Liberdade e democracia - ideais em causa
Há hoje um mundo cada vez mais submetido a extremismos, e países democráticos serão cada vez menos - até na Europa, pasme-se!
Eu sou europeísta, é neste Continente que, desde a remota Antiguidade, se foram formando os mais elevados ideais da Humanidade.
A liberdade é inerente ao ser humano como a qualquer outro ser vivo - isto é uma banalidade, mas falar dela e recorda-la nunca foi tão imperioso. Há religiões e regimes que cerceiam a liberdade em nome de verdades construídas sobre falsidades - são religiões que apelam ao mais sombrio da alma humana e que servem o Poder de quem quer controlar as sociedades.
Mesmo religiões de benevolência e compaixão, como o Budismo, acabam por gerar tentações de domínio que se julgariam longe da sua prática, e basta ver o que sucede na Birmânia e na intolerância e brutalidade exercidas pelo poder budista sobre as minorias étnicas e religiosas. Embora seja uma religião "sem deus" e apele ao mais elevado da alma humana e à energia cósmica que a anima, pode ser desviada dos seus preceitos por interesses venais de quem dela se apropria.
As religiões politeístas, quer as da Antiguidade quer as de hoje como o Hinduísmo, são abertas por natureza à diversidade de cultos e dessa forma a uma liberdade de vida interior mais ampla. Mas já alguns filósofos pré socráticos se atreviam a dizer que os deuses eram inventados pelos homens para suprir as suas próprias deficiências e receios perante o mundo.
As religiões monoteístas são, por natureza, centralizadoras e dominadoras do ser humano, principiando logo pela imposição de um só deus e impedindo a liberdade de cultos diferenciados. Mesmo assim houve sempre cismas, particularmente evidentes no Cristianismo mas também presentes no Islamismo, a ultima das grandes religiões a constituir-se.
Isto para dizer que as religiões, com o que apresentaram sempre de fantástico, de misterioso e com a capacidade auto proclamada por alguns indivíduos de saberem interpretar a vontade divina e quase dialogarem com a divindade - os sacerdotes - tornaram-se instrumentos na mão do Poder para dominar as liberdades individuais e melhor controlar tudo.
Foi na Europa que mais cedo começou a desenvolver-se a mentalidade de autonomia espiritual do ser humano, séculos e séculos de luta e sacrifício, desde o despontar da Democracia na velha Grécia, ainda insipiente e imperfeita mas onde se começou a falar de cada homem ter o direito de gerir a sua "cidade", a polis. O Renascimento, o Iluminismo, até ao Estado Moderno, foram sendo conquistas progressivas com vista á independência de pensamento e de acção, a conquista das liberdades individuais mas também colectivas que se puderam mostrar ao mundo - saíram da Europa.
Daqui se expandiram esses ideais para as Américas, um pouco para certa África e certa Ásia, Oceanía ... - da Europa para todo o Mundo. Reacções totalitárias nunca faltaram, com os mais diversos pretextos - fascismo e nazismo, estalinismo e maoísmo assombraram o mundo. Mas o liberalismo, que já despoletara a reacção marxista e a não menos sintomática do Vaticano no século XIX contra a sua cegueira face ás necessidades colectivas das sociedades e aos direitos das maiorias trabalhadoras, provocou crises do capitalismo que catapultaram para o Poder os sempre protagonistas da reacção. à esquerda e à direita.
Mussolini, Hitler, Franco, Salazar e lá pelos Orientes Mao e tantos facínoras que provocaram a morte de milhões de seres humanos em nome de um fanatismo que nada se diferencia do fanatismo religioso do tempo das Cruzadas cristãs, da Inquisição, ou do islamismo para quem a lei da Sharia é um imperativo a impor a todo o mundo, tomaram conta do mundo. Tal como no Cristianismo ao longo de séculos de obscurantismo para o Poder manter esse poder, também agora o Islão consubstancia uma ameaça às liberdades no mundo, porque como denunciou o filósofo argelino Mohammed Arkoun, o islamismo é um humanismo mas foi "nacionalizado" pelo poder dos vários Estados para seu próprio benefício.
Depois da 2ª Guerra Mundial em que se desbaratou o fascismo, o nazismo e o imperialismo nipónico, ficando os comunismos acantonados, entrou-se na mais longa era de paz social e política, a partir da Europa onde se criou o Estado Social, contra ventos e marés, que mostrou aos europeus - e mostrou mais uma vez ao mundo - como é possível conciliar a ordem e o bem estar colectivo com as liberdades individuais fundamentais.
Com a derrocada das falsas democracias populares comunistas que, em nome da libertação dos trabalhadores, os escravizavam ao Estado todo poderoso e onde a corrupção lavrava impunemente, a Europa teve um retrocesso ideológico protagonizado pelo reviver do liberalismo, a hidra do liberalismo económico-financeiro que iludiu mais uma vez as sociedades. Todas as ideologias democráticas europeias, agora a reboque da locomotiva norte americana, deram lugar à deriva neoliberal em todo o mundo, mais uma vez um universalismo mas desta vez que não saiu da Europa mas encontrou nela um suporte...
A crise da pandemia veio denunciar abertamente a dependência doentia e fatal face aos interesses capitalistas neoliberais de todo o mundo - como este ridículo exemplo, para tomarmos um Paracetamol, o princípio activo vem da indústria indiana, ninguém mais fabrica porque lá ...é mais barato.
Trump, Orban. Erdogan, Bolsonaro, Maduro, os crescimentos dos fascistas, populistas e quejandos em toda a Europa e em todo o Mundo, aí estão a tentar banquetear-se com esta crise.
Perante duas grandes ameaças reais às liberdades e às democracias universais - a China e o Islão - muitas nações encolhem as suas próprias democracias, pois o autoritarismo, o populismo e a xenofobia são ideias atractivas para mobilizar pelo medo as sociedades- salvo aquela que tiverem alma para resistir. Resistir é a solução
Fico por aqui, agora : acredito que será da Europa que vai renascer a Democracia e a Liberdade, contra islamismos, fascismos, trumpismo e outros que tais.