritarismo.
Neste contexto, escolher o que se gosta, o que se quer, como quer emitir a sua opinião, como definir as suas prioridades, como quer e quando reunir~se com outros seres humanos . é apanágio da liberdade, é apanágio do homem livre !
(continua)