quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Viver a Vida, Lidar com a Morte

    Este é título de um livrito que escrevi e editei em 2014.
   Há dias li uma excelente entrevista no Publico a uma médica brasileira, Ana Cláudia Arantes, que veio a Portugal apresentar um livro " A morte é um Dia que vale a pena Viver", de que fala na entrevista. 
   Muito do que está nas respostas à entrevista encaixa perfeitamente naquilo que penso e defendo e está expresso no livrito citado acima.
   Depois da vida vem a morte, diria o senhor de La Palice, e é a verdade pura. Se me preocupo com as condições de vida e exijo da sociedade  o direito  a ter condições de dignidade e respeito, também me bato pelo direito à dignidade na morte.
    A dignidade é uma categoria racional do ser humano; levou séculos de luta dos homens, sobretudo dos ocidentais,   para a obtenção do estatuto de dignidade individual, integrada sempre num conceito abrangente do bem estar colectivo.
    Ora se devemos viver com dignidade também devemos poder morrer igualmente com dignidade - cada um é dono do seu corpo e da sua vida e, em plena consciência, pode decidir sobre si próprio.
  Claro  que esta atitude  levada ao extremo conduz ao reconhecimento do suicídio, mas entendo que não devemos chegar aí, embora respeitando a decisão dos que escolhem pôr termo à vida. Quem somos nós para julgar uma decisão tão irreversível e trágica!!
    Mas em casos de doença penosa, se fosse legal ter uma morte assistida, com conforto e dignidade, talvez muitos desses casos não ocorressem.
    Do grego vem a palavra que designa boa morte - eutanásia - que ao contrário do  suicídio, é umas morte assistida quando as condições de  vida estão num extremo sem retorno viável e o sofrimento é o pão nosso de todos os dias.
     O direito à morte com dignidade é um direito tão importante como o direito à vida.
   Numa sociedade imperfeita como é a nossa correm-se sempre riscos  de poderem ser cometidos excessos ao abrigo de uma legislação bem intencionada que venha a ser promovida, e a banalização da morte constitui um perigo a ser evitado, ponderando meticulosamente as decisões a serem tomadas.
   Os cuidados paliativos podem possibilitar até certa altura a melhoria da qualidade de vida do doente terminal, mas chega um momento em que isso já não basta, por mais que os médicos digam o contrário.  Há sempre o caminho da sedação, mas isso é apenas mascarar a vida. A Vontade do homem, em plena consciência, sobre a sua morte deve ser respeitada, como escreveu com graça o grande poeta Mário de Sá Carneiro :
Quando eu morrer, batam em latas.
Rompam aos saltos e aos pinotes
Façam estalar no ar chicotes, 
Chamem palhaços e acrobatas.

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado  à andaluza;
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro...











riscos

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

A espuma dos dias
1- Inevitável falar da greve dos enfermeiros  - Toda a gente tem evitado falar dum aspecto politicamente incorrecto que envolve a greve sem fim dos enfermeiros, mesmo os sindicatos e partidos de esquerda pouco tocam no assunto, creio que por pudor.  A greve é um  direito dos trabalhadores para se defenderem dos patrões e portanto é uma luta, em que a única arma dos grevistas é o prejuízo provocado nas actividades patronais. Mas ao que eles contrapõem o prejuízo de perderem os seus salários nos dias em que faltam,  Isto é uma questão de dignidade dos trabalhadores, embora por vezes alguns sindicatos consigam gerir uns Fundos de Greve para colmatar certas situações mais graves de grevistas em risco  seu ou familiar. Está na lei da greve e nós regulamos-nos por leis.
    Daqui decorre que por norma os sindicatos são de esquerda, pois a grande maioria dos patrões, empresários e decisores económicos em capitalismo, organizam-se em partidos de direita para defenderem e pugnarem pelo que consideram os seus legí
timos  interesses. Tudo correcto,  é a democracia,  a que os marxistas  ridicularizam chamando de burguesa, mas  é o melhor regime entre todos os outros que são piores , muito piores!!
    Ora nesta democracia  aceita-se que existem sindicatos de direita,  embora seja estranho, mas têm tanta legitimidade como os de esquerda excepto - ah! sim, excepto  se não se tornarem corporativistas pois o corporativismo que mete no mesmo saco patrões e empregados já vimos o que foi durante quase 50 anos.  Democracia orgânica  de Salazar, não muito obrigado, ela  é  para os tempos de hoje  tão nociva  para a nossa  DEMOCRACIA tout court  como seria a democracia popular do leninismo..
     O mais sério e grave que o movimento das greves cirúrgicas dos enfermeiros, ( beneficiando claramente os hospitais privados,)  têm revelado,  para lá de todas as complicações e recusas de serviços mínimos que possam ou não ter havido, é a subversão da lei e  do espírito da greve.  Se os grevistas continuarem a receber os seus salários como se trabalhassem, e essa ajuda não vier dos próprios sindicatos mas de campanhas publicas mais ou menos anónimas de obtenção de fundos, é uma fraude,  a greve pode durar sempre.         Sendo as condições que os enfermeiros reclamam justas, e isso não se discute,  embora devam ser pesadas com as de outros profissionais -   e sendo o sector privado que lhe  paga pior e os desprestigia mais que o sector publico, porque é que só fazem greve contra o patrão Estado e não fazem  contra quem os trata pior ? Isto dá alguma credibilidade ao movimento grevista ? Estar a favorecer o sector privado e a prejudicar o sector publico não faz parte do ADN dos trabalhadores - Porque será então ?

2 - Pobreza energética -Portugal quase indigente - Segundo revela a ZERO Portugal está entre os países da Europa quase na cauda dos que sofrem de pobreza energética. Não ter dinheiro para aquecer a casa no inverno e arrefecer no Verão, E no entanto podíamos desfrutar de energias alternativas quase ao alcance de cada casa e ter a comodidade  de podermos  ter uma boa comodidade comparativamente elevada e que não nos envergonhe.





terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Ouve-se cada uma !! 
Santana Lopes tem a comunicação social com ele, como raramente  se assiste. Andam com ele ao colo, qual terá sido o Partido recente que na sua formação tenha tido tanta publicidade?!
E no entanto P Santana Lopes continua o mesmo play boy, simpático, aquele tipo com quem se tem uma conversa e se bebe um copo.  Mas como político é aquele desastre que se conhece. O que ele quer é uma tribuna só para si; a birra com o PSD foi de não o terem escolhido e não teve pejo nenhum em bater com a porta e fazer o seu próprio partido, à sua medida. Só que, se não aparecerem algumas personalidades com valor no Aliança e este for apenas à imagem e semelhança do seu criador, não vai longe - mas até pode ser que me engane, tal é a confusão ideológica que reina no pessoal. Agora não deixou de ser confrangedor  ouvi-lo dizer que se Jorge Sampaio não tivesse tomado aquela atitude para com ele, o Pais hoje era outra coisa ! Lá isso deveria ser...  Tiraram-lhe o lugar de Primeiro Ministro, logo a ele, e ele pensa que as pessoas já se esqueceram daquela infantilidade que ele alardeou fartamente nesse "glorioso" Governo que chefiou. Ouve-se cada uma !!

A dívida e o  déficite em Portugal
Não percebo grande coisa de economia e finanças, mas não serei totalmente destituído.  Sempre me fez confusão, e opinei nesse sentido, que fossemos obrigados a manter a dívida nos 60% do PIB e termos o déficite abaixo dos 3%. Mas porquê estes limites? Parece que eram os que a Alemanha tinha na altura da adesão à CEE e impôs esses parâmetros a todos os países. Podemos concordar que os mais de 120% actuais da dívida portuguesa é muito, mas se houver um Governo menos respeitador das regras alemãs e em vez de investir milhões para baixar a dívida investir esses milhões em investimentos produtivos isso é o mais importante.
Ora há dias veio um reputado  economista, Paul de Grauwe, que até é  vice-presidente do  nosso Conselho de Finanças Públicas ( até que enfim que fomos buscar lá fora alguém para ajudar os nossos experts a porem as contas em ordem ) e que disse isto mesmo. Esta fixação de Mário Centeno, e por arrastamento de A. Costa, em ir até ao deficite  zero,  faz lembrar o Salazar que deixou as contas em ordem mas o país na miséria económica e social; umas décimas do deficite eram milhões que dariam para repor o SNSaúde, as escolas, as estradas, os caminhos de ferro, etc, em funcionamento normal. 

A Catalunha
Estão em julgamento alguns dos independentistas catalães presos há meses e meses. Não acredito em qualquer complacência espanhola, o carácter imperialista e dominador dos castelhanos não perdoa. Era só eles poderem e Portugal voltava a ser uma região  ibérica...  Não me canso de repetir, a Espanha como país é uma criação e imposição dos castelhanos. A Península Ibérica, a Hispania dos romanos, era habitada por vários povos,  numerosas tribos que a pouco e pouco se foram fundindo e chegaram ao período histórico  num quadro  bem definido : astures, bascos, leoneses, catalães, lusitanos, galegos, andaluzes - e castelhanos. estes ocupavam o centro da Meseta, mais pobre, sem saída para o mar.  Os povos nestas condições ou desaparecem absorvidos por outros ou então tornam-se guerreiros e conquistadores  na procura do seu espaço vital.    E foi este o caminho dos castelhanos : por conquistas e por casamentos entre casas reais, conseguiram a pouco e pouco reunir tudo  (quase tudo...) sob o seu domínio. Com os Reis Católicos, Fernando e Isabel, Castela tomou posse de toda a Península, com excepção de Portugal que escapou por pouco... e escapou em 1640 graças ao sacrifício dos catalães com quem se aliaram para se revoltarem aos mesmo tempo. Nós conseguimos a liberdade e a independência, com uma guerra de mais de 20 anos, a Catalunha sucumbiu mas não desistiu. Foi republica em 1940, mas com a vitória de Franco foi aniquilada, e agora voltou. E vai voltar por mais que os castelhanos o tentem impedir. A Espanha só é um país uno pela força,  pois pela alma ela é de povos  espezinhados pelos castelhanos, E o mundo aceita!!








quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

A espuma dos dias
1-Racismo - Volta e meia surgem fenómenos de racismo na sociedade portuguesa, e ficamos todos muito indignados. As recentes agitações em Lisboa e nas terras em volta  levantam sempre a mesma questão : é racismo ? A polícia, que é branca, actuando nos bairros de maioria negra para pôr cobro a distúrbios, está a portar-se assim  por racismo?
Não  nego que haja racismo, sempre ao longo dos séculos mesmo entre a intensa convivência entre brancos ( em geral dominantes) e outras raças ( em geral dominados)  a par dessa convivência e da miscigenação  coexistiu o racismo; também existe racismo entre os negros, entre as suas etnias, e o mesmo noutras sociedades como a indiana.,
Agora o que fomenta o racismo nos bairros periféricos das grandes cidades é o seu teor de ghetos, de baixa condição social, é  a desigualdade social e a consciência sobretudo da juventude negra que não vê futuro para si.  Sejam negros, asiáticos ou brancos  quem vive na miséria ao lado da ostentação é racista certamente.
2 - A Venezuela e o Governo PortuguêsA situação na Venezuela é gravíssima, e um regime que começou por ser com Chavez  uma experiência de socialismo exacerbado mas apesar de tudo contido entre limites que podiam permitir , com maior desafogo económico previsível, um regresso a  um processo mais democrático, tornou-se com este sargentão analfabeto do  Maduro numa ditadura abominável. Não vale a pena atribuir o desastre económico apenas ao boicote dos EUA, porque a grande causa  é a "monocultura" do petróleo. O regime não conseguiu por incompetência desenvolver a economia e diversificá-la. O mundo não afecto aos americanos esteve e está pronto a negociar com os venezuelanos se eles tiverem alguma coisa para troca.
Atingido o caos total,  a ditadura só tem um caminho - endurecer ainda mais e lá estão a China e a Rússia, e agora também a Turquia, sempre tão amigos das ditaduras, a aguentar o tempo que puderem pois são esses países que estão a "chupar" o petróleo a baixo preço. 
Errada, gravemente lesiva dos portugueses que ainda vivem na Venezuela, é a posição do Governo português ao apoiar de imediato a auto nomeação do Presidente da Assembleia Nacional como Presidente interino. Não houve unanimidade dos países membros da UE nesse apoio,  e nenhum deles, excepto talvez a Espanha, tem tanto a temer a sorte de compatriotas como  Portugal. Não havia necessidade de  dar este passo apressado e oxalá não venhamos a ter sérias consequências por este gesto  diplomático descabido por ser  fora de tempo,

3 - A greve dos enfermeiros - Todas as greves são políticas, pois os sindicatos têm por trás os Partidos, em geral os da esquerda. Não é novidade nenhuma dizer que o PCP controla a maioria dos sindicatos e das greves que eles promovem. Por isso não é por a greve interminável dos enfermeiros ter por  de trás o PSD ou gente da direita que é menos legal. O que é  estranho e condenável é que se esteja a conspurcar o significado da greve, que é o direito dos trabalhadores em lutarem pelos seus direitos e que o fazem com sacrifício das suas vidas. Quando trabalham não ganham, a não ser  quando os sindicatos, poucos que o fazem, têm um Fundo de Greve perfeitamente legal que atenua aos grevistas alguma perda  dos salários. Ora nesta greve os enfermeiros já conseguiram através de uma plataforma da internet de recolha de fundos  juntar de uma vez mais de 200 mil euros e de outra mais de 400 mil - quer dizer podem fazer greve indefinidamente porque não perdem um chavo - mas a maior parte dos donativos é de anónimo. E aqui é que está a raiz da indignidade desta greve. Podem negar mas a não ser que provem quem é que dá o dinheiro, pode admitir-se que seja o sector privado da saúde que os esteja a financiar. porque a greve cirúrgica ás cirurgias de alguns hospitais públicos está a beneficiar as cirurgias que têm de ser feitas nos hospitais privados.
Se as reivindicações dos enfermeiros são justas, e é claro que podem ser justas mesmo que exageradas, porque é que a greve não é estendida também aos enfermeiros dos privados ? Talvez porque seriam despedidos logo em seguida...Porque não fazem uma greve geral? Se os privados lhes concedessem as reivindicações que os enfermeiros exigem,  o sector publico não teria outro  remédio senão fazer o mesmo, ou não? Deve ser formalmente vedado a uma greve ser apoiada por fundos anónimos, quem quer apoiar a greve que dê a cara. Esta é a verdadeira razão da indignidade desta greve e abre um precedente asqueroso para o mundo do trabalho. Não é por ser greve da direita ou da esquerda que a greve é legal ou não - é sim pela forma como é conduzida e pela arbitrariedade com que os enfermeiros estão a jogar com a vida de pessoas que dependem deles. Não é a mesma coisa ter uma greve de estivadores ou de maquinistas dos caminhos de ferro ou do metro, ou uma greve nos hospitais e ainda por cima cirúrgica e arbitrariamente decidida como, quando e aonde. Haja um mínimo de dignidade própria de quem é trabalhador, não se aviltem as condições de trabalho desta forma.











sábado, 2 de fevereiro de 2019

 Inácia Nunes


Esta é a Tia Inácia, que foi minha vizinha durante muitos anos, e que me ensinou muitas coisas da vida do campo neste barrocal. Grande contadora de histórias, critica mordaz dos costumes das pessoas das redondezas, era uma "mulher de armas" e já perto dos oitenta anos ainda trepava às alfarrobeiras para varejar porque se varejasse de baixo para cima dizia ela que almareava... E este deve ser o único retrato  dela, que até fui eu que pintou.
Meteorologia, crendice e ciência popular
Hoje, dia 2 de Fevereiro, é o dia da Srª das Candeias ou de Stª Maria, como se diz pelo menos nesta zona do barrocal onde vivo há mais de 30 anos.
Ora diz-se por aqui : Srª Maria a sorrir está o Inverno para vir,  Stª Maria a chorar está o Inverno a acabar.
Posso garantir que desde que aqui vivo sigo esta sentença popular e creio que nunca falhou. Eu costumava  semear favas e gosto delas no tarde, quando  começam a faltar no mercado,  e a minha vizinha Tia Inácia, dizia-me sempre : espera-se pela Stª Maria.
Se estivesse a chover, não valia a pena lavrar a terra, abrir os sulcos e semear as favas, porque depois quando a chuva fosse necessária ela ia faltar. Pelo contrário se estivesse um dia de sol fazia-se a operação pois as favas iriam nascer e ter água da chuva para as fazer crescer. E posso garantir que nunca falhou.
Hoje dia 2 de Fevereiro de 2019 está um dia de sol radioso, com muito vento e frio, é certo, mas sol. Vamos a ver como se comporta  o tempo nos meses que aí vêm.
Pode ser crendice, já uma vez falei do assunto a um meteorologista que afirmou não haver qualquer base científica  nesse ditado.
Eu gosto muito de meteorologia, sempre estudei e até fiz um figurão na Universidade no meu exame da matéria; mas também acredito que nem tudo se sabe ainda e até por não haver certamente estudos que investiguem esta afirmação popular, A ciência popular, muitas vezes sem dúvida apoiada em "crendices", tem por base a experiência multisecular de observação e registo de factos.