quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Demitiu-se o Ministro do Ambiente

Demitiu-se o Ministro do Ambiente *, por considerar que devia ser honesto consigo próprio e deixar de mentir ao País, denunciando que as medidas fundamentais para manter uma política ambiental eficaz estão todas por assumir pelo Governo. Considerado um dos ministros-chave do Executivo, pelo seu conhecido posicionamento em defesa das grandes questões ambientais,  a sua demissão é considerada um desaire para o Governo , que atravessa um mau momento político, e vai desencadear diversas reacções da parte dos cidadãos mais envolvidos e das associações ambientalistas.
* Ocorreu em França

terça-feira, 28 de agosto de 2018


Alternativa algarvia


A amenidade do clima, a afabilidade das pessoas e a beleza das paisagens , fazem de Portugal um país de grande vocação turística, ao que pensamos uma das suas maiores potencialidades económicas. Complementando isto, temos uma boa culinária sempre agradável a quem viaja.
Falado grosso modo no potencial atrativo, e  recem regressado  de uma curta visita estival ao Algarve, a esta região regresso depois de na década de 70 ter explanado alguns destes temas no Jornal do Algarve uma vez que não é muito possível  libertar-me do que é para mim, a obsessão do Ordenamento do Território(OT) como forma de retribuir  a  este belo país, o privilégio de nele viver.
É agora tempo de distinguir as 3 grandes regiões algarvias, dizendo que fazendo um “perfil” do litoral para o interior do Algarve, temos: o Litoral; o Barrocal ; e a Serra.
A economia ligada à água dá o mote para uma reflexão com cerca de 40 anos, mas que no meu entender merece ser retomada.
O complexo xisto-grauváquico do paleozoico serrano é impermeável, porem a certa altura ele encontra o calcário permeável do mesozoico por onde a água se escoa em profundidade. Acontece que toda a água será, cada vez, mais imprescindível à economia do Algarve, onde no meu entender, especialmente tendo em atenção o futuro deficit de água, deveria fazer-se desde já na serra, antes do contacto com o barrocal, uma sequência de pequenas barragens de pedra capazes de suplementar as necessidades a jusante.
 E então, refiro que em alguns vales imediatamente acima, podem-se criar ecótipos húmidos com a vegetação própria de tais locais.
Tais “conchas frescas” dariam pretexto para a criação de residenciais , que especialmente criassem para a “terceira idade” locais  aprazíveis  de permanência. Tais locais seriam pontos de partida para passeios ”traking”, ou percursos a cavalo ou burricadas; caso se conseguisse solo suficiente podia-se fazer ”relvados na concha “ acima da toalha-de-água, bem como estadias para alternar com percursos de passeio.
Para satisfazer tais ideias  teremos que utilizar terra arável do barrocal próximo.
Acho que um aproveitamento deste tipo podia  ser interessante às famílias pois que os elementos mais idosos,( ou quem o quisesse) podiam ter uma alternativa ao reboliço da costa, um turismo mais calmo.

J.Reis Gomes. arqtº paisagista

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O blogue tem estado de férias, mas agora vou guardar aqui alguns dos documentos de tomadas de posição que assumi desde 2016 sobre a questão florestal , as áreas protegidas e o INCF

Assunto:Incêndios Florestais de 1980 a 2012


  Ninguém quer assumir o que para mim é a principal  causa da proliferação em incêndios das matas e a causa do desleixo em que caiu o tratamento das matas que, como diz muito bem, não são florestas : foi o desmantelamento dos Serviços Florestais que há mais de um século tinham a preocupação de vigiar as matas. Embora o tratamento das matas privadas deva recair sobre os proprietários, é ao Estado que compete vigiar e orientar esse tratamento.  Não sei se existe algum outro país na Europa e no mundo, em que tenha deixado de existir um corpo de guardas florestais, aqui agora integrados na GNR- quando as funções desta nada têm a ver com a política florestal; a rede de casas florestais espalhadas pelas serras eram os postos avançados de vigia  das imensas áreas cobertas de arvoredo e matagal, sendo que este é tão importante sob o ponto de vista ecológico e de equilíbrio para a Biosfera como o arvoredo - seja o arvoredo natural ( as florestas) seja o arvoredo exótico plantado, as matas.
  Eu fui Administrador Florestal e sei por experiência própria a importância dessas casas florestais - bastava aparecer no horizonte uma coluna de fumo os serviços eram logo avisados pelos guardas e em pouco tempo o incêndio era controlado a tempo. Não se acudia a todos os fogos, alguns seriam difíceis de controlar, mas muitos deles atacados logo de início, perdiam importância, e não se estava no terror em que hoje se vive todos os anos.
  Esta ideia de menos Estado para melhor Estado foi um subterfúgio para deixar de ter encargos directos dos Serviços, para depois dar lugar a negócios lucrativos de empresas privadas que fazem do combate aos incêndios um negócio lucrativo. Não quer isto dizer que a rede de guardas florestais fosse a panaceia para tudo, mas eram esses guardas e os velhos e sábios Mestres florestais que percorriam as serras e instavam os proprietários a limpá-las.
  Passa-se o mesmo com os guarda-rios, que também foram extintos, para poupar dinheiro aos serviços de hidráulica, outra asneira de enormes e graves consequências : nunca mais ninguém vigia a limpeza das ribeiras ( entregue de tempos a tempos a empresas privadas, claro) : eram eles que pressionavam os proprietários ribeirinhos a limpar os troços de margens das suas propriedades, o que nunca mais foi feito, e eram eles que com pequenas equipas, ao longo do ano,  limpavam leitos e reparavam estragos nos muros e açudes. Muitas cheias de hoje resultam do estado de abandono em que cairam as linhas de água, de norte a sul do País.
  Outra classe de funcionários que desapareceu foi a dos cantoneiros de estrada; eram eles que com pequenas equipas mantinham as bermas e taludes das estradas limpas, sendo que é das beiras das estradas que rompem muitos fogos ou se espalham com  maior facilidade. Também dá interesse a empresas privadas serem encarregadas de fazer essa limpeza, esporadicamente e sem a eficiência que era apanágio dos cantoneiros, que até rivalizavam uns com os outros para mostrar quem tinha os lanços de estrada mais bem preparados.
  Quer dizer, as tres profissões que efectivamente TRABALHAVAM e eram fundamentais para garantir o bom funcionamento do território, foram extintas : os guardas florestais, os guarda-rios e os cantoneiros de estrada. Há anos que escrevo e digo isto, e devíamos interpelar os Ministros da Agricultura e os seus Chefes de Governo que decidiram esta situação - ninguém neste País é responsabilizado pelas asneiras publicas que praticadas.

GESTÃO DOS RECURSOS NATURAIS
                                  - uma política publica        

Os recursos naturais são finitos, vulneráveis    e decisivos para a nossa sobrevivência, com especial realce para o coberto vegetal que através da fotossíntese nos fixa o CO2 e recicla  o oxigénio ,  a água sem a qual não há vida na Terra e as paisagens que são fundamentais para as nossas idiossincrasias de  povo que habita há muitos séculos este território.
  Sobretudo num país onde esses recursos não abundam, que é o nosso caso, a sua gestão deve pertencer inelutavelmente ao colectivo da população, quer dizer, á administração pública , e não à actividade privada que mesmo nos casos em que pode gerir o interesse público ( e há sectores onde é possível encarar essa gestão total ou parcialmente), não dispensa  o legitimo  lucro pois é a sua razão de existência. Verdades “ lapalicianas”…
Voltando mais uma vez “à vaca fria”, a área florestal é uma zona crucial para o equilíbrio ecológico do território e desde que no século XIX o Estado moderno  se consolidou em Portugal que funcionaram Serviços Florestais  (SF) que cobriam as áreas florestais com uma malha de casas de guardas florestais e postos de vigia e assim desempenhavam todo o ano, ao longo do ano, as tarefas fundamentais de vigilância, controle das limpezas e dos abates de arvoredo.  Com essa  actividade pública se procurava também defender o país de grandes incêndios florestais que são, como se sabe, uma ocorrência característica dos climas mediterrânicos – e em Portugal fruto do desleixo a que foi votado o território.
A extinção dos SF, e dos guardas florestais,  deixando as áreas de matas e de mato ao abandono desde há vários anos, devia ser considerada um crime publico e os responsáveis por essas políticas deveriam ter sido chamados a responder  perante o povo , perante o país. Tudo se precipitou com o  último Governo  PSD/CDS onde a Ministra Assumção Cristas  foi a responsável, com o inexplicável silêncio do PSD; ainda há pouco tempo o deputado Ascenso Simões escreveu neste Jornal um libelo acusatório  sobre a política  que aquela Ministra tomou ou deixou de tomar e,  segundo creio,  não houve nenhum desmentido…
Nas medidas de reversão que o actual Governo tem feito quanto a políticas do anterior Executivo, por acaso – deve ser  por mero acaso -  não houve reversões no que se refere ao essencial das políticas de Agricultura e Florestas e de Ambiente. Por acaso também, o desgaste dos SF começou com Governos do PS.
Podíamos suspeitar – a suspeita é sempre possível – de que interessa que existam incêndios florestais de grandes proporções para justificar o negócio de muitos milhões de euros todos os anos, em que se transformou o uso dos meios aéreos privados para combater os grandes  incêndios catastróficos. Vade retro
Uma Autoridade  Florestal Nacional, concebida em termos actuais daquilo que devem e podem ser uns SF, devia ser uma prioridade para qualquer política publica de gestão efectiva – e séria – dos recursos naturais.
A gestão dos recursos hídricos devia depender, como já acontecia até a Ministra Assunção Cristas fazer a “sua” reforma, das administrações das bacias hidrográficas ou se quiserem,  das regiões hidrográficas .
Porque  é que este Governo, através do seu Ministério do Ambiente, ainda não procedeu à reversão desta política é também uma questão que dá para pensar ; pessoas insuspeitas como Luisa Schmidt tem  falado nisso ou há poucos dias  Rui Godinho o declarava nas colunas deste mesmo Jornal e defendia a criação de uma Autoridade Nacional da Água .  Com a extinção das ARH e a sua centralização na APA também foram extintos os guardas-rios, considerados dispensáveis – basta olharmos para a situação deplorável da maior parte das ribeiras do nosso interior para ver que eram dispensáveis…
Mas por exemplo, privatizar as águas do Algarve foi um tentação   a que se opuseram todas as Autarquias da Região. Cá estava uma proposta de “boa gestão”…
Entretanto tinhamos o ICN que consubstanciava a aplicação da Conservação, como política independente e transversal a todas as actividades económicas sectoriais ( florestas incluídas) e pilar fundamental da Política de Ambiente desde há décadas, mas desde o tempo de Assunção Cristas que se constituiu o caótico e disfuncional ICNF, transferido para o Ministério da Agricultura embora no do Ambiente actual  exista uma Secretaria de Estado dedicada à…Conservação da Natureza. Paisagens e Natureza.  e as Áreas Protegidas que deviam olhar por estes recursos naturais  estão então geridas ás três pancadas,  num caos completo, tal como as florestas…
Tantos encómios quanto a um Governo de esquerda apoiado pelas esquerdas, incluindo um Partido Verde, para isto !...

Fernando Santos Pessoa  11-06-018
arqº paisagista


RENOVAÇÃO DA POLÍTICA FLORESTAL   ?

Tudo o que se escreve aqui já foi dito inúmeras vezes, mas nunca é demais repetir quando parece que se renova a esperança!
De acordo com uma recente  reportagem do “Público” há esperança numa renovação da política florestal, de acordo com declarações do novo Secretário de Estado das Florestas. Primeiro os guardas florestais voltarão ao Ministério da Agricultura, o que pressupõe naturalmente que volte a ser criada uma autoridade florestal nacional que desapareceu com a extinção dos Serviços Florestais, medida que deve ser considerada criminosa e devia responsabilizar quem a executou.  Pode inferir-se  de declarações por ele feitas ; “Os guardas e os sapadores serão, em muitos territórios, as únicas pessoas que lá estão”
No nosso país, esta democracia que demorou tantas décadas a ser implantada e que devia estar consolidada, continua coxa, e assim continuará enquanto os políticos que governam não forem responsabilizados pelos suas medidas  e políticas lesivas do bem estar colectivo.
Precisa-se de medidas práticas mas menos retórica e menos teorias complicadas  como  têm surgido em catadupas desde que voltou a falar-se desta problemática.
Para os guardas estarem no terreno uma primeira medida prática e que não precisa de novos diplomas legais, será a definição duma nova quadrícula de casas e postos florestais. As novas tecnologias permitem que essa quadricula seja revista e certamente com menor expressão, e  para isso basta o estudo  consciencioso a fazer pelos técnicos florestais  e por académicos do sector que os há com grande sabedoria.
Os guardas florestais estão reduzidos a cerca de 300 e muitos já envelhecidos, mas não esqueceram o que sabiam da sua vida activa anterior ;uma segunda medida,  a formação de novos guardas florestais é uma obrigação  que não pode ser descurada, e essa formação deverá ser prática.  Os engenheiros silvicultores e outros académicos  e  em especial os ex-administradores florestais , mesmo que estejam  reformados podem e devem  ser chamados  e certamente muitos não se recusarão a voltar a participar nesta obra patriótica de recriar um  novo Corpo de Guardas Florestais,  não com teorias dadas numa sala de aula mas com  ensinamentos ministrados nas serras , no meio da “silva” que deverá ser vigiada e ordenada . É uma tarefa patriótica !
Uma terceira medida : solicitar às universidades que têm cursos florestais, que iniciem estudos das espécies autóctones mais adequadas para cada situação edafoclimática, que possam ser a pouco e pouco instaladas como contraponto aos pinhais e eucaliptais, aos quais servirão de faixas corta-fogo e produtoras de madeira nobre.
É necessário aumentar as equipas de sapadores florestais, que não trabalham apenas nos meses dos fogos, pois têm trabalho todo o ano na abertura e limpeza dos aceiros e arrifes que devem ordenar as áreas de mata e de mato.
Também as entidades de gestão florestal previstas,  que agreguem os ingeríveis minfundios, são outra medida fundamental e só  se percebe a posição do PCP por não estar bem explícito e assegurado que esse emparcelamento de pequenas terras não significará uma possível venda a grandes proprietários que as venham a adquirir mais tarde. A passagem sempre temporária de terras privadas para o domínio publico, é a forma de colocar ordem nas vastas áreas abandonadas e já no séc. XIII  o rei D. Fernando o proclamou com a Lei das Sesmarias.
Essas entidades de gestão florestal tal como a criação dum banco de terras, são medidas cruciais para se começar a reformar o tecido de matas e de matos, riqueza nacional, recurso fundamental para a integridade ecológica do território português.-
Para gerir toda esta complexa rede de intervenientes só uma autoridade nacional o pode fazer correctamente -  é difícil entender e aceitar uma noção destas ?
E seria lamentável, revelando apenas egoísmo politico partidário e engulhos ainda mal ultrapassados por alguns, que todos os Partidos , da esquerda à direita,  não se juntassem nesta possibilidade de reformar a gestão florestal . Há um triângulo equilátero  que tem no vértice superior a Protecção Civil, num dos vértices  inferiores os Bombeiros e no terceiro vértice a organização florestal que gere o território. É da coordenação destas tres Entidades que deverá resultar o futuro do pais em matéria de matas e de matos.
Com esta estrutura se for bem oleada, não restem duvidas que  diminui  a dimensão da maior parte dos fogos florestais e atinge-se seriamente  o negócio de milhões gastos com o uso privado dos meios de combate aos incêndios – e os  lobbies  desses negócios, infiltrados possivelmente entre os decisores ( alguns pelo menos) vão reagir e forçar as Autoridades a travarem as veleidades de tornar tendencialmente publico o combate aos fogos.
 Algumas fontes indicam que os aviões F 130 da Força Aérea, que estão parados muito tempo,  vêm preparados de fábrica para serem usados como aviões tanque para combater fogos florestais . mas nunca são usados pois lá se ia uma boa  parte do pagamento a privados. Os  Canadair serão sempre precisos mas em menor escala,,,, Se não é bem assim  que alguém venha esclarecer…
Certo é que com vigilância e limpeza das matas, e uma organização florestal nacional a gerir de novo  a politica florestal os incêndios seriam reduzidos substancialmente -. como sempre foram quando havia Serviços Florestais ,  e daqui não se pode fugir!!
Oxalá o Secretário de Estado das Florestas tenha as condições para poder agir como deve.
E que se ponha fim ao escândalo que é o caos actual do ICN e da gestão das Áreas Protegidas , hoje meras repartições do desconsolo e desmotivação de quem nelas trabalha por convicção !
Fernando Santos Pessoa
23-07-2017






04/07/016

Serviços Florestais e
Conservação da Natureza
Assuntos aparentemente menores, que não ocupam grandes espaços da comunicação social, seja escrita ou audiovisual, e por isso têm pouco impacte na opinião pública, podem porém ser   matérias da maior importância em termos de futuro, de longo prazo – aspectos de que as governanças portuguesas são pouco adeptas. O curto prazo  é muitas vezes mais importante que uma decisão sábia de longo termo.
A extinção dos Serviços Florestais levada a cabo pelo Governo PSD/CDS não levantou  qualquer reacção pública; o afastamento entre os cidadãos e a res publica,  desejado e promovido pelas derivas liberais daqueles partidos, conduziu ao encolher de ombros da maior parte das pessoas.
Os Serviços Florestais, no entanto,  eram um organismo que vinha desde o séc. XIX, e não há país nenhum no mundo, com uma grande área florestal, que não possua o seu Serviço Florestal, muitas vezes  até transformado em ícone  da Administração Publica.
Já antes , num governo “socialista”, tinha começado o desaire – a extinção do Corpo de Guardas Florestais, com a passagem do pessoal para a GNR. Foi uma medida gravosa que, tanto quanto me lembro,  passou ao lado  da opinião pública e ninguém com estatuto público relevante debateu o assunto.
Os guardas florestais e em especial os velhos Mestres Florestais, eram depositários de sabedoria e de bom senso que hoje em dia seriam tão preciosos; eles não eram meros polícias para serem pura e simplesmente incorporados na GNR – eram agentes da defesa e da protecção das matas, vigiavam o estado de limpeza, obrigavam os proprietários a procederem a limpezas, e por isso não deveriam receber ordens de qualquer tenente ou  sargento da GNR, sem desprimor para estes, é claro, mas precisavam de ser enquadrados pelos engenheiros florestais que com eles formavam uma cadeia de conhecimentos e de atitudes de intervenção no território.
Esta sabedoria dos velhos Mestres, perdeu-se  e mais uma vez devemos ser o único país do mundo com florestas que não tem um Corpo específico de Guardas Florestais,  e essa medida insere-se no pensamento liberal que desde o “socialismo liberal”  até hoje tem vindo a dominar a vida pública.
 Bastava que surgisse uma pequena coluna de fumo no horizonte e havia quase sempre um posto de guarda florestal que a avistava, o que permitia atacar os incêndios das matas e impedir que assumissem grandes dimensões. E hoje? Bem, parece que   esta prevenção dos incêndios causava grande transtorno aos lobbies dos negócios dos meios aéreos e outros  que movem muitos milhões de euros, e envolvem gente graúda. O Corpo de Guardas Florestais e a rede de postos florestais eram incompatíveis com a ”liberalização” do Estado – menos Estado melhor Estado, como se tem visto …
Não tenho dúvida  que era a mais eficaz e mais barata forma de prevenção dos fogos florestais, e só a falta de peso “lobbista” dos florestais possibilitou o seu fim-.
E então houve um génio da política, que já ficara conhecido por causa do queijo limiano, que chegou a Secretário de Estado daquilo que, presume-se… ele devia saber mais – florestas, natureza, etc…- e resolve retirar os Serviços Florestais do Ministério da Agricultura onde sempre esteve e com o beneplácito dos outros governantes, todos eles interessadíssimos nestas coisas,  enfiou-os no ICN, o organismo que sucedeu ao Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico  que, desde a Revolução de Abril de 74 , incarnava a mudança de conceitos nas políticas portuguesas, fazendo da Conservação da Natureza não um simples ornamento de qualquer Ministério, mas antes um dos pilares fundamentais das políticas de Ambiente e de Ordenamento do território…
Com estas jogadas,  passou-se o encargo dos ordenados dos guardas florestais para o orçamento da GNR  e mataram-se dois coelhos com a mesma bengalada : por um lado facilitou-se o negócio do combate aos fogos florestais, sem a intromissão dos tais vigias que não deixavam que os fogos progredissem, por outro diluiu-se o poder de intervenção do ICN dando a impressão que até aumentava a sua importância. Instalou-se nele a confusão e ingovernabilidade, mas qualquer  funcionário que fale nisso …já não há PIDE mas há quem escute e informe os chefes, escolhidos a dedo como convém.
E este aspecto do ICN merece reflexão.
A Conservação da Natureza desde há décadas que deixou de ser encarada apenas como protecção da Natureza, ela é um processo , melhor  é uma política nacional  de gestão dos ecossistemas. E como política nacional, para ser eficaz, deve ser transversal a todos os sectores da economia que interferem directamente com o território e com as paisagens : agricultura, florestas, energia, rodovias, indústrias, etc. Todos os sectores da economia devem ter uma componente conservacionista, mas o organismo que tutela a Conservação tal como toda a política de Ambiente, deve ser independente dessas actividades sectoriais.
O que não deixa de ser estranho é que hoje as Áreas Protegidas que incluem parques naturais e reservas naturais algumas delas consideradas Reservas da Biosfera, estejam sem director próprio   - é  também uma especificidade portuguesa , instituída pelo Governo do PSD/CDS (estranho  PSD , onde já militaram algumas das personalidades mais marcantes da política de Ambiente, que hoje  parece que desistiu dessa vocação).
As APs não servem apenas para  proteger  o lobo, o lince, etc; elas deviam ser modelos de economia social e exemplo para o restante território.
Nestes domínios havia algumas decisões que  se esperava fossem tomadas pelo actual Governo PS, ainda por cima sustentado por partidos de esquerda,  incluindo Os Verdes : um, que fosse recriado o organismo que faz parte do património administrativo português - os Serviços Florestais, voltando a conceder-lhe a dignidade a que tem jus, voltando a pôr em campo o Corpo de Guardas Florestais, enquanto resta alguma memória do seu contributo patriótico; dois, que os Serviços Florestais voltem ao Ministério da Agricultura que já tem de novo a designação “e Florestas”, mas só o nome…; terceiro, que sejam redignificados o ICN e as Áreas Protegidas,  a quem o novo Ministro já disse que directores não é para já, como se isso fosse uma questão menor!
Eu sigo a comunicação social, mas pode ser falha minha, porém acho que a opinião publica, as ONGs ambientais, os especialistas, todos vivem mais ou menos calados sobre estas matérias que afectam o correcto ordenamento do território: o Jorge Paiva lá consegue de vez em quando que lhe editem um artigo no “Publico”, a Luisa Schmidt lá escreve umas  crónicas no Expresso, mas parece que por ser politicamente incorrecto, mais ninguém  aparece a defender estas causas. Ao que nós chegámos…
F Pessoa

Fernando Santos Pessoa  -  Monte   Gaia. Azinhal e Amendoeira - 8005-414 Faro
Ex-Administrador Florestal
Fundador e 1º Presidente do SNPRPP
Prof. Ass, UAlg Cv. Ap



terça-feira, 7 de agosto de 2018



Áreas Protegidas

       Para as pessoas  que se empenharam a partir de 1976 no Serviço Nacional de Parques , Reservas e Património Paisagístico, deslocando-se com família para longe de casa, em condições exíguas para dar início a tão importante projeto, o malogro das Áreas Protegidas é tanto, que pensei dar início ao tema, primeiro evocando-o em título em jeito de indignação, prosseguindo com questões do Ordenamento do Território que foram a principal razão da minha vida profissional.
       Agora penso já ser tempo e começo referindo que a eleição dos Parques Naturais teve como ponto de partida a consideração de áreas regionais com elevado valor ambiental , sendo que os fatores presentes iam das causas mesológicas às antropológicas.            Pensávamos, os colegas do Serviço, que este empenhamento podia ser exemplar, procurando levar as populações ao encontro da sua história e cultura, dando continuidade nos tempos atuais  às suas raízes, valorizando-as de forma a proporcionar-lhes uma economia ecológica. Efetivamente estávamos convencidos como hoje que só essa economia, pela sua coerência, pode projetar os autóctones para  um futuro interessante, usando por ventura ferramentas atuais.
     Tal paradigma, pensávamos então, deveria ser exemplar para todo o Território pois isso  seria valorizador da Nação.
      Quão longe estamos hoje com a fusão de tais perspetivas , num Serviço com a exploração florestal  onde frequentemente  os  objetivos são mesmo antagónicos.
     Fixar as pessoas ao seu meio procurando dar-lhes condições de felicidade, nada tem a ver por exemplo com uma exploração de  eucalipto industrial que emprega uma pessoa por cada 300 hectares de plantação. Sim. por mais eficiente que seja o método ele nada tem a ver com o Mundo Rural que então procurávamos valorizar, partindo da sua vocação, e por isso estamos perante uma contradição insanável.
     Lugares de elevado valor ecológico ainda que por vezes de pouca dimensão tornavam-se numa Reserva Natural. Por exemplo os sapais, cujo solo possui por volume a maior biomassa do mundo, com consequências  decisivas na criação de peixes, pelo habitat de especial riqueza e tranquilidade para a sua fase juvenil. Tais áreas  eram merecedores de especial consideração.
      Vejamos agora  as Áreas de Paisagem Protegida pegando por exemplo na Costa Vicentina. Se realmente se não tivesse havido este estatuto aquela faixa de elevado valor estético certamente teria sido ocupada por uma ocupação em banda paralela à costa, retirando-lhe o seu elevado valor ambiental. 
J.Reis Gomes arqtº paisagista

( O autor escreve de acordo com o AO de 90)

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

A espuma dos dias
1 - As alterações climáticas  - Aí estão, bem claras para todo o mundo, algumas consequências já bem graves das alterações climáticas que os especialistas avisam há vários anos e ninguém liga grande importância. 
30º no Circo Polar Ártico e incêndios  nas florestas boreais; incêndios na Suécia com uma dimensão de que não havia memória;seca extrema na Europa Central, com perda de cereais na Alemanha e a impensável seca de alguns rios, com peixes a morrer como já acontece de vez em quando no sul...;  seca gravosa na Grã Bretanha com perdas enormes nas pastagens e nas culturas; seca nos Açores, com graves perdas das pastagens e do gado;  temperaturas excessivas e seca extrema na Coreia do Sul e no Japão; alarme na Península Ibérica e na Grécia! Só para falar de alguns dos casos mais preocupantes.
  E irresponsáveis como Trump à frente da maior potência mundial, a dizer disparates e a criar o caos, recusando aceitar o que já está à vista. O pico dos 45º C e ainda superior que se espera nesta data para algumas regiões europeias do sul como Portugal,  poderá ser de 55ºC em 2050 - isto é simplesmente catastrófico. 
2 - Contradições fatais no BE -  O episódio do vereador do BE na Câmara Municipal de Lisboa, Ricardo Robles,  apanhado a especular com um prédio em Alfama quando era o principal porta-voz  do partido contra a especulação da habitação na capital,  vem revelar contradições que existem entre muitos  militantes do partido radical de esquerda. E a direcção do partido, apanhada ao que se sabe no seu primeiro grande escândalo de ética na política, não soube gerir a situação e entrou também em contradições flagrantes.
     Foi um caso que vai deixar marca no BE, que até aqui tem sido justamente um partido crítico da situação especulativa do capitalismo contemporâneo em Portugal. Ao abrir o leque de militantes a pessoas menos escrutinadas na sua vida privada, vai dar nisto. E a direita rejubila; o PSD apesar de tudo tem sido bastante cometido, denunciou o caso e ficou-se por aí; mas o CDS, que da democracia cristã já nem se lembra do que é, e virou liberal agressivo como convém a uma direita revanchista, nunca mais largou o assunto e Assunção Cristas até se deixou escorregar  ao dizer que agora o BE era um partido...como os outros. Melhor confissão seria difícil...
3 - O Partido de Santana Lopes -  Estamos todos à espera do Partido que Santana Lopes, mais uma vez, anunciou que iria constituir, pois como menino birrento que é, apesar de já ser avô e ter tido tempo suficiente para amadurecer e ser um homenzinho,  quer ser chefe de qualquer coisa. Eterno perdedor, não percebe sequer que o tal princípio de Peter existe...