sábado, 30 de novembro de 2019

Fernando Pessoa
Neste dia, 30 de Novembro de 1935, morreu Fernando Pessoa, de que nem vale a pena escrever muito, pois tudo quanto eu disser será ridiculamente  pouco face aos milhares de páginas que sobre ele já se escreveram.
Mas sempre digo que para mim tanto ou mais importante que a poética em si mesma  é a profundidade do seu pensamento, entrando  por domínios do espírito que dificilmente será igualado. É grande a nível mundial, reconhecido por quantos  têm podido ler a sua obra.
O facto da coincidência com o meu nome tem dado ocasião a episódios com piada, alguns até ridículos, outros que dizem da dimensão do grande  poeta-filósofo.
Apenas uma história : eu sou leitor assíduo há muitos anos da obra do filósofo francês, revolucionário e tão contestado como enaltecido,  Michel Onfray: sucedeu que ele veio a Lisboa aqui há uns anos, ao Instituto Franco-Português, apresentar a edição na nossa língua do seu livro La puissance de vivre"."A potência de viver". No final da sessão fui pedir o inevitável autógrafo do exemplar que adquiri e, é claro, ao ver o meu nome ele exclamou para quem quis ouvir, dizendo que o Fernando Pessoa é um dos maiores intelectuais europeus do século  vinte, e ainda irá escrever um livro sobre ele.

"Sim, está tudo certo.
Está tudo perfeitamente certo.
O pior é que está tudo errado.
Bem sei que esta casa é pintada de cinzento
Bem sei qual o número desta casa -
Não sei, mas poderei saber como está  avaliada
Nessas oficinas de impostos que existem para isto - 
Bem sei, bem sei...
Mas o pior é que há almas lá dentro
E a Tesouraria de Finanças não conseguiu livrar
A vizinha do lado  de lhe morrer  filho.
A Repartição de não sei quê não pôde evitar
Que o marido da vizinha do andar mais acima lhe fugisse com a
                                                                                      cunhada...
Mas, está claro, está tudo certo...
E, excepto estar errado, é assim mesmo : está certo... "

E  René Magritte  pintou o quadro do cachimbo e escreveu :       "Ceci n'est pas une pipe"

O que parece ser, não é; aquilo que vemos é apenas a imagem da coisa em si, seja a casa pintada de cinzento seja o cachimbo. É sempre a traição das imagens...

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