terça-feira, 5 de novembro de 2019

Água - uma tragédia anunciada ?
No sul do nosso território continental, quase todo o Alentejo e o Algarve estão em seca extrema; em Outubro a barragem de Odeleite estava com  27% da sua capacidade e a de Odelouca com 22 %. De então para cá praticamente não choveu ainda, caiem umas orvalhadas que refrescam o ambiente e vão aguentando a vegetação estabelecia, mas mesmo assim há muita em stress hídrico evidente. Mas basta cavar  20 cm na terra e é pó que surge.
Os aquíferos estão a esvaziar e noutras regiões do país, se não é ainda  tão grave,  vai ser dentro em pouco. 
Por aqui no Sul seria preciso que chovesse um mês, continuamente e com abundância ( sem provocar excessos que pioravam o cenário por outras razões) para começar a repor os lençóis freáticos em níveis confortáveis.

É certo que o Governo não deve alarmar a população, mas impunha-se, desde há muitos anos, que fossem tomadas medidas de contenção do consumo de água quando se sabe - e os governantes enchem a boca com as parangonas das alterações climáticas e da transição energética - que a nossa Península Ibérica, nas regiões do sul, vai ser indubitavelmente afectada gravemente pela seca e pelos fenó
menos extremos.
E sendo a agricultura o principal consumidor de água, o que é que se tem feito para adaptar as culturas a essas anunciadas alterações do clima? Tem sido experimentadas culturas de ciclo curto, menos exigentes em água, e estudadas variedades melhoradas e resistentes sem ser as que dependem da multinacional Monsanto? As Direcções Regionais de Agricultura, a ver pela do Algarve, deixaram de fazer experimentação agrícola, as estufas e outras instalações estão em ruínas e investigadores e técnicos competentes empurrados para as prateleiras.

Já se ouviu algum responsável ministerial  falar da dessalinização da água do mar ? Eu há anos, desde que conheço o Mediterrâneo, que escrevo sobre essa necessidade; a maior parte da população portuguesa espalha-se ao longo do litoral e depende da água armazenada nas barragens do interior, que será cada vez menos, acreditem ou não os iluminados Ministros . Ora esta deve ficar para a agricultura e para as populações do interior que não tem outra opção de abastecimento.
O preço do m3 de água dessalinizada é hoje, graças aos avanços da tecnologia nomeadamente a osmose inversa,  compatível com o abastecimento urbano em termos de custo. O grande papão que é o consumo de energia fica sem efeito se cada instalação de  tratamento da água salgada tiver a sua próprias energia, pois no litoral não faltam nem  o sol nem o vento - é uma questão de estudar qual a energia mais capaz para cada caso.
Desde que se abandonou a administração dos recursos hídricos  através da gestão autónoma das grandes bacias hidrográficas, como acontecia quando havia autonomia das Administrações de Região Hidrográfica, tudo piorou na gestão dos recursos hídricos a partir do momento em que Passos Coelho aceitou as imposições da Troika mesmo onde ela não devia meter o  nariz - mas os Governos de esquerda não sabem, não querem ou "não podem" reverter essas medidas.Tudo quanto diz respeito ao Ambiente piorou a olhos vistos desde que o Ministério do Ambiente e o Ministério da  Agricultura foram entregues a yess men sem convicções nem conhecimentos para imporem políticas correctas nesses domínios cruciais para o futuro do país.
O problema da água é paradigmático. As televisões mostraram o curso superior em Portugal do rio Tejo com um fio de água, depois de descargas volumosos feitas pelas Espanha, em vez de cumprir o acordado de um caudal ecológico permanente. Todos vimos o Tejo nesse estado. Da imprensa: " Ministro do Ambiente recusa que exista falta de água no Tejo", "O rio Tejo não tem falta de água. Onde existe falta de água de facto é nu afluente do rio Tejo.......que é o rio Pônsul".  Tres dias depois, na imprensa, "gestão que a Espanha fez do caudal do Tejo não é aceitável" O MAAC ( quer dizer Ministério do Ambiente e Acção Climática...) denuncia que nunca  se tinha registado um caudal tão reduzido mesmo em anos  em que se verificaram condições de excepção.  Mais palavras para quê ?
Se não chover com abundância neste e no próximo mês, aqui pelo Sul vai ocorrer trágica falta de água a não ser que o MAAC, que tem sempre "tudo controlado" tenha na manga uma solução milagrosa. É a água potável para as populações urbanas do Alentejo e do Algarve, é a água para a agricultura, mesmo reduzida como está mas em que sobressaiem os citrinos ( e a moda dos abacates, uma cultura mesmo apropriada para esta  crise da água)e para os indispensáveis campos de golfe que em anos de escassez já tem tido prioridade sobre o abastecimento publico. O Alqueva dá para tudo? durante quantos anos ?  Ou, podendo parecer alarmista,  estaremos perante uma tragédia anunciada que ninguém quer enfrentar de caras ?





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