domingo, 6 de maio de 2018

Eutanásia - o campo das confusões

Vou meter-me mais uma vez neste campo de confusões, umas involuntárias, outras nem por isso.
Os médicos têm uma palavra a dizer, é evidente, mas a discussão da matéria não é um assunto só médico ou especialmente médico - é um problema de consciência de cada um. E no Movimento pela Morte Assistida a que pertenço sempre houve e  há médicos.
Vem isto agora a propósito duma entrevista a um médico, António Maia Gonçalves, saída no Publico de ontem, 5 de Maio. Tem todo o direito a dizer-se contra a eutanásia se bem que ao longo das suas declarações haja cedências. Tem todo o direito de ter a sua opinião, só que os opositores ao acto impõem a sua opinião a todos, enquanto os que a defendem só a defendem para si, não impõem a ninguém, não querem  tornar a morte assistida ou a eutanásia obrigatória. Querem apenas ter o direito, com as devidas cautelas já por demais ditas e reditas, de pedir essa solução final.
Mas o entrevistado começa por dizer que  "não se pode banalizar a morte", a que pessoas como eu respondem que deve haver o direito a morrer com dignidade e decidir em consciência como quer acabar a sua vida.
Uma afirmação ; "se tenho um doente com 90 anos que tem uma pneumonia curável, não vou deixar de o reanimar por causa da idade" - mas o que é que isto tem a ver com a eutanásia ?  Frases desta só servem para aumentar a confusão, mistura alhos com bugalhos. A eutanásia só se poderá aplicar a pedido do doente e em caso de irreversibilidade do estado da saúde, nada tem a  ver com a idade, se bem que seja previsível surgirem mais situações irreversíveis nas pessoas mais idosas.
"Na dúvida, tratar sempre o doente", e mesmo que exista um testamento vital  que este médico acha que foi aprovado depressa demais. E diz que "desde 2012 apenas ocorreram  18000, é um número irrisório". Irrisório porquê, com tanta falta de informação, com a confusão permanente e especulativa de quem é contra ? A  mim acho que nas presentes condições  até é um número apreciável.
É o tal caso do copo meio cheio ou meio vazio...
"Um jovem diz : não quero ser ligado a ventilador nenhum, Mas se esse jovem entrar numa sala de emergência com uma pneumonia, acha que vou deixá~lo morrer?" Sim, se for essa a vontade expressa pelo doente e se a situação for irreversível, é sempre nesta situação extrema que se coloca a questão. Podia continuar  a analisar as afirmações do médico, mas fico por esta : "...3% das causas da mortalidade sejam actualmente por eutanásia na Holanda, Ora não me vão dizer que estas pessoas todas estavam em grande sofrimento". Aqui está a pôr em causa a seriedade dos colegas médicos holandeses, que são responsáveis pelo diagnóstico final do paciente. E assim não vale, senhor doutor !
Quanto a "será um fardo para as pessoas de idade se eutanásia for aprovada" é tirar ilações a seu bel prazer, eu que aqui escrevo sou "uma pessoa de idade" e  não sinto fardo nenhum ao querer a eutanásia, pelo contrário, espero que ela venha a ser aprovada: reaccionários ( sem ofensa, são os que reagem) a medidas avançadas sempre houve  e continuará a haver, E para terminar "...há 160, 170 países no mundo e apenas meia dúzia têm eutanásia.Há pilares fundamentais na sociedade e um deles é o direito à vida" - pois há e há meia dúzia de países que começam a proclamar o direito à morte com dignidade. É uma questão de tempo, sempre foi assim,  foi assim com tudo quanto se trata de  saltos qualitativos para uns e que os retrógrados não aceitam e travam enquanto podem.

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