quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

 Para fechar o ano

Apenas umas linhas para fechar o ano 2020, de má memória.

A Pandemia - A Natureza tem destas coisas, mesmo que teorias da conspiração digam que o vírus foi criado em laboratório e deixado escapar pelos chineses, para derrubarem as economias ocidentais, leia-se norte americana, e dominar o planeta. Não é que eles não sejam capazes disso, mas nada de científico comprova essa teoria. Agora que grande parte da Humanidade, cada vez com menos recursos, começa a devorar tudo quanto pode ser comido, incluindo animais selvagens que não tinham até agora grandes contactos com o organismo humano , isso pode ser.

Por cá continuam as asneiras, os escândalos sucedem-se, mas lendo as "Farpas" de Eça e Ortigão, já nessa altura era assim, e prolongou-se -talvez apurando... - até hoje.

Depois dos tiros nos pés do Cabrita, Ministro da Administração Interna, uns atrás dos outros, das falhas graves na Justiça e no Ambiente ( de fazer corar um morto!!), começou em relativa paz a vacinação contra a pandemia, com prioridade para os profissionais de saúde que têm dado a cara e o corpo ao manifesto desde há um ano para cá, com verdadeira heroicidade. Pois há quem diga alarvidades destas : Rui Rio acusa : o responsável pelas mortes em Portugal é António Costa, e mesmo para quem não gosta deste, como eu, dizer alarvidades destas  só pode ser para concorrer com o Ventura do Chega. E para não ficar atrás o grande líder do CDS diz que tudo isto é só show - e dizem estas coisas com as caras deslavadas que têm.

Não deixa de ser curioso que quem se posiciona contra as medidas de confinamento e restrição de liberdades de circulação e de associação , apoiadas na ciência em todo o mundo e que em vários países da Europa são  muito mais rigorosas ainda do que por cá,  têm sido o PCP e os liberais. Tem graça, não ? O PCP deve ter receio que nestes estados de emergência acabem por ser implantadas  as "amplas liberdades" das democracias populares que eles tanto defendem... E os liberais devem querer que as liberdades absolutas arrasem a economia, abatam as camadas da população mais velhas e doentes para recomeçar a boa economia de mercado livre em que eles prosperam.  Como os opostos se encontram, hen?

O planeta e a nova sociedade pós pandemia

Começa a perder-se alguma esperança de que, passado o pico da pandemia e depois de esta ter revelado o estado de dependência, de destruição de equilíbrios naturais e de desigualdades que a globalização liberal implantou em todo o mundo nas últimas décadas, a Humanidade reagisse e começasse uma nova etapa do entendimento que o Homem faz do seu papel no planeta e das suas relações de solidariedade com todos e  em todos os lugares.  Mas a hidra liberal, e os poderosos interesses económico-financeiros libertinos começam a movimentar-se para retomarem  as suas posições. Certamente que haverá nos países mais evoluídos do Ocidente uma  boa parte das populações mais conscientes que se vão bater contra esse regresso ao ante-pandemia. Veremos de  que maneira as duas forças irão enfrentar-se. É matéria para maior reflexão,  daqui a uns dias...






quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

 O que vai pelo mundo e por cá

Por mais incrível que pareça, vivendo numa região turística portuguesa, na Europa e não num qualquer remoto lugar sub-sahariano, voltei a estar uns dias sem internet- a eficiente e "competente" Altice acha que esta zona de fim de rede, onde moram poucos habitantes ( poucos cliente) não merece investimento. Em menos de um mês sucede a mesma coisa - em Novembro estive 10 dias sem internet e  nem vou repetir as trocas de comunicação que então se deram ... Retomemos então a normalidade enquanto a rede aguenta.
1 - 250 anos - 16 de Dezembro, possivelmente, e há 250 anos, em Bona,  nasceu Beethoven, o maior génio  de todos os tempos na música, a música por sua vez mais melódica sem ser  delicodoce e viril e poderosa sem ser  ensurdecedora que já se escreveu. Torna-se quase incompreensível que a maior parte da sua obra, nomeadamente as grandes Sinfonias tenha sido escrita quando já estava surdo, A maravilhosa e empolgante 9ª Sinfonia!- Beethoven nunca a terá ouvido,  a surdez já era quase total.
Quer dizer que a música, as ligações entre instrumentos, a gradação, os timbres, a melodia, tudo isso estava dentro daquele cérebro.
Custa a entender que a chamada música erudita, composta na sua grande maioria na Europa, não seja considerada uma música universal e haja civilizações e culturas, nomeadamente as muçulmanas, que não a cultivam pois tudo o que não seja musica de louvor divino não tem valor para a alma humana. Coisas destas espantam-me, não percebo, até porque há indivíduos árabes ou iranianos, chineses e japoneses, que se tornaram grandes intérpretes e rivalizam com os melhores ocidentais - mas os regimes e as religiões como que boicotam a extensão dessa maravilhosa arte aos seus povos, é  uma tristeza! Eu já passei horas no interior de mosteiros budistas  no Tibet ou no Butão, ouvindo os mantras e as músicas monocórdicas  que forçam a uma introspecção, quais drogas que nos ministram, e é bom - mas toda a vida a ouvir aquilo ? No interior das mesquitas de vários países já tenho estado nos períodos de oração e ouvido uns zumbido musicais  que servem naquele momento, mas mais nada depois... Como é que se pode viver uma vida intelectualmente rica sem ter, pelo menos de vez em quando, umas sessões de boa música de Bach, de Haydn, de Mozart, de  Shubert, de Chopin, ou de Méssian - ou de Beethoven? Somos capazes de imaginar estarmos por cá a ouvir apenas o cantochão ( que é muito bonito) e  as orações musicadas das igrejas cristãs?  Como a inteligência é igualmente universal entre todos os seres humanos de todos os povos e culturas, uma das questões com que me interrogo muitas vezes é porquê a arte fica tão limitada nesses povos e nessas religiões que são autenticamente castradoras da personalidade dos seres humanos - até porque, como já disse, dessas mesmas partes da humanidade saem grandes intérpretes das chamadas artes ocidentais. Não me venham com a história do eurocentrismo e da supremacia racista branca, se o ocidente europeu se desenvolveu mais neste sentido é porque houve alguma razão para isso - nada tem a ver com supremacia cultural, antes certamente económica que mais depressa se generalizou a todo o mundo. Estamos agora a assistir ao expansionismo chinês mas se quisermos ser bons observadores veremos que eles o que fazem é servir-se habilmente dos valores ocidentais e pouco nos transmitem dos seus valores próprios, para além dos dragões  nas danças rituais... Onde já vou só porque celebro hoje os 250 anos de Beethoven!

 Na minha pequena sala de estar, que é assim por decisão própria e por  apreciar o intimismo das pequenas velhas casas rurais,  existem 3 retratos ( eu que não sou muito dado a heróis) : um busto do Eça de Queirós ( como um Eça faz hoje falta neste jardim à beira mar mal plantado!), uma fotografia do Fernando Pessoa (com quem a alma humana atinge uma espécie de estratosfera) e um retrato ( por sinal de má qualidade) de Beethoven. 

O "Concerto para violino e orquestra" é  sublime, se alguém não conhece faça o favor de tentar ouvir e deixe-se extasiar.


2- 120 anos
Eça de Queiroz - está a chegar ao fim o ano em que comemoram os 120 do seu falecimento e seja pela pandemia, seja pela habitual inércia cultural e intelectual portuguesa para além do que seja o pequeno diz-que-diz  quotidiano, quase passou despercebida esta comemoração. Agora querem transladar os restos mortais para o Panteão . Vá lá, apressem-se porque o ano está a chegar ao fim...

3 - O Estado criminoso 

A morte do ucraniano, assassinado às mãos de tres agentes policiais do SEF, em instalações do aeroporto de Lisboa, é um crime  perpetrado pelo Estado português, por agentes do Estado, actuando em nome do Estado que se torna assim um Estado criminoso.
A gente pasma como é possível que isto aconteça e que só agora, nove meses depois, porque saltou para as primeiras páginas, vem o Governo bradar aos céus que uma coisa destas não podia ter acontecido. E o próprio MAI a dizer que não há indícios de outros crimes destes terem acontecido porque os inquéritos nunca assinalaram mortes ilegais. Mas estão a fazer de nós parvos ou quê? Então o primeiro relatório do incidente da morte deste ucraniano não diz também que tinha sido uma morte acidental? O investigador chefe olhou para o vídeo gravado na altura, falou com os tres energúmenos seus subordinados e não encontrou motivos para perceber que a morte tinha sido violenta e provocada por mero ódio ? Todos os anteriores relatórios sobre violência praticada nas catacumbas do aeroporto, que atestaram nada de muito grave, podem ser falsos como este também era!
E o Ministro acha que cumpriu o seu dever e nem sequer por vergonha - que ele disse que sentia - nem por isso  se demitiu . E o Primeiro Ministro por muito que lhe custe ver atingir amigos do peito e  por coisas deste calibre,  por muito que lhe custe, devia ter a dignidade de lhe pedir ( ao menos pedir,,,) que se demitisse. Por uma gravidade  diferente se demitiu a anterior Ministra, quando os incêndios rurais tiveram como causa principal a falta de  uma política florestal adequada e a falta de uma organização nacional de defesa e gestão da floresta de que ela não era culpada e de que o  próprio dr. António Costa  é  grande responsável, por ter dado a machadada principal nos Serviços Florestais, Pouca vergonha a mais.
4 - As eleições presidenciais
Quase ninguém vai dar pelas eleições presidenciais, dado este clima de temor pela  pandemia em marcha. Coisa que não preocupa nada o actual Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, autêntico suporte dizem a direita mais extremista e a esquerda em geral dos Governos do PS pela simples razão - disfarçada  sempre pelo "interesse nacional" - de que precisa dos votos socialistas para ser eleito sem problemas. Mas é evidente para todos que o segundo mandato de Marcelo não vai ser igual ao primeiro, e ele que é estruturalmente da direita vai fazer tudo para desgastar  o PS e abrir a porta à direita  mesmo, como já admitiu, que isso signifique aceitar o Chega. Ora não ! É evidente também que António Costa sabe muito bem que será assim mas ao seu próprio programa de vida não interessa, tem outros horizontes em vista e que quem  cá ficar que se aguente...
Não deixa também de ser curioso que toda a gente se preocupe com o Chega e com André Ventura, em especial a comunicação social que os traz ao colo e é a comunicação social a principal responsável pela publicidade feita àqueles dois expoentes da direita extremista. Parece que não querem ver - ou vêem e fingem que não - que o Ventura é um bluf, sem cultura política nem convicções de direita radical, bem falante e chico-esperto com certeza,  o que ele tem é um enorme apetite e uma excepcional capacidade de ir buscar os assuntos mais contundentes para apoiar. Não se nota nele - eu não noto, talvez seja falha minha... - grandes convicções ideológicas o que se nota é o  sábio aproveitamento de tudo quanto possa cair bem na grande massa de portugueses iletrados e/ou pouco ou mal formados ideologicamente, que querem ver as suas causas resolvidas Digamos que ele é um Trump em ponto pequeno e à portuguesa, 
Agora com quem  ninguém parece tomar atenção e é muito mais perigoso em termos ideológicos são os liberais acantonados (apenas alguns...) na IL. Esses são convictos e sabem que tipo de sociedade querem ; o mercado do laissez faire, laissez passer, o assistencialismo aos mais pobres e o recurso à saúde  privada equiparado à publica, para a livre escolha; claro  que só os ricos têm essa capacidade de escolha. Mas depois o Estado paga aos pobres para irem ao privado -  IL e os seus até agora apagados sequazes esses sim são perigosos -  é bom saber-se quem são e onde estão...

5- Democracia de novo assegurada nos EUA
A autêntica palhaçada que têm sido as eleições presidenciais nos EUA está a chegar ao fim, por agora. Virem dizer que os EUA são o exemplo e o farol da democracia no mundo - vão cantar essa loa lá para a China ou para a Arábia Saudita, aí  devem gostar...
Que a vitória de Biden não faça esquecer que 70 milhões de americanos votaram no maior idiota, mentiroso e  mentecapto  que o Ocidente já conheceu. 
E o sistema de eleição em que deixam de contar os votos da sempre válida  lei "um homem um voto" para contar uma eleição de um colégio eleitoral que pode falhar na última hora,  com uma Justiça que por pouco falhou  face aos assaltos que Trump lhe encomendou, não é exemplo de democracia para ninguém.
Com Biden pode ser que alguma normalidade volte ao Ocidente e que a figura dum louco e desvairado deixe de ser exemplo para outros tantos títeres deste mudo em convulsão.
6-Brexit
Finalmente o desacordo entre a UE e a GB está a chegar ao fim,  Sem acordo em assuntos fundamentais para a economia, eu acredito que virão muito maus tempos para os britânicos. Claro que os principais responsáveis são os ingleses, convencidos com a sua Rainha de que ainda têm o Império quando governavam, punham e dispunham no mundo inteiro. Talvez os escoceses lhes dêem a volta...







terça-feira, 1 de dezembro de 2020

 A espuma dos dias ...

1 - O 1º de Dezembro

Em 1640 recuperámos a independência,  e pena é que a Catalunha na mesma altura tenha sido sacrificada ao jugo castelhano.  Teríamos uma Península Ibérica muito mais equilibrada e pujante, se em vez de ser só Portugal independente ao lado do vizinho gigante,  tivéssemos também outras nações com cultura e identidade próprias como é o caso do País Basco.

Comemorar o 1º de Dezembro é ajudar a relembrar a luta de quase 900 anos deste pequeno povo esclarecido e por vezes genial, que superou dificuldades  século após século que teve a capacidade de entender o Renascimento e daí lançou a epopeia das descobertas pelo mundo fora.  Olhar a História com os olhos de hoje, como querem fazer certos  intelectuais de pouca sustentabilidade mas ávidos de  protagonismo , é  um processo redutor da Humanidade; podemos hoje discordar de métodos e processos usados pelas gerações de há séculos,  sim senhor, ninguém hoje sustenta a escravatura, a violência racial e outras praticas que se propalaram  nos séculos anteriores. Mas a escravatura existe desde que o homem é homem, em todos os povos e em todas as culturas, até escravatura de seres humanos das mesma etnia ou próxima ( o clássico exemplo da Rainha Giga de Angola, que lutou contra os portugueses mas ela mesma tinha centenas de escravos negros ao seus serviço é significativo...)  - por isso devemos lamentar também termos estado envolvidos nessa prática desumana - mas ainda não vi nenhum chefe ou lidere africano pedir desculpa aos seus concidadãos por os antepassados terem vendido os seus irmãos ao comerciantes  que chegavam com as caravelas  até às praias. Peçam lá desculpa, vá!!

Por isso temos todas as razões para nos orgulharmos das nossas façanhas e da nossa História, sem que daí possam nascer nacionalismos e xenofobias espúrias.

 2 - Eduardo Lourenço, da colheita de 1923

Faleceu hoje Eduardo Lourenço, pensador e  escritor  de grande gabarito, talvez um dos maiores senão o maior e mais profundo pensador dos séculos XX e XXI. Morreu com 97 anos,

Aqui há uns anos o Arqº Nuno Portas disse que os anos de 1922 e 23 foram de "grandes colheitas" em termos do nascimento de homens de elevada craveira intelectual. Na verdade, e certamente vão faltar alguns nomes, dessas colheitas fazem parte Gonçalo Ribeiro Telles, Nuno Teotónio Pereira, Fernando Távora, Eduardo Lourenço, ou Adriano Moreira


3- A crise que se aproxima - Creio sinceramente, como já foi  afirmado por alguns especialistas, que o próximo ano será de uma enorme crise em todo o mundo e nós seremos dos mais afectados, pela pequena dimensão da nossa economia e pela sua dependência do comércio externo. E muito perigosas serão a crise social e a crise politica inerentes, com o rol de desempregados, de falências de empresas e de agitação social . Serão os tempos dos populismos e do crescimento dos extremismos que hoje já não serão, sejamos claros, da esquerda mas antes os da extrema direita.  Já ninguém, nos países ocidentais pelo menos, espera que comunismos e  radicalismos de esquerda venham   a dominar seja lá onde for,  porque as sociedades  ditas burguesas já não toleram a tenaz do capitalismo de Estado.

Já tenho dito que a História se repete se nós  deixarmos que ela se repita, e o que aconteceu depois da pandemia da pneumónica, em 1917- 18 foi o crescimento exponencial, ano após ano, dos ideais fascistas e ditatoriais precisamente tirando partido das dificuldades das camadas mais desfavorecidas. As políticas dum liberalismo financeiro exacerbado, explorando nas fábricas e nas cidades superpovoadas os trabalhadores e a própria classe média que despontava, levaram a enormes desigualdades entre países e em cada país entre os diversos estratos das suas  populações. A  grande crise do  liberalismo sem regras que atingiu os EUA no final da década de 20, foi agravada com as decisões do então Presidente Hoover e dos seus conselheiros financeiros sobre um Estado menor, de que valia mais deixar rebentar a economia, deixar falir as empresas que não aguentassem a crise,  para depois se poder reconstituir de novo a economia de mercado. Essa decisão agravou a crise até ao limite e começou a sentir-se a sua repercussão nos países europeus. 

Foi então que eleito o Presidente Roosevelt, que adoptou uma política inversa, depois esplanada e teorizada  por Keynes, que foi a injecção maciça de investimento público nas empresas e na sociedade, graças à  reconstituição de um Estado forte.

Mas a falência das economias europeias prosseguia, a Inglaterra, a França, a Itália e em especial a Alemanha viviam anos de grande  dificuldade económica e a pobreza aumentava. O nazismo deu  resposta aos anseios da população mais desfavorecida, não foi por acaso que se intitulou Nacional Socialismo e Hitler chegou ao Poder  ganhando eleições livres, desde logo usando tácticas e métodos  de terror público que parece não terem feito recuar a maioria dos alemães que esperavam por um futuro melhor - o resultado da guerra demonstrou que foi um engano terrível.

Na Itália nasceu o fachismo de Mussolini e na Península Ibérica os proto fascismos franquista e salazarista; noutra economia relevante no Oriente, o Japão, sob a capa fanática do Imperador, nasceu o feroz nacionalismo nipónico que só Hiroshima e Nagasaki haveriam de  destronar.

Nesta ano da nova pandemia os EUA voltam a estar na linha da frente do grande  desastre mundial. desde que a percentagem mais estúpida por um lado dos americanos menos cultos  e por outro lado dos manipuladores  da economia de mercado e das religiões extremistas, muitas vezes associados, enviaram opara Presidente o paranóico e sem escrúpulos Donald Trump. O seu posicionamento e as suas ideias  anti democráticas têm servido de exemplo e de estímulo aos protagonismos da direita reaccionária um pouco por todo o mundo.

O comportamento de alguns países da União Europeia é bem demonstrativo como as influências das ditaduras em povos mal preparados para a democracia, deixam resquícios altamente perigosos em termos civilizacionais para todo o continente europeu e - eu continuo  a ser eurocentrista... - para todo o mundo .Veja-se a dificuldade que alguns países que estiveram décadas integrados nas ditaduras comunistas eufemisticamente designadas democracias populares ( quem as visitou como eu, viu como era,,,) em aceitarem as regras da democracia liberal ou "burguesa" a ponto de, casos da Polónia e da Hungria, porem em risco a disponibilidade de fundos europeus para acudir à pandemia. Aqueles povos, depois de umas primeiras experiências democráticas a seguir ao  desabar do Muro Berlim ( que o PCP português diz que não foi nada...) deixaram-se voltar a seduzir pelas ideias  mais extremistas e  antidemocráticas de salvadores da Pátria. Esses dois são os mais explícitos, mas noutros países da Europa oriental a estabilidade democrática como a conhecemos por  aqui está sempre em risco.

Estamos num desses tempos de encruzilhada e devemos estar preparados para rebater todos os sinais de ameaça para a democracia que não é "orgânica" como queria o salazarismo nem "popular como querem  (ainda hoje !...) os marxistas leninistas ou trotzequistas  ou maoistas ou sejam á o que  forem - é a democracia  de origem liberal e burguesa, sim senhor, mas moldada  aos valores da solidariedade e da defesa do colectivo e de um Estado Social forte para poder acudir, como nesta pandemia, às necessidades prementes da economia e dos cidadãos. Veja-se como agora os autodenominados liberais pedem que o Estado intervenha, que ponha dinheiro nas empresas, que ajude o mercado a funcionar...  Menos Estado para melhore Estado, não é ? Pois, foram das crises, claro.







segunda-feira, 23 de novembro de 2020

 Ainda Gonçalo Ribeiro Telles


Quando vinha de Lisboa para o Algarve, naquele fim de  tarde depois da saída do funeral dos Jerónimos, foi quando caí em mim, como se levasse uma grande pancada : nunca mais voltaria  a subir as escadas da Rua de S.José ! Durante os últimos 4 ou 5 anos, e  de forma quase semanal nestes últimos meses em que o Gonçalo piorou e estava isolado de visitas ( permitiam a mim, fora da família,  que o visitasse), estive com ele, assistindo a uma lenta e progressiva agonia, com cegueira, com quase impossibilidade de falar - mas consciente, mesmo debaixo da sonolência que os  sedativos lhe provocavam, ele reconhecia-me e prestava alguma atenção ao que eu dizia só para o manter ligado.  Acabou o meu empenho em continuar a escrever sobre este velho e grande Amigo.

No entanto, por solicitação insistente, acabei por escrever o último artigo em memória do Gonçalo, que veio publicado no Jornal de Letras. Mas acharam por bem ( acharam eles, sem me dizer) que deviam cortar algumas frases, o que acho intolerável.  Por isso aqui vai na íntegra.

Gonçalo Ribeiro Telles, o Homem, o Mestre

É fácil e é difícil escrever sobre Gonçalo Ribeiro Telles.

Fácil porque todos o conhecem e sabem muito daquilo que ele construiu ao longo da vida; difícil para não cair nos lugares comuns estereotipados que são sempre utilizados nestas laudas.

Antes de abordar o Mestre vou tentar abordar o Homem com quem convivi com intimidade quase 60 anos, mas tenho de falar de mim porque, depois de tantas personalidades terem escrito sobre ele,  essa é a única razão para eu poder escrever  estas linhas sentidas. Foi meu Professor coadjuvando o Professor Caldeira Cabral e, para meu espanto, habituado a ver o Estado Novo perseguir republicanos e comunistas, ele - católico e monárquico - foi expulso do ensino! Foi também expulso da Câmara Municipal de Lisboa por uma exemplar questão de ética profissional ligada ao seu projecto para a Avenida da Liberdade.

Numa das últimas aulas que deu convidou-me para ir trabalhar no seu atelier e também para eu aparecer nas noites de quarta feira no Centro nacional de Cultura, onde se discutis Cultura e Liberdade. Para as gerações de hoje isto talvez pouco diga, mas era precisa coragem para aqueles homens e mulheres de grande valor se posicionarem, daquela forma, e naquele lugar, ali mesmo pegado com o quartel da PIDE.

Gonçalo Ribeiro Telles afirmou-se sempre como "monárquico popular" mas alinhou durante décadas com a oposição republicana ao regime. As suas convicções monárquicas, que eu não partilhava,  mas inspiradas em valores da Cultura e da Tradição, contribuíram decisivamente para alargar os conceitos de democracia e de convivência democrática nos ideais da Liberdade.

Basta dizer que em 1973 foi convidado a participar, mas impedido de o fazer, no 3º Congresso da Oposição em Aveiro, onde apenas  conseguiu chegar o dr. Henrique Barrilaro Ruas que leu a sua mensagem, mas a presença dos monárquicos foi possível depois do Congresso ter deixado cair a designação de Republicano para passar a ser da "Oposição Democrática" - o que só por si também diz muito do prestígio e da consideração que Ribeiro Telles já então granjeava.

Recordo-me de, em 1959, ele ter sido incomodado pela PIDE, instaurando-lhe um processo e tribunal, por ser signatário duma Carta a Salazar ( de que tenho ainda uma cópia) que partiu de um grupo de católicos progressistas encabeçada pela grande figura do Padre Abel Varzim, que incluía outros sacerdotes e personalidades da craveira de Francisco Sousa tavares, do hoje tão esquecido José Escada, João Bénard da Costa, Sofia de Mello Breyner, Nuno Teotónio Pereira e outros.E constava do documento da acusação que ele "tinha custeado a impressão da carta e sua distribuição"...

Como dirigente dos monárquicos independentes e populares  participou nas diversas eleições que se organizaram, em 1958 integrou a candidatura de Humberto Delgado e em 1969, por convite de Mário Soares, participou nas listas da CEUD através da Convergência Monárquica que chegou até 1974 - tudo o que significasse democracia e liberdade dizia-lhe respeito.

Por mim, que deixei de o ter como Professor no ISA, continuei a tê-lo no seu atelier e tenho recordações incríveis desses anos. Eu, republicano, passei a ser um dos seus mais dilectos discípulos e as nossas conversas sobre politica e sobre tudo o que nos rodeia, ao longo de todos estes anos, apenas cimentaram  uma enorme amizade e uma grande, muito grande, compreensão da minha pare pelo se génio. Porque é de génio que se trata.

A sua invulgar capacidade intelectual, revelou-o como criador de de paisagens e como inspirador de ideais democráticos, pois para Gonçalo Ribeiro Telles tudo se conjugava numa concepção global da paisagem, dos homens, do património natural explorado para dele se edificar o património construído- tudo se conjugava numa grande IDEIA comum. 

Todos têm falado dele em 1967, quando ocorreram as trágicas cheias da região de Lisboa que provocaram centenas de mortos e cujo número o regime tentou encobrir.  Nessa data, à personalidade de homem politico Ribeiro Telles veio tornar pública  a sua qualidade de grande técnico, a afirmação  de Mestre, surgindo inesperadamente na televisão a explicar as razões que tinham dado tal dimensão às chuvadas anormais que haviam caído na região. Denunciou a ocupação dos leitos de cheia e das cabeceiras das bacias hidrográficas pelas populações desfavorecidas e apontou o dedo à falta  de políticas de habitação, de apoio social e de ordenamento do território; falou de conceitos e de uma terminologia técnica que hoje nos são familiares mas que, na altura, surgiam como novidade para muitos  técnicos e sem dúvida para a opinião pública.

Com os 25 de Abril de 74 Gonçalo Ribeiro Telles, já então Presidente do PPM - Partido Popular Monárquico -  foi chamado para Sub-Secretário de Estado do Ambiente, passando depois a Secretário de Estado da mesma pasta. E teve o "desplante" de me convidar para seu chefe de gabinete, eu que sempre fui republicano e avesso ao activismo politico - mas a ele não fui capaz de recusar.

Gonçalo Ribeiro Telles depois de ter saído do VIº Governo Provisório, voltou ao ensino universitário em 1976, para a recém criada Universidade de Évora, construindo o Departamento de Planeamento Biofísico  que englobava  as licenciaturas em Arquitectura Paisagista e Engenharia Biofísica e que ele dirigiu até á sua jubilação.

Mas não abandonou a intervenção politica, participando como deputado na Assembleia da República pelo PPM integrado na AD e masi tarde como deputado independente elo PS.

Por trás do Homem, democrata, íntegro, espírito impregnado dos melhores valores humanos e colectivos, que lutou sempre pela liberdade e pela coesão social, para lá de ideologias catalogadas, estava pois o técnico, o visionário, o Mestre.

Foi entre 1979e 1983 que Ribeiro Telles teve a mais importante contribuição da sua vida para a consolidação da Política de Ambiente e de Ordenamento do Território, dando dela a verdadeira imagem pública  que já era  respeitada por todos quantos com ele privavam. Foi Ministro de Estado e da Qualidade de Vida e ainda hoje, apesar dos atropelos, das (in)correcções, das incompetências, das submissões a valores mercantilistas tornados mais importantes que a verdade das Ciências da Terra, a Política de Ambiente em Portugal assenta na legislação que saiu da sua vontade política : e não vou repetir o que já se escreveu sobre a sua acção nesses domínios.

Chamado por vezes  de utópico e idealista, nunca se afastou da realidade que é representada pela  Vida, quer no espaço rural quer no espaço urbano. Terçou armas para que paisagem urbana e paisagem rural fossem entendidas apenas como duas faces da Paisagem Global. em que a Natureza esteja presente e em que o homem tire dela proveito sem a prejudicar - hoje todos lhe dão razão por ter insistido quase obcessivamente na importância das hortas urbanas e dos corredores verde. Pôde ainda assistir à concretização duma sua "utopia" lisboeta, o corredor verde entre o Parque Eduardo VII e o Parque de Monsanto..

Utopia com os pés na terra- define bem a sua postura.

Batalhou sempre a favor do conhecimento e do respeito pelo genius locci de cada lugar - e lançou os primeiros impulsos mediáticos a favor do equilíbrio das paisagens, da defesa da Biodiversidade, do respeito pelas leis da Natureza semn fundamentalismos porque essa é também a ideia magna da arquitectura paisagista - a arte e a ciência de ordenar o espaço em relação ao Homem, com respeito pelas leis naturais da Biosfera. Foi assim o Mestre de muitas gerações.

Acompanhei Gonçalo Ribeiro Telles nos últimos anos em que aguentou um sofrimento físico e psíquico impressionante, como impressionante foi sempre a sua resiliência até ao último sopro - com 98 anos feitos.

Não basta dizer que Portugal tem uma grande dúvida para com ele - é preciso e urgente que alguém tenha a coragem de implementar as suas ideias sobre o território e a paisagem, única homenagem digna do Mestre que ele foi.

















quinta-feira, 19 de novembro de 2020

 Este mundo conturbado e este país destroçado

Escrevi a última nota a 5 de Novembro e só hoje posso retomar, por mais um exemplo do atraso deste país - um temporal mais forte ( que seria se tivesse ocorrido um ciclone ou uma tromba de água?!) arruinou a rede de que dependo para ter internet e a Altice, ou MEO, levou 10 dias para reparar um problema de fios de cobre lá fora e o meu router cá dentro, sendo que este já era velho demais...

Só quero deixar uns apontamentos de alguns assuntos, para memória futura.

NESTES DIAS TANTAS COISAS ACONTECERAM !

   1- Gonçalo Ribeiro Telles

  Finalmente chegou o seu dia de partir. Quando há uns meses lhe perguntei como estava, ainda falava mas mal, e balbuciou " estou morto mas eles não sabem".  de outra vez, tentando mantê-lo interessado nos assuntos desta época, falei  da pandemia; e deixou escapar um comentário : "esta doença não tem cura", disse-lhe que a pandemia teria cura mas ele retorquiu " a doença que eu tenho não tem cura"- estava bem ciente do seu destino. Com autorização da família para o visitar, visitei-o quase todas as semanas, cheguei a ir a Lisboa quase só para  estar com ele; quando nas últimas semanas já tinha largos períodos de inconsciência, debaixo daquela letargia que lhe proporcionavam os tão apregoados cuidados paliativos, ( dá-me vontade de aplicar em vida activa aquela receita aos estridentes técnicos, uma delas pelo menos, que aparece sempre na TV e acha que com aquilo resolvem tudo, o diabo que a carregue mais a sua receita) ; tinha outras alturas de plena consciência, apesar de cego e de não conseguir falar - dei-lhe a minha mão, disse-lhe quem era, perguntei se sabia quem eu era e ele apertou a mão longo tempo e deixou cair uma lágrima pela face abaixo. Quem fica indiferente a este sofrimento, semana após semana ? Se eu não fosse  já acérrimo defensor da eutanásia, com todos os cuidados e regulamentos que deve ter,  estes anos de acompanhar o GRT bastavam para me convencer,

Gonçalo Ribeiro Telles, sempre enquanto tivermos um sopro de vida !!

2 - O perigo mundial dos EUA

Os EUA sob a presidência de Trump constituem um enorme risco para a segurança mundial; e como já tem sido dito por muita gente, o pior nem é o próprio Trump, se bem que da mão dele podem sair actos de grande perigo para a paz no mundo, O pior são os 70 milhões de americanos que votaram nele e o suportam nos imensos disparates que faz e diz todos os dias.

Estas cenas caricatas de estar dentro da casa Branca, a negar o resultado das eleições e a mudar o visual do cabelo do louro cor de cenoura para o grisalho natural, para mim não passam de tentativas de atrair sobre ele as atenções dos imbecis capazes de o ajudarem a manter a situação estupidamente  equívoca  de que ganhou e não vai sair lá de dentro.

Os discursos do Joe Biden e o da Vice foram  reconfortantes, e com eles pode ser que volte a tranquilidade ao mundo que é tão afectado pelas medidas que os EUA  tomarem.

3 . O PSD  e o Chega - como se pode descer tão baixo?








quinta-feira, 5 de novembro de 2020

 Assim vão os anacronismos deste mundo...

Lá pela América -   Estes dias de contagem de votos nos EUA  revelam  como é falsa a ideia de uma velha e  estabilizada democracia, exemplo para todas as outras. Exemplo uma ova !

Como é possível considerar exemplar uma democracia que, para eleger o Presidente, não conta a regra democrática de um homem um voto, antes a opinião de milhões de cidadãos se esvai num colégio eleitoral ainda por cima repartido de forma desleal pelos diferentes Estados, pois mesmo que existam votos a favor de um candidato, quem tiver mais arrecada tudo !? Já nas anteriores eleições a Clinton teve mais votos que Trump...mas perdeu - isto é aceitável?

Como é possível considerar independente e  exemplar uma democracia em que os juízes membros do Supremo Tribunal decidem  quem ganha ou perde conforme estiver na presidência desse Tribunal um juiz favorável a este ou àquele candidato ?! 

Como é possível que um Partido, neste caso  com a responsabilidade do Partido Republicano, se deixe aprisionar por um sujeito que qualquer pessoa bem formada   não tolera, mentiroso, raivoso, prepotente, capaz das maiores pulhices, sem educação cívica e política !?  É ridícula, e basta por si mesma, esta situação de num Estado os apoiantes de Trump estarem a  pedir na rua que não parem a contagem dos votos e no outro Estado estarem a clamar para pararem a contagem dos votos ?! Parece uma comédia barata demais para ser verdade - mas é verdade.

O islão no seu pior 

Em França várias vezes, agora em Viena, sucedem-se os atentados horrendos contra cidadãos indefesos por uns marginais extremistas islâmicos que mata e decapitam as pessoas aos gritos de Ala é grande como se estivessem nas suas terras a combater infiéis.

Começa-se por estranhar - ou talvez não - que os Governos dos países islâmicos não venham de forma clara   denunciar os crimes praticados em nome da sua religião - e percebe-se porque, por exemplo dos Emiratos como Dubai ou Abu Dabi, nas praias e hotéis os turistas andam à ocidental,  as mulheres de biquini, sem qualquer repressão das autoridades que o promovem até para terem mais turismo -não seria de os extremistas começarem por combater os infiéis nos seus próprios países ? É que nem lá entram... 

Os países ocidentais têm de se deixar de democracia nas relações com os Estados islâmicos, com as coisas muito bem definidas - quem emigra para um país obriga-se a respeitar as regras, o estilo de vida, a religião e todas as formas de civilização do país que escolhem.   Se a emigração é um direito dos homens, ela tem que ser regulada por regras, e é mais que altura dos países ocidentais imporem restrições a quem não oferece garantia de integração. As religiões foram sempre responsáveis por estas situações de extremismo, já o fizeram os cristãos mas numa época em que essas práticas condenáveis  faziam parte da maneira de ser. Hoje não ! Avançamos muitos séculos sobre a barbárie dos cruzados e das purgas da Inquisição. Agora é tempo de exigirmos a todo o mundo que cada macaco fica no seu galho se não gosta do galho do parceiro.

A ONU devia iniciar um processo em que os países de origem de emigrantes criminosos sejam obrigados a  receber os sujeitos que forem recambiados para os seus países de origem - claro que cada um quer ver-se livre desses energúmenos, mas que tratem deles à maneira islâmica...

Eu até acredito que o Islão pode ser uma  religião de paz, embora tenha na sua essência o proselitismo militante, como têm o missionarismo cristão ou o lamaísmo budista, qualquer um destes dois sem provas de serem violentos. Lemos  Mohammed Arkoun, eminente filósofo e docente argelino  e acreditamos que o Islão pode ser uma religião  fortemente humanista  - mas os governos dos  países que assumem a religião como matéria de Estado estão a atrasar a evolução da religião para aquilo que outras religiões - cristianismo, judaísmo, hinduísmo- conseguiram que foi separar o Estado das igrejas, César e Deus podem ser amigos mas não se fundem. Mas os países não islâmicos têm fortíssimas responsabilidade pois calam ou apenas fingem que protestam porque lá vem atrás os grandes interesses dos recursos naturais, do negócio financeiro internacional,  da interdependência das economias - e tudo isso pesa mais que a felicidade dos povos...











quarta-feira, 4 de novembro de 2020

 Hoje

Vou escrever o que tem sido dito e escrito em vários tons e meios de comunicação social - hoje joga-se em larga medida a continuidade da nossa civilização ocidental.  Trump pode ganhar as eleições nos EUA. Mas mesmo que eventualmente as perca, o mais grave é a existência  dos milhões que votam nele e significam  metade ou mais de metade da população da maior potencia ocidental. A esperança numa mudança das políticas mundiais, depois  da pandemia  ter revelado as consequências da globalização liberal  das últimas décadas , vai esvair-se com a influência que um regime trumpista  terá nos nacionalismos e fascismos nacionais um pouco por todo o mundo.  De pouco vai valer alguma união que ainda se note entre a maioria dos países europeus, porque também em muitos deles  a subida das  avalanches  de extrema direita  vai ´baralhar tudo.                                 

domingo, 1 de novembro de 2020

 Estes tempos que vivemos

As nossas gerações estão a viver algo que acontece de vez em quando neste mundo, uma  pandemia.

 Para os mais velhos é um risco maior de morte, mas para os mais novos vai marca-los profundamente, pois alterou hábitos e rotinas, transtornando a percepção de valores essenciais ao crescimento da mentalidade, abrindo brechas  na formação e na informação de vastas camadas da juventude. É preocupante.

Com a crise social e económica que segue por arrasto a crise sanitária, o mundo está numa altura crucial que pode produzir ou uma nova visão do futuro, da vida, da forma de viver em democracia mais exigente, ou então um desvio civilizacional terrível em termos da Humanidade. A seguir à última pandemia de 1917 seguiram-se anos de pobreza e desgoverno, passou-se pela grande depressão dos EUA, formaram-se par a par os comunismos asfixiantes das liberdades e os ainda piores regimes fascistas europeus, os nacionalismos japonês e chinês, enfim, um tempo de  confrontação implacável. Na altura da grande depressão os EUA salvaram o descalabro com a intervenção de um grande Presidente, Roosevelt, que aplicou a receita keinesiana de atirar milhões de apoio público para a economia, o que só um Estado forte pode fazer: ao travar a depressão americana aliviou - a também nos países europeus que tinham com os EUA, como hoje tem, forte dependência económica e ideológica.

A diferença hoje é que temos como Presidente dos EUA um perigoso charlatão, mentiroso, arruaceiro, senhor dos piores valores éticos que um político pode ter e ainda mais relevantes com a posição que ele tem.

As eleições daqui a dois dias são assim um ponto do fio da navalha em que está todo o mundo.





terça-feira, 20 de outubro de 2020

 Começou a chover no Algarve

Esta noite começou a chover abundantemente aqui pelos meus lados e creio em todo o Algarve do Sotavento, o mais ameaçado pela seca.  Nada me faria mais feliz do que as minhas previsões pessimistas sobre a continuação da seca serem contrariadas por chuvas abundantes durante todo este mês de Outubro.  Com base a na opinião de tantos  especialistas credenciados também afirmei sempre que ou chovia abundantemente em finais de Setembro e durante Outubro ou antes do final do ano teríamos sérios problemas de falta de água. Ficam  felizes hoje os plantadores de abacateiros, e os de citrinos alguns dos quais já estavam aflitos com falta de água, com furos a secarem.

sábado, 17 de outubro de 2020

 Continuando...

O disparate-mor dos últimos dias

Só faltava esta espantosa proposta do António Costa, o uso obrigatório de uma aplicação de telemóvel para localizar os infectados com o Covid. Como dizia Pacheco Pereira hoje no seu artigo de jornal, nunca, jamais em tempo algum, usarei aquela aplicação de telemóvel nem que tenha de deixar de ter telemóvel. Como é que se cai num erro destes, um disparate desta dimensão ? Então o Primeiro Ministro julga que todos os portugueses têm telemóveis de topo de gama que podem receber uma aplicação daquelas ? O meu telemóvel é quase pré-histórico, serve para aquilo que preciso que é falar e receber e enviar mensagens. Vai o Governo oferecer telemóveis às centenas de milhares de portugueses que não têm telemóveis capazes de receber a aplicação ou simplesmente nem sequer usam um zingarelho desses? Vão multar quem  não tiver,  vão pôr um polícia a vigiar os telemóveis de cada um, verificando se têm a bateria carregada, etc? Disparate - mor do Reino Costa.

A esquerda  comete um erro

As dificuldades postas pelos Partidos de esquerda para aprovarem o Orçamento do Estado deixa no ar esta questão :  querem uma crise política nesta altura ? Querem dar trunfos nem sequer ao PSD do Rui Rio mas à direita mais radical e populista que aproveitará esta crise como um maná caído do céu? Por muito mau que esteja a ser o António Costa, acham que é melhor o  regresso dos passistas -ou julgam que o Passista - mor não está à espreita ?







 Reflexões sobre isto tudo

Esta crise provocada pela pandemia vai marcar  todas as gerações  e não custa acreditar que vai ter repercussões a muito longo prazo.  Para já creio, pelo que vejo, serão as  gerações mais novas a sofrerem muito  com as limitações aos seus movimentos e às suas actividades - todos nós, os mais velhos, vivemos as nossas vidas mais activas  segundo as nossas preferências e escolhas, nem sempre realizando os nossos sonhos mas  nunca fomos confrontados com estas imposições drásticas que hoje a gente nova sente.  Falo por mim, tirando o uso da máscara e a desinfecção mais frequente das mãos, continuei  a fazer  quase sempre a vida anterior, e estas filas de espera nos comércios, nas estações de serviço ou  nos transportes  tem pelo menos a vantagem de disciplinar  a malta  e talvez fique a memória para comportamentos futuros pelo menos para, quem como eu, sempre foi um "baldas".

Politicamente quero acreditar que a maioria das populações mais informadas , como as europeias, norte americanas, algumas orientais, vão  resistir a que se volte a uma ordem mundial neoliberal como aquela que  existiu nas últimas décadas.  E isso será inevitavelmente mais certo  se nos EUA, nas próximas eleições, correrem com Trump. A reacção de muitos republicanos,  que se traduz em movimentos de opinião cada vez mais numerosos e poderosos a preferirem que ganhem os democratas para depois poderem refundar o Partido Republicano, é  a melhor prova disso.

Por cá na nossa santa terrinha a situação é já historicamente caricata e perigosa. Vivemos em capitalismo e apesar de termos há anos e anos Governos de um Partido que se diz Socialista, democrático ou social democrata de esquerda ( quem diria!!), a governação é tudo menos social democrata; e veio o Cavaco Silva com toda a lata dizer que foi com ele, nos Governos que dirigiu, que se aplicou a social democracia, quando ele apenas cavou a sepultura que o PS veio a completar, primeiro com Sócrates e agora apenas atenuada em parte com A. Costa.  

Temos de reconhecer que se o primeiro Governo apelidado pela direita  de geringonça, ainda tomou medidas de socialismo democrático foi graças ás imposições do BE e do PCP ( se bem que este, sozinho., se pudesse, instituía a "democracia popular" de má memória...) - este segundo Governo  tem sido uma derrapagem indecente para a direita.

Eu, em Dezembro de 2oo5, quando Sócrates havia ganho as eleições e governava à vontade, escrevi uma crónica no "Barlavento" intitulada  "Este socialismo liberal", eu que não tenho pergaminhos de especialista em ciência política; e A. Costa limita-se a seguir a mesma linha, por isso é que agora resiste tanto a novos acordos com os Partidos à sua esquerda.

Aparecem críticas na comunicação social. para além de alguns cronistas medíocres que se intitulam de liberais (embora haja outros com essa convicção assente culturalmente em ideias  consolidadas), textos de comentadores com  bastante categoria e sobretudo  independência partidária, a confrontarem as políticas seguidas e propostas. Sabemos que A. Costa não pode ultrapassar certos limites impostos pela UE, pelo menos enquanto em países determinantes como  os nórdicos, a Alemanha, a França, etc,  não surgirem, claramente, opções de esquerda democrática que se esperam possam surgir após a pandemia. Mas o exemplo do primeiro Governo em que a Europa não acreditava e  resultou com medidas muito mais à esquerda do que aquilo que a Europa hoje conhece,  devia bastar para A. Costa prosseguir esse caminho - se tivesse convicções para tal. Ele pensa  nele e no seu próprio prestígio e carreira política, mais nada.

Governos de esquerda democrática deviam  ter como prioridade - e não vejo isso realçado pelos comentários - a criação de um Estado forte, sem pôr em perigo de forma alguma a actividade privada que é motor da economia mas não é o único motor num regime social democrata a sério. E o Estado forte precisa de efectivos na Função Pública, hoje envelhecida e desmotivada. Temos 13% de emprego público, quando a média dos países europeus anda pelos 17% - ora 3 ou 4% a mais que tivéssemos não excedíamos a média europeia e eram uns milhares de empregos que poderiam permitir dar ao SNSaúde os efectivos que não tem, tal como a Justiça a Educação e tarefas fundamentais como as políticas ambientais e  florestais. Isto é fundamental, se a média europeia é de 17% quer dizer que há países com muito mais que isso...

 O perigo hoje, para a democracia que nós criámos no Ocidente, não vem dos extremismos de esquerda que não passam de tigres de  papel, vem, isso sim, dos extremismos de direita que assolam as sociedades com os seus populismos e demagogias que captam a gente mais carenciada e/ou saudosista dos regimes da  Lei de Ordem.

(Há-de continuar daqui a pouco...)




















domingo, 27 de setembro de 2020

 Liberdade e democracia - ideais em causa

Há hoje um mundo cada vez mais submetido a extremismos, e países democráticos serão cada vez menos - até na Europa, pasme-se!

Eu sou europeísta, é neste Continente que, desde a remota Antiguidade, se foram formando os mais elevados ideais da Humanidade.

 A liberdade é inerente ao ser humano como a qualquer outro ser vivo - isto é uma  banalidade,  mas falar dela e recorda-la nunca foi tão imperioso. Há religiões e regimes que cerceiam a liberdade em nome de verdades construídas sobre falsidades - são religiões que apelam ao mais sombrio da alma humana e que servem o Poder de quem quer controlar as sociedades.
Mesmo religiões de benevolência e  compaixão, como o  Budismo, acabam por gerar tentações de domínio que se julgariam longe da sua prática, e basta ver o que sucede na Birmânia e na intolerância e brutalidade exercidas pelo poder budista sobre as minorias étnicas e religiosas. Embora seja uma religião "sem deus" e apele ao mais elevado da alma humana e à energia cósmica que a anima, pode ser desviada  dos seus preceitos por interesses venais de quem dela se apropria.

As religiões politeístas, quer as da Antiguidade quer as de hoje como o Hinduísmo, são abertas por natureza à diversidade de cultos e dessa forma a uma liberdade de vida interior mais ampla. Mas já alguns filósofos pré socráticos se atreviam a dizer que os deuses eram inventados pelos homens para suprir as suas próprias deficiências e receios perante o mundo.

As religiões monoteístas são, por natureza,  centralizadoras e dominadoras do  ser humano, principiando logo pela imposição de um só deus e impedindo a liberdade de cultos diferenciados. Mesmo assim houve sempre cismas, particularmente evidentes no Cristianismo mas também presentes no Islamismo, a ultima das grandes religiões a constituir-se.

Isto para dizer que as religiões, com o que apresentaram sempre de fantástico, de misterioso e com a capacidade auto proclamada por alguns indivíduos de saberem interpretar a vontade divina e quase dialogarem com a divindade - os sacerdotes - tornaram-se instrumentos na mão do Poder para dominar as liberdades individuais e melhor controlar tudo.

Foi na Europa que mais cedo começou a desenvolver-se  a mentalidade de autonomia espiritual do ser humano, séculos e séculos de luta e sacrifício, desde o despontar da Democracia na velha Grécia, ainda insipiente e imperfeita mas onde se começou a falar de cada homem ter o direito de gerir a sua "cidade", a polis. O Renascimento, o Iluminismo, até ao Estado Moderno, foram sendo conquistas progressivas com vista á independência de pensamento e de acção, a conquista das liberdades individuais mas também colectivas que se puderam mostrar ao mundo - saíram da Europa.

Daqui se expandiram esses ideais para as Américas,  um pouco para certa África e certa Ásia, Oceanía ... -  da Europa para todo o Mundo.  Reacções totalitárias nunca faltaram, com os mais diversos  pretextos - fascismo e nazismo, estalinismo e maoísmo assombraram o mundo.  Mas o liberalismo, que  já despoletara a reacção marxista e a não menos sintomática  do Vaticano no século XIX contra a sua cegueira face ás necessidades colectivas das sociedades e aos direitos das maiorias trabalhadoras,  provocou crises do capitalismo que catapultaram para o Poder os sempre protagonistas da reacção. à esquerda e à direita.

Mussolini, Hitler, Franco, Salazar e lá pelos Orientes Mao e tantos facínoras que provocaram a morte de milhões de seres humanos em nome de um fanatismo  que nada se diferencia do fanatismo religioso do tempo das Cruzadas cristãs, da Inquisição, ou do islamismo para quem a lei da Sharia é um imperativo a impor a todo o mundo, tomaram conta do mundo. Tal como no Cristianismo ao longo de séculos de obscurantismo para o Poder manter esse poder, também agora  o Islão consubstancia uma ameaça às liberdades no mundo, porque como  denunciou o filósofo argelino Mohammed Arkoun, o islamismo é um humanismo mas foi "nacionalizado" pelo poder dos vários Estados para seu próprio benefício.

Depois da 2ª Guerra Mundial em que se desbaratou o fascismo, o nazismo e o imperialismo nipónico, ficando os comunismos acantonados, entrou-se na mais longa era de paz social e política, a partir da Europa onde se criou o Estado Social, contra ventos e marés,  que mostrou aos europeus - e mostrou mais uma vez ao mundo - como é possível conciliar a ordem e o bem estar colectivo com as liberdades individuais  fundamentais.

Com a derrocada das falsas democracias populares comunistas que, em nome da libertação dos trabalhadores, os escravizavam ao Estado todo poderoso e onde a corrupção lavrava impunemente, a Europa teve um retrocesso ideológico protagonizado pelo reviver do liberalismo, a hidra do  liberalismo económico-financeiro que iludiu mais uma vez as sociedades.  Todas as ideologias democráticas europeias, agora a reboque da locomotiva norte americana, deram lugar à deriva neoliberal em todo o mundo, mais uma vez  um universalismo mas desta vez que não saiu da Europa mas encontrou nela um  suporte...

A crise da pandemia veio denunciar abertamente a dependência doentia e fatal face aos interesses  capitalistas neoliberais de todo o mundo - como este ridículo exemplo,  para tomarmos um Paracetamol, o princípio activo vem da indústria indiana, ninguém mais  fabrica porque lá ...é  mais barato.

Trump, Orban. Erdogan, Bolsonaro, Maduro, os  crescimentos dos fascistas, populistas e quejandos em toda a Europa e em todo o Mundo,  aí estão a tentar banquetear-se com esta crise. 
Perante duas grandes ameaças reais às liberdades e às democracias universais - a China e o Islão - muitas nações encolhem as suas próprias democracias, pois o autoritarismo, o populismo e a xenofobia são ideias  atractivas para mobilizar pelo medo as sociedades- salvo aquela que tiverem 
alma para resistir. Resistir é a solução

Fico por aqui, agora : acredito que será da Europa que vai renascer a Democracia e a Liberdade, contra islamismos, fascismos, trumpismo e outros que tais.















quinta-feira, 24 de setembro de 2020

 O estado das coisas

O estado a que chegou o Estado - A dimensão do Estado tem sido alvo de degradação nas últimas décadas, por diversas razões :  por motivações ideológicas e por falta de qualidade e eficiência da Administração Pública. Os partidos  do Pode, todos, têm deixado degradar  propositadamente a Função Pública e através do sub-reptício processo erosivo : pelo abaixamento da qualidade dos dirigentes. Garotos e garotas em geral com estadias nas Jotas, sem prática da vida, entram para adjuntos e assessores de gabinetes governamentais, vão subindo, chegam a chefes de  gabinete e num salto são nomeados Secretários de Estado. Isto já é mau,  serão decisores que a maior parte das vezes conhecem Lisboa ou o Porto e...arredores, o resto do País é paisagem. E mesmo tendo sido bons académicos nas Universidades, não têm prática da vida profissional nem sabem como encarar os graves problemas que os enfrentam. Pior então é na nomeação de Directores Gerais  e Directores de Serviço ou Presidentes de Institutos e outros órgãos - são esses que vão orientar ou desorientar,  incentivar ou desincentivar, toda a Função Pública. Os funcionários já são em grande maioria de meia idade ou pior, falta-lhes a paciência para aturar os garotos que lhes dão ordens.  Nos concursos para promoção nas carreiras os atropelos são frequentes, quem tem influências lá dentro passa à frente de outros mais qualificados, pois torna-se decisiva a "prova oral", ou seja a conversa com o candidato, onde se pode facilmente dar a volta a quem se apresenta. Não há mais casos em tribunal porque a maioria dos funcionários não tem posses nem suporte para colocar as questões na justiça. Esta é a triste realidade.

Depois há  a teoria neoliberal que à esquerda ( será esquerda ?) e à direita diz que temos trabalhadores a mais no Estado. Segundo dados do INE serão 13,1% os trabalhadores da função pública, quando a média europeia anda pelos 17%. Quer dizer que há países com muito mais que os 17%.

Ora mais 3 a 4%  que tivéssemos na Administração Pública daria para repor no SNS os efectivos capazes de  completarem as enormes faltas de hoje, serviam para colocar efectivos na Justiça, nas escolas e nas políticas florestais, agrícolas e ambientais de que ninguém fala embora  sejam politicas nacionais de sustentabilidade do país como um todo equilibrado.

A Administração Pública hoje está envelhecida, desmotivada, inoperante e apenas uma minoria de pessoas mais dedicadas ainda faz com que os Serviços vão funcionando. Muitas Repartições são antros de manter pessoal a ver a internet, a falar com amigos, a fazer tudo menos o trabalho a tempo e horas.

Ainda há Serviços em que trabalhar mesmo e duramente, e no SNS isso tem sido heróico sobretudo desde que existe a pandemia; e nas escolas muita gente dá o corpo ao manifesto porque sente que os alunos precisam de ser atendidos e servidos.

Para quando um Governo socialista honesto,  que faça jus ao seu designativo e dê ao serviço público a eficácia que ele merece - e que os portugueses merecem?  Quem põe fim ao clientelismo, à escandalosa nomeação de amigos e familiares para lugares públicos? Que politica de esquerda faria o PS sem as exigências do BE e  do PCP para conquistas sociais ? Apesar das exigências neoliberais da UE a geringonça  demonstrou que se pode fazer alguma coisa diferente - mas em políticas ambientais, agrícolas e florestais tem sido um descalabro completo  e nem os partidos de esquerda são capazes de o reivindicar nem o PS, que nunca foi ambientalista, é capaz de dar corpo a uma sustentabilidade   inequívoca para o território, sempre com cedências vergonhosas ao mercado e aos interesses financeiros e especulativos como no exemplar e afrontoso caso do aeroporto para o Montijo ou na exploração mineira, etc.

Gonçalo Ribeiro Telles

Em 3 de Setembro de 2018, em casa do Gonçalo, escrevi estas notas no meu livrinho de bolso,  depois de ele me ter dito em surdina : para morrer tenho de passar por isto?

"Não vale a pena viver assim, ser uma sombra pálida, perder o viço, perder o intelecto - ficar preso às coisas mais banais.

.............

Olhos semi cerrados, quase cego, entre bocejos. Uma vida grande, enorme. tornada nesta letargia! Não vale a pena!  Que grande lição para mim e que grande dor e constrangimento ! Assim não !! "

Dois anos depois o cenário só se agravou - e de que maneira ! Na dormência quase permanente, na cegueira  completa, no resfolegar, é a imagem que há tempos aqui escrevi do leão moribundo. 

A tragédia do Tibete

A anunciada escravatura que milhares de tibetanos dos meios rurais estão há anos a ser sujeitos, removidos para trabalharem na China, é revoltante.

Quando eu estive no Tibete , já lá vão uns bons pares de anos, já me indignou   a ocupação pelos chineses do bens e recursos tibetanos, a implantação forçada de chineses que ocupavam lojas, serviços, tudo quanto antes era apenas do povo local. Era afrontosa a destruição de património tibetano, vindo já desde a escandalosa Revolução Cultural, destruindo e danificando templos, stupas, etc; destruição de bairros inteiros de arquitectura tibetana e sua substituição por casas de tipo caserna com azulejos  que são um horror urbanístico e paisagístico.

Fiz uma jura de nunca mais voltar ao Tibete embora houvesse ainda  tanta coisa que gostaria de visitar; indigna-me  a proibição do velho e sábio Dalai Lama  poder regressar à sua terra, acusado de ser terrorista só por defender a autonomia do País por meios pacíficos - se há, ao menos em teoria, dois sistemas com a pseudo autonomia de Macau e Hong Kong, porque será que essa situação não poderás ser aplicada ao velho pais dos Himalaias, mais velho civilizacionalmente que a própria China ? Houve tibetanos que foram Imperadores da China, nunca houve nenhum chinês que tivesse sido Governante do Tibete - a História dói...








sexta-feira, 18 de setembro de 2020

 Este artigo foi  ignorado pelo PÚBLICO) para publicação

Os vendilhões do templo

A Resolução nº. 55/2020 do Conselho de Ministros  não teve ainda, a meu ver,   a atenção e a discussão que tal proposta merece já que da sua execução podem resultar novos erros tremendos e a continuidade e aprofundamento de outros erros já em curso.

Começa por falar numa visão comum dos governos e das sociedades – como é  que tem sido avaliada essa “comunhão” de ideias? Pelos resultados eleitorais? Alguma vez nas campanhas foram ou são discutidos os pontos  essenciais  que as populações nem sonham que as virão afectar – ou o bla bla das conquistas sociais conseguidas basta ( deixei de empregar a palavra chega) ? Que os governos neoliberais  duma direita mais desenraizada achem que termos 13% de emprego na Administração Pública é demais, percebe-se, mas que socialistas democráticos continuem a aceitar essa ideia é que confrange, quando a média europeia anda pelo 17%. Entre nós mais 3 ou 4% de emprego público daria para dotar o SNS dos recursos que não tem, daria para dar efectivos condignos à justiça, às escolas,  e às políticas agrícolas/florestais e ambientais que devem garantir o nosso futuro e das quais  quase ninguém fala.

Quanto à apregoada má gestão da Administração Pública, ela depende da qualidade dos dirigentes; quando um dirigente é bom até causa transtorno… E na administração privada só há bons  gestores e administradores? Fazia-se uma lista comprida só dos casos mais conhecidos.

 Para uma governação de esquerda ou mesmo  de direita, mas democráticas, não neoliberais, nós não teremos Função Pública a mais, temos é fracos dirigentes; assim a par da Direcção Geral para Qualificação dos Trabalhadores se calhar precisamos de outra  para a qualificação dos dirigentes, que hoje são em regra ( por vezes de forma demasiado escandalosa!) chamados  apenas pelo cartão partidário - e  passarem a ser chamados pelo seu mérito, tenham ou não ficha de Partido. Isso é que era bom !..(utopia da democracia !)

Em dado momento da História um Mestre varreu do templo os vendilhões -  os mercadores e os agiotas que traficavam dinheiro e influências e ultrajavam o templo.

Nas perspectivas desta Resolução existe o propósito em si mesmo indiscutível de descentralizar a gestão do País, servindo-se de resto de uma extensa lenga-lenga de palavras que todos gostam de ler, em que sobressaem renovar, garantir, reforçar… Mas se não nos acautelarmos e nos deixarmos levar pela embalagem da narrativa,  verificamos que é  o Estado Central a alijar responsabilidades, muitas necessárias,  mas outras sobre politicas que são eminentemente nacionais e que devem continuar sempre nacionais.

Exemplo : os piroverões  de que fala  Jorge Paiva são o resultado das erradas políticas florestais descentralizadas  e da surdez institucional para a  sua correcção…

Diz-me um passarinho que estará na calha a passagem para as CCDR de  políticas como  o Ordenamento do Território (OT), as Florestas ou a Conservação da Natureza – e porque não, já agora,  a Agricultura? Como é possível o país ficar indiferente a  termos deixado de ter um Ministério da Agricultura e Florestas – isto é modernizar, isto  é progresso  ou é ignorância daquilo que deve ser uma política global e nacional para gerir o mundo rural? Porque estão calados tantos técnicos ilustres deste País que sabem mais destas matérias que os políticos que decidem sobre elas? Porque acham que já não vale a pena protestar…

O  OT não pode  ficar nas mãos apenas de entidades regionais, com umas chapeladas que um qualquer “Ministro disto tudo” lhes venha a fazer. Levou décadas a sistematizar e a fixar a política de Ordenamento e Ambiente  que teve em Gonçalo Ribeiro Telles o grande mentor – e que falta hoje faz  aquela sua indómita energia  criativa que o caracteriza !!

Passar para as  autoridades regionais a Conservação da Natureza e as Áreas Protegidas  será o fim duma estratégia  nacional que começou em  1974: por mais que vistam as propostas com  roupagens de modernidade que apelam ao sentimento regionalista – ignora-se, com a mesma insolência que levou à destruição dos Serviços Florestais,  que a Natureza e os seus recursos  não tem fronteiras, e que a sua gestão, participada e envolvendo sem qualquer dúvida as autoridades regionais e locais – e sobretudo as populações, sempre as grandes esquecidas – tem que ser global e  nacional. Estão a negociar  o melhor e o mais precioso que o país possui.

Se hoje  já não aceitamos nenhum Mestre ou um “iluminado”, salvador da Pátria, precisamos, isso sim, de uma cidadania activa,  formada e informada, que corra com os vendilhões que ultrajam o património precioso do nosso  o nosso País – o nosso templo.

4-09-20

Fernando Santos Pessoa

Engº. silvicultor, arq.º paisagista

terça-feira, 15 de setembro de 2020

 Os bombeiros sempre em risco

Quando morre  qualquer ser humano é sempre uma perda, mas se ele for bombeiro a mim custa-me imenso ! Chego a pasmar que ainda haja quem queira ser bombeiro, nestes tempos de egoísmo, de puro consumismo.  E nos voluntários mais do que uma profissão é um chamamento interior, pois não é pelo que ganham que se arriscam todos os dias do ano e em especial nestas épocas dos fogos rurais. Este  Verão já morreram vários bombeiros e ficaram feridos muitos mais - os portugueses têm uma enorme dívida para com estes homens e mulheres que enfrentam  o perigo para salvar os outros.


Um primeiro ministro dias sim, dias não

O nosso Primeiro Ministro  faz parte da Comissão de Honra de uma candidatura de Clube de Futebol, por acaso o Benfica e por acaso o Luís Filipe Vieira.
Depois de recomendar aos membros dos seus Governos que nunca se esqueçam  que não tomem posições públicas que colidam com as suas funções, mesmo à mesa do café, ele não entende (ou entende muito bem...)  que  ao tomar aquela posição pública não é o cidadão António Costa que está a ser olhado, é o primeiro ministro. Assim como ele ignora ( mas eticamente  não devia ignorar) que Vieira é suspeito de envolvimento em questões pouco transparentes e por isso ficou metido em processos judiciais - a presunção de inocência não o iliba da suspeita. Costa faz isto porque, a meu ver, atingiu um patamar de arrogância que o faz julgar-se acima dos demais cidadãos. Isto e mais  a prática  quase quotidiana de meter o PS  em tudo e de meter todos os filiados e amigos nos lugares que o PS vai usurpando, é o pior exemplo que ele pode dar à  sociedade portuguesa e a um povo massacrado por corrupção e compadrio. Quer ele entenda ou não,  eu creio que a maioria das pessoas de bem - mesmo aquelas que o não dizem publicamente -  vão registar estes actos e talvez o façam pagar por eles. E depois temos Marcelo Rebelo de Sousa que se podia esperar estar acima destas situações, eu mesmo sempre acreditei que ele estaria, e afinal nada diz porque precisa do António Costa e dos votos que ele arranja para ganhar as próximas eleições. Só nos faltava mais esta!!  





quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Assuntos graves estão a ocorrer neste tempo


Uns dias em que, por demasiados afazeres e constantes deslocações, me não deram ocasião para escrever estas notas - e pronto, ocorrem coisas sérias, muito sérias, neste rectângulo, para não falar do que vai pelo resto do grande mundo.

A morte de Vicente Jorge Silva
Eu começo pelo falecimento do Vicente Jorge Silva, ocorrida  ontem, e que representa a perda de uma das referências do jornalismo português que já vinha do tempo da *outra senhora". Conheci-o e até privei com eles durante os mais de 7 anos em que vivi na Madeira e ele assumiu a direcção do jornal "cor de rosa", o Comércio do Funchal. Este tinha sido dirigido pelo José Manuel Barroso, que entretanto saiu e o Vicente assumiu a direcção. Era na época um jornal de oposição tanto quanto a censura o permitia, se bem que na Ilha a Censura fosse  menos rígida que no Continente. E eu próprio escrevi para lá algumas coisas, sob pseudónimo, pois a minha condição de funcionário publico não permitia esses "desvarios"...
Havia um pequeno grupo que não se reunia, propriamente, mas que conversava habitualmente, e de que faziam parte a então esposa do Vicente, uma jovem muito inteligente  que trabalhava do Turismo, e o então Padre Paquete de Oliveira, pároco da Sé  onde o pessoal ia ouvir as homilias do domingo por aquilo que ele denunciava a partir do altar, e  que mais tarde  deixou a sua função  e foi um sociólogo importante neste país e no jornalismo.
Jornalistas como o Vicente Jorge Silva fazem falta, cada vez mais, neste tempo de tanta confusão ideológica e onde tudo se parece a virar do avesso...

A disciplina de cidadania
Uma data de bonzos da direita, com o enfeite do Sousa Pinto diz ele, pela esquerda, assinou um  abaixo assinado contra o carácter obrigatório duma disciplina sobre Cidadania, por motivos de objecção de consciência. Se fosse uma disciplina de Religião e Moral como era a que havia no anterior regime se calhar alguns deles não seriam contra... mas o curriculum que tem sido dado a conhecer na comunicação social é todo de matérias que qualquer jovem aluno de uma democracia precisa de saber - não são os pais que o vão ensinar em casa. É ao Estado que compete, com independência e sem sectarismo, ensinar não uma ideologia seja ela qual for, mas ensinar todas aquelas matérias que constam do currículo   e se algumas são dadas em disciplinas distintas, até é
útil que uma disciplina as agregue e crie unidade aos saberes que fazem dos jovens cidadãos democratas.  
Não empurrem à força a democracia para  a esquerda, eu costumo dizer que o corpo social - a sociedade - é  como o corpo humano, tem mão direita e mão esquerda, se faltar uma fica-se maneta, se amarrarem as duas limitam-se seriamente os movimentos possíveis...
Os tempos que correm são propícios a que os valores retrógrados da História e da política, a lei e a ordem,  as boas maneiras e o respeitinho se tornam ideias-chave do Estado. Desde Trump. Bosonaro, Erdogan e cá pela Europa Putin, o  outro da Bielorussia,  Orban e alguns outros a despontarem por aí, são o melhor aviso para que se dissipem os nevoeiros sobre os valores autênticos da democracia -  e esta aprende-se na escola, mesmo que em casa os pais  ( muitos querem lá saber!) possam corrigir coisas que não gostam de ver nos filhos.
Hei-de voltar a este assunto.