Ao acabar do ano...
Comecei a escrever umas notas há dias, interrompidas pelos mais diversos motivos, e entretanto as grandes broncas começaram a entrar em catadupas, que nem dá para me fixar nelas.
Pedro Nuno Santos acaba por ser a maior de todas as coisas estranhas que estão a acontecer, e o A. Costa acaba de perder um apoio de peso. talvez o tipo mais sério e empenhado que o PS tem apresentado ( a não ser que também surja algum berbicacho com ele...).
Àquela sujeitinha que passou da TAP para a NAV e a seguir para Secretária de Estado ficou-se a dever o deslindar de tanta porcaria que anda por aí meio escondida - deve ser a ponta do icebergue. Há uma camada, para nós desconhecida, de gente deste gabarito que passa pelas empresas públicas e por Comissões e órgãos eventuais do Estado, com somas de dinheiro de dimensão descomunal para o comum dos mortais. O azar desta foi ter aceite ser Secretária de Estado, aí tudo foi escrutinado. E alguém acredita que A. Costa não soubesse nada dos antecedentes? E o próprio Pedro Nuno Santos ? E o Medina que convida a sujeita, nunca ouviu falar de nada? Que raio de assessores têm estes membros do Governo? Será que A. Costa não se apercebe do mal que estas desavergonhices causam à democracia, à esquerda democrática, à política em geral? Ou então ele está-se nas tintas, coisas que não afectem seu prestígio lá fora não afectam uma próxima chamada para a Europa. E como pelo Parlamento Europeu também as coisas vão lindas em termos de corrupção, começamos mesmo, todos nós, a ficar com os cabelos em pé!!
A política portuguesa
Nunca pensei que um político experimentado como António Costa, que até os inimigos dizem ser o melhor político português deste século, desceria o nível dos seus Governos para a trapalhada que permanentemente se revela; não há semana que não surjam casos de falta de ética, descaradamente apresentados sempre como correctos e legalmente perfeitos, mesmo que sejam uma pouca vergonha. Nem os vou citar.
Com esta maioria absoluta a arrogância de Costa e de alguns dos seus ministros é chocante, estão-se nas tintas para o que se possa pensar deles e cada vez se juntam em grupo fechado mais restrito, irmãos, primos e outros laços familiares, tornando-se a marca dos socialistas- açambarcam o maior número de cargos que podem - são demasiados anos no poder.
O mais flagrante é que António Costa faz navegação à vista, tem enfrentado sem dúvida situações complicadas desde a pandemia, agora a guerra e as subidas do custo de vida, o SNSaúde num caos porque nestes 8 anos de governo ele não foi capaz de resolver o factor mais decisivo e importante para o bem estar do povo. E se tem excedentes no OE quer dizer que tem interessado mais pelas finanças certas do que pelo bem estar das pessoas quando, dentro de limites aceitáveis, vale mais ter uma divida bem gerida do que ter contas certas e o povo a sofrer - mais de 4 milhões de portugueses na pobreza!
Políticas de sustentabilidade que assegurem a perenidade
O pior deste Governo é o continuar numa linha de neoliberalismo disfarçado a fazer o dia-a-dia e sem medidas de médio e longo prazo, que são fundamentais para assegurar a sustentabilidade. São o sector primário, a Cultura e o Ambiente que estão a ser delapidados com a pseudo-descentralização - ou seja simplesmente a passagem para as mãos da raposa das regras com que ela vai tomar conta do galinheiro.
E pelo mundo fora...
Este 2022 vá ficar especialmente na memória ( e nos registos) por razões das mais terríveis que se podem viver: a guerra, as guerras, o terrorismo a governar. Podia enunciar outras( Birmânia, Síria, Tunísia, Palestinianos subjugados e dizimados pelos judeus, etc etc), mas vão apenas algumas das actualmente mais graves situações com repercussões mundiais.
Iémen, guerra interminável, suportada pela Arábia Saudita com auxílio dos EUA, crise humanitária de extremas proporções.
Centro de África, extremistas islâmicos, sustentados por países islâmicos, que permanecem no silêncio - quem é que lhes fornece armas ou dinheiro para as comprar?- causam o terror nas pequenas aldeias; raptam e violam mulheres apesar da hipocrisia da religião, que dizem professar e pela qual lutam, de proteger a mulher e escondê-la da vista dos homens.
Curdos, um dos povos mais injustiçados do mundo, continuam a ser dizimados em todos os países em que a política colonial da Inglaterra os dividiu nos séculos XIX e XX. O Iraque só nasceu como país creio que em 1920, instituído pelos ingleses, subtraindo uma grande fatia ao Irão, para retalharem o Médio Oriente e melhor o controlarem. Os curdos são mais de 30 milhões, tem história, cultura e língua próprias e nunca tiveram ninguém que tomasse posição por eles, nem a Sociedade das Nações nem agora a ONU. Repartidos pela Turquia, Síria, Iraque e Irão, lutam ingloriamente pelo seu Curdistão e então para os turcos servem de moeda de troca para as politiquices de apoio ou não à NATO e à Ucrânia. Uma vergonha internacional.
O corno de África, a eterna luta da miséria, entre tribos rivais que alguns países traficantes de armas sustentam e a ONU e a maioria dos países, como a guerra é lá ao longe, não fazem nem dizem nada.
Os balcãs, ninho de pequenas nacionalidades e recontros de religiões, continuam em surdas guerras que podem despoletar outras maiores quando nelas se envolvem países terceiros. Foram os responsáveis pela 1ª Grande Guerra e lá andam, em especial os sérvios, a criar conflitos com o Kosovo e outros vizinhos, alguns de que pouco se fala como a Albânia. Lá estão tropas da ONU a apagar fogos. Sérvia que dissimuladamente apoia os russos nesta guerra...
Ucrânia, finalmente a guerra à nossa porta, a estúpida guerra de um verdadeiro nazi russo em nome de acabar com os nazis ucranianos. Hitler invadiu os países vizinhos e deu início à 2ª Grande Guerra para proteger os povos germanófilos, garantindo a sua área vital - qual é a diferença para a invasão dos povos vizinhos da Rússia russófobos e russófilos ( não foi nem é apenas a Ucrânia) e garantir a sua área de influência vital ? Entre a ditadura nazi, com domínio absoluto sobre todos os opositores, polícia política, assassinatos, e a ditadura tipo soviético de Putin, antigo funcionário superior do KGB, com os opositores democráticos na cadeia, o controle da comunicação social, assassinatos de opositores, qual a diferença? Os opositores ocidentais "suaves" desta guerra falam em surdina nas negociações de paz, e no negócio americano do armamento, como se não houvesse negócio de amamento russo que precisava, tal como o americano, de vender armas; a paz virá rapidamente se a Ucrânia deixar de receber armas, como diz quase diariamente Putin, e desse modo a Rússia ocupará o que quer e ficará tudo em paz. Não seria um final feliz?! E outros críticos até de direita - ou indefinidos como Miguel Sousa Tavares- e aquela cronista das "alfarrobas" disfarçada de moderada, no Publico, não suportam o Zelensky, que pode ter, e terá, muitos defeitos - mas que encarnou com enorme coragem física e anímica a defesa do seu povo. Ou porque era apenas um comediante (o que parece ser um defeito ou uma incapacidade...), ou porque mente e usa desinformação, como se nas guerras estas coisas não fossem sempre usadas pelos dois lados...) ou porque exige demasiado aos ocidentais, enfim - o que os chateia é a influência mundial que ele adquiriu, certamente usando as suas capacidades de comunicação que a profissão de actor lhe confere e o seu grande feito conseguir que os tais 3 meses que Putin dizia que duraria a "sua" guerra, não ter agora fim à vista.
Os crimes de guerra, sujos, próprios dum exército sem vergonha que não respeita o mínimo da ética da guerra (são tantos que não cabem nestas notas) devm ficar de aviso para todo o mundo - aquilo que pode vir a ser feito por qualquer desavergonhado que governe um país amordaçado.
Fico por aqui, pois ainda este ano falarei de novo no assunto.
O ataque às democracias
Este é um dos aspectos que mais ficou realçado ao longo deste ano. Países como Rússia e outras "democracias" como aquelas que agradam aos do PCP e alguns intelectuais de esquerda ( que votam a lado do Chega em questões de liberdades individuais...) não suportam a superioridade moral - porque não me importo de ser considerado pretensamente superior!!- sim, superioridade moral dos povos que adoptam a democracia "tout court", sem mais adjectivos, com liberdade individual com respeito pelos interesses colectivos, e poder dizer e escrever o que quiser apenas assumindo responsabilidade criminal se for caso disso. Esses países de democracia "musculada", onde os governantes se aproveitaram da breve democracia que existiu para assumirem o poder e transformarem logo o regime em poder pessoal ( Turquia, Hungria...) têm afinal inveja, talvez mal disfarçada, dos povos que o conseguiram .
Apesar de tantos ataques as democracias têm sobrevivido, e como exemplos temos quer Trump quer Bolsonaro, dois casos em dois grandes países em que a democracia esteve em risco eminente, foram sido afastados.
Mas os riscos não desapareceram; Itália, Polonia ( disfarçada com a chegada da guerra da Ucrânia) Hungria, só na Europa, têm estado na beira do precipício. Veremos o que o novo ano nos vai trazer.
O incrível Irão
A revolta das mulheres no Irão é um dos mais espectaculares casos que nos fazem acreditar que as ditaduras não duram sempre - até nós estivemos sob uma durante quase 50 anos e acabou.
O descalabro do regime dos ayatolas com a sua violência extrema significa talvez que as coisas terão que mudar, e se as forças armadas se fartarem dos excessos e actuarem, os padres xiitas têm os dias contados,
Enforcar jovens em público e deixa-los ficar pendurados uns dias só para meter medo, é do mais tenebroso que se pode imaginar- em pleno século XXI.
Eu estive no Irão, a que prefiro chamar Pérsia, e conheci lá um dos povos mais acolhedores, educados e fraternos que já visitei.. Depois do descalabro dos governos do Xá, com os seus excessos, vieram os padres e a sua religião atrasada vários séculos em relação á actualidade, só comparável, pelo lado mau, com os taliban no Afeganistão.
Que triste fim de 2022!!
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