domingo, 29 de agosto de 2021

 Reflectindo sobre ismos e istas

Às vezes dá para reflectir um pouco sobre os homens e as coisas que nos rodeiam. Não devemos deixar estas reflexões só para os "especialistas" pois entre estes também há quem nos atire com grandes calinadas e nos queira impor as suas explicações - os cidadãos activos precisam de entrar nestas discussões e formular as suas convicções livremente.

José Eduardo Martins sempre se posicionou como social democrata, pelo menos era essa a ideia que transpareceu ao longo dos anos nas suas actividades políticas: de repente surge a defender Passos Coelho e a propor a sua vinda como salvífica para o PSD. Bom,  todas as mudanças de rumo são plausíveis mesmo que causem perplexidade, mas esta deriva para a direita deste, já um não assim tão jovem, reflecte bem  a situação de frenesim que reina entre os direitistas.

Passos Coelho como pessoa é certamente decente e respeitável, já quanto á sua capacidade politica nem por isso.  Foi atirado de súbito para Primeiro Ministro depois daquele desastre dos Governos do Pinto de Sousa (continuo a privilegiar o nome Sócrates para o grande filósofo grego...) e, sem preparação política nem sequer experiência governativa, tendo possivelmente apenas lido algumas cartilhas liberais, valeu-lhe a troika e a imposição do seu programa de que ele fez a matriz do seu Governo - e para ir alem da troika, dizia ele ufano do seu papel...Mais liberal que os liberais europeus que nos vieram para cá dar ordens.

A viragem de J.E. Martins é significativa, tudo vale a pena para tentar tirar o PSD da fossa em que caiu e se arrasta, pois uma boa parte dos seus apoiantes e também do CDS foram para o Chega e a IL; e então diz coisas para justificar a sua posição, defendendo o capitalismo como se os social democratas ou socialistas democráticos o não defendessem mas com conta, peso e medida,,,

O capitalismo, significando a posse da  propriedade privada de bens, é uma condição natural da Humanidade, desde quando se constituíram os primeiros grupos sociais humanos; os primeiros homens do Neolítico ocuparam a "sua" caverna" ou a "sua" cabana, rodearam-na de um pedaço de terra vedado por um  bardo ou sebe e ali fizeram as primeiras produções próprias e guardaram os primeiros aninais domesticados, pois como escreveu uma notável historiadora de  arte da primeira metade do século XX, Marie Louise Gotheim, o primeiro jardim antecedeu a agricultura extensiva que veio depois.

A evolução do capitalismo é que foi dando origem a posições de domínio de uns homens sobre os outros, por duas razões essenciais : ou porque se atribuíam a si mesmos a capacidade de falar com os deuses e conhecer as suas vontades ou porque as primeiras produções agrícolas e pecuárias excedentárias propiciaram a acumulação de riqueza. Sacerdotes e grandes proprietários aliaram-se desde os primórdios das civilizações e foram os primeiros estratos elevados das sociedades primitivas, a que se seguiu a produção de utensílios, quer pela olaria quer pela forja.

O capitalismo foi evoluindo para um liberalismo fundiário e só se tornou deveras pernicioso quando entraram as finanças a comandar o jogo capitalista.

O comunismo de criação marxista não é natural, é uma reacção extrema às derivas totalitárias que o liberalismo ia tomando durante  século XIX.

O que existiu naturalmente durante séculos e séculos foi o comunitarismo, que não era imposto, era o movimento natural das pequenas sociedades rurais para se entreajudarem e explorarem em comum bens e serviços. É uma organização livre e natural dos povos.

O socialismo que se  foi formulando desde o início do século XIX  nasceu do iluminismo e das suas  ideias libertárias, quando Rousseau  afirmou que a propriedade privada era a origem das desigualdades entre os homens;  essas ideias, cada vez mais elaboradas pelos primeiros pensadores socialistas, os marxistas rotularam de utópicas, porque ficavam aquém das posições extremas que propunham e que foram  manipuladas por Lenine e os seus teóricos bolcheviques. Daí se terem chamado a si mesmo de socialistas científicos. Ainda hoje estas posições se enfrentam.

Marx e Engels propuseram um sistema de organização para as sociedades industriais da época, como a Inglaterra, a Alemanha e um pouco a França, onde a situação do operariado era degradante, explorado pelos empresários e pelos primeiros capitalistas financeiros que surgiam - mas o interesse dessas ideias nesses países foi reduzido face ao esperado.  Pelo contrário onde a teoria destinada ao proletariado industrial se veio a implantar foi na Rússia, onde a força do operariado era muito pequena e onde prevalecia a situação de milhões de campesinos que eram na verdade medievais servos da gleba. Ao oriente da Europa nunca chegaram as ideias da Revolução Francesa e o czarismo despótico dominava uma sociedade obscurantista, pobre e inculta, apoiando.se numa minoria de grande nobres lavradores que era quem  detinha efectivamente o Poder.

Nem todos saberão que a Imperatriz Catarina a Grande quis modernizar a Rússia e chamou para a sua Corte alguns dos mais famosos iluministas da Revolução Francesa : Rousseau e Diderot viveram em São Petersburgo e as suas bibliotecas  particulares ficaram no palácio de Verão da Imperatriz, mas as tentativas que a Czarina ensaiou de introduzir ideias reformistas na grande Rússia foram sempre travadas pela nobreza fundiária omnipotente. Basta visitar São Petersburgo para se compreender a revolução bolchevique...

Aplicar o marxismo nestas condições sociais  russas implicou a adaptação, a um mundo essencialmente rural atrasado, de práticas que nem Marx nem Engels certamente teriam defendido. Foi o leninismo e depois haveriam de surgir o maoísmo e outros ismos ...

O socialismo democrático foi evoluindo também,  como todas as ideias e, ao contrário dos comunismos que acabaram por ser  rejeitados nos países europeus onde foi implantado - restando em algumas sociedades  terceiro-mundistas e na China ( mas chamar comunismo ao capitalismo chinês é um  eufemismo...) - o socialismo democrático continua a ser uma esperança de governação equilibrada das sociedades mais cultas e democráticas.

É bom recordar que na 2ª metade do século XIX surgiu um documento fundamental para consciencializar as sociedades e que foi  a Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII. Nela se denunciam os excessos do liberalismo e do marxismo e se propõe aquilo que veio a constituir a democracia cristã. Mas se formos analisar o essencial das propostas da democracia cristã e as do socialismo democrático ou social democracia, verificamos que têm quase tudo em comum excepto a origem católica da primeira e a origem agnóstica ou mesmo ateia da segunda. E ainda as derivas ou tendências naturais, digamos assim, da democracia cristã para o conservadorismo naquilo que  este tem de liberalismo não financeiro e da social democracia para o marxismo naquilo que este tem de menos excessivo.

Estas duas ideologias permitiram à Europa, e em certa medida ao Ocidente, as décadas de mais paz e bem estar económico e social que se conhece na contemporaneidade.

Esta longa reflexão partiu, com tantos ismos e istas, veja-se lá,  da mudança de posição de José Eduardo Martins... Ela representa a confusão ideológica á direita, como de resto também existe na esquerda há muito tempo. Rui Rio acredita-se que seja estruturalmente social democrata como foi Sá Carneiro, mas falta-lhe base cultural e carisma para além do contabilista que pôs em dia as contas da Câmara Municipal do Porto - é pouco para Primeiro Ministro. A cidade do Porto deixada por ele era um deserto cultural e sem vida social própria, por isso o País com ele  não iria muito longe. Mas se ainda tivesse social democratas convictos e competentes  a trabalharem com ele, talvez fosse uma alternativa ao socialismo clientelista e de vistas curtas de A. Costa -  mas não é.

A maioria do povo português vota à esquerda por isso mais dramática se tornam o mau exemplo e a falta de perspectivas que A. Costa continua a revelar, contando mais a sua agenda pessoal, o seu fechamento de colaboradores do ciclo restrito e a colocação de clientes em postos chave da Administração Pública, do que  ter uma governação social democrata exemplar e isenta.

Fico por aqui...











terça-feira, 24 de agosto de 2021

 Acreditar na Ciência

É imperativo acreditar na Ciência, pois nunca o ser humano dispôs de tantos conhecimentos sobre todos os problemas da Vida e do Universo - ainda será pouco, mas é já um domínio considerável do Saber.  Mas a Ciência sempre foi arregimentada, e isso foi claro a quando da luta contra a energia nuclear. Os que se batiam contra, apontando os riscos e as falhas,  eram apontados como incompetentes, extremistas ou utópicos, até que alguns cientistas começaram a posicionar-se do "nosso" lado - e eu recordo a manifestação em Ferrel contra a central nuclear, onde teve  forte apoio de investigadores com evidente realce para o Prof. Delgado Domingos. E ficou patente que a Ciência difundida pelo status quo mundial não é isenta, serve quem lhe paga.

Nesta pandemia aqui pela nossa terrinha tem sido gritante a oposição radical de especialistas de todas as especialidades, Já há dias  transcrevi a posição de dois especialistas  da mesma área, a pediatria, saído no Publico, Agora só para reforçar a ideia, eis a opinião  de dois outros especialistas, dadas à luz no Expresso.

À pergunta ; As crianças saudáveis entre os 12 e os 15 anos devem ser vacinadas, uma médica pediatra e professora catedrática, diz  taxativamente : "Sim, a vacinação em tempo útil, a bem da criança, da família e da comunidade, deve ser um imperativo".  Já outro  pediatra e intensivista, afirma " Não, recomenda a prudência que não se avance para uma vacinação em massa de crianças e adolescentes".

E então, quem é que serve bem a Ciência e a serve menos bem ?

Ora a Ciência por trás das soluções para a pandemia é a mesma - como é que conduz a posições diametralmente opostas ? Eu acredito na Ciência, ao contrário de milhões de pessoas; já assisti uma vez pela televisão a umas cenas incríveis nos EUA, com um pavilhão enorme a abarrotar de gente, onde um parvalhão brandia uma Bíblia e perguntava - quem sabe mais, a Ciência ou a Bíblia ? E a multidão respondia  - a Bíblia!!

A propósito da pandemia ouvimos aqui também  bradar que temos de acreditar na Ciência, até o hipocondríaco Marcelo Rebelo de Sousa que fala demais, diz que é preciso ouvir a opinião dos especialistas -. mas depois ouve aqueles que lhe convém e pressiona o Governo e a DGS para que decidam no sentido que os seus  especialistas defendem... Tal está a moenga, hem?

A tragédia do clima e da Vida na Terra

Há milénios  que isto não acontecia : choveu no ponto mais alto da Gronelândia, a 3216 m de altitude, e tal como há dias na Antártida também aqui se registaram temperaturas de 18 ºC. " O que está a acontecer não +e simplesmente uma ou duas décadas quentes num padrão climático errante. Isto não tem precedentes. Estamos a passar limiares que não eram observáveis há milhares de anos...". afirmou um cientista. Como por brincadeira escrevi há algum tempo, o céu vai mesmo cair sobre as nossas cabeças.

Escreveu-me o Prof. Jorge Paiva que há mais de trinta anos que existe quem fala sobre estes problemas, que alerta para os perigos  da super-industrialização com o seu aquecimento da atmosfera contra a exaustão de recursos naturais,  contra a perda de Biodiversidade, etc  - nunca ninguém quis ouvir.

E os Governos, como o nosso, continuam a    propalar frases feitas, ideias de milhões e milhões a atirar para resolver os problemas -. mas continua na prática a fazer-se o que sempre se fez, mesmo sabendo do agravamento da situação.  Já cansa voltar a falar do mesmo







quinta-feira, 19 de agosto de 2021

 Afeganistão

Está na ordem do dia e vai ficar por muito tempo. Dos 20 anos de permanência dos EUA e da NATO naquele país ficaram algumas coisas : 

- ficou excelente armamento e meios aéreos para os taliban...

- e para os que, como o BE, condenam a invasão  porque são por ideologia contra aqueles  dois protagonistas, que não se esqueçam de que : ficaram 20 anos em que  alguns afegãos, em especial as mulheres e as raparigas, puderam conhecer o que era a liberdade e puderam estudar, trabalhar, desenvolver as suas capacidades intelectuais ; a invasão permitiu aniquilar a Al Qaeda e reduzir a capacidade do ISIS, liquidando Bin Laden, Príncipe saudita que se espera o BE não adorava só por ser anti americano; ficou no Afeganistão a semente da liberdade no coração e na alma de milhares de jovens de ambos os sexos que poderão um dia almejar um regime diferente daquele a que vão agora ficar sujeitos. As sementes germinam nas boas terras.

E a esperança não morre, porque continua a existir a Aliança do Norte que nunca deixou de combater os taliban mesmo quando estes estiveram no Governo e já prometeram que vão continuar a combatê-los - quer dizer os taliban não terão o controle de todo o país, certamente da maior parte mas não todo.

Coisa estranha ( ou talvez não) é que os Governos muçulmanos não tem dito nada -pelo menos a comunicação social portuguesa e algumas estações  como a CNN ou a Sky News que tenho pesquizado. Não lhes diz respeito? Já algum desses países deu um passo para receber refugiados? Será que os Waby, que são a Arábia Saudita, são simpatizantes ( ou mais do que isso) dos taliban?... E se isto é assim, o que farão os americanos com estes seus amigos sauditas ?

O eterno perdedor ou o avozinho irrequieto

Santana Lopes  é um  perdedor, que as vezes ganha qualquer coisa, claro, mas qua anda década atrás de década a correr atrás dos prejuízos; ainda tem de vez em quando o desplante de falar cheio de mágoa de o Jorge Sampaio lhe ter estragado o seu papel  primordial de Primeiro Ministro, que chegou mesmo a ser com aquele procedimento patético de que muitos se lembram certamente.

Ele diz que não,  mas o meu Amigo Duarte Silva que lhe sucedeu na Câmara Municipal da Figueira da Foz ( e que era uma pessoa de comportamento irrepreensível )  bem me disse como estava aflito com a dívida que o avozinho  irrequieto  lá deixou.






domingo, 15 de agosto de 2021

Incongruências do nosso tempo 

Saltam-nos constantemente à nossa frente as incongruências do nosso tempo, na nossa terra e no mundo.

Cá por casa, desde  que há a pandemia,  tem sido assim : há dias um pediatra, certamente ilustre, escrevia que era  um dia de tristeza quando a DGS aceitou vacinar as crianças a partir dos 12 anos. Ontem no mesmo jornal outro pediatra, também certamente ilustre,  dizia que a vacina é eficaz, segura e  necessária neste grupo etário. Excelente, não é ? Uns são do Sporting, outros do Benfica, e ainda há os do Porto...

Desde Março de 2020 que tem sido assim : uma data de especialistas de todas as especialidades dizem  uns uma coisa e outros o seu contrário, incluindo o Bastonário da Ordem dos Médicos  que faz caixinha apenas com o Sindicato dos que são da sua cor política, quando era suposto a Ordem dizer respeito a todos os médicos... Se esses que contrariam as decisões que são tomadas tivessem os seus pontos de vista reconhecidos seriam todos os outros a estar contra.

Conclusão : faz muito bem a Drª Graça Freitas ao tomar as suas decisões esperando cautelosamente pelos dados europeus e da OMS, só não devia -cá está a minha opinião -  era ter cedido ás pressões do Presidente da República, porque sendo este um hipocondríaco assumido é normal que assuma posições desse calibre e além disso, como fala demais em assuntos sobre os quais devia guardar silêncio, é esperado que se meta  a dar palpites; e com a sua posição de Presidente- Comentador quer influenciar publicamente  o Executivo. Se estão à espera que Marcelo  neste seu último mandato vá ser  o mesmo "apaziguador" que quis ser no primeiro mandato, tirem o cavalinho da chuva... Ele tem a sua agenda da direita, que manteve em stand by, mas que vai activar  agora. Veremos se me engano...

Lá por fora, é preocupante o que se passa no Afeganistão, e a primeira pergunta que se faz é o que fizeram  os EUA e a NATO, durante 20 anos a treinar as forças armadas oficiais e a combater os grupos radicais. Em poucas semanas os bandos de islamitas recuperam todo o país,  e com eles regressa o reino do terror.

A maior incongruência da Humanidade, neste século XXI, é que, a par do maior avanço da tecnologia, da arte e da ciência, surgem  forças tão poderosas que representam os valores da Alta Idade Média e conseguem  impor esses valores com violência.

Como é possível que haja populações inteiras que abracem os usos e as atitudes  que violam séculos de evolução dos valores do ser humano ?  E não é só porque se trata de países afastados dos valores ocidentais ou porque o Islão é mesmo assim - mesmo sendo uma religião parada no tempo; eu já tenho referido os tuaregues que, sendo um povo nómada,  duma das regiões mais pobres do mundo, sendo muçulmanos, apesar de tudo  tem uma invejável noção da liberdade. E, por exemplo,  no que respeita ao tratamento dado às mulheres não têm qualquer semelhança. Além de considerarem que   descendem duma mulher guerreira - e mostram com orgulho o que dizem ser as ruínas do seu túmulo, na região da Tamarasset-  há pelo menos uma comunidade  na ilha de Arguim, em que a chefe é por tradição uma mulher.

O Oriente, com evidência para a China e o Japão, tem contribuído ao longo dos séculos para o avanço do conhecimento e das artes; o Islão árabe teve uma época que correspondeu ao Al Andaluz  em que foi relevante nesses domínios, porque se abriu ao mundo e à evolução do espírito humano e recuperaram  muita da tradição greco-romana, e o Islão persa foi grande também quando coexistiu com a sua antecedência zoroastriana - o que lhe valeu, apesar do fechamento a que foi sujeito nos tempos modernos pelos radicais xiitas, manter um importante papel na tecnologia e na ciência.

Agora, estes  bandos de radicais afegãos e árabes, que destruíram os velhos budas,    que arrasaram ruínas romanas como em Palmira, que dão eles para os avanços dos seus povos? Será que a sua raiva enraíza na constatação de que se servem da mais moderna tecnologia  e de suporte científico, quer de armamento quer de telecomunicações, e não são capazes de contribuir com nada para esse  meios ?  

Esperam-se tempos de grande terror  no mundo inteiro, tanto mais que países oportunistas como a Rússia e a China já se entenderam com os talibans para garantir a sua segurança.

Regimes da direita cada vez mais radical aproveitam-se das fragilidades das democracias e com a sua linguagem populista conquistam  governos e populações, um pouco por todo o mundo. Chamar de esquerda a China ou a Rússia só  por piada... E alguns de esquerda marxista fora de tempo lutam pela existência, como a Venezuela ou Cuba.

De novo por cá eu culpo as asneiras, o clientelismo descarado  e a falta de perspectivas deste segundo Governo de António Costa pelas derivas para a direita e extrema direita de muita gente; tenho falado com pessoas dos extratos digamos mais baixos da população mas também de classes mais elevadas e as suas ideias aproximam-se  cada vez mais dos "chegas", da comunicação social mais direitista  -  e nem pensam no que isso lhes podem vir a trazer no futuro. O Ministério Público  investiga grupos extremistas portugueses  e fala-se de milhares de militantes...  Com a aleivosia proclamada da "ditadura da cultura marxista" como se  estivéssemos a viver um regime desses, certos "historiadores"  prosseguem a sua campanha de desinformação selectiva.

Democracia é um regime caro, frágil  e exigente em cultura e formação individual e colectiva - e os Partidos que não colaborem para assegurar  a sua salvaguarda, à esquerda e à direita, estão a cavar uma sepultura para o regime.







quinta-feira, 12 de agosto de 2021

 A nossa condição mediterrânica

O chefe da aldeia do Asterix costumava dizer que aquilo que mais temia era que o céu lhe caísse em cima da cabeça: ora o céu está mesmo a cair em cima das nossas cabeças, cada vez mais perto de nós, em várias latitudes e em especial na região do grande Mare Nostrum.
Esquecemo-nos em Portugal, com frequência, que  estamos na latitude mediterrânica e em especial no Algarve, onde se espelham todas as características desta sub-região euro-africana; como disse o Prof. Manuel Gomes Guerreiro, o Algarve é uma região mediterrânica banhada pelo Atlântico.
Uma séria insensatez  acompanhada de clientelismo político-partidário particularmente eficaz nas asneiras, faz por esquecer as limitações dos factores fundamentais para a sobrevivência de um povo : o solo e a água.
O Ministério da Agricultura, ( que sempre foi também das Florestas excepto nos esclarecidos últimos Governos que o PS teve o desplante de nos oferecer) tendo  desde há uns anos a esta parte desinvestido na investigação e na experimentação agro-florestal - os ilustres colegas agrónomos e silvicultores que foram postos na prateleira que o confirmem, se estiverem para isso) - a adaptação do nosso sector primário a alterações climáticas caiu no esquecimento. Culturas de ciclo curto e pouco exigentes em água  isso deve ser lá para os "mouros", nós estamos na Europa, é outra coisa! E embora nas palavras de alguns governantes já tenha entrado o palavreado das alterações climáticas, que se resolvem atirando com milhões para cima dos "casos" e, depois de aprenderem - por tanta vez se falar delas -  que há espécies autóctones, passou agora a ser a panaceia anunciada com pompa - finalmente as autóctones!!, mesmo que Monchique continue a ser coberto de eucaliptos (apesar de pequenas iniciativas que procuram contrariar essa situação).
E como culturas pouco exigentes em água são as  mais adequadas, aí está a expansão, fomentada pelo Ministérío da Agricultura, dos ...abacateiros para o demonstrar.
O mapa abaixo saiu no "Publico" num artigo de Patrícia Carvalho, com fonte do IPPC. Querem ver que se enganaram nas cores ?

domingo, 8 de agosto de 2021

 Sociedade de imbecis e incompetentes

Da troca de desabafos que frequentemente trocamos os dois, transcrevo parte da mensagem que hoje o Jorge Paiva me enviou :

"Meu Caro 

.......................................

Estou numa fase de revolta. Agora praticamente toda a gente começa a acreditar nos efeitos desastrosos das alterações climáticas. Então. é ver quase diariamente, na Comunicação Social, os sabujos do Ambiente a exporem as suas sabedorias sobre o problema.  Agora nós ( tu, eu e outros) não precisamos de declarar nada, nem de fazer nada, pois há mais de tres décadas que lutámos e demonstrámos o que está  a acontecer e o que aí vem. Ninguém nos ligou. Agora não é preciso demonstrar nada. Já começaram as consequências que nós apontámos durante anos. O pior está para vir, pois isto já está imparável. Claro, uma besta de um americano, afirma ( li hoje num jornal) que "temos que nos habituar a viver e a trabalhar todo o dia em casa, com ar condicionado". Claro que esta besta só pensa nele e julga que os outros só servem para trabalhar para ele ter condições de vida, Desculpa, mas vivemos numa sociedade plena de pessoas imbecis e incompetentes."

Compreende-se a frustração, modestamente eu que sou apenas um simples estudioso mas compenetrado da responsabilidade das nossas sociedades, mas muito para além de mim, para além dos simples activistas e pensadores sobre as condições de vida e de sustentabilidade dos territórios, centenas de cientistas e investigadores portugueses e de todas as nacionalidades e instituições  respeitáveis há décadas que avisam para o caminho de difícil retorno que o mundo tem vindo a seguir, 

E o que resulta daqui? Acordos internacionais que todos os governos assinam, desde Kyoto a Paris, mas sem que haja depois  tomadas de posição sérias e eficazes que ninguém quer assumir. Já nem é necessário referir uns alarves como Trump  ou o Bolsonaro e outros títeres do mesmo calibre, pois as grandes empresas e grupos financeiros controlam os Governos ditos democráticos. Até em Portugal, á nossa pequena escala, sabendo que seremos um dos territórios  das latitudes mediterrânicas mais afectados pelos fenómenos extremos ligados às mudanças climáticas as quais, tendo sido provocados pelos seres humanos, acabaram por ser absorvidas pela dinâmica natural de aquecimento do planeta - até pois à nossa escala, para lá das palavras de retórica e das grandes medidas anunciadas e de que nada ainda resultou, por um Governo que se diz de esquerda democrática mas se esqueceu dessa condição, continuamos  a contrariar as condições de sustentabilidade que podiam assegurar um nosso futuro menos problemático.

Eu mesmo já abordei inúmeras vezes alguns dos nossos problemas, incluindo a ausência de experimentação agrícola que garanta culturas adaptadas ao futuro que aí vem, a busca de produção de água por dessalinização e uma política florestal nacional independente da indústria da celulose que assegure a cobertura florestal adequada ao nosso país; e pelo menos nos últimos dois meses em  "Florestas e matas", "A água é um recurso publico", " De mal a pior", "Monchique está a arder, quem diria?, etc,

E sei, tal  como o Jorge Paiva,  que quem nos lê são as pessoas que já concordam connosco, os outros querem  lá saber! A frustração é enorme e estou em crer que só quando as pessoas sentirem mesmo na pele o terrível futuro que chegará e vier afligir os filhos e os netos - podem chamar-me cassandra... - e  então se revoltem massivamente é que haverá um  Governo capaz de se reformar e de reformar toda a orgânica e toda a filosofia de gestão do território. E pela Europa fora, e pelo Mundo fora...






sexta-feira, 6 de agosto de 2021

 Ao correr da pena

Perda de credibilidade da esquerda democrática

Cada vez há mais gente que sempre foi da esquerda democrática a ficar farta deste clima de constante suspeição, de compadrio, de escolhas clientelares para lugares de chefia,  contra este fechamento do PS e do seu Governo sobre si mesmos, em clara fase de desagregação da sua  credibilidade e em crescendo de hipocrisia.

O que ainda refreia muitas fugas é que, quando se olha para a direita. a crise ainda  é maior e pior - a confusão de potenciais líderes atacando-se uns aos outros, o "susto" que provoca a linguagem de ódio e as propostas vergonhosas da extrema direita, as declarações dúbias de Rui Rio e de outros  pesos mais ou menos pesados quanto a eventuais ligações com o (des)Ventura.- tudo isso refreia os actos de rebeldia de gente da esquerda democrática para outras paragens...

O Governo, que colecciona  o maior numero de sempre de Ministros incompetentes, que não se cansam de dar tiros nos pés e de tomarem posições de que depois tem que recuar, continua em regime de propaganda, agora com os milhões e milhões que vem da Europa - para nossa vergonha oxalá que alguém da UE fiscalize a sério o uso desses milhões !

António Costa já revelou que tem capacidade para tudo, mesmo para ignorar as boas políticas e arranjar depois uma explicação para o povão ouvir e  acreditar. A hipocrisia domina  hoje em dia e o que mais me preocupa é o que isso vai trazer de descrédito a uma esquerda democrática, que se tornou clientelista até à náusea.

Encaixa nessa hipocrisia a posição, que eu não  esquecerei, do PM face ao que devia ter sido o luto com o falecimento de Otelo Saraiva de Carvalho, em que esteve ao mesmo nível do Marcelo ( mas deste já não se esperava outra coisa) -  valeu a frontalidade, mais uma vez, de General Ramalho Eanes,  que infelizmente é caso quase único em termos de postura digna face ao valores da Liberdade e da Democracia. Como não esquecerei, porque acreditei nas virtudes  democráticas que o 25 de Abril anunciava, o esquecimento  voluntário a que foram votados, antes de Otelo, o Melo Antunes e o Salgueiro Maia, porque nunca agradaram ao PCP, não agradaram à extrema esquerda e fizeram ciúmes e concorrência em termos de postura digna à esquerda e à direita democráticas .

O Museu do Traje de Sâo Brás de Alportel

Há risco de ficar comprometido o futuro deste magnífico Museu,  um notável depositário de património algarvio, obra sobretudo do seu Director Emanuel Sancho, uma das personalidade da Cultura que mais me merece consideração. Trabalho discreto mas eficaz, metodicamente, ao longo dos anos, ele deu alma a esta instituição cultural que não só São Brás mas todo o Algarve se deveria orgulhar. O trabalho e o impulso que ele também tem dado ao Movimento da Nova Museologia  fazem de Emanuel Sancho um cidadão que merece todo o auxílio para que o seu trabalho prossiga. Haja as razões que houver para se pôr em risco a instituição, não pode faltar a convergência de esforços para a salvar   de todos quantos querem preservar o património cultural do Algarve.


A justiça portuguesa


A justiça continua a ser um  dos pontos fracos da nossa democracia e é assim desde o 25 de Abril, quando os juízes do antigo regime ou foram reformados ou "integrados" no novo regime. Ora como é que juízes que actuavam dentro da visão do velho Estado Novo podem de um dia para o outro passar a pensar e a julgar segundo a mentalidade democrática com tudo o que isso implica de psicológico e de aceitação de ideias novas?  Pouco depois, veio aquela vergonha do julgamento do assassinato de Humberto Delgado e qualquer democrata se indignaria com aquele espectáculo em que todos atiravam as culpas para o superior  que lhe dava ordens - no fim só ficaria um culpado, o Salazar...  Depois deixaram fugir os pides da cadeia, foi um fartar vilanagem para lhes dar emprego - alguém, algum "historiador" alguma vez  se atreveu a investigar o percurso dos pides depois da fuga, que se "integraram" na sociedade...

Depois não faltam casos de aproveitamento clientelar dos lugares mais  importantes da Justiça, e o PS porque esta há mais tempo seguido no Poder não tem deixado escapar as oportunidades...