terça-feira, 14 de março de 2023

 Percurso Ecobotânico Manuel Gomes Guerreiro

Na passada 6ª feira dia 10 consegui finalmente que fosse inaugurado  o jardim botânico in situ que projectei e acompanhei a construção, em Querença, na propriedade da Fundação Manuel Viegas Guerreiro.

Viegas Guerreiro e Gomes Guerreiro, dois ilustres filhos daquela aldeia da transição da serra para o  barrocal, dois grandes amigos meus, com quem convivi e de quem tenho saudades. E tive lá na inauguração, a meu convite, duas personalidades de alto gabarito, que vieram porque eu insisti e acederam ( e não foi fácil...) : Ramalho Eanes e Jorge Paiva.

Do primeiro é uma honra ele considerar-me seu amigo e aceder, apesar da saúde precária, em se deslocar com a esposa, Manuela Eanes, para esta   incómoda viagem de ida e volta ao Algarve. O segundo velho amigo do mesmo lado da barricada, um biólogo de renome internacional, que também é difícil de convencer ( eu bem sei...) e que veio abrilhantar a sessão com uma grande aula sobre biodiversidade -  valeu a pena!!





A Europa e a guerra

A guerra suja levada a cabo por um fanático da extrema direita,  que tudo esmaga à sua volta, continua a ser o maior crime perpetrado  neste continente depois da 2^Grande Guerra. Claro que americanos e russo igualaram-se em guerra e crimes  pelo mundo fora, só a diferença - que já tem sido assinalada e que não desculpa tudo, mas  não deixa de ser verdade - é que este imperialismo americano deixa-nos viver as nossas vidas, deixa que existam oposições e liberdade de expressão, deixa que o Estado de Direito e o Estado Social  ganhem a pouco e pouco maior expressão entre os países que têm a sorte de os adoptar.  E não é só no "ocidente " pois  países da Ásia e da Oceanía,   que estão no "oriente",  também são democracias mais ou menos estáveis.

O que está a evidenciar-se com esta guerra da Ucrânia é a fragilidade da Europa, que sem o apoio dos EUA não conseguiria defender os ucranianos como eles merecem. 

Falarei da Europa noutra altura, merece uma reflexão...

Agora o que começa a ser preocupante é que os EUA estão mesmo a querer manter esta guerra, e podiam tentar chamar a China à cooperação - mas como há uma rivalidade de poder económico e  político mundial entre os dois países, Biden não está a aceitar que a China lidere a tentativa de paz. Os chineses são manhosos,  a gente sabe, mas se a guerra se prolonga demasiado  eles também acabam por sofrer - e  não é pouco.

Se a China oferece a tentativa de se  entrar em negociações devia aproveitar-se essa oferta, se a UE tivesse força para exigir isso aos EUA. Veremos o que a visita do presidente chinês à Rússia vai trazer e ele se dá o passo a seguir  de também ir a Kiev.




domingo, 12 de março de 2023

 A minha geração

Hoje estou desde manhã pensar nisto, não sei porquê: a minha geração é a melhor de um século!! porque a minha geração viveu o 25 de Abril de 1974 !!

O meu pai falava-me da sua  geração que viveu a Republica, 1910; ele era miúdo mas o meu avô, José Augusto Pessoa, chefe torneiro nas oficinas da Companhia do Caminho de Ferro da Beira Alta, o primeiro aluno a matricular-se na Escola Comercial e Industrial da Figueira da Foz, viveu com entusiasmo a  mudança do regime e foi um dos fundadores da delegação local do  Partido Evolucionista de António José de Almeida.

Depois entrou-se na bagunça, veio  a longa noite negra da ditadura e o meu pai sentiu-se feliz quando voltou a viver a liberdade democrática de 1974.

E hoje tenho dado comigo a pensar e repensar nesta sensação de pertencer à melhor geração de mais de um século - a do 25 de Abril.

domingo, 5 de março de 2023

 Ao correr dos dias...

A falta de água

Eu não devia fazer previsões destas, mas vou fazer e que bem eu me sentiria se a previsão falhasse !!E a previsão é a de que vamos ter, no Sul de Portugal e com gravidade no Algarve, sérios problemas de falta de água  no próximo Verão se entretanto não chover a sério. O que choveu até agora foi muito pouco, dá-se uma cavadela e a terra está seca. A "minha" ribeira, que é um aviso sobre a situação dos aquíferos por aqui, mal correu com um pequeno caudal quando caíram umas chuvadas,  mas secou e assim continua. É pouco provável que daqui até ao Verão volte a chover com aquela abundância que seria necessária para reverter a situação -mas se chovesse assim nesta altura do ano trazia também  graves inconvenientes  para algumas culturas.

Entretanto as competentes autoridades agrárias que continuem a expandir os pomares industriais de regadio, que é disso que se vai alimentar a população -  os pequenos produtores de hortas e pomares que se lixem...

Portanto quem  dera que a minha previsão venha a estar errada!

 E há anos e anos que se podia ter apostado no dessalinização da água do mar -  mas nada,  continuam certamente os estudos para descobrir a pólvora...


O património das Áreas Protegidas

Embora o anterior ministro do Ambiente, com a sua prosápia balofa, tenha escrito e dito por diversas vezes que com ele agora é que as coisas estavam bem, antes era tudo um disparate, estava tudo errado, o que resta hoje da APs é uma tristeza. Com isto - e ele escreveu um texto no "Publico", ele que ocupou a pasta da politica ambiental depois de ter declarado ao Expresso que não era ambientalista ... era apenas oportunista e eu sou dos que não lhe perdoa nem a quem o nomeou - ofendeu as dezenas de directores e técnicos dedicados e competentes  que ao longo dos anos fizeram das nossas Áreas Protegidas exemplos de que os vangloriávamos  na Europa e que de lá  recebíamos apoio.

Pois o património construído das APs,  casas de diversas tipologias, está ao abandono; em Montesinho chega a ser criminoso o ponto a que o Parque deixou chegar o seu património. Uma vergonha e não havendo directores que se responsabilizem pelas APs - inovação portuguesa criada pelo PS enquanto Governo -pede-se responsabilidade a quem ? Aos ministros, que deixam que as coisas corram assim tão bem...





domingo, 26 de fevereiro de 2023

 

Frustração e ética na vida pública

É inevitável revisitar estes temas, perante a geral apatia que eles geram na opinião pública. Já vimos a CAP e a CNA manifestarem-se contra a situação da agricultura, sabemos que algumas ONG tem tomado posição face à situação do Ambiente. Mas se houvesse um décimo da garra dos professores ou do pessoal da saúde, os sectores fundamentais que garantem o futuro estariam na ordem do dia – e não estão.

Pouca gente parece preocupar-se com os aspectos que têm a ver com políticas de médio e longo prazo que visam a sustentabilidade e a perenidade do território enquanto espaço biofísico. Sei que sou uma voz quase isolada…

Tenho perfeita consciência de que os novos "iluminados" definem aqueles que defendem posições como as minhas como ultrapassados, porque - embora as noções básicas de que falo sejam resultado de largo consenso internacional ao longo de muitas décadas - pensam agora que descobriram o segredo do fabrico da pólvora ( e os interesses que, no fundo, estão a servir).

Por um lado a fragmentação do sector primário terrestre (veremos o que sucederá com o mar), separando os sectores agrícola e florestal e esquecendo (propositadamente, como estratégia bem definida e que sabemos a quem aproveita ) que o sector deve ser - é - agro-florestal e dessa forma desprezando as críticas e pareceres que ao longo do tempo têm vindo  a lume de técnicos e de associações de produtores "agro-florestais"; por outro lado o  desmantelar da Política de Ambiente que surgiu em Portugal com o Abril de 74 ( e já com atraso face aos países mais avançados), voltando a manter a Conservação da Natureza (CN) presa às florestas como era há 50 anos atrás. Mas pior ainda -e isto também não foi por ignorância, antes com um fim preconcebido - retirando do Ambiente o Ordenamento do Território (OT) - brada aos céus e, volto a insistir, não tem havido. como se poderia esperar, uma viva reacção enérgica de ambientalistas e suas organizações e muito menos da população para quem estes assuntos passam ao lado.

A grande inovação das preocupações ambientais criadas em Portugal com o regime democrático, acompanhando os movimentos de pensamento mais proeminentes internacionalmente, foi ter lançado como  dois pilares da defesa e gestão do Ambiente a CN e o OT, que estiveram na base dos instrumentos legais fundacionais da Política de Ambiente como são a REN, a RAN, os PDM, os PROT e a Rede Nacional de Áreas Protegidas- e mal de aguentaram até hoje. Já no Governo de Durão Barroso houve uma tentativa de dois Secretários de Estado para promoverem esta manobra, anulada então pelo Ministro Eng. Amílcar Teias. Demorou, mas tudo começou a ficar de rastos nas últimas governações e agora culminou neste desastre institucional.

O primeiro ministro António Costa poderá ser um grande estratega político e capaz de enfrentar situações graves momento a momento, nomeadamente na Europa, mas tem sido responsável por uma confusão insuportável de falta de ética com a sua maioria absoluta e. pior, não tem revelado sensibilidade nem conhecimento, profundo e sustentado, para se libertar de interesses de mercado incompatíveis com uma esquerda democrática e assumir perspectivas e medidas de médio e longo prazo para o território - e isso é grave porque se ignora que estamos sob ameaças climáticas nas nossas condições mediterrânicas.

Fica a frustração!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

 Um ano

"Festeja-se "  por alguns lados, o primeiro aniversário da guerra que Putin desencadeou na Ucrânia. Para os que apoiam um ditador e megalómano, como todos os ditadores, pretendente a ser um novo czar e restaurador do  saudoso Império soviético, os culpados foram os EUA, a NATO e a EU, por terem dado força ao desrespeito pelos acordos de Minsk. Claro que estes têm culpas no processo, mas quem é que invade e quem foi invadido? Não é que aqueles não tenham culpas no cartório, sabemos bem que houve provocações mas as provocações não se resolvem com uma guerra, a não ser que haja  outros propósitos ... O fundo da questão é outro...´

 E lá vem a História contada por historiadores "credíveis" como o Manuel Loff, Escreveu ele  no Publico, que um ciclo foi aberto com a invasão americana do Afeganistão e do Iraque; esqueceu-se dizer que enquanto muitos de nós, como eu e milhares de europeus democratas, simplesmente democratas, protestaram sempre na rua contra os desmandos dos EUA, no Vietnam, no Iraque, no Afeganistão, etc,  nunca fomos mobilizados para protestar contra idênticas façanhas prosseguidas pela URSS de saudosa memória.

 Por exemplo que quem desestabilizou o Afeganistão - que era um país de seculares lutas tribais mas não passava daí e que por fim tinham encontrado um rei aceite por todas as tribos - foi a URSS,  que invadiu aquele país para apoiar um pequeno  partido comunista e instalar lá a sua maravilhosa democracia popular, desencadeando a fúria de todas as tribos - e nasceram os talibã. Acabaram por sair de lá com o rabo entre as pernas e nunca conseguiram incluir o Afeganistão nos países que compunham o seu império e onde hoje lavra uma raiva surda contra os russos ( eu estive no Uzbequistão e falei com as pessoas...). Depois vieram os americanos que são pouco dados à História e pouco clarividentes e foram para lá implantar o seu capitalismo espúrio- e fizeram a asneira que já tinham feito no Vietname.

Mas voltemos ao acordo de Minsk. Em 2013 houve na Ucrânia, em Kiev,   a "euromaidan", a revolução contra os pro -russos do Governo e que tinham recusado estabelecer um acordo com a UE. O Parlamento de então, que se julgava fosse fiel ao Presidente, afinal queria a adesão à Europa ( oh! escândalo, trocar a Rússia pela UE !!) e destituiu  o dito Presidente.

A Crimeia  foi anexada â Ucrânia pelo Krustchev ( imperdoável atitude da sacrossanta URSS) e voltou a ser confirmada no tempo de Ieltsin. Em 2014 uma parte dos russófonos da Crimeia instigados por Putin revoltaram-se, tomaram o Poder e proclamaram um referendo que naquelas condições já se sabia o que iria dar. Porque realizado em tempo de paz mesmo muitos dos russófonos prefeririam continuar ucranianos embora com autonomia o que era razoável. E em meados de Março Putin promulgou por diploma a anexação da Crimeia ou, como ele diz, a libertação da Crimeia face aos nazis ucranianos. Claro que a Ucrânia fez guerra, tentou travar a anexação, mas aqui é que a História começa  ser contada às avessas.

Como a Europa e o Ocidente em geral  ficaram calados perante a anexação da Crimeia, foi aqui que Putin deu prova da sua mediocridade - pensou que agora voltar á Ucrânia seria um passeio de quinze dias. Claro que todas as democracias têm que ajudar os ucranianos, um país invadido tem o direito absoluto, tem até o dever, de pedir o auxílio seja a quem for,

Na Assembleia Geral da ONU 100 países votaram contra a Rússia, 5 votaram a favor e os restante  cerca de 50, abstiveram-se. Claro que para Putin nada disto interessa, ele já deixou bem claro por diversas vezes, que o seu objectivo é recuperar o império da URSS - e é aqui que os comunistas embandeiram em arco e batem palmas. Querem lá saber que o povo ucraniano tenha sido invadido, eles querem é rever a saudosa URSS, mesmo que o comunismo não volte a ser lá implantado, antes um capitalismo desnaturado liderado por oligarcas ( Putin é um dos homens mais ricos do mundo) formados no tempo soviético e que nunca mais deixarão que o comunismo voltasse.

O que Putin faz é servir-se da pouca cultura da maioria do seu povo, servir-se da falta de consciência do que é a liberdade - um povo que foi sempre tratado como servos da gleba, que nunca conheceu a liberdade "burguesa" onde os comunas  afinal gostam de viver.

O terror de Putin é ver-se rodeado por países que escaparam ao seu controle, quando a URSS se desmembrou ( uma tragédia, diz ele  )e que querem cultivar a liberdade e a democracia, mesmo que esta seja ainda uma "aproximação", estejamos disso conscientes, como na Ucrânia, ou como na Hungria, na Polónia... O que marca esses países  ( e os do Cáucaso e das antigas republicas asiáticas)  é verem-se livres da pata russa, que sempre os oprimiu. E Putin sabe que sem esses países todos submetidos, a Rússia é grande mas nunca será aquilo que já foi. Se Putin esmagasse agora a Ucrânia que não restem dúvidas que a seguir iria acabar as tragédias que provocou na Chechénia, na Geórgia, vai querer a Moldávia e depois se verá o que mais. Onde não volta com certeza é ao  Afeganistão...

Hei-de continuar a pesquisar informações sobre esta tragédia de uma guerra na Europa em pleno seculo XXI, com o gáudio mal disfarçado de alguns portugueses que vivem em democracia ( que gozam e exploram) mas que  queriam viver noutra coisa... Eu fui um dos apoiantes  da geringonça que incluía o PCP e trazia um sopro de esquerda ao governo do PS - ainda bem que foi antes desta guerra!...

Viver em democracia é exigente demais para fanáticos do poder como Putin que diz combater o nazismo, não faz afinal coisa muito diferente. As atrocidades que os seus militares têm cometido  na Ucrânia nem as SS do Hitler as fizeram tão descaradamente e sem sequer um pouco de piedade.















 Um Governo sem emenda

Não passa uma semana sem que surjam tiques de arrogância  e protagonismo bacoco  de governantes, para além das pouca-vergonhas de falta de ética. Quando eu fui um dos que contestei a valia democrática da maioria absoluta de um  só partido  houve quem dissesse que não, o PS é um dos fundadores da democracia, o  que é verdade, e não iria comprometer o seu prestígio. o que quer dizer é que esses ignoram, talvez de boa fé, o clientelismo e o sentido de rebanho ( pior que o sentido de "família...) que o PS tem demonstrado, para meu enorme desagrado porque é  no âmbito da social democracia que eu me sinto.

Agora foi João Cravinho, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, pelos vistos useiro e vezeiro em gafes de protagonismo, se não for outra coisa... Vem então anunciar que o Lula da Silva vai discursar no dia 25 de Abril no Parlamento - custa a acreditar que ele tenha tomado essa atitude sem primeiro ter falado com António Costa, e se o fez deixou ficar mal o primeiro-ministro que, a ter concordado, está a perder qualidades e a demonstrar o tal ímpeto de  dominar tudo quanto é Estado. Se foi de ímpeto próprio do Cravinho então é mais uma para o seu currículo de asneiras, e  A. Costa não lhe diz "porque não  te calas!".

Então o Governo agora é que diz ao Parlamento como é que vai decorrer a sessão comemorativa do 25 de Abril? Que falta de respeito é esta por um órgão de soberania que, ao contrário do Governo, representa todos os portugueses  a bem e a mal?





segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

 Vergonha 

Impus-me, enquanto conduzia o carro, a ouvir na rádio depoimentos sobre os abusos sexuais de padres sobre jovens, ao longo de décadas. E digo impus-me porque o assunto é por demais revoltante, sabendo que a Igreja, só pela muita pressão da sociedade civil e por ter agora um Papa de excepção,  acabou por denunciar aquilo que sabia, aquilo que sempre soube, sem nunca resolver a maior vergonha que uma instituição como aquela podia ter dentro de si.

Mas acabei por desligar, dava vómito ouvir aquelas declarações de rapazes, hoje homens adultos, que transmitem uma angústia sem limites; e fala-se pouco das raparigas, quando se suspeita que sempre houve assédio sexual de padres a meninas que calavam por vergonha e as famílias também. Foi preciso o escândalo dos rapazes para se falar das raparigas, e haverá muito ainda a descobrir aqui, não tenho dúvida.