terça-feira, 30 de julho de 2019

Sindicatos e sindicalismo
Os sindicatos são tradicionalmente os instrumentos de que dispõem os trabalhadores para defenderem os seus interesses e os seus direitos. Ao longo de muitas décadas todos os regimes de ditadura silenciaram os sindicatos : o fascismo, como o do Estado Novo, com a peregrina ideia de conciliar nas corporações os patrões e os trabalhadores, limitou a liberdade sindical apenas aos sindicatos que eram determinados pelo regime; o comunismo com a ideia de que se tratava de regimes "populares" aboliram a liberdade sindical e tal como à direita, também à esquerda só havia uma qualidade de sindicatos. Quanto mais democrático for o regime - a Historia revela-nos - mais liberdade têm os sindicatos e com eles a defesa dos sindicalistas. Os trabalhadores sindicalizados devem ser profissionais do sindicato em que se filiam e possuírem qualquer tipo de carteira profissional; não estou a ver um arquitecto ou  um engenheiro civil  serem  associados dum sindicato de pedreiros da construção civil.
Vem isto a propósito do Sindicato dos Motoristas de Matérias Perigosas. Eu não conheço a lei sindical, mas a que propósito é que um advogado é  Vice-Presidente do Sindicato? Se ele é, será porque a lei o permite, mas acho profundamente errado se ele nunca sequer meteu a mão num volante de camião de matérias perigosas.
Se isso for assim, eu penso que os próprios trabalhadores deviam serem eles  a exigir a revisão da lei ; é um atestado de menoridade que os sindicalistas  passam a si mesmos ao necessitarem de meter nos seus corpos dirigentes um mercenário; que os sindicatos recorram a advogados externos para os apoiarem é legítimo e está certo, agora aceitarem como associado um licenciado em direito, parece-me indigno da virtude sindical.
Até há poucos anos a direita acusava os sindicatos de serem politicamente comandados pelo PCP, e por exemplo Mário Nogueira é um exemplo de profissionalismo sindical ao sabor das exigências do PCP; mas de há tempos para cá surgiram outros sindicatos  como o dos enfermeiros e o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) dirigidos por profissionais  que não escondem as suas preferências pelo PSD - e a direita não os acusa de fazerem política partidária. 
Uma coisa me parece necessária para dignificar o sindicalismo e os trabalhadores sindicalizados : a lei tem que prevenir situações de recurso a mercenários e determinar que os associados de cada sindicato têm que ser profissionais do ramo laboral com carteira profissional identitária. 

terça-feira, 16 de julho de 2019

Há 50 anos - Primeiro transplante de órgão em Portugal
 Dia 20 de Julho é um dia que todo o mundo conhece, o primeiro dia em que um homem pisou o solo da Lua.
Mas nesse dia ocorreu outro facto que para Portugal teve muito mais importância directa do que a ida à Lua : o Prof. Alexandre Linhares Furtado, cirurgião já na altura famoso e Professor da Universidade de Coimbra, efectuou o primeiro transplante de um órgão em seres humanos praticado em Portugal, nesse caso um rim.  Tal  facto histórico foi ofuscado pela façanha da ida à Lua, pois a comunicação social quase nem deu notícia e poucas vezes o voltou a recordar.
Quando esta semana se comemoram os 50 anos desse grande avanço da medicina portuguesa é da maior justiça recordar o facto e o seu autor, ainda vivo felizmente.

Sindicatos, hoje 
Os sindicatos são historicamente os grandes instrumentos dos trabalhadores para defenderem os seus direitos. Mas, como tudo o que diz respeito ao homem e às suas sociedades, os sindicatos terão  de se adaptar aos tempos que não cessam de evoluir, sob pena de correrem o risco de se desactualizar .
Vem isto a propósito do conflito com os motoristas de  matérias perigosas e da sua luta por melhores condições de vida, que é uma reivindicação habitual e lógica . O que não é habitual e a mim me choca, é que o Vice-Presidente do sindicato seja um advogado que nunca pôs as mãos num volante de camião - e é isso que eu quero abordar.
Talvez seja a altura de exigir da Lei dos sindicatos ( que eu confesso que não conheço) até para o seu próprio prestígio e a sua dignidade, que os membros efectivos dos sindicatos sejam profissionais com carteira profissional, pois se esta exigência constasse da actual legislação certamente aquele indivíduo não podia ser  associado e muito menos dirigente do citado Sindicato dos motoristas de matérias perigosas.
Que os sindicatos recorram a advogados e a todo o apoio externo que possam conseguir, é perfeitamente legítimo. Agora recrutar um advogado, ou um engenheiro civil ou um economista para dirigente dum sindicato profissional é como recrutar mercenários. Eu não sei se tenho razão, quero acreditar que se acontece esta situação é porque não é ilegal - mas a mim parece-me moralmente pouco digna para qualquer classe profissional que adopte esta medida.












quarta-feira, 10 de julho de 2019

A espuma dos dias
O racismo da Bonifácio - Não se tem falado noutra coisa e com razão; eu não frequento as redes sociais e sei aquilo que alguns amigos me reenviam, o suficiente para ficar esclarecido.
Há bastantes anos que assisto a uma crescente  deriva reaccionária da Srª. Fátima Bonifácio, mas nunca esperei que chegasse a este ponto. E a polémica sobre a publicação do artigo da sujeita no jornal Publico, ao que parece com muita gente a manifestar-se contra essa publicação, também é sinal de vontade à esquerda de cercear a liberdade de expressão. O Director do jornal explicou muito bem, da forma que eu também entendo : mesmo para textos execráveis como o daquela sujeita, deve haver liberdade de expressão até uma dada fronteira, e esta terá de ser a deontologia do jornalista a marcar. E o Publico já deu provas ao longo de muitos anos, de que conhece essa fronteira.
Ouvi e li alguns comentadores referirem que a Fátima Bonifácio é uma intelectual com vasto trabalho de historiografia,  mas isso não explica nem favorece nada, antes agrava  a sua atitude. Entre os nazis e os fascistas houve sempre muitos intelectuais e conhecedores de Artes e Literatura,  o que não desculpa nada as posições que tomaram naquelas ideologias odiosas.
De hoje  em diante talvez deva haver maior atenção para os especialistas de História olharem com outro cuidado para aquilo que sair da pena da Srª Bonifácio, pois a História tem dado  muitas vezes  lugar a tentações de a reescrever ...
 A corrupção em velocidade de cruzeiro - 
Não há dia em que a comunicação social não anuncie um caso de corrupção, nos mais diversos domínios - câmaras municipais, forças policiais ou militares, serviços de saúde e farmácias, políticos, etc. A corrupção é  o cancro da democracia e não venham dizer, como já se ouve por aí, que a culpa vem do sistema e que com mais ordem e autoridade seria diferente. Olhem para as ditaduras  que existem por esse mundo, e que se veja se nesses países não existe  corrupção. Tal como existia cá  entre nós no "saudoso" Estado Novo", onde o pouco que se sabia era dito  em voz baixa e as fortunas cresciam  na sombra. Ainda hoje se não fosse a comunicação social muitas das vergonhas que se praticam ficavam no esquecimento. Pense-se no tempo que a Justiça leva a chegar a conclusões  sobre casos mediáticos,  para perceber que mesmo em democracia é muito difícil apanhar as trafulhices praticadas por verdadeiros especialistas.
Portugal campeão europeu - há 3 anos !
Foi há tres anos, comemorados hoje, que Portugal vendeu a França naquela noite memorável do final do título europeu. Um jogador, Éder, que nada até ali tinha  atribuído mais que algum jeito para a bola, superou-se a si mesmo e superou toda a equipa com aquele golo que deixou os franceses no campo paralisados de decepção, e os franceses fora do rectângulo paralisados de raiva. E de tal forma que até apagaram a iluminação da Torre Eiffel, Puxa!!




segunda-feira, 8 de julho de 2019

Dalai Lama -  84 anos



O 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, fez ontem dia 7 de Julho, 84 anos.  Votado ao esquecimento pelos países do mundo sujeitos à cada vez mais  hegemónica pressão da China,  até eu me esqueci e só ao fim da noite fui recordado desse acontecimento, mas já não cheguei a casa a tempo de o assinalar ainda no próprio dia 7.
Lá vai o tempo em que países com noção da sua inteira liberdade,  como os EUA e países europeus como a Alemanha, recebiam o líder espiritual tibetano com honras oficiais. Portugal foi com vergonha oficial que o recebeu por duas vezes, em 2001 e 2007. Em 2001 a Assembleia da Republica com Almeida Santos como Presidente, lá fez o gesto de o receber semi-oficialmente, com o protesto do embaixador da China e ...do PCP.
Eu tive a honra de assistir ao seu Doutoramento honoris causa na Universidade Lusíada do Porto, tendo sido padrinho o então Presidente da República Mário Soares. E ofereci ao Dalai Lama. no fim da cerimónia, uma fotografia dele que eu tirei quando fui ao Tibete, e que estava meio escondida num altar do mosteiro de Gyantse. Era um acto de atrevimento dos monges, pois a invocação do Dalai Lama é completamente proibida pelo governo chinês.
O Dalai Lama é uma das mentes mais brilhantes e cultas do século XX, e  ficou famosa a sua sessão de discussão com cientistas nos EUA, entre eles o Prof. António Damásio que deu um livro que eu releio de vez em quando.
Em 2007 estive na sessão em Lisboa que esgotou o pavilhão Atlântico da antiga Expo, e a sua presença e as suas palavras encheram de júbilo os milhares de pessoas que o escutaram. Mesmo para aqueles para quem as religiões não têm o significado que têm para os seus crentes, uma personalidade como o Dalai Lama é impressionante e as suas palavras  sábias e de  profundos conhecimentos. até de Ciência, são  escutadas e entendidas com entusiasmo.
É trágico que a cegueira política e ideológica do Comunismo Chinês continue a usar as armas das ameaças políticas e das sanções económicas junto dos países do mundo para silenciar este chefe tibetano, apesar de ele ter reafirmado vezes sem conta que não aspira nem fomenta a independência do Tibete, apenas que lhe seja reconhecida a sua espiritualidade e a sua identidade - mas isto são coisas exigentes em demasia para quem tem da Vida e do Poder a visão ditatorial que têm os Governos da China - e o Partido Comunista Português, tal como os seus partidos irmãos sobreviventes, quais dinossauros, duma época  de ditaduras mundiais, ditas de esquerda ou de direita, sempre todas com a mesma prática contra as liberdades da pessoa humana.




terça-feira, 2 de julho de 2019

Militares de Abril
Salgueiro Maia
Ontem a RTP passou um excelente documentário sobre Salgueiro Maia, no dia em que comemoraria 75 anos. A morte ceifou-o cedo demais, cortando uma vida exemplar que espero (talvez  com ingenuidade da minha parte) ainda hoje seja exaltada nas fileiras militares pelo seu  exemplo dum profissional da guerra que fez a paz, e que para si nada mais reivindicou senão que o deixassem continuar a sua carreira. Nem isso deixaram que ele fizesse com a dignidade que ele deveria ter merecido, pois  nos últimos anos deram- lhe  lugares  sem prestígio, deixando-o amargurado conforme contam amigos - pois ele nunca disse uma palavra em publico nesse sentido.
A mim ninguém me tira a ideia de que deve ter sido difícil para o "espírito" corporativo da Arma a que Maia pertencia engolir ( mas não esquecer) aquela desobediência do dia 25 de Abril de 74  de um mero capitão a um brigadeiro e a outros camaradas de arma que estavam" do outro lado" -  mesmo que para a História de Portugal este fosse o lado errado.

Cavaco Silva concedeu pensão por excelentes serviços prestados à Pátria a dois ex inspectores da PIDE ( já quase ninguém se lembra disso...) mas recusou uma pensão dessas a Salgueiro Maia... E os portugueses ainda elegeram C. Silva para Presidente por duas vezes, pasme-se  ou já ninguém pasma com estas coisas!! E ainda nos admiramos dos americanos elegerem  para Presidente um especulador imobiliário!...
Houve 3 Presidentes da República que condecoraram Salgueiro Maia, incluindo o actual Marcelo Rebelo de Sousa - pena é que não tenham convidado Cavaco Silva para as cerimónias...

Ernesto Melo Antunes
Outro militar esquecido pela Democracia Portuguesa é Ernesto de Melo Antunes, o cérebro do 25 de Abril em termos ideológicos e programáticos, que ousou ir à Suécia para  tentar perceber o sucesso da social democracia de Olaf Palm. Sendo um homem de esquerda era acima de tudo democrata, e despojado de ambição de honrarias - que as merecia.  
Ele que foi o estratega do Documento dos Nove e da harmonização ideológica de muitos dos seus camaradas menos preparados  que tomavam posição contra os extremismos nas assembleias gerais dos militares, foi decisivo para a implantação da nossa democracia. .  Ele estabelecia as pontes entre os do PCP e os outros intervenientes,  foi  depois  mal aceite quer por uns quer por outros.
Ele teve a coragem no dia 25 de Novembro de 75. quando uma boa parte do país estava contra os desmandos  de Vasco Gonçalves e dos militares esquerdistas  que espalhavam a ilusória ambição de uma democracia popular  "à portuguesa", de vir à  televisão dizer que a democracia precisava de todos os quadrantes ideológicos e que por isso o PCP não seria ilegalizado como pretendia muita direita.
Por ter tido um papel decisivo, quase sempre nos bastidores,  nas negociações com os dirigentes  das guerrilhas das ex -colónias, tirou  protagonismo a outros, nomeadamente nos Partidos políticos, que nunca lhe perdoaram.
Pode  ser que um dia alguém devidamente informado venha a fazer a história daquilo que Melo Antunes realmente  representou nesse período glorioso da vida de Portugal - a queda de um  regime fascizoide e tacanho  sem se ter caído noutro extremo.  Eu tenho a excelente biografia que foi feita, mas tenho para mim que há pequenas-grandes coisas que ainda não foram escritas.
Melo Antunes - e já o escrevi em missiva a pessoa altamente qualificada para o fazer - merece uma homenagem nacional.  Fui amigo dele desde os tempos de alferes em Ponta Delgada e soube por ele logo  a seguir ao golpe falhado de Março , que iria haver outro movimento certamente vencedor - só não me disse o dia! 
Este ano, em Agosto,  passam 20 anos sobre a sua morte.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

 A CGD  de um  governo "socialista"... e o dinheiro debaixo do colchão
A Caixa Geral de Depósitos é o banco público cuja finalidade principal é ter um papel social na vida dos portugueses, não é propriamente um Banco privado que, lógica e naturalmente, busca o lucro a qualquer preço ( e mesmo assim se os Governos  neo liberais  deixarem ). Mas com Governos duma esquerda democrática que se posicionem  como garantes do Estado Social, como sua primeira obrigação, mesmo a Banca privada se submete a regras e a mecanismos de controle e supervisão  ( já ouvimos falar disto recentemente e não pelas melhores razões..).
A comunicação social anuncia que a CGD está a empurrar os pensionistas para investimentos de risco ( parece que o Banco de Ricardo Salgado fazia o mesmo, não ?) e agora vai deixar de conceder juros - até agora juros de miséria - às pequenas contas a prazo.  É o que se pode dizer de um bom banco público que, se é certo que deve ser gerido com seriedade e eficiência, não deve esquecer que é um banco do Estado a quem cabe sobretudo uma função social na economia. E isto passa-se com um Governo socialista ? Deve ser brincadeira...
A CGD também desde há muitos anos que deixou de pagar juros nos depósitos à ordem, embora os muitos milhões de depósitos de pensões e de outras proveniências continuem a servir os propósitos estritamente bancários da Caixa. Mas ainda sucede pior do que isso.
Se por exemplo tiver 2 ou  3000 € na CGD, sem receber um centavo e mesmo que eu não efectue qualquer movimento na conta, todos os meses será descontada uma comissão de "gestão de conta"; no final do ano são uma boa maquia de euros que saiem da conta à ordem.  Ora se tiver os mesmos euros debaixo do colchão, no final do ano eles ainda lá estão intactos.
Portanto, se eu para ter o dinheiro à ordem na Caixa, não só não ganho nada com isso como ainda saio prejudicado,  voltamos a defender o dinheiro debaixo do colchão, pois posso movimentá-lo sempre que for preciso sem ter que me deslocar a uma agência, longe de casa...
A hipocrisia da UE
A crise dos emigrantes e refugiados que atravessam e morrem no Mediterrâneo, em fluxos contínuos e incessantes, não cessa de trazer à nossa lembrança a hipocrisia da UE, que se preocupa com tudo menos com o conseguir uma política comum que seja capaz de  travar essa invasão  pacífica mas impossível de continuar para sempre.
Podemos e devemos condenar as atitudes fascistas e xenófobas de Governos como o da Hungria, de outros países da Europa Central e sobretudo de Itália - Itália que se esquece que foi sempre um país de emigrantes para toda a Europa e América .
A prisão do jovem voluntário português que abnegadamente  andou a salvar vidas, e agora da intrépida Comandante do navio que salvou mais de 40 pessoas da morte certa, são exemplos de duas coisas : por um lado a frieza do governo italiano perante actos de solidariedade levados ao extremo, por outro o silêncio e a inacção da UE, que do alto da sua hipocrisia, nem sequer dá sinais de tentar encontrar saídas para esta crise.
Porque uma coisa porém temos de concordar ; não podem ser a Grécia e a Itália, lá porque estão na linha da frente da chegada das vagas migratórias, a aguentarem sozinhas a responsabilidade de resolver o problema.  Estamos perante mais uma situação que demonstra a fraqueza das instituições comunitárias europeias quanto ao ter ou não ter políticas comuns,  a falha completa da defesa dos valores humanistas, democráticos e solidários que fizeram da Europa o que eu continuo a considerar o grande Continente civilizado do mundo.