quinta-feira, 29 de julho de 2021

De mal a pior

Todos se preocupam com os milhões de euros que vão chegar da Europa e todos querem o seu quinhão. A esquerda quer mais apoios sociais, a direita quer mais dinheiro para os empresários e as empresas - mas ninguém fala em reorganizar o Estado  e  o Governo para uma política de futuro. Todos os políticos falam das alterações climáticas, mas mesmo vendo o que elas estão a causar, já não lá longe mas aqui ao pé de nós, na Europa, não se assiste a um passo na direcção de medidas de médio e longo prazo que preparem o país para essa realidade que nos vai cair em cima.

E as políticas que garantem a sustentabilidade do território são as do Ambiente, Ordenamento do Território, Agricultura e Florestas - o sector primário -  tendo que se reorganizar o Estado e o Governo para ser eficaz, caso contrário estaremos  sempre a correr atrás dos acontecimentos e a inventar  promessas que não se cumprem e desculpas por não se terem cumprido. São políticas que dão poucos votos e a maioria da população fica indiferente a elas.

No Ambiente é urgente assumir que se tem de acabar com as actividades poluentes e apostar nas campanhas de educação ambiental, pois a maioria dos portugueses nem sabe o que isso é. Educação ambiental e cívica é a primeira condição para termos uma opinião publica crítica - precisamente o  que os políticos não querem; e neste domínio deve ter um  especial realce o eficaz apoio ao consumidor, sem medo das represálias das multinacionais sejam da alimentação, das redes sociais, das telecomunicações etc.

Na Agricultura a reorganização tem de ser total.  Temos centenas de milhar de terras por cultivar e que são um motivo para os cantos de sereia dos plantadores de eucalipto, leia-se a industria da celulose - já que as terras estão vagas vamos lá alugar ou comprar ( dinheiro não lhes falta) para criar as "florestas de produção" como tem o despudor de anunciar perante o silêncio e a indiferença gerais.

Precisamos de ter um Ministério da Agricultura e Florestas ( porque os dois sectores são partes íntimas do mesmo domínio que é o binómio solo - água) que ponha em prática uma política de incentivo ao cultivo mas também para refazer a política de investigação e experimentação agrícola que foi abandonada.  As Direcções Regionais de Agricultura tinham uma boa parte dessa função adaptada às características de cada região - e eu vejo pelo Algarve, onde uma bom núcleo de investigadores fazia mesmo experimentação séria -agora a mesma DRA incentiva a expansão doa abacateiros, consumidores de água, mesmo em terrenos da REN que depois vem a CCDR multar para português ver... Tal é a coordenação entre a Agricultura e o Ambiente!!

Devíamos estar a estudar culturas de ciclo curto e pouco exigentes em água, porque esse vai ser o nosso futuro - e isso não se faz de uma ano para o outro. Países do Mediterrânio estão a trabalhar nessa direcção e sei pelo menos na Argélia que se trabalha com base  na experimentação cientificamente apoiada.

Apresentado pelo tonitroante Ministro do Ambiente ( que não reparou, como o colega da AI,  que viajava a 200 km/hora,  ia a pensar...) um espantoso Plano de Reconversão da Paisagem, começando pela região de Monchique, e ao mesmo tempo que se fazia o plano para reconversão da floresta e da agricultura, aliás por uma boa equipa, estavam a ser autorizados centenas de hectares de novo eucaliptal na mesma área... É sério, não é?

Porque é   que, depois de terem sido entregues a técnicos e funcionários das celuloses, como isso não seria bastante, foram desmantelados os Serviços Florestais com toda a sua quadrícula de ordenamento e gestão florestais? Porque o regabofe da plantação livre de eucaliptal não podia suportar regras correctas e cientificamente apoiadas de ordenamento florestal. Começou com António Costa em Ministro da A. Interna e com o seu colega, o pior Ministro da Agricultura que Portugal já teve, continuou com a excelsa especialista Assunção Cristas e continua agora com esta aberração do ICN F que nem faz CN nem faz F.

Estamos a fazer História todos os dias, tenho estado para aqui  a discorrer ao correr da pena, melhor, ao correr do rato do computador.

Não há dúvida que o PS com este Governo, está a fazer mal à democracia e em especial como exemplo, que diz ser,  de um governo da esquerda democrática. As sondagens, que continuam a dar-lhe maioria e a António Costa, justificam-se porque, embora muitos não gostem, a verdade é que a maioria do povo português vota á esquerda; só excepcionalmente a direita ganha as grandes eleições e quando o fez deixou marcas que o povo não esquece. Primeiro foi com o Cavaco Silva, numa época duma certa insatisfação geral com os resultados da economia e do emprego - e até  Mário Soares, Presidente,  veio dizer que tinha esperança naquele académico que lhe parecia genuíno social democrata. Viu-se.

Depois foi com a troika, a seguir ao desastre do Pinto  de Sousa (vulgo Sócrates), em que perante uma aliança espúria que juntou a votação da esquerda e da direita, o PS foi derrotado. E o desempenho de Passos Coelho, sem experiência e sem programa, apanhado de surpresa e empurrado para Primeiro Ministro com aquela plêiade de grandes Ministros como o Relvas, o Gaspar (aquele  que falava em 33 rotações e se demitiu por ter falhado, no mínimo foi sério ou não quis assistir ao resto do desaire), a excelsa Ministra Cristas que sabia tanto de agricultura como eu sei de chinês, o espertalhão do Portas que estava a preparar a sua vidinha ( como quase todos, diga.se em abono da verdade), enfim, foi uma vacina que deram aos portugueses.

Aparecer a formar governo apoiado  na extrema esquerda, foi um golpe de asa que A. Costa demonstrou e levou como emblema à Europa - afinal podia governar-se dentro da União Europeia, apesar das politicas liberais e financistas que se praticam, com um governo apoiado por marxistas e um programa bastante voltado para o social.

E o certo é que, quer com o BE quer com o PCP,  a coligação funcionou, recuperou em parte a economia e a divida publica, foram alargados  maiores benefícios aos trabalhadores - mas não fez reformas e não foi capaz de apresentar mesmo uma política de esquerda como deveria ter sido aplicada:  as instituições do Estado a funcionarem no limite da derrocada, com medo de patrões e de represálias da UE. Ora temos uns 13 a 14 % de emprego na Função Pública, quando a média da UE é de 17% . - os 3 ou 4% a mais dariam para completar os quadros do SNSaúde, para completar os quadros da Justiça, para completar os quadros das escolas e  das Universidades. Isso seria um dos pontos que marcaria a diferença para uma governação da direita liberal que espreita o momento para o salto de tigre...

Pior que tudo isto, a incompetência que A Costa e o PS revelam neste segundo Governo onde, apesar de críticas políticas  exageradas da direita, afinal não foi no combate à pandemia que  as coisas correram mal - foi na incompetência de grande parte dos Ministros, na falta de visão das políticas que deviam apostar no médio e longo prazo e nem se vislumbram.

Com um  Governo espalhafatoso  de umas 50 pessoas - quando se pedia um Governo pequeno, activo, interveniente -  e  a cometer erros crassos de  bradar aos céus, perante a mudez do Primeiro Ministro, a manutenção  de autênticas abencerragens no Ambiente, na Agricultura, na Administração Interna. etc, etc- que imagem passa de um governo de esquerda democrática ?










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