quarta-feira, 20 de junho de 2018

A pequena agricultura

  A entrega de subsídios aos pequenos agricultores para deixarem de produzir, praticada  com eficácia, nos Governos de Cavaco Silva, teve dois efeitos a curto e médio prazo ; deixou muitas terras e explorações de pequena dimensão ao  abandono e possibilitou  a expansão dos eucaliptais.
     Foram dois erros gravíssimos para o nosso território. Não quiseram perceber que a pequena  agricultura é a que ocupa realmente o interior, e em vez de ter sido incentivada a ser posta de lado, como aconteceu,  devia antes ter sido estimulada e incrementada.  
    Por esses anos andavam os emissários das empresas de celulose pelos campos e serras fora, de porta em porta, a incentivar os rurais a plantarem nos seus terrenos os eucaliptos porque todas as despesas eram por conta dos promotores. E a malta, sobretudo mais velha, foi evidentemente nesse engodo. 
     Lembremos-nos de quem eram os Ministros e Secretários de Estado da Agricultura e das Florestas...

    Muita gente hoje, em pequenas cidades e vilas do país - e pela Europa fora isso é significativo- tem a sua profissão e tem outra, a de pequeno agricultor . 
    No tempo presente, e cada vez mais no futuro, as pessoas já não têm apenas um emprego e uma profissão: a ocupação do tempo útil vai ser cada vez mais partilhada por cada pessoa por coisas que gosta ou precisa ou sabe fazer, diversificando as suas preocupações e a resposta aos seus anseios.
    As pessoas precisam cada vez mais de contrapor à vida urbana, em situações que em muitos e muitos casos continuam longe de satisfazer a sua  qualidade de vida, o encontro com os elementos naturais. E se os jardins e parques urbanos são cada vez mais planeados como espaços dinâmicos, nada se compara com o contacto de cada um com a res  rustica, com os afazeres e as descobertas da Natureza no mundo rural.
   O sucesso das hortas urbanas, persistente ideia de Gonçalo Ribeiro Telles durante décadas, sempre considerada utópica, lírica, está aí para provar a sua validade. 
   Por toda a Europa e não só, em muitas das grandes cidades de vários continentes, as hortas urbanas são uma forma genial de recriar a paisagem rural nas periferias da paisagem urbana e mesmo até entrando pela urbe dentro em raios de penetração da Natureza - valem mais que muitos jardins com relvados e flores que são  dispendiosos e exigem muita água.
  Agora que se fala "politicamente" em revitalizar o interior, estamos cá para ver o que vai ser feito para incentivar a pequena e média agricultura, o pequeno e médio pastoreio, que fixam população no terreno e criam condições económicas para a produção de qualidade que cada vez mais é necessária para contrapor à produção massificada e industrial.
       Sem as fantasias de Marcelo Rebelo de Sousa em acabar com as desigualdades entre litoral e interior até 2023,  há pequenos progressos que podiam ser incrementados - mas não esqueçamos que a pouca gente que vive no interior e aquela que possa vir a fixar-se por lá, dá poucos votos para justificar grandes investimentos...

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