quinta-feira, 28 de julho de 2022

 A vida é um processo implacável

Manuela Barros, esposa do Cláudio Torres faleceu depois de quase tres meses internada em estado de  semiconsciência. Estive em casa deles no passado fim de semana16 e 17 De Julho; foi um serão excelente. até às tantas, no domingo 17 e o velho Cláudio ( um ano mais novo que eu...) estava perturbado, com falhas de memória, mas sempre acutilante e com o seu  humor cáustico.

Ao saber hoje do falecimento consegui que ele me atendesse e trocássemos as palavras óbvias, mas ele precisa de paz, para retornar um tanto ao seu brilho característico

James Lovelock, o visionário, quase um profeta bíblico, que nos anos 70 do século XX lançou a sua proposta profética da Hipótese de Gaia, e inspirou milhões em todo o mundo abrindo a porta do entendimento sobre o ecossistema Terra, como a deusa Gaia,  o Ser vivo que se o não soubermos acarinhar morre. Foi com ele que se deu o nascimento de todos os ecologismos que até hoje nunca mais deixaram de proliferar perante o caminho para o suicídio que a Humanidade parece querer prosseguir.


domingo, 24 de julho de 2022

 Esta inacção é revoltante

Perante os dados da situação dos fogos rurais ( se fossem fogos florestais ardiam florestas, coisa que não temos) podemos prever que se repita o quadro de 2017, com incêndios catastróficos em Junho e de novo em Outubro. Os técnicos das celuloses e os anúncios da mesma não se cansam de falar das suas "florestas sustentáveis" mas como sabemos -e eles também sabem, mas fazem por esquecer, negócio oblige- povoamentos estremes de pinheiro ou eucalipto, plantados a compasso mínimo,  não são florestas nem sequer matas sustentáveis. Basta entrar numa dessas "florestas" e ficaremos espantados com a biodiversidade ali reinante! Povoamentos de  eucalipto e pinheiro bravo  (nestes ainda existem laivos de vida quando são bem geridos) não são florestas e muito menos sustentáveis.

 Eu sou daqueles que gosto de  falar com conhecimento de causa, conheço razoavelmente o nosso país, e todos os anos e em diferentes  épocas viajo frequentemente pelos territórios mais problemáticos.

Assim em 2017, no final de Setembro, fiz uma longa incursão pelas regiões do Centro que arderam, falei com pessoas que continuaram a viver nos pequenos casais e onde o fogo lhes passou por cima e queimou tudo em volta - e disse para quem me acompanhava que ainda iria arder muito mais, pois as matas estavam por limpar, havia estradas que pareciam túneis de verdura  (o que paisagisticamente era um valor e  não seria  grande mal se os matos das margens e do interior dos povoamentos tivessem sido limpos),  não havia rasto da existência de aceiros e arrifes que permitissem aos bombeiros entrar pelas zonas de mata e de mato - portanto tudo preparado para a próxima sessão de fogos. E eles aconteceram cerca de 15 dias depois  da minha passagem, como todos se lembram desse Outubro e precisamente em muitas das estradas e encostas onde eu andei.

Se a estes pressupostos que  sustentam a inevitabilidade dos fogos, juntarmos o clima de um ano como este, com a   onda de calor provocando temperaturas bastante acima das temperaturas habituais, com a aflitiva baixa humidade atmosférica e a gritante falta de água no solo-desta vez já não apenas no habitual Sul mas em todo o País- temos o quadro da tempestade perfeita, como se diz por ai. Depois os negacionistas ( em vários quadrantes político-partidários) continuam a desvalorizar a influência das alterações climáticas, porque "sempre houve secas, sempre houve altas temperaturas," e não poemos deixar de produzir intensivamente com esse medo... Não se importam que alterações climáticas, identificadas pelos cientistas em todo o mundo. não seja a mesma coisa que transformações climáticas de origem natural.

E a que assistimos? Na maior parte dos casos os fogos de grandes dimensões só são detectados já com as chamas a lavrarem com dimensões espectaculares, um deles até foi detectado por um camionista que passava numa estrada; podem dizer, há muitos mais incêndios  detectados a tempo e que não são notícia - pois acredito,  mas os que são notícia já bastam.  Vemos também que muitos fogos são deixados a arder porque ficam longe dos acessos - quando em muitos casos se tivesse havido  o  tal trabalho preventivo que se faz ao longo do ano (e todos os anos) os tais aceiros e arrifes limpos e transitáveis, as viaturas de socorro poderiam aproximar-se.

Não têm faltado depoimentos de ilustres  técnicos e académicos  florestais ou ligados a esta problemática, com muitas soluções mais ou menos evidentes, mas não percebo porque têm receio de dizer claramente que, o que falta não são meios de combate aos fogos,  o que falta é uma estrutura organizada no território que garanta a defesa e a vigilância das áreas "florestais" ao longo do ano, com continuidade.

Ainda não vi ninguém exigir aos governantes que dêem a mão à palmatória - errare humano est - e refaçam o que obstinadamente tem andado a ser feito ano após ano, correndo atrás do prejuízo. Custa muito a perceber que só uma estrutura organizada, refazendo uma Autoridade Florestal Nacional, com uma nova concepção actualizada face à realidade do nosso século mas que não pode dispensar administrações florestais  (certamente menos do que as que existiam há décadas) e uma quadrícula de postos de guardas florestais e sapadores florestais em número e localização que um estudo aturado  - e não faltam universidades capazes de o fazer e alguns velhos técnicos com experiência de "outros tempos" para colaborar- para se voltar ao bom senso dum território preparado para defender e gerir a área florestal.

Quem se lembra ainda dos cursos de formação dos guardas florestais? e dos livros técnicos que tinham de estudar ? - coitados, viraram polícias da GNR e são desprezados, pagando-lhes um ordenado de miséria.

Só se isto que estou para aqui a escrever esteja tudo errado e ultrapassado, como um alto dirigente já disse das minhas opiniões. Lá vou eu escrever mais uma enormidade, já me desabituei do politicamente correcto (de que nunca me aproveitei) e agora acusem-me de defender o Estado Novo. Mas nesses tempos do ancient régime do século XX, só chegava a director geral ou outro cargo destacado quem fosse profissionalmente muito competente. Eu tive como directores gerais quer nos Serviços Florestais, quer nos Serviços de Urbanização ou na defunta Junta Autónoma de Estradas, directores gerais de alto gabarito, com quem se chegava a aprender alguma coisa  - tinham que ter cartão do Partido ? Mas hoje também... A diferença está na qualidade.

Porque será que tantos engenheiros florestais ou silvicultores que andam por aí, muitos com larga e vasta experiência e conhecimentos da matéria, não tomam uma posição conjunta? Afinal trata-se daquilo que aprendemos e sabemos fazer e que tem vindo desde há anos a ser posto em causa.  Acredito que alguns ainda "ao serviço" tenham receio de acusar o que vai mal- existe medo, a nossa democracia tem os seus limites. Até porque dirigentes de diversos escalões não são escolhidos por competência, seja qual for a sua cor política, mas pelo cartão do Partido.

Mas esta inacção é revoltante para quem sabe que as coisas podiam ser tratadas de outra forma. Então faz algum sentido ( fazer, faz, mas é  melhor deixar isso em suspenso...) que o sector agro-florestal tenha sido desarticulado com a agricultura ( industrial, de regadio, intensiva)  numa tutela e as "florestas" noutra? Dividir para reinar... E haja técnicos competentes (!!) que aceitem assumir as tutelas estando a marimbar-se para a incongruência também já ninguém repara...

Num país com consciência colectiva generalizada e opinião publica motivada e conhecedora, isto não ficaria assim - o sector primário é o sector fundamental para o futuro sustentável do território e do seu povo. Só que medidas que visem o médio e longo prazo não dão votos...

Por arrastamento a Politica de Ambiente foi igualmente desarticulada, mas estas ideias,  pelo que se vê e ouve, são também ideias ultrapassadas... A política de Ambiente e de Qualidade de Vida assentou desde o seu lançamento no pós 25 Abril de 74 em dois pilares: a Conservação e o Ordenamento do Território; da compreensão dessa articulação nasceram as leis fundamentais, que têm aguentado o país até aqui: a RAN, a REN, os PDMs, os PROTs, a Rede Nacional de Áreas Protegidas. Fizeram sempre engulhos a muita gente - produtivistas, promotores da tais "florestas sustentáveis",  certas Câmaras Municipais, promotores turísticos e urbano-turísticos. Uma Autoridade Florestal  Nacional e Áreas Protegidas com capacidade organizativa e modelos de ordenamento qualitativo do território eram alvos a abater - e foram. 

O Ambiente está "amarrado" às florestas ( velho sonho, num "arranjinho" tentado em anos passados por alguns Secretários de Estado e denunciado publicamente pelo então Ministro do Ambiente), as Áreas Protegidas, alterada a sua orgânica por uns iluminados,  em cogestão com os Municípios numa errada confusão entre política nacional e descentralização, e o Ordenamento do Território, que tantos engulhos faz a muita gente, finalmente mandado para um Ministério político, no Ambiente não faz falta...

Conclusão disto tudo : a Assembleia da República instituiu o dia 25 de Maio como  Dia Nacional dos Jardins, homenageando  Gonçalo Ribeiro Telles que nasceu nesse dia há um  século. Mas das ideias que ele defendeu e pelas quais lutou toda a vida, o que é que resta? O que teriam  a dizer alguns já falecidos ( Prof. Manuel Gomes Guerreiro, Francisco Sousa Tavares) e outros felizmente ainda ainda vivos, que lhe  deram seguimento, como Augusto Ferreira do Amaral, Carlos Pimenta, Macário Correia? 

Homenagens, mesmo justas, que se ficam pelo papel, são como os  monumentos em pedra ou em bronze - existem até que um futuro Poder os mande arrear.














sexta-feira, 15 de julho de 2022

 Este  calor de ananazes

Não é possível  passar ao lado deste tempo que estamos suportando sem deixar um comentário. A saison dos fogos começou em grande, como a confirmar que 2017 não foi excepção e que vai mudando de região  porque já há cada vez menos matas para arder nessas regiões, país fora. Claro que dá para muitos anos ainda... Infelizmente!

Apesar desta  confirmação do agravamento das condições climáticas que favorecem os desastres extremos como os grandes incêndios, os incorrigíveis "produtivistas" continuam a afirmar que ondas de calor sempre houve, altas temperaturas também, períodos de seca  acontecem  regularmente ( até já me falaram em cada 5 anos de chuvas vêm 5 anos de secas - mas aqui no sul onde é que estão esses 5 anos de chuvas?

Aquele tipo de depressão profunda como agora existe, a sul da Península Ibérica e que está a introduzir aqui directamente o ar quente do Sahara, acontecia de vez em quando. Ora só este ano já aconteceu 3 vezes, como todos se lembram das poeiras que aqui caíram embora agora  a direcção das correntes não esteja a transportar tanta poeira;  o anticiclone dos Açores foi empurrado para norte e não tem tido força para se opor à depressão - isto para os incorrigíveis é natural - mas na verdade não é, é uma excepção e cada vez  menos excepção. Os cientistas  informam que desde a década de 90   as ondas de calor são cada vez mais frequentes e as alterações climáticas tendem a intensificar e a aumentar a frequência destes fenómenos.

E há questões que merecem ser abordadas sem receio das críticas.

Os fogos pegam nas matas que estão por limpar - quem é que as deve limpar, país fora? Antigamente - cá vai a lenga-lenga habitual  - havia Administrações florestais e guardas florestais que ao longo do ano mandavam os proprietários limpar as matas e quando não se conhecia o proprietário ( e era muito frequente) eram os guardas florestais que, com as suas equipas, procediam à limpeza. E quando havia corte de madeiras eles eram sempre fiscalizados pelos guardas que obrigavam os madeireiros a retirarem todo o material  resultante da limpeza das árvores abatidas. Gostava que me garantissem que ainda hoje isso é feito...

Outra questão interessante; porque é que só se dá pelos grandes incêndios quando eles já lavram  com toda a força? Porque não são detectados no início ? Vão dizer que há muitos incêndios que são logo  detectados  e não são notícia, mas e os outros ? Há dias na região  Centro foi até um camionista que passou na estrada  e deu o alerta.

Nesses tempos já passados ( um alto dirigente já disse, a alguém que conheço, que  quem fala como eu está ultrapassado, agora está tudo muito mais eficiente)- nesses tempos,  mal aparecia uma coluna de fumo, fosse onde fosse, havia sempre alguém de vigia  ( quem seria?) que detectava e atacava-se o fogo no seu início; por vezes também acontecia que sendo o fogo distante e com maus acessos  havia algum descontrole, mas era raro. Porque uma das tarefas dessa gente hoje ultrapassada era manter aceiros e arrifes abertos e em condições de serem percorridos  em casos de emergência - e durante as limpezas... Ainda hoje se mantém essa prática?

O Primeiro Ministro afirmou que não há falta de meios, e realmente todos os anos chovem milhões de € nesta altura - mas há falta de estrutura organizativa  no território. Ninguém dá por isso ? é por estas ideias serem "ultrapassadas" que ninguém fala nelas...





terça-feira, 12 de julho de 2022

O reverso 

O primeiro comentário sobre esta guerra suja foi para interpelar  quem tem um visionamento  enviesado e não é capaz de ver a raiz imediata do mal. Ninguém duvida que do lado de cá também  há a distorção dos acontecimentos e, sobretudo, dos antecedentes que  condicionam o julgamento.

Os EUA deixaram a Europa por sua conta, a seguir a Trump, mas também com Biden, que nesse aspecto continuou a praticar a ideia do America first - mas esta afinal justa ambição de cada país,  pôr o seu país em primeiro lugar, não devia ter feito esquecer que, por muito importante para os EUA que seja colocar- se  frente a frente com a China ( e agora com a Rússia, dada como moribunda até Fevereiro deste ano) a sua própria defesa e aliança têm que ser com a Europa.

E não há dúvida que a Nato e os EUA têm armado muitos países que,  se não afectam directamente Rússia, afligem a sua sensação de insegurança. Recorde-se o que os EUA fizeram quando a União Soviética ( de saudosa memória...) pretendeu colocar mísseis em  Cuba...

Ninguém acredita que algum país da antiga URSS que seja hoje independente tenha a mínima  intenção de provocar a Rússia e muito menos de a atacar; a Ucrânia, por questão da sua própria segurança, deveria ter-se abstido sequer de pensar fazer parte da Nato - embora qualquer país livre  e independente tenha o direito de seguir o seu caminho como entender. Mas por uma questão de sensatez inter-regional a Nato não deveria implantar-se na Ucrânia, como não o  deve  fazer na Geórgia e outras nações circum-marginais da Rússia.

Agora o que se vai tirando da estratégia de Putin e das palavras que saem dele e de alguns responsáveis  a quem  ele dá ordem para falar, é que qualquer pretexto serviria para ele  invadir e tentar anexar toda a Ucrânia como fez com a Bieolorússia que não passa, na prática, de uma província russa.

E isto altera as coisas; os países limítrofes com a Rússia têm que sentir  que têm apoio do Ocidente, ocidente que é muito mais vasto do que só Europa e EUA. 

Portanto há um imperialismo russo-soviético frente a frente com o imperialismo americano. E este, com  o apoio de países ocidentais e abusivamente da Nato, tem feito guerras e atentados por todo o mundo que não poderemos esquecer. No Médio Oriente, no Vietnam, na Líbia, no Afeganistão... E todos os liberais se recordam como estiveram nas ruas em manifes contra esses abusos. Na Líbia, onde passei uns dias nas "vésperas" da morte de Kadafi,  foi um erro tremendo em nome de uma democracia que nunca chegará. Já no Afeganistão a primeira culpa foi da URSS que chegou a um pais onde só havia pequenos e históricos conflitos inter-étnicos sem expressão no  exterior - era uma monarquia mais ou menos estável - e implantou um regime comunista apoiando-se num pequeno partido marxista local e  no exército que invadiu  e ocupou país. Os russos acabaram por sair de lá com o rabo entre as pernas e deixaram o caos  - a palermice do americanos foi a mesma,  julgando que davam apoio a uma elite ocidentalizada, também sem perceberem o que era a historia e a alma daquelas etnias.  Imperialismo russo versus imperialismo americano...

Há por isso no mundo quem não goste do que a Rússia está a fazer à Ucrânia mas também desconfie, e com razão. dos EUA. Porém alguns vão mais longe e tentam desacreditar a imagem do Zelensky pela a sua capacidade de captar a atenções que lhe advém  certamente da sua profissão de actor - mas ainda bem, prova a sua qualidade.  Agora fazer desta sua profissão e da capacidade que lhe dá para enfrentar a comunicação como um aspecto negativo, é pouco digno de quem o faz. E um dos que o faz cá, por exemplo,  é o Miguel Sousa Tavares nas suas crónicas semanais, embirra com Zelensky, pronto; agora o Lula, que até desempenha um papel fundamental no Brasil apesar da malta que o rodeou (e ainda rodeia?..), que não tem preparação intelectual e que, pelas suas  qualidades próprias, fala e escreve com desenvoltura, vir denegrir o Zelensky por se estar a servir da sua qualidade de actor para fazer figura internacional, como se ser actor seja pejorativo - bem, é mais um sinal em  como as personalidades das pessoas  são tão variáveis .

Mas para ficar agora por aqui, eu apesar de sempre me ter manifestado contra a "estupidez natural" dos americanos ( um país que elege um Trump - mas... e um país que elege um Cavaco?...), entre o imperialismo russo que acaba com todas as liberdades individuais salvo as que ele deixa exercer, fecha a liberdade de expressão numa censura  completa, que impõe regras arbitrárias de poder pessoal e da camarilha que o protege e com  ele enriquece, e o imperialismo americano que me deixa ser livre no meu país, ( já sei que não há verdadeira liberdade!!) que me permite que o critique tal como aos meus governantes, com liberdade mas com responsabilidade, e daí não me venha qualquer enxovalho - entre estes dois imperialismos  qual é que eu devo preferir?

Percebo ( custa-me a perceber, mas enfim...) aqueles que gostam de receber ordens sem discussão, como eu vi que acontecia nos países da Europa de Leste ou de Cuba,  que visitei, onde só os do Partido único têm regalias, onde se endeusa o chefe e os anjos que o rodeiam, esses gostem do Putin com esperança que volte a saudosa política do grande sol da humanidade...   São os que se servem das facilidades de livre expressão dos regimes democráticos (regimes em que  uma das suas fragilidades  é  uma das  suas grandes virtudes!) para imporem o outro regime em que só eles podem falar. 

Que esquisitos que são os seres humanos !!









segunda-feira, 11 de julho de 2022

Medo e raiva 

Não há tempo para ter medo, só para ter raiva - isto disse a uma Tv um velho ucraniano, com mais de oitenta anos e a viver sozinho no único apartamento ainda habitável de um  prédio que foi quase todo destruído pelo bombardeamento  russo na sua magnânima missão de desnazificar os ucranianos e salvar o povo das garras do Ocidente, como se infere da operação especial ( nada de invasão como se refere sempre o PCP).

De vez em quando os empregados de Putin vêm dizer coisas que adiantam algumas ideias sobre o futuro da guerra e, ao contrário de António Costa que veio desmentir  (...) um  seu empregado que falou demais, Puti não desmentiu o embaixador que afirmou ser intenção da Rússia recuperar uns 20% do território ucraniano.

Que dirá disto o Sr Jerónimo de Sousa ? Oh Sor Jerónimo, então e a defesa da autodeterminação dos povos, as loas pelas guerras dos ocupados contra os ocupantes, e tantas causas que o Sor Jerónimo e outros seguidores   tradicionalmente ( e bem) defenderam ? Agora viraram o bico ao prego só porque do lado de cá estão a Nato, os EUA, a União Europeia ( que horror esta UE que dá força aos países como comunidade mas que é capitalista, caramba!!)- e do outro lado está a santa Rússia, que abriga o "ovo" da  saudosa União Soviética  (o paraíso das amplas liberdades dos trabalhadores e do povo como o sor Jerónimo usa dizer - porque há povo que não é trabalhador?)







sexta-feira, 8 de julho de 2022

 No PUBLICO de ontem, dia 7 de Julho, saiu esta minha  carta ao Director: 

Os fogos Florestais e as culpas

Estamos na saison dos fogos florestais e começa o jogo das culpas.

É absolutamente indigno que esteja um comandante de bombeiros incriminado pelas consequências do fogo florestal de 2017; primeiro veio o "bode expiatório", a então MAI Constança Urbano de Sousa que era quem menos culpa tinha pelo acontecido; depois nunca mais pararam as quezílias - se tudo corre bem é graças à Protecção Civil, se corre mal a culpa é dos bombeiros. Tal está a moenga, hem?

Durante décadas os fogos florestais foram combatidos pelos Serviços Florestais (SF) - e eu fui administrador florestal-, pelos bombeiros e em regra funcionava bem; quando é que os incêndios passaram a descontrolados?- quando os SF foram desmantelados pelo MAI António Costa com o apoio do pior Ministro da Agricultura que Portugal já teve e passou a responsabilidade para o MAI. Todos os anos se gastam milhões e milhões de euros a combater incêndios que uma boa gestão e defesa ao longo de todo o ano, do território florestal, podia evitar.

 Já se sabe que não vai haver coragem para reconhecer que erraram - e o País vai continuar, ano após ano, a assistir a estes lamentáveis episódios e a ver recaírem as culpas sobre os bombeiros que recebem ordens duns senhores muito importantes, só que parece que conhecem pouco o país e pouco do assunto.

...

Ninguém pode evitar claramente os incêndios, mas quando havia uma estrutura instalada no território, como uma quadrícula, de casas de guardas florestais sujeitas a Administrações Florestais que controlavam áreas bem definidas, existiam condições para ao longo do ano se saber em que estado estavam as matas, que limpezas era necessário fazer e por isso reduzir os riscos.

Sempre que havia cortes de madeira os guardas vigiavam e obrigavam os madeireiros a remover todo o material caído no solo resultante dos abates, mas que ficando lá constituíam verdadeiros barris de combustível.

Os guardas era supervisionados pelos mestres florestais, com uma larga sabedoria, alguns eram verdadeiros senhores das serras e que sabiam muito mais do que muitos engenheiros. Todo esse capital de conhecimento prático e localizado nas suas áreas de actuação se perdeu com a destituição da Autoridade Florestal tal como estava montada quase desde o século XIX - como acontece em toda a Europa e em todos os países do mundo que tem áreas florestais a proteger e a gerir.

A Mata de Leiria, com tantos séculos, ardeu TODA simplesmente porque não tinha lá  guardas florestais nem os habituais trabalhadores  que limpavam a mata - deve ser um  orgulho para António Costa,  Cristas e todos os ilustres mandantes do sector agroflorestal que temos tido.

Já cansa falar disto...





terça-feira, 5 de julho de 2022

A falta de água

Alto (!), já algumas autoridades começam a falar da falta de água...

Mas já se viu alguma campanha  nas televisões, onde o impacte é forçosamente maior?  Enquanto não faltar água nas torneiras ninguém vai dizer nada. Não  existe a prática democrática neste Pais de aconselhar a tempo as populações a tomarem precauções. Não senhor, quando faltar a água é muito mais fácil  e directo dizer "já não têm água senão 2 h por dia" .

Mas desde há pelo menos uns 3 anos a esta parte que essas campanhas e as medidas de redução do uso da água deviam  ter estado no dia a dia das pessoas; a população não se motiva de um  dia para o outro, são necessários dias e  dias de mentalização progressiva  para que se encontre uma responsabilização colectiva, è assim. Mas parece que as autoridades ( Governo e Autarquias) não o sabem.

Vamos ter sérios problemas no final deste Verão, a não ser que o S. Pedro dê força aos produtivistas e venha aí água com abundância para estragar...




A época dos fogos

Já começou o "aquecimento" para a época dos fogos, com a perspectiva de arderem poucas matas porque... há cada vez menos matas para arderem - abundam sim os matagais e encostas cobertas de ervagens semi-arbustivas. Temos é certo as "florestas sustentáveis" ( onde é tão rica a biodiversidade...) das celuloses...

Os bombeiros já estão a lavar as mãos de responsabilidades, dada a falta de condições de trabalho e a inexistência de um ordenamento florestal com o que isso implica de aceiros, arrifes, estradões etc. Lá serem as Autoridades - quer dizer o Governo e neste o Ministério do Ambiente ( e das florestas...) e o Ministério dos guardas e dos polícias- a reconhecerem que têm de mudar toda a estrutura de ordenamento e gestão florestais, bem podemos esperar, a vergonha por estarem errado  não o permite.


 A nossa triste realidade aeroportuária

A negociata feita com a Vinci para a construção dum aeroporto no Montijo é o último  exemplo da nossa triste realidade em termos  de governação; os argumentos jogados agora pelo Governo para  começar com obras de urgência naquela Base Aérea são uma desvergonha; técnicos insuspeitos e especialistas em matérias de aeronáutica e de construção de infraestruturas, como são  o Luís Coimbra ou o antigo bastonário da OE, Carlos Ramos, já desmontaram as razões do PS e agora, envergonhadamente, do PSD ( foi Passos Coelho que primeiro fez a escolha ...) para fazer de Montijo um aeroporto  internacional porque, para uma solução provisória, bastam pequenas obras. Seja no Montijo seja em Alcochete ( quem é que escolhe este e porquê?), são necessários novos acessos e vai tudo  na conta do aeroporto... E quanto a uma Análise Ambiental Estratégica ninguém quis fazer; António Costa está há 7 anos no Governo e já tinha tido tempo mais que suficiente para mandar fazer esse estudo que não demora 4 anos, como já foi adiantado a título de desculpa, pois um LNEC tem capacidade para o fazer num ano - já podia e devia estar feito há anos e a saber-se onde é que o aeroporto deveria ser construído. Mas o negócio com a Vinci obriga a toda esta parafernália  de argumentos e contra-argumentos.

E estou para ver o que diz a Convenção das Zonas Húmidas  (Ramsar), da UNESCO, com um aeroporto internacional em cima  duma área de valor internacional em vários instrumentos legais já assumidos por Portugal.

A maldição dos Curdos

Os curdos são um dos povos mais hostilizados em todo o mundo, vítimas de nunca terem tido líderes suficientemente importantes no contexto internacional ou também porque... não têm grandes recursos que atraiam povos exploradores e colonizadores. Vítimas das divisões que o Império  Britânico  fez, como  são responsáveis por muitas guerras e problemas graves em toda a Ásia.

Os curdos, originários da Mesopotâmia, rondarão os 30 milhões, tem história própria,  língua, costumes e uma tenacidade invencível; são muçulmanos altamente compreensivos, sem extremismos e combateram o Estado Islâmico tendo sido abandonados depois pelo Trump e pelos turcos - os turcos nunca foram  gente fiável...

As divisões arbitrárias feitas pelo Império Britânico são causa de muitos males actuais -  dividiram a Birmânia e a Tailândia partindo etnias ao meio, criaram uma Índia com muçulmanos que obrigaram estes a lutar pelo seu Paquistão,  inventaram um Iraque com um  primeiro rei em 1920 escolhido entre os seus protegidos, alargando as suas fronteiras e  roubando território  xiita ao Irão, e  dividiram os curdos por cinco países.