domingo, 4 de março de 2018

Arquitectura e arquitectos

O que está a acontecer em Lisboa com os projectos de arquitectura previstos para a Praça das Flores e para o  Largo do Rato, vem ilustrar uma situação que não é nova. 
Alguns arquitectos que atingiram o "estrelato" comportam-se como podendo fazer tudo o que o seu génio lhes suscita sem ter em conta o papel que a arquitectura desempenha na sociedade, Acham-se  no direito de impor a uma cidade o que eles entendem que é muito bom, sem quererem saber se esse é o sentimento de quem vai passar a conviver com as suas "obras de arte".
Repetindo argumentos já usados por vários autores e por mim mesmo noutras ocasiões, importa dizer que a arquitectura sendo uma das Belas Artes é também  uma arte social intrinsecamente ligada ao habitat das pessoas. Uma escultura, um quadro ou uma obra de musica cada um as vê e ouve se gosta, mas vira-lhes  as costas se não gosta,
Já uma obra de arquitectura erguida numa rua ou numa praça  é imposta a todos quantos lá passam ou vivem mesmo que se sintam constrangidos por qualquer mamarracho considerado obra de arte pelos seus autores e, o que é mais grave,  pelos "geniais" decisores municipais para quem o gosto não se discute - ora o gosto discute-se e sobretudo quando se trata de uma imposição que para sempre ficará a ocupar um espaço que a população, a tal que "não tem gosto", vai ter que aguentar.
Um arquitecto que projecta para o espaço publico tem que ter em conta o genius locci do lugar; ele não está a projectar num espaço vazio ou destruído por uma guerra ou por um cataclismo, está a renovar o tecido urbano que  por vezes  - muitas vezes - representa a alma do lugar e faz parte da imagem quotidiana para quem lá vive ou ali usufrui o espaço ;  deve por isso ter em conta o ambiente arquitectónico, social e cultural que existe e respeitá-lo.
Vir argumentar que não se pode pôr em causa a "autoridade do autor" e se tem que aceitar o que cada  um desses grandes artistas quer produzir, é para se responder que mudem de terra e vão projectar  entre pessoas "mais cultas", noutro país qualquer, noutro continente... A  importância que algumas  estrelas da arquitectura ( não são todas, felizmente) se atribuem a si mesmas, tem levado a ofensas ao património local, que para quem vive  nele é chocante - não faltam exemplos.
Um pouco de humildade e respeito pelo habitat onde se pretende construir devia  fazer parte da actuação  de alguns arquitectos e levar as autoridades municipais a terem em conta a opinião dos seus munícipes em assuntos que são evidentemente do foro da discussão do "gosto" e " não gosto", mas que colectivamente deve prevalecer  a vontade geral numa sociedade democrática. Nada de imposições em matérias que não são fundamentais para a vida urbana!!

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