quarta-feira, 31 de agosto de 2022

 Pelo interior e  Serra da Estrela

Face ao escândalo nacional que foi o incêndio que destruiu uns 25.000 ha da Serra da Estrela, Parque Natural icónico e Geo-Parque Internacional, decidi partir para lá , como já fizera em 2017 por ali e noutras áreas ardidas; mas antes fiz um périplo pelo interior despovoado e que fica  esquecido das bênçãos  do Poder depois de assente o eco  de melífluas promessas que não passam disso.

Aldeias e pequenas vilas no meio do nada, sem agricultura, sem actividades económicas pujantes – que fazem aquelas pessoas por ali? Agarradas ao seu solo, é com um sorrido na face que nos dizem “volte mais vezes, gostamos de receber os visitantes”. Por montes e vales, não faltam cartazes a dizer “Enganados - desde 2017- Abandonados”. Coesão Territorial? Pois ela é  evidente aos olhos de quem por lá passa ( e de quem lá vive…)…

Entrar nas zonas ardidas da Serra da Estrela é um susto. Os canais de televisão que durante semanas encheram os olhos e as mentes das pessoas com o espectáculo de feéricas labaredas, em écran inteiro, deviam assumir a obrigação de voltar aos mesmos sítios e agora, exaustivamente, passarem as imagens menos feéricas das consequências das labaredas.

Graças aos meus contactos com gente que passou a vida, pessoal e profissional, na Serra, percorri os cenários da tragédia. Estive no ponto onde tudo começou a 6 de Agosto, de madrugada, perto da aldeia do Carvalho e de uma casa de guarda florestal que, se estivesse ocupada,  teria permitido dar pelo fogo mais cedo; mas um grupo de pessoas que, pelas 6h da manhã, iniciava uma caminhada, deu com o fogo  que ia  a meio da encosta, coberta de mato e algumas pequenas árvores dispersas – às 8h do cimo da Fraga Grande ( onde também estive) já viram  helicópteros a deitar água na base da encosta mas no excelente aceiro a meia encosta - onde poderiam ter sido posicionados pessoal e equipamento para conter ali o fogo que ainda não subira até lá. não estava ninguém. Claro, depois de ultrapassar aquele aceiro, com sol e vento forte, ninguém mais teve mão no fogo.

Antes os bombeiros quando trabalhavam com os florestais, todos conheciam o terreno, iam ao encontro do fogo onde ele aparecesse, hoje esperam pelo fogo. Tal foi o trauma da estúpida morte de tanta gente em 2017, que hoje a Protecção Civil defende a todo o transe casas e pessoas- o resto é para arder, sobretudo se for “apenas mato” – é o que dizem as gentes das áre4as incendiadas… Ir ao encontro do fogo ou esperar que ele chegue são atitudes diferentes.

Por vezes -muitas vezes, diz quem os viu- os bombeiros ficam horas nas estradas à espera de ordens – a descoordenação já vem pelo menos de 2017…

Percorri dezenas e dezenas de quilómetros por aceiros e outros acessos entre paisagens de terror, negras e calcinadas; fizeram-se trabalhos inúteis por terem sido mal orientados, como abrir corta -fogos de qualquer maneira – não se abre um corta fogo aos zig zags pois  não serve para nada, e junto a Verdelhos poderiam ter aberto o aceiro correctamente, o relevo permitia… Aldeias como  Sameiro, Verdelhos, Vale de Amoreira, Valhelhas, etc, ficaram rodeadas de fogo, está tudo calcinado em volta -  só escaparam  e estão verdes os pequenos terrenos cultivados. Nesta área da Serra há pelo menos 4 casas de guarda-florestal abandonadas...

O maior problema do Parque Natural é o despovoamento de moradores e de guardas e vigilantes.  Antes, quando estava "tudo mal", o Parque começou (ainda gora se voltou a falar do assunto por gente que o conhece bem) tinha um Director que era o responsável directo  por tudo o que se passava, e um Conselho Geral constituído pelas Câmara Municipais, Juntas de Freguesia e Serviços Regionais,  onde se preparavam todas as acções a implementar; depois vieram uns sobredotados que criaram a (des)orgânica caótica que levou ao abandono: nunca se cumpriu o plano de ordenamento, deixaram de apoiar os produtores de queijo artesanal e os rebanhos – um ilustre antigo técnico ainda agora me citou o Prof. Francisco Caldeira Cabral que  há 50 anos dizia que, se queriam ter mão nos incêndios, mantivessem o gado na serra.   Sem o Parque Natural a funcionar em pleno, não se ordenou a serra, como estava previsto, com agricultura de montanha, pastagem e folhosas, deixou de se apoiar o melhoramento do cervum, quando o parque natural foi ao encontro da população que protestava contra o empinheiramento dos baldios – o padre Morais, de Folgosinho, foi um dos grandes líderes dessa justa contestação.

As folhosas são fundamentais e mais uma vez fica demonstrado: um povoamento de azinheiras na Abitoreira foi afectado, mas cerca de 70% vai sobreviver tal como os castiçais; o núcleo de castanheiros da Cova tiveram o fogo em volta durante 2 dias, chamuscaram o primeiro renque, mas o fogo deixou-os verdes. Um pequeno parque de campismo rústico, na zona de Verdelhos, com magnifica floresta bem tratada e rodeada por áreas de pastagem usadas pelas ovelhas e cabras, viu o fogo andar em roda e não lhe pegou. Exemplos que deviam ser tidos em conta agora, já que o não foram nas ultimas décadas.

Algumas pessoas das terras visitadas disseram que tinham gostado das palavras do Ministro do Ambiente que, ao contrário do antecessor, lhes pareceu sinceramente receptivo à mudança; mas isso veremos, porque ele não ligou nada ao relatório do Observatório Independente presidido por um conceituado Prof. Catedrático de Silvicultura, e que propunha mudanças significativas. E agora acaba de ser anunciada outra Comissão, com 17 Entidades entre eles 8 responsáveis máximos de organismos do Estado – alguém acredita que os responsáveis vão pôr os seus lugares em causa para proporem as tais mudanças que seriam indispensáveis? Custa a crer.

Quando ao fim do dia estava de regresso, a descer para Folgosinho, passou por mim um carro de bombeiros a subir a serra, e via-se uma coluna de fumo lá ao longe. Outra vez ?

Capacitem-se de uma coisa: se o sector agro-florestal não for completamente reformulado, se a politica de Ambiente não for antecipativa e preventiva ( com Conservação e Ordenamento do Território em consonância. que hoje não existe porque se calhar "não convém")), se não se acabar com a estúpida ausência da quadricula de defesa e  vigilância permanente das áreas florestais com pessoal capaz a habitar nas serras se não houver uma politica florestal nacional e independente dos interesses das celuloses ( sem as esquecer, obviamente)- o país irá  continuar nesta sucessão anual de tragédias e de abandono.

E dispensam-se frases de arrogância - no mínimo de optimismo irritante- daquela senhora ministra que assegurou que o Parque Natural da Serra da Estrela vai ficar muito melhor do que era antes – então se sabe fazer melhor, está há sete anos no Governo, porque é  que não  fez antes? Vai ficar tudo recuperado até 2032? Os meus netos estarão cá para ver…

Com vários Parques Naturais a serem varridos pelo fogo - os planos de ordenamento das Áreas Protegidas não são compatíveis com eucaliptais... - volto a expressar aqui um voto lancinante: metam vigilância dia e noite  no Parque Natural da Arrábida onde aquelas  formações mediterrânicas são uma preciosidade!!





terça-feira, 30 de agosto de 2022

 Mais desgraças da Serra da Estrela 2022






A aldeia de Verdelhos rodeada pelo fogo, com o aceiro aberto em zig zag (!!) e apenas estão verdes as áreas cultivadas; todas as manchas verdes que se vêem nas fotos  que vêm a seguir são de folhosas, incluindo a mancha de azinheiras da Abitoreira




 Serra da Estrela 2022



A encosta onde começou o fogo no dia 6 de Agosto, as duas primeiras fotos, e a competência de abrir um aceiro em zig zag ( para ver se enganavam o fogo...)






 Incêndios florestais







As nossas paisagens estão a ficar assim, a beleza do pirómanos

terça-feira, 23 de agosto de 2022

 A escassez de água

Aqui pelo Algarve nota-se cada vez mais a escassez de água no solo e acredito que estejamos a chegar, se ainda não se atingiu,  ao ponto de emurchecimento permanente. Pelo barrocal, onde eu moro, é nítido o stress hídrico da vegetação natural, de resto  tão adaptada  a pouca água ; aqui no meu terreno, o pouco que rodeia a moradia, deixei há anos de considerar tudo jardim para poupar a rega, ficando este apenas na frente da casa. Por isso tenho diversos pequenos bosques de arbustos autóctones ( aroeira, sanguinhos, pilriteiros, trovisco, etc) nos quais se nota já a situação de stress e  trata-se dum solo que  durante décadas terá sido mobilizado pelas lavouras. não é como o dessas encostas onde a mesma flora se mantém. Tenho uma pereira brava ( P. bourgaeana) que plantei trazida do mato aí com 1m de altura e agora já tem mais de 4m, está num local sombrio e mais fresco e mesmo assim está a ir-se abaixo; todos os anos dá uma dúzia de pequenas pêras mas este ano nem uma e vai perdendo  as folhas. 

Conservação e desenvolvimento

É sempre a mesma conversa sobre estes temas,  mas de vez em quando é preciso repisar conceitos e tirar conclusões para mantermos o espírito aberto...

Não há verdadeiro desenvolvimento sem uma estratégia conservacionista e se dizer estas coisas aqui há uma ou duas décadas fazia pouco sentido para muita gente, o certo é que ainda hoje para os produtivistas neo liberais da direita( e não só, também os há entre os que se dizem de esquerda...) que pululam por aí, tudo não passa de fantasias.

Embora a intervenção tenha que ser, cada vez mais, levada a cabo a nível mundial, cada país  deve examinar o modo como está a pôr em prática a sua política de Conservação - palavra que para muitos ainda está conectada com os lirismos de proteger animais e florzinhas; continua-se a não perceber a diferença entre protecção e conservação, apesar de, desde há décadas, a nível da ONU e da UNESCO, para falar só do topo, essa diferença esteja estabelecida  e seja indiscutível.

É objectivo fundamental duma acertiva política de conservação a manutenção dos processos ecológicos e dos sistemas que garantem a vida, o que pressupõe o ordenamento qualitativo do território, a distribuição dos usos dos recursos e não a sua concentração  (policultura versus monocultura) e a boa gestão desses usos.

Em relação ao sector primário - e isto são coisas que se aprendem na escola ( será mesmo que se aprendem?) - é essencial a garantia da preservação do património genético e a utilização sustentável das espécies e dos ecossistemas.

A política de Conservação não se aplica, como alguns pensam, apenas sobre o meio natural; é crucial que a mentalidade conservacionista esteja entranhada na vida económica e cultural da sociedade. Há requisitos prioritários para concretizar os objectivos da Conservação, como sejam :

- adoptar uma forma de intervenção integrada, quer dizer conciliar as actividades produtivas com o respeito e aceitação dos pressupostos ecológicos;

-garantir um leque de opções, deixando alternativas adaptáveis a cada situação; através do ordenamento do território podem garantir-se opções viáveis e realistas para o uso dos recursos;

- as acções de intervenção devem combinar a solução das situações mais graves com a prevenção de novas situações indesejáveis; isto leva à necessidade de estudos de impacte ambiental sérios e que contem com a ponderação de custos/ benefícios;

- não se deixar ficar apenas com  o conhecimento dos sintomas da degradação que ocorra - p.ex, se há erosão numa linha de água não basta construir barragens de correcção torrencial, é necessário procurar as causas dessa erosão ( agrocultura sem respeito por curvas de nível, arborização degradada de encostas, etc).

Os obstáculos à realização dos requisitos prioritários enunciados são em geral: falta de planeamento ambiental e de ordenamento qualitativo do espaço biofísico; ausência de preocupações ambientais ao nível das decisões políticas  (e dos políticos) a montante;  legislação insuficientemente clara; deficiente cobertura do território pelas estruturas e organizações de cada sector da economia ( veja-se a falta que faz a cobertura dos Serviços Florestais  na defesa  e combate aos incêndios); falta de habilitações de decisores políticos e técnicos, e por ai fora...

Portanto, a compatibilização entre um Desenvolvimento efectivo e a Conservação tem que ser feita desde as determinações iniciais de todo o processo interventivo até à sua execução final.

E não há volta a dar: a Política de Ambiente tem que ser antecipativa, preventiva,  o que tem custos - custos de planeamento, de investigação, mas isso poupa à sociedade graves danos futuros, poupa erros de execução que levam à frustração e ao desastre económico a prazo; é pôr as gerações vindouras a pagar os erros dos que as antecederam.

E esta falta de cooperação eficiente entre uma política de Conservação ( destroçada)  e um crescimento  (não é desenvolvimento)  económico errado ( não temos uma  industrialização progressista a não ser em pequenos sectores de tecnologia de ponta, e o sector agro florestal está num estado de catastrófico, quer na agricultura quer na floresta) leva a que estejamos na cauda dos países europeus. E é uma festa. nunca se ouviram tantos discursos optimistas e laudatórios de governantes como agora!

E, depois destas notas para muitos pseudo-sérias, que não vão resolver nada, fica-se com a sensação duma espécie de sarro na boca e de pensamento conturbado...













quinta-feira, 18 de agosto de 2022

 Assim vai o mundo

Pode ser - a esperança é sempre a última a morrer, diz-se - que  o mundo, sobretudo o mundo daqueles que acreditaram até agora que  tudo o que acontece é natural e que os ambientalistas e outros que tais são uns facciosos lunáticos (como aquele abencerragem jornalista Gomes Ferreira...), pode ser que agora se iniciem a defender medidas gerais de defesa do Ambiente e de conservação da biodiversidade e das condições de emergência em que teremos que viver.

As ondas de calor surgem em todos os continentes: na Europa assusta, na ex-europeia Grã Bretanha está tudo seco e jogam o golfe em campos de sequeiro, o fogo propaga-se, falta a água; em algumas regiões chinesas também falta a água para milhões de habitantes; os fogos atingem até a Sibéria, os polos derretem e zonas que estiveram sempre sob gelo revelam agora o permafrost. No Paquistão morrem pessoas pelas chuvas catastróficas que têm caído... O mundo vai ter que acreditar nas alterações climáticas e na injustiça global que sufoca muitos povos.

Para metade da população mundial o limite de vida anda pelos 30 anos, quando nos países mais evoluídos aumenta imenso o tempo normal de vida e os velhos são um peso social grave para as economias em crise.

Em alguns continentes como Africa e Ásia  perpetuam-se  situações da maior desumanidade, esquecidas do resto do mundo: no Iémen não pára uma guerra que já  fez milhares de mortos e deslocados, onde a "democrática " Arábia Saudita mantem a guerra com o auxílio dos EUA; na Nigéria e na Somália, como no Sudão e na Eritreia, juntam-se a guerra  com a fome e a falta de água... Na Etiópia pratica-se um genocídio.

O fanatismo continua a assoberbar países e povos conduzidos por lideres de mentalidade medieval, destacando-se os muçulmanos que mantêm um fogo sagrado da sua luta religiosa um pouco em todo o mundo - embora existam cada vez mais muçulmanos com formação democrática e pensamento mais livre. Recorde-se que o Islão começou 7 séculos depois do Cristianismo e se retirarmos 7 séculos à Igreja católica estaremos em plena época de terror cristão, com a Inquisição e as suas mortes, perseguições e absolutismo fanático. Que seja possível um  regime como o dos taliban no Afeganistão, sem que o mundo muçulmano se demarque declaradamente, é  um absurdo.

A agressão que quase tirou a vida a  Salman Rushdie é um dos derradeiros sinais de até onde pode ir a cegueira ideológica, e a festa que dirigentes do Irão fizeram é um sinal inquietante; como vão longe os tempos dum Omar Khayyan !!

Neste século XXI, a guerra movida pela Rússia contra a Ucrânia é um crime imperdoável, por mais que digam que à volta de Zelensky  pululam neo-nazis - como se à volta de Putin também não os houvesse. E por cá, hem?...  Mas é preciso não misturar o agressor com  agredido nem colocar no mesmo plano o invasor e o invadido; por muito que seja questionável a adesão da Ucrânia à NATO, embora cada país possa decidir o que pretende  fazer,  há uma imensa diferença entre debater o assunto e discutir diplomaticamente - e se calhar estaríamos muitos de acordo contra essa adesão - e promover a invasão.  Fica claro que esse foi apenas o pretexto, como já havia sido a invasão da Crimeia - mas também aqui há uma  situação diferente, já que a Crimeia foi cedida  ou oferecida à Ucrânia  durante o regime soviético. O que Putin tem como objectivo, e veremos isso num futuro próximo, é reconstituir o Império moscovita desfeito com o desmoronar da URSS, ele já o disse - e ele é o iluminado que encarna a alma da grande Rússia! Aqui é que está o perigo.

A oposição ao imperialismo americano serve de leit motiv para Putin auferir apoios dos comunistas de todo o mundo e de alguns intelectuais de esquerda que, incapazes de dizerem que condenam a invasão, assumem claramente a simpatia pela Rússia, talvez esperando que Putin ou outro que o substitua venha a refazer a saudosa União Soviética - os países da Ásia Central que se cuidem, tal como alguns da Europa...

O que está em perigo é a democracia, guerreada por fora mas também por dentro; porque quando aqueles que promovem em liberdade  a festa do Avante dizem defender os trabalhadores e o povo - qual povo, o povo que não é trabalhador? Faz sentido?

Entre o imperialismo americano que muitos de nós condenam e contra  qual nos manifestámos ao longo dos anos, e o imperialismo russo é claro que prefiro viver com o primeiro - tenho liberdade para dizer, fazer e escrever o que quero e se estiver errado há tribunais para resolver a questão. Agora naquelas democracias musculadas em que a oposição vai parar  à cadeia ( no mínimo) tal como acontecia na URSS e acontece na China e em todas as "democracias populares" que existem ( cujo modelo mais aperfeiçoado  é a Coreia  do Norte !!),  interrogo-me  como é que os comunistas que vivem nas "democracias burguesas" e desfrutam de todas as  liberdades são tão sectários que preferiam a outra liberdade condicionada?  Só porque lá era eles que estavam no Poder? Custa a entender, mas se isto é indesculpável em cidadãos europeus ou doutros continentes que vivem em democracia, já é compreensível no seio desses povos que nunca conheceram os nossos valores.

Quem nunca foi bafejado pelo Renascimento, depois pelo Iluminismo e pela Revolução Francesa, não pode  sentir colectivamente o sabor da liberdade plena e responsável da democracia e do Estado modernos.

Curioso é que por exemplo o Japão, que até à 2ª Guerra mundial era um país reaccionário e retrógrado, depois assumiu a liberdade e a democracia de forma tão consistente. Daí a perspicácia dos americanos que pouparam o Imperador e  sistema imperial japonês, e tenho para mim que foi esse o factor decisivo para todo o povo reconhecer que se o Imperador era democrata todos eles o devem ser também. Curioso.

Já a Coreia do Sul é outro exemplo asiático onde o regime democrático prospera em comparação com a barbárie patética do norte.

Claro que este Ocidente é ó mundo do capitalismo, e estrando arreigadamente a favor do controle  desse capitalismo e na demarcação permanente do neo liberalismo ( já falei disso tanta vez!!) que corroe a soiciedade e +e reposnsável pelas sucessivas crises nos ltimos dois s+ecukos .- apezar disos

Vamos pensando nestas coisas - mas a liberdade é sagrada, antes vivo que preso seja a que for, já dizia o melro de Guerra Junqueiro.















sexta-feira, 12 de agosto de 2022

 Fogo na Serra da Estrela

Na Serra da Estrela já lavra desde sábado dia 6, um fogo que começou às 3h da madrugada, certamente iniciado por um fundo de garrafa de vidro que amplia os raios de sol que nele incidem - uma habitual razão para os fogos...

Eu ontem já ia de mala dentro do carro e reserva de hotel para 2 noites, em direcção ao Parque Natural que criei em 1977, já parece nas calendas gregas, e com  o contacto do José Maria Saraiva que fora Vigilante do PN desde a sua formação e é agora Presidente da Associação dos Amigos da Serra. Eu gosto de falar das coisas com conhecimento dos factos e das pessoas  e não  falar de bancada.

Começado perto da Covilhã já deu a volta por Manteigas ( lá se destruiu uma parte do vale glaciar), queimou o vale do Mondego ( hei-de visitar a nascente do Mondego, para ver se escapou) e ontem já estava junto a Carrapichana, na EN 17 e às portas de Celorico da Beira; afinal hoje de manhã, às horas a que escrevo,  ainda continua e talvez ainda passe para Mangualde - é  uma pouca vergonha.

Já ia  na estrada quando consegui falar com o Saraiva, fez-me "uma festa" por eu me lembrar  e ele então aconselhou-me a não ir  já porque  vai querer mostrar-me tudo o que ardeu e agora nem a ele deixam passar. Mas conversámos um bocado e não vou deixar aqui tudo o que ele me contou se bem que esteja disposto a dar a sua opinião quando for preciso ( quando o arqº cá vier vai ver o que tenho para dizer...).

E recordou como o fogo começou, numa encosta de mato, que se fosse no "nosso tempo" o engº Farraia mandava logo apagar, pois mal raiasse o dia a situação ainda era reversível (de resto nesses tempos não havia assim em Portugal muitos fogos que começassem de madrugada, havia ocupação de casas de guardas florestais por todo o lado e alguém que se deslocasse a horas mortas tinha muitas as probabilidades de ser descoberto); mas desta vez foi dito que deixassem arder porque era apenas mato - claro, com o vento de feição e as matas sem limpeza alguma, foi um rastilho que dura até hoje.

A incapacidade de conter o fogo em certas linhas que facilitam os corta fogos ( diz ele que a Protecção Civil agora não faz fogo corta-fogos - digo eu devem ter medo, não sabem fazer... ou não fazia parte dos cursos de emergência que tiraram). 

 Recordo-me do último grande fogo de Monchique, que fui lá tentar perceber, em que andaram quase uma semana a ver progredir o incêndio para sul, podiam posicionar-se na linha de festo da Fóia e faze-lo parar ali, mas não foram capazes; tinham lá  carros de bombeiro parados e as máquinas de rasto também paradas, não souberam limpar  uma faixa aí de 100 m de largura onde o lume não progrediria e onde podiam fazer um corta-fogo...e deixaram passar o fogo para a encosta sul. O que é isto se não incompetência ? E no fogo de Castro Marim aqui há pouco tempo? Terreno plano, só de mato rasteiro e arbustos, deixaram que o incêndio chegasse à Mata  Nacional...

E o Pinhal de Leiria ? Depois do desastre, ainda cheguei até às casas dos guardas florestais, fechadas, com dois tractores ao lado que tinham  ardido, e não tive coragem para entrar pela mata ardida dentro - passei ali os primeiros anos da minha formação florestal ...assisti a pequenos focos de incêndio  ao longo dos anos, mas agora não tive coragem para continuar pelo  ex-pinhal dentro e ver aquela destruição - psicologicamente fui abaixo e voltei para trás. É como diz o Jorge Paiva, são tudo crimes - e apesar serem devidos a  decisões e indecisões dos "comandos" com fartos cursos de combate a fogos e medalhas e galões a enfeitarem as fardas, e também  dos  governantes competentíssimos que lhes dão poder, ninguém é julgado.  "Antigamente" - lá vem a lenga lenga do passado...- os bombeiros recebiam ordens dos seus próprios comandos e dos administradores florestais que conheciam cada palmo de terreno. Pequena mas grande diferença.

Na Serra da Estrela mais uma vez havia bombeiros fardados, nas estradas, à espera de receberem ordens para avançar. As ordens, quando já está escuro e o combate aéreo não se pode fazer, são para defender as povoações e  casas isoladas e evitar a todo o custo que haja mortes,  tal foram as tragédias anteriores  - lá que ardam mais 1000 ou mais 10.000 hectares não faz mal.

Logo que eu  "tenha ordem " para avançar, lá irei ver o Parque Natural da Serra da Estrela - que já foi a jóia da coroa de um projecto de compatibilizar a conservação da biodiversidade com a economia e a cultura locais, numa visão de participação das pessoas e das suas autarquias de forma ordenada e em prol do interesse nacional - destruído... destruído, primeiro pela incompetência de quem fez as novas orgânicas dos Parques e depois, agora, pelo fogo, no altar em louvor da Incompetência Nacional tornada  indiscutível ( qualquer dia calam-nos aboca, maiorias absolutas dão para tudo).

Fico por aqui.

PS- Já se contratam assessores de Ministro com vencimento superior ao do Primeiro Ministro ( ainda há-de vir algum com vencimento igual ao do PR). tudo legal, transparente, já não vale a pena tentar disfarçar, a maioria absoluta dá para isso e muito mais). E num MAI cada vez mais poderoso, como convém a uma democracia musculada (lembram-se quando se chamava Ministério do Interior?...), não fiquemos admirados de ver surgir mais ordens legais, democráticas e apoiadas pelo Parlamento...







terça-feira, 9 de agosto de 2022

 Incêndios rurais

Cá estamos em plena época balnear e também dos inevitáveis incêndios rurais. Para os propagandistas das "florestas sustentáveis" destinadas a celulose, o eucalipto é  uma vítima de acusações  por parte de energúmenos e incompetentes  que nada percebem de floresta.

Como tenho um bom arquivo, encontrei um número do jornal "Terra Mágica" de Maio de 1985, onde um "incompetente"  que se chamava Prof. António Manuel de Azevedo Gomes, que por acaso era  Professor de Silvicultura  no ISA, declara  - e vem em título da entrevista- "Celulose e exportação de madeira na origem dos incêndios florestais".

Ora esta! E das suas declarações retira-se : há dois principais beneficiários do fogo na nossa floresta. Um deles é, em sentido lato, o comércio das madeiras... O outro são aqueles interesses que pretendem a substituição do pinhal pelo eucalipto.

Fica esta amostra...

A pouca vergonha da falta de  água

Aqui d' el rei que estamos sem água, já há numerosas freguesias a serem abastecidas por tanques dos bombeiros, o gado não tem água para beber, ( nem forragens para comer) nunca se viu nada assim...

Mas Autoridades. leia-se Governo e seus Ministérios mais responsáveis, continuam em pouco mais que silêncio ou a reconhecerem que... estamos em água.

Não era preciso ser bruxo quando há bastante tempo atrás se previu aqui que ó quando faltasse a água nas torneiras é que vinha o alarme ( antes causaria alarme...) : só têm água 2 horas por dia, proibido  regar jardins, etc, etc.

Ninguém tomou a iniciativa de há uns seis meses atrás ou até antes. começarem campanhas de mobilização das populações, na comunicação social, mas em especial nos canais de TV, para que se fosse criando a mentalidade de apertada economia de água. Mas ainda há gastos estupidamente por resolver, como são as perdas de água nas redes urbanas - porque não dá votos enterrar dinheiro a abrir valas e a corrigir as falhas da canalização: outros  como a lavagem de carros nas estações de serviço onde 1/3 da água  usada chegava para a limpeza.

Nunca mais parávamos de clamar...

O arrastar dos fundos ao longo da costa  sul do Algarve

Todos os dias, de leste para oeste ao logo das ilhas barreira do Algarve,  andam barcos a 50 m da praia. a arrastar o fundo para apanhar bivalves: é uma autêntica destruição dos fundos marinhos e é uma prática diária e continuada. A Polícia Marítima informa que não pode actuar, está tudo autorizado com o parecer da Universidade do Algarve. Pronto quando a ciência fala o cidadão cala-se...





quinta-feira, 4 de agosto de 2022



Assim vai o mundo


A guerra suja da Rússia contra a Ucrânia

Não vou falar hoje das mentalidades de alguns intelectuais de esquerda para se oporem ao que apelidam de pensamento único. Fica para outro dia.

Mas não posso deixar de registar para memória futura, o que a Rússia está mais uma vez a cometer em termos de guerra suja : ocupar as centrais nucleares  ucranianas, com tropas e material, de onde pode disparar contra os ucranianos sem que estes possam responder pelo risco que existe de acertarem em reactores e outras instalações.  É uma vergonha e uma covardia sem  qualquer atenuante.

 A independência das Universidades

As Universidades têm representado, ao longo da décadas da nossa democracia, exemplos de independência política e de convivência entre docentes dos mais variados quadrantes ideológicos, mais valia que parece agora começar a ser posta em causa.

O que é que lucra em prestígio a Universidade do Porto ao contractar como Professores Catedráticos convidados um sujeito como Matos Fernandes, ex-Ministro do Ambiente que deixou triste memória pela sua total incapacidade de perceber o que é uma política de Ambiente, e Moreira da Silva, outro ex-Ministro que, apesar de tudo, sabe o que é a matéria e se no Governo do PSD não fez grande figura terá sido mais pela idiossincrasia daquele Governo. Mas é uma jogada tão claramente política, um do PS e o outro do PSD para equilibrar, que se pega temos as Universidades portuguesas a perderem a sua grande memória de isenção e democracia interna, Custa-me a crer que o Senado da Universidade  tenha aprovado aquelas nomeações - se sim então já pouco resta para nos espantar...