A triste sina dos Parques Naturais
Em 1983 dei uma volta pelas Áreas Protegidas /APs), estando eu já fora do Serviço, mas atendi a solicitações de diversos colegas e amigos que ali deixei e...lá fui. A situação deixou-me triste, desolado - e até hoje poucos mais momentos tive de melhoria de opinião à cerca do que se passa na generalidade das APs. Desse ano tenho cópia duma informação da qual. por ser extensa, vou apenas transcrever algumas partes.
"A crise entrou nos PN
ou
Comissão de liquidação dos Parques Naturais
A crise de que tanto se fala, e com razão, não é só de ordem económica - é também crise de mentalidade, de competências, crise moral no fim de contas ...................................
No sector do Ambiente só talvez o respectivo Secretário de Estado, que se tem revelado incansável para impor uma acção concreta e bem orientada, ainda consiga travar um certo vento de derrocada e de frustração que se abate sobre algumas áreas do seu pelouro.
Diversos indícios chamaram-nos a atenção para a situação de mal estar que se vem gerando no departamento encarregado dos Parques Naturais e da Conservação da Natureza. A orientação do Serviço Nacional de Parques, como pudemos apreciar pela análise de elementos desde a sua criação e pelos contactos que estabelecemos com alguns dos seus componentes, apontou sempre para uma linha correcta e natural de conciliação da Conservação da Natureza com o Desenvolvimento, como consta aliás das directivas internacionais da UICN, da UNESCO, etc.
Porém ultimamente aquele Serviço afastou-se desse programa e enveredou, ao que parece, por uma orientação estrictamente conservacionista, pouco adaptada para o território de uma nação europeia como Portugal, densamente ocupada por colectividades humanas desde há milénios................................
Como tudo neste País, também os parques e as reservas naturais entraram em crise.
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O descrédito, o desinteresse e a desmobilização parece terem entrado, conforme nos apercebemos nos contactos que fizemos, no Serviço que, até há algum tempo, era uma pedrada no charco da rotina da nossa Administração........................
São evidentes sinais daquela situação, primeiro a marginalização progressiva do papel desempenhado pelos parques e reservas no âmbito da política regional; depois o abandono sucessivo de alguns dos seus melhores técnicos, que faziam parte do Serviço quase desde a sua origem.
Foi assim que abandonaram os serviços centrais........; o director de Serviços Arq.º Marques Moreira; a única licenciada em História dos quadros do Serviço, dr^Conceição Moreira; o Arqº João Reis Gomes que arrancou com a Reserva de Castro Marim e foi seu Director; a uma técnica antropóloga drª Isabel Fonseca, que pertencia aos quadros do Serviço, foi-lhe dito que já não há ali mais lugar para ela porque o seu ramo técnico não é prioritário para os estudos de Conservação da Natureza...
Na verdade uma estreita e ultrapassada visão conservacionista, falta de "bagagem" cultural e atraso de conceitos, tem vindo a presidir nos últimos anos ao Serviço de Parques...
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Devia poder esperar-se que fosse o PS, pela ideologia de socialismo democrático que anuncia, quem tivesse maior abertura para formas de desenvolvimento integrado e de pequena escala, que privilegiasse o social e o humano antes do económico, que gerasse mão de obra local e compatibilizasse o crescimento económico de certas actividades com as aptidões e tradições culturais de cada região..........................
Mas parece que, com o afastamento do Arq.º Gomes Fernandes, o PS passou a dispor, na área do Ambiente, de elementos de muito fraca craveira; por isso o PS tem sido veículo, através de alguns dos seus responsáveis, das posições mais tecnocratas e de crescimento económico industrialista. Assim a política dos parques naturais e a orientação da Conservação estariam balizadas por conceitos de mais curta visão, conciliáveis com outros valores que não aceitam o êxito das formas de desenvolvimento sustentável e privilegiam antes as acções fáceis de simples protecção da natureza.
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A Reserva de Castro Marim, de importância fundamental para o estuário do Guadiana, não tem um único técnico ao seu serviço.
O Parque Natural da Serra d'Aires e Candeeiros está na mesma situação...
Algumas reservas de importância internacional, nunca tiveram um técnico a olhar por elas : Paul do Boquilobo, Serra do Açor, Serra da Malcata... O Parque Natural da Arrábida é bem conhecido pela importância do património que encerra e a sua defesa tem sido uma verdadeira luta em que se empenharam quer as Autarquias locais quer o seu Director ,Eng.º Maia Barbosa............................ ; pois o Engº Maia Barbosa pediu a demissão e quer abandonar o Serviço.
Também a Reserva da Ria Formosa constitui uma área classificada de importância fundamental, e frequentemente os órgãos de comunicação social se tem referido à verdadeira luta que tem sido a defesa da sua integridade. Para além do muito mérito que tem todo o corpo técnico da Reserva, é bem conhecido o papel desempenhado pelo Arq.º Fausto Nascimento, devendo-se em boa verdade ao seu entusiasmo e à sua capacidade de diálogo, a salvaguarda da Ria Formosa. Pois também o Arq.º Fausto Nascimento quer pedir a demissão de responsável pela Reserva e pretende abandonar o Serviço dos Parques.
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Ajudas de custo que são um maná para certos funcionários, o antigo Presidente ( que entrou para a função publica logo directamente para o lugar de Assessor (!!) e que continua a dispor de carro com motorista e a mandar como se fosse ele o director.geral...; o encarregado do Parque da Serra da Estrela, que está lá destacado e assumiu o lugar por simples empenho político, a receber ajudas de custo permanentes ( um segundo e chorudo ordenado...), etc, são factos que contribuem para a crise daquele departamento.
Tudo isto só é possível por compadrio, por politiquice, por protecção das incompetências, porque os incompetentes são úteis...
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A quem de direito a resposta "