sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

 Fim de ano

31 de Dezembro de 2021

Que belo dia hoje, e ao mesmo tempo que péssimo dia| - conforme a óptica de quem o aprecia. E eu aprecio nas suas ópticas...

Fui á praia, como faço desde que me recordo  há um ror de anos, nos Açores, na Madeira e aqui pelo Algarve, e fui tomar o meu banho de mar que serve para "limpar as misérias" do ano que acaba. Amanhã tomarei o primeiro banho do novo ano, faça sol  ou chovam picaretas...  Está um belo dia na óptica do utilizador, pois um sol radioso e sem uma brisa dá vontade de sorrir, é  no entanto incompreensível no pino do Inverno - daí ser um péssimo dia em termos de condição climática. Não me lembro de temperaturas assim no Algarve.

Veja-se que almocei ao ar livre, um repasto voltado para Trás-os-Montes pois tirando o bacalhau que é pescado lá fora, ainda assim foi regado com azeite de Romeu ( um dos melhores azeites portugueses, acreditem) e com vinho tinto Mogadouro Reserva, delicioso, do melhor que se pode encontrar neste País de tantos vinhos bons; este não se encontra fora da região. por ser pequena a produção. Trouxe mais vinhos transmontanos,  todos muito desconhecidos mas muito bons. que valem por isso mesmo  por serem de pequena produção e ainda não terem entrado pelo caminho do vulgar e da grande produção.

As misérias do país e do mundo

É inevitável nestes dias de fim de ano não pensar no que foi o ano que acaba hoje, E 2021 foi um ano marafado começando por mim que estive ameaçado com uma daquelas doenças que faz calafrios... Mas parece que me safei, é o que dizem os entendidos. Depois tive outro susto, também afastado o perigo potencial, de novo  voltaram a dizer os mesmos entendidos...

Mais importante que eu é o que se passou por aí, começando pelo País. E é um resumo resumido

A tristeza dum governo de esquerda  democrática

Não  é possível deixar de recordar a tristeza que foi este Governo agora apenas em funções até às eleições de Janeiro, daqui a um mês. António Costa que é considerado um politico hábil e perspicaz deixou  este Governo afundar-se em trapalhadas monumentais, com os ministros mais incompetentes e, para ter o pessoal "na mão", fartou-se de arregimentar para os seus apaniguados  o maior número possível de lugares de charneira no Estado.

Com a Presidência da UE, que nitidamente  lhe interessou mais que esta "porcalhota" cá da terra, deixou que  sujeitos  sem o mínimo nível intelectual  assumissem posições e tomassem decisões impensáveis num governo de esquerda democrática, que devia ser ideologicamente um exemplo de eficácia e isenção na defesa das res publica. Ingénuo que eu sei que  sou, naífe...

A arrogância que A. Costa  emprestou à sua presença como chefe do Governo transmitiu-se aos ministros - cada um de nós julga aqueles que acha mais afrontosos e para mim nem foi a Ministra da Saúde ( a quem ninguém inveja  o lugar e a vida que teve desde que rompeu esta pandemia): mas o Cabrita, insuportavelmente estúpido e arrogante, a da Agricultura insuportavelmente desaparecida, sem cara nem  obra para mostrar: o do Ambiente, incompetente e arrogante na sua incompetência, que agarrou ávidamente aquele tacho de ministro como podia ser em qualquer outra pasta, pois a ignorância é muito atrevida e  quando sair lá lhe arranjam outro tacho; o do Ensino Superior que não faz jus ao seu mestre com quem poderia ter aprendido alguma coisa e deixou que as Universidades, na sua maioria, chegassem a este estado de dormência ( é o melhor que se pode dizer...) E outros ministros de quem nem se ouve falar e que fazem o quê?

O pateta do Ambiente resolveu responder a um texto, que eu também subscrevi sobre a situação a que chegaram as AP e assinado por personalidades com toda a sua vida dedicada ao Ambiente e às AP.  Valia muito mais que tivesse deixado passar do que vir com aquele chorrilho de baboseiras, arrogância  (diz que antes dele foram só tretas, agora é que está tudo no melhor - como é possível ser tão atrasado mental ou chico esperto que vai dar ao mesmo ?) e mentiras.

A pandemia que nos aflige

Nem se pode deixar de dizer uma palavra sobre esta peste  que nos caiu em cima e da qual, os que se safarem, nunca mais esquecerão até ao fim  das suas vidas. Se ela se transformar em mais uma forma de gripe crónica mas aguda como outras que foram aparecendo  então do mal o menos, pois que fique e que a farmacologia nos venha a oferecer defesas no futuro próximo.

O que acho espantoso é que no meio desta infecção, com os ditos e contraditos dos especialistas  em que uns eminentes  dizem que é A e outros igualmente eminentes dizem que não é A é B, ( e quando a DGS toma posição por A tem contra ela todos os da B, e se tomasse posição pela B teria contra si os  da A - ora  é o que faz a direita para sobreviver  só para ser  anti PS, como o bastonário da Ordem dos Médicos e o Sindicato Independente com quem faz "parceria" e que tomam sempre o lado oposto ao da DGS, ( apesar do Instituto Ricardo Jorge, que apoia as directivas a tomar pela DGS, acolha especialistas da maior alta competência).  É a política rasteira, para lá de eventuais críticas que possam ser feitas à DGS  e á Ministra -  mas quem em todo o mundo. neste domínio, não andou aos zig-zags?

O que me faz dar a volta são os que arrogantemente se negam a ser vacinados seja porque razão for. Quem se vacina não se está só a proteger-se a si, está a impedir a transmissão da doença aos outros, é uma situação de calamidade publica.  Em regime democrático nada se deve impor, a liberdade de  vacinar ou não é um  direito, mas a maior liberdade impõe a maior responsabilidade. 

Com que cara esta gente se assume acima dos vulgares mortais que se vacinam, e  tem o descaramento de não assumir depois a responsabilidade  respectiva ?  - quando a maioria dos infectados nos hospitais são não vacinados. que estão a ocupar cuidados médicos e camas que podem fazer falta a outras pessoas com outras patologias? Deviam ser obrigados a pagar os cuidados médicos  com a sua hospitalização, é o mínimo que se lhe poderia exigir; além das limitações de acesso a diversos eventos, pois nenhum de nós está para admitir conviver com um sujeito daqueles que não sabe se está a infectado, nem está minimamente protegido, Até há pais que não vacinam os filhos contra o sarampo  que é tão perigoso e pode espalhar a doença ! Com que direito, hem ?

A miséria pelo mundo

Só  um calhamaço poderia levar descritas todas as misérias que vão pelo mundo, e todos nós - como eu - olhamos para elas e ficamos na mesma, sem darmos um passo - mas que passo? Neste fim de ano posso começar por qualquer, é difícil estabelecer uma hierarquia de misérias.

As migrações

Desde que o homem se desenvolveu em etnias e povos que se deram migrações, foi o que possibilitou povoar o planeta. Historicamente  foram as "invasões" que se sucederam que formaram muitos dos países que hoje existem. 

 Houve sempre causas naturais - a fome, as secas, a exaustão de recursos- e causas politicas, de que o caso mais flagrante foi a fuga dos judeus da Palestina, século após século.

Neste século XXI é chocante a hipocrisia de todos, até de mim que escrevo estas notas, perante os dramas que estão a suceder todos os dias, mês após mês, de Verão e de Inverno, com  milhares de migrantes que atravessam os desertos desde o Afeganistão até ao Sahara, que atravessam o Mediterrâneo e morrem aos milhares, ou  encostados ás vedações cobertas de neve das fronteiras de onde não passam, afogados no mar ( homens, mulheres e muitas crianças), presos em campos de concentração ( onde apenas a  misericórdia de algumas ONG os socorre). E todos os governantes falam disto, reúnem-se em conferências, almoçam e jantam e vão dormir descansados porque trataram do assunto.  

E a hipocrisia dos países muçulmanos, que têm tanto dinheiro e  que são incapazes de socorrer os migrantes muçulmanos, desde  o Afeganistão,  da Síria, do Iémen. etc  - onde pára o Islão ?

Só este assunto dava para páginas e páginas.

A escabrosa situação da Palestina

Israel formou-se a custa da influência do sionismo depois da 2ª Grande Guerra, sobre a banca e os poderosos políticos de origem judaica  que controlavam os governos dos EUA e da Grã Bretanha. Deixemo-nos de tretas, foi  pela força que os judeus que vieram de todos os países de onde foram escorraçados, entraram na Palestina, desalojaram para cima de 400.000 habitantes tirando-lhes as casas, as terras, os negócios e metendo-os em colónias forçadas. Não tiveram - e décadas depois continuam a não ter - qualquer misericórdia para com os pobres rurais daqueles terrenos sem desérticos; esqueceram-se dos horrores que eles mesmo sofreram às mãos do nazis e um pouco por todo o mundo, esqueceram-se de que pediam misericórdia e não a obtinham - e agora fazem o mesmo ! Onde estava o Jeová nesses anos para os proteger?...
Mais um assunto que dava para muitas páginas.

A fotografia de uma mulher ainda nova a ser consolada por outras mais velhas quando atras de si as máquinas israelitas destroem a sua casa, deveria envergonhar todos o mundo .  Onde anda Alá nestas alturas ?

A democracia em risco em quase todo o mundo

Estamos  no mundo numa espécie de novo ciclo em que os autoritarismos brotam até onde se pensava que a democracia  (chamada de burguesa pelos comunistas ( que,  de resto, dela se aproveitam sempre que podem...)  parecia instalada, lembremo-nos de Trump e dos milhões de americanos que gostam daquilo.

A democracia que dizemos ocidental encarna o mais elevado que o espírito e a dignidade dos seres humanos pode alcançar - cada homem é livre e assume a responsabilidade dessa liberdade e a garantia da alternância de quadrantes ideológicos dentro da mesma lógica que coloca, acima de tudo,  a liberdade.

Para se viver em  democracia é preciso que o regime  seja justo, seja isento, seja igualitário, coloque o interesse colectivo acima dos interesses particulares e individuais sem destruir a individualidade e a capacidade e criatividade  do indivíduo.

É difícil e dispendioso viver em democracia como aquela em que têm vivido os países da Europa Ocidental depois da 2ª Guerra, ou a Austrália,  os EUA ( até  à aberração do Trump) ou o Canadá e poucos mais. Exige uma formação cultural e uma herança histórica que vem desde a Revolução Francesa e os povos em que esta ( apesar de todos os seus abusos)  não se fez sentir, nunca chegaram a interiorizar a democracia -  aguentam qualquer iluminado que fale em patranhas fáceis de entender, como acontece a quem esteve muitos anos sob a opressão das ditaduras nos países europeus do Leste. São facilmente atraídos, na maioria, para o autoritarismo. 

É curioso que Espanha e Portugal, que também viveram muitas décadas sob ditaduras fascistas, quando estas caíram retomaram avidamente a democracia -  eu acredito que isso aconteceu porque antes tivemos  um longo período de aprendizagem da democracia desde o século XIX - e ela entranhou-se. 

O mundo conheceu depois da 1ª Grande Guerra o surgimento de ditaduras de direita  como contraponto ao apelo à ditadura comunista; salvaram-se os países onde a democracia estaria mais entranhada e mais autodefendida, embora nesses países  tenham surgido naturalmente sectores de direita fascista ou próxima  (nos EUA, na própria Grã Bretanha houve simpatizantes, em França foi por demais evidente,,,)

Outro assunto que dará para páginas e páginas de reflexão,..

Eram 11 h da manhã ouvi na rádio que passara o ano nas Ilhas Fiji, daqui a uma horas será por cá.  Pode ser que 2022 seja melhor, este 21 foi uma lástimas sob todos os pontos de vista, para Portugal e muito pior para outras partes do Mundo. O csarismo de Putin, o comunismo" chinês e o seu recuo nas liberdades de Hong  Kong  (no resto da China nem se fala, pois vive tudo em beleza e harmonia celestiais, guiados pelo farol do PC chinês- que inveja para outros PC...); o pesadelo brasileiro do Bolsonaro; os miseráveis afegãos sem uma palavra de censura do resto do mundo islâmico ( para que a gente se vá lembrando...); a fome e a guerra na Etiópia, no Iémen, no Corno de África; os polos da Terra a derreterem  e as indústrias a fingirem que não acontece nada; a sujeira que reina nas redes sociais de que eu apenas tenho um ligeiríssimo contacto por via indirecta...

Que mundo este ! 

Só voltarei a escrever em 2022, ano do centenário do nascimento do meu velho e grande amigo Gonçalo, dos oitenta anos do início do curso de  arquitectura paisagista, de sete anos sobre o falecimento do outro  velho amigo e mestre  Ilídio de Araújo, de dez anos sobre a  morte do outro grande amigo e também mestre António Viana Barreto!! que datas !!



terça-feira, 21 de dezembro de 2021

 Nestes dias que correm...

Tempo de Natal

Com a pandemia a estender-se sem fim à vista, com meio mundo por vacinar  por não ter acesso às vacinas e uns cretinos ditos civilizados a não se quererem vacinar por "ideologia", o Natal deste ano vai ser um triste simulacro. Natal não é só para os cristãos por razões  de religião,  ele foi adoptado pela maioria das pessoas com ou sem religião, como a festa da família. E a família deve ser honrada com uma festa. 

Mas é também um  pretexto para se socorrerem os indigentes. os sem abrigo, os desviados da boa sorte - e aqui tanta desgraça que ocorre por esse mundo fora.

 Já não bastavam as doenças, as fomes crónicas, a pobreza endémica de milhões de seres humanos, cada vez maiores demonstrações da rotura da Terra, das alterações do clima e das actividades telúricas um pouco por todo o Mundo - já não bastava tudo isto e ainda temos cada vez mais autoritarismo, mais regimes despóticos que se aproveitam  das facilidades ( e das fragilidades) da democracia para  elegerem chefes que mal chegam ao poder o que fazem é alterar as regras, modificar  as Constituições, alterar a independência do poder judicial moldando-o  aos seus desejos de domínio. Se olharmos para a História do mundo, em especial do Ocidente, vemos como ciclicamente até onde se pensava que a democracia estava forte e exemplar, ocorrem fenómenos como o Trump, o Bolsonaro, o Orban da Hungria, o Erdogan da Turquia, e aqui há uns anos no Egipto com a Irmandade Muçulmana.

Aqui neste rectângulo temos assistido como o desempenho de um mau Governo que se dizia de esquerda democrática e deveria, por isso, ser exemplar, tem contribuído para o descrédito da democracia, com clientelismo descarado, ocupação geral de todos os cargos possíveis pelos que possuem cartão do PS ou dão garantias de lealdade - quando um partido da esquerda democrática deveria premiar o mérito, certamente com alguns dos seus em certos lugares chave mas chamando para lugares do aparelho do Estado pessoas capazes sem lhes perguntar - ou mesmo sabendo - a que ideologia pertencem.

Foi assim nos primeiros anos do regime democrático, quando se pensava que tudo era possível em liberdade e confronto limpo de ideias até á primeira purga feita pela AD em 1979-80 - eu testemunhei e fui um dos últimos  "saneados".  Daí em diante foi  um constante apelo ao clientelismo, foi  acenar com mordomias, tanto do PS como do PSD só que este... esteve menos anos seguidos no Poder.

As asneiras e tiros no pé deste Governo do A. Costa tem sobretudo feito crescer é a corja do Chega, que com um discurso fácil, apontando os deslises, a estupidez crónica dum Cabrita, as irregularidades na Justiça, ( e fala-se menos porque ninguém se interessa por isso, no  morcão do do Ambiente) e prometendo aquilo que, se atingisse o Poder, não faria, atrai muita gente até com instrução e inesperadamente que eu julgava acima dessa atracção.

Perguntavam-me ontem - então os exageros radicais do Chega são maus e os radicalismos do BE são bons? E esta lógica impõe-se porque falha redondamente a eficácia, a justeza de decisões (mas abunda em arrogância) dum partido de esquerda democrática que deveria  exactamente ser o fiel do equilíbrio entre aqueles dois radicalismos. O PCP existe mas é um cadáver adiado, mantendo-se incrustado no leninismo como se o exemplo de décadas dessa distorção do marxismo não  bastasse para arrepiar caminho como ain da há dia explicava muito lucidamente o Carlos Brito.

Em tempo de Natal e com eleições daqui a uns 30 dias, com a pandemia a aumentar e a alterar a vida de cada vez mais pessoas, era pedir muito ao PS que pusesse a mão na consciência e enveredasse por um caminho diferente; há muitos militantes que acham que isto está mal, mas nada dizem, são excluídos do Poder logo a seguir. Já vimos isso...

O fim do CDS

O CDS tem visto sair grande parte dos seus militantes para a IL e até para o Chega, e é pena ver que um partido fundador da democracia portuguesa ( embora tivesse votado contra a primeira Constituição) seja esvaziado assim.   Os ratos num navio, quando vêem o barco a afundar-se, pulam para qualquer coisa que passe ao lado.

Um desses ratos que pulam fora foi um cronista do Publico, Francisco Mendes da Silva, que acaba a última crónica com esta pérola: "É uma infelicidade que nos últimos anos o PSD e o CDS se tenham deixado bloquear intelectualmente pela desconfiança das ideias liberais..." E depois : "Não vejo como possa prescindir do liberalismo económico e social..." E termina " O liberalismo é o oposto ao socialismo. A direita ou é liberal ou não é alternativa".

 Esqueceu-se que ele pertenceu ao CDS que é (  era...) um partido da democracia cristã, agora ignorada como sendo uma oposição ao socialismo, o que significa que ele estava lá por ser o mais à direita que encontrava no mercado.

Personalidades como Amaro do Costa,  Freitas do Amaral, Adriano Moreira, Bagão Felix, para citar só estes, defenderam a democracia cristã como alternativa ao socialismo democrático , como aconteceu e acontece em toda a Europa; e revela um desconhecimento lamentável para o ex-militante da democracia cristã que a Rerum Novarum, a partir da qual nasceu a doutrina social da Igreja, condenava tanto o marxismo ( não era propriamente o socialismo) como o liberalismo, por serem ambas ideologias não democráticas e castigando os povos com restrições imorais. E podemos invocar o guru do liberalismo ( que o nosso cronista deve adorar, caso o conheça...)  Fukuyama, que escreveu a tontice do Fim da História depois da queda do bloco soviético, mas que em 2019 reconhecia que nunca esperou que os desvios liberais tivessem levado à eleição de Trump e que a culpa era da esquerda democrática por  não ter sido capaz de segurar as suas posições. Ora esta, hem ?

Fico hoje por aqui.













sábado, 18 de dezembro de 2021

 O triste mundo em que vivemos

O nosso clima

Apesar de tantos avisos, uns atrás dos outros, de investigadores e cientistas há anos e anos, de que estamos a caminhar para a rotura do planeta em termos de condições climáticas e de perda da Biodiversidade, a maioria dos governantes tal como a esmagadora maioria das populações, continua como se nada estivesse a acontecer - o que interessa é garantir a esmola chamada salário que se recebe ao fim do mês ( quando recebe)  que dá para o pão e para o circo mediático  que está montado, para ensurdecer nos festivais de música com os mais altos decibéis que o ouvido humano aguenta e dão para aturdir,  ulular e extravasar as fúrias internas. Já vão acabando as touradas, talvez possam voltar a surgir os torneios de gladiadores como substituto - com a falta de emprego talvez seja uma opção - bizarra mas opção...

Claro que uma pequena minoria das sociedades humanas vive à grande com a situação e se esses forem apanhados por um cataclismo planetário  súbito como já  acontece em vários pontos do mundo  (como furacões, subidas do nível do mar, tempestades tropicais, inundações repentinas, secas extensas devastadoras) essa minoria consegue escapar porque tem meios para se deslocar  - ou se não escapa morre feliz!

Já vivo há uns 35 anos aqui pelo Algarve, no mesmo lugar do barrocal, e tal como os meus vizinhos, também eu testemunho que nunca houve por aqui temperaturas tão elevadas desde o Verão -  não foi tanto o Verão que foi mais quente,  o resto dos meses é que não arrefecem...). Este ano estamos de novo numa seca prolongada, não tem chovido quase nada, recordo que aí por 2003-2004 também houve uma seca prolongada em que chegou a haver restrição no abastecimento urbano de água no extremo do Sotavento,  mas continuaram a ser regados os campos de golfe... Aqui á minha volta secaram quase todos os furos, os aquíferos ficaram esgotados, mas antes tinha havido um maior  período chuvoso e as albufeiras das barragens ainda aguentaram algum tempo, Mas agora os níveis das albufeiras estão em níveis críticos e se não chover até  ao Natal (  que é daqui a uma semana...) diz a vox populi que pouco ou nada choverá depois e a chuva que vier no tarde já não  resolve as necessidades quer da agricultura ( qual agricultura, não  é?...)  quer dos aquíferos pois em regra são chuvas repentinas e torrenciais( como as que já caíram 2 vezes este Outono) esgotam-se nas enxurradas e pouca água entra nos "abismos".

O perclaro Ministro do Ambiente e das Florestas, na sua voz gutural repleta de sabedorias, diz que está tudo controlado e, a reboque de opiniões de alguns defensores da dessalinização da água do mar, que ele começou por desvalorizar e  rejeitar,  lá acabou por dizer que merece ser estudado. isto faz desconfiar pois o senhor não merece muita confiança. Pode ele  querer dizer que já está algum grande grupo económico a tratar da dessalinização, em vez de  ser o Estado a tratar do assunto, pois para um governante socialista tudo quanto é estatal é mau e tudo quanto é do privado é que é bom...

 E esse perclaro Ministro logo no 1º Governo de que fez parte mandou deslocar ao Algarve um Secretário de Estado para...tentar privatizar as Águas do Algarve, que estão tão mal na mão  pública  (mas as Autarquias algarvias de todos os quadrantes recusaram,,,)

Escândalos todos os dias

Estamos a viver da bondade da EDP que era altamente lucrativa e desde que foi privatizada passou a meter esses lucros gigantescos ( para um País da nossa dimensão) nos bolsos dos chineses "comunistas" e de alguns portugueses ( estão  agora a fingir que  tratam disso na justiça, mais de dez anos  depois.,..); estamos a gozar com a bondade da     privatização da TAP e da sua  nacionalização apressada que não a vai salvar ; vivemos da bondade da privatização da ANA e dos preços sempre a aumentarem nos serviços dos aeroporto; estamos a  viver da bondade dos CTT, que era um serviço público crucial nomeadamente para o interior do País (a par das Juntas de  Freguesias que a clarividência do Miguel Relvas e do Passos Coelho reduziu para baixar despesas públicas...),., correios que fecharam postos nas terras pequenas que não davam lucro e tiveram o privilégio de criar um  banco, coitados, para se safarem...

Os escândalos de corrupção ( já nem se pode ouvir falar do Rendeiro e da saga que o persegue) ocupam as primeiras páginas de toda a comunicação social, são nos Municípios,  no futebol, nas polícias, já os houve nas Forças Armadas, saltam como coelhos das tocas.


Vou parar por aqui. senão arrisco ficar todo o dia a escrever estas notas...







terça-feira, 7 de dezembro de 2021

 Uma manhã gloriosa

Estas notas já se sabe que são para mim, embora alguns amigos a ele acedam; agora tenho vindo menos ao blogue, porque estou a trabalhar num livro que me dá "água pela barba" e que não cito, para se falhar não dar parte de fraco... Só dois amigos que passaram por cá viram mas esses não falarão.

Hoje voltei à praia, passava das 9h da manhã e estava a caminho da barrinha. O oceano teria atingido o máximo da baixa-mar e uma enorme faixa húmida que o mar deixou descoberta era uma planície magnífica para caminhar e chapinhar; o areal imenso, dourado,  um sol aberto sem a mais pequena nuvem no horizonte e, olhando para as extremidades da extensa praia, nem uma única silhueta humana, que manhã! A praia toda só para mim !!

Há dois dias vim cá, estava um dia parecido mas com uma aragem do norte, um "grisu" gelado que me impediu de tomar banho, pelo contrário hoje apenas uma leve brisa que até dava gosto de a apanhar na fachada... Tomei uma banhoca monumental, a água - não sei qual a temperatura oficial - para mim estava em boa temperatura que me permitiu mergulhar e nadar sem sentir frio.

Há mais de 30 anos que faço isto, vir 2 ou 3 vezes por semana à praia não para criar o "bronze" mas para caminhar e nadar; durante muitos anos até à chegada da pandemia tinha um amigo que vinha comigo, regularmente, mas sem dar cavaco afastou-se e como a amizade é uma relação biunívoca e não compete sempre ao mesmo "puxar" pela relação,  se um não quer partilhar uma actividade que já era rotina, deve comunicar ao outro. Não o fazer é cortar a relação.

Paciência, a pandemia afectou muta gente, até radicalizou pessoas  que associam as dificuldades e os problemas da saúde publica á política e aos políticos de que não gostam - visão redutora e lamentável, mas acontece.

Uma manhã como a de hoje reconcilia-nos com a vida, com a Natureza, e eu só a trocava por uns dias de chuva que está a fazer tanta falta ao Algarve; apesar do matacão do Ministro do Ambiente que nos saiu na rifa estar sempre a dizer que está tudo controlado, controlado uma ova! As albufeiras estão em níveis preocupantes e apesar de  ter sido anunciado por "SExa" que se pensava na dessalinização da água do mar, o silêncio sobre a matéria pode querer dizer duas coisas : ou está mesmo tudo pardo  ou estão preparam um negócio com algum privado, talvez chinês ou  quejando. E na agricultura continua a excelência do Director Regional a incentivar os pomares de abacate, que não cessam de aumentar, porque pensar em culturas alimentares para reduzirem a nossa importação desse bens não dá para grandes produtores exportarem. 

Bom, da verdadeira excelência deste dia já vou na falsa excelência de alguns protagonistas.  

O que é que fazem os farenses para não virem a uma praia destas? talvez andem a passear pelos centros comerciais a dificultar a vida a quem lá vai mesmo só para compras  o ficam pelos cafés.

Um dia destes em pleno Dezembro, mesmo no Algarve, é um absurdo em ternos climáticos e apesar de ter sido para mim uma manhã gloriosa como tempo de recreação e actividade física, não deixo de  pensar paradoxalmente  que vamos pagar estes dias com "língua de palmo".

E afinal começou a chover !!

Depois da manhã gloriosa de sol, céu azul limpo e uma temperatura acolhedora, ao fim da tarde...começou a chover, chuva miudinha como convém, para ir entrando a pouco e pouco na terra. E noite dentro  continua. Haja deuses !!






sábado, 4 de dezembro de 2021

 A espuma dos dias

O Presidente da República e a eutanásia

Marcelo Rebelo de Sousa arranjou novos argumentos para adiar a aprovação da lei de regulamentação da eutanásia.  Com um mal disfarçado cinismo inventou desculpas para que as suas convicções católicas conservadoras viessem ao de cima - é imperdoável. Ele de resto demonstra que não é o Presidente de todos os Portugueses mas  apenas dos da direita  radical e, afinal,  dos...comunistas.

A actual lei tinha sido aprovada por maioria confortável no  Parlamento, tendo votado contra o CDS, o Chega, alguns deputados do PSD e sete deputados do PS e o PCP - lá na saudosa União Soviética ninguém morria voluntariamente, eram sempre obrigados...Eu no mesmo dia enviei uma "carta ao director" do Público que até hoje não foi publicada, reconhecendo que era um pouco , digamos, áspera, mas se os leitores não podem expressar com veemência (sem faltar ao respeito) as suas convicções, onde está a liberdade de expressão? Por isso aqui vai :

"Marcelo Rebelo de Sousa igual a si mesmo". 

O Presidente da Republica (PR) com a sua beatice, ao vetar a lei sobre a eutanásia, mais uma vez demonstrou não ser o Presidente de todos os portugueses mas apenas de ocasionais facções, desta apenas dos católicos mais conservadores e dos comunistas, porque há muitos católicos com posição diferente. Não deixa de ser curiosa esta aproximação entre a direita mais conservadora e os comunistas...  Na Assembleia da Republica votaram contra a lei de regulamentação da eutanásia o CDS, o Chega, o PCP (também na saudosa União Soviética  não se deixava morrer ninguém por vontade própria...), alguns deputados do PSD e uns poucos do PS, mas a maioria inequívoca votou a favor. Se os que votam contra assistissem ao sofrimento de alguém próximo, mesmo com os propalados cuidados paliativos que, a quem está consciente, em nada aliviam o sofrimento psicológico, talvez mudassem daquela opinião sobre o sofrimento salvífico, de que o so0frimento redime -redime o quê? Da perda da dignidade?

É lamentável que em Portugal continue a haver tanto atraso civilizacional e que o PR o encabece. "

Como eu disse, a carta é  áspera, mas a minha irritação por esta hipocrisia e beatice, faz-me escrever coisas mais desagradáveis.

Os tiros no pé do Governo

Na verdade este Governo, começando pelo próprio António Costa, está a rebentar pelas costuras. Costa é incapaz de remodelar o Governo, seja por arrogância, por manhosisse ou simplesmente porque ninguém com credibilidade quer entrar para esta desconchavo, ou um por um misto destes motivos todos.

A demissão do cabrita que agora aconteceu tem como evidência que o tipo não queria mesmo demitir-se, foi empurrado pelo Costa e  certamente por "influencers" do PS, pois a posição daquele homem era insuportável por mais tempo., A desfaçatez com que ele se referia ao acidente com que matou um trabalhador, começando por mentir há tempos ao dizer que o desgraçado atravessou a estrada em obras não assinaladas - veio a Brisa e assegurou que as obras estavam devidamente assinaladas: depois dizendo que era apenas um passageiro do carro,  a empurrar toda a culpa do acidente para o motorista; depois a voltar ao assunto dizendo que um atravessamento da a autoestrada teria que ser averiguado - é preciso ser mesmo patife!

Desde sempre foi um traste, desde a morte do ucraniano no aeroporto de Lisboa, por agentes do SEF - levou meses sem qualquer referência ao caso e só quando a comunicação social levantou de novo o assunto é que veio dar desculpas esfarrapadas. E o disparate continuou, e A. Costa, que é considerado um animal político, está a perder qualidades.  Em vez de remodelarem o SEF naquilo que estivesse mal, decidem extingui-lo - e agora afinal  adiam a extinção porque precisam do SEF devido ao encerramento de fronteiras e às regras de entrar nas fronteiras. É de patetas!

Quando foi dos incêndios há uns anos, demitiram a Ministra da Ad, Interna, Constança Urbano de Sousa, porque ocorreu uma enorme tragédia, mas a culpa nem era dela, a culpa era do Ministro das Florestas que por acaso era também o do Ambiente, que nunca implementou uma política florestal adequada, (aliás o A. Costa foi quem deu a primeira machadada quando era ele o MAI...). E com as tragédias que ocorreram com o Cabrita este manteve-se até ser empurrado, porque a sua desfaçatez era tão grande quanto a incompetência.




















domingo, 28 de novembro de 2021

 Afinal a democracia aguenta-se...

No PSD por enquanto  a direita reaccionária, que voltaria com o regresso dos "passistas" neoliberais que nos governaram depois do descalabro do Pinto de Sousa ( deixo o nome de Sócrates para o filósofo grego...), ficou acantonada:  a cara do Rangel à noite parecia cadavérica, convencido que estava que ia ganhar as eleições. Com Rui Rio há a esperança de que o sector social democrata fundador do partido ainda se aguente. 

A comunicação social pendeu para os dois lados, com relevância para o grupo acantonado no Observador mas com alguns cronistas autodenominados liberais, espalhados pela imprensa e Tv e tem sido também a principal responsável pelo êxito do Chega. São páginas inteiras dedicadas ao partido neofascista, como tem sido chamado, sob a bandeira de Deus, Pátria e Família ( onde é que já ouvimos isto antes ?...), A CNN que ocupou a TVi24. deu ontem mais um belo passo nesse sentido : interrompeu a palavra a David Justino porque ... ia ligar para o congresso do Chega, estava o Ventura a falar. Com franqueza! Ele só tem um deputado no Parlamento, tantos como a IL que raramente é assunto das notícias.  Será que a CNN vai bater o jornalismo do CM?

Vamos continuar a acompanhar esta politiquice mas sem perder muito tempo com ela.





sábado, 27 de novembro de 2021

 Estou de volta, durante uns dias saí por esse País fora, pois para falar  dele  tem que se conhecer bem. Beira Baixa, Vila Velha de Ródão e a sua poluição ( como é possível as pessoas habituarem-se a viver sempre com aquele cheiro nauseabundo ?), Castelo Branco que está tão diferente da pasmaceira de antigamente, e a subida até á Covilhã. Depois atravessei a Serra da Estrela e aí pelas 10h e meia da manhã, um pouco acima das Penhas da Saúde, começou a cair uma poeira de neve. Em breve se tornou um forte nevão a "perseguir" a minha viagem, quando cheguei ao desvio para a Torre ou para baixo já estava  tudo bem  branquinho. Nos Cântaros  apanhei neve em cima de mim ao tentar tirar uma fotos...

Bom hoje está a decorrer a escolha do líder do PSD; espero bem que apesar de  pouco convincente, seja Rui Rio a vencer, porque o Rangel é um trauliteiro da direita, pau  mandado dos "passistas" e o PSD com ele abandonará a sua história fundacional social democrata e passará, como quando foi com Passos  Coelho, a ser de direita liberal assanhada - espera-se que nesse caso deixem de invocar o fundador Sá Carneiro, que dava vivas ao socialismo e quis inscrever o  PPD na Internacional Socialista. Rui Rio pode manter o PSD na linha da sua história, é verdade; já nos bastam o CDS, a IL e o Chega para temos uma direita reaccionária...

Amanhã veremos...



quinta-feira, 11 de novembro de 2021

 Governo - disparates a mais

Este novo episódio  do escandaloso assunto dos militares portugueses que em missões ao serviço da ONU em África criaram uma rede de tráfico de ouro, droga, etc, põe questões fundamentais a este  Governo : então o Ministro da Defesa trata deste assunto tão grave, sozinho, contacta a P. Judiciária, contacta a  própria ONU e não informa nem o Primeiro Ministro (PM) nem o Presidente da Republica (PR) ? É sequer admissível que um assunto de tanta gravidade nacional e internacional ande a ser tratada pelas chefias das Forças Armadas e o PR que é o Chefe supremo  não saiba de nada?  Mesmo que isto, já de si muito grave, tivesse acontecido, é ainda sequer imaginável que o Ministro nem ao PM tivesse dado conhecimento ? É assim ? Anda tudo em roda livre ? Que PM é este afinal? Que autoridade se auto-assumiu o tal J Cravinho para se posicionar acima das chefias a quem deve obediência e num assunto internacional que também o Ministro dos Negócios Estrangeiros desconhecia? Parece demasiado estúpido para ser assim tão simples.

Há pouco tempo foi a exoneração do Chefe de Estado Maior, à revelia do PR, para nomear para o lugar  Gouveia e Melo, a nova estrela que saiu da campanha da vacinação com tanto sucesso - e fica tudo pelas desculpas, por um lapso de comunicação?  Para  falar  em vol d'oiseau na abécola do Ministro do Ambiente:  uma das suas viagens a 200 km/h conheceu-se tarde porque só tarde se soube, a protecção ao eucalipto, a falta de credibilidade dos EIA que tem ocorrido em assuntos do Ambiente, além dos negócios das minerações a céu aberto e outras asneiras intoleráveis; já com o Cabrita e a série de atropelos ao seu  bom nome sendo um governante,  a passividade de António Costa devia deixar-nos cheios de interrogações  - será apenas arrogância do PM ou  a sua inépcia? Agora somam-se as atitudes arrogantes do Cravinho, com uma lei das Forças Armadas que pretende, no fundo, aumentar o controle governamental e que tem contra si a maioria dos  oficiais superiores das Forças Armadas ( e eu confio em absoluto em Ramalho Eanes) - são coisas a mais para ele agir sozinho. A especulação é inevitável : será da parte de Costa simples protecção de ministros amigos do peito ou estes "tem na mão" o PM vá lá saber-se porquê? Mas tudo acabará por se saber, é questão de mais tempo,

Bacalhau no seu melhor

Este  bacalhau é o Presidente da Câmara Municipal de Faro, rebentando pelas costuras por mais esta vitoria nas Eleições Autárquicas, onde muito mais que o seu mérito contou o desmérito das oposições - não estava mesmo a ver-se que aquela lista do PS era para ninguém votar nela?

Pois agora ouvi, com estes ouvidos que a terra há-de comer, numa  entrevista â rádio, a dizer que se for necessário deve-se ir buscar o Chega para fazer a maioria da direita - assim mesmo é que é, nada como ser claro. E eu acredito que se a direita crescer isso aconteceria tanto faz que à frente do PSD esteja o Rui Rio ou o Rangel - mas este Rangel não tem mesmo figura nem discurso para Primeiro Ministro como ele ufanamente se propõe!!

Espero que num último relâmpago de vergonha esta gente do PSD deixe de invocar Sá Carneiro ( mas Balsemão mantém-se calado e  não devia...), porque ele e os seus fundadores - eu conversei algumas vezes com  o Magalhães Mota- eram social democratas e tentaram inscrever o partido na Internacional Socialista onde já estava  PS de Mário Soares. Agora são todos liberais, quando o liberalismo - o neo liberalismo -  já conheceu melhores dias...

São as inflexões da História.




quarta-feira, 3 de novembro de 2021

 O debate franco é essencial em democracia

As redes sociais podiam ser um instrumento  de excepcional importância para a democracia, mas como se prova ao longo dos anos e agora especificamente nos últimos dias, a mentira e a ofensa, o ódio e a calúnia ensombram as vantagens que  elas  representam.

Numa sociedade organizada, como são as sociedades actuais, tem que haver regulação que assegure a plena liberdade de expressão a par da responsabilização e da condenação criminal, como sucede em todas a comunicação social.   E a participação dos agentes políticos tem que se basear na verdade e na transparência - duas qualidades que faltam  frequentemente no debate  público.

Já é dos "tratados" avançar com o nome da Donald Trump para exemplificar até onde pode ir o descaramento em propalar as falsas notícias - fake news tornou-se um termo corrente na nossa linguagem desta década do século XXI. Mas não é preciso ir até ao famigerado Presidente dos EUA que fez tudo quanto podia para desacreditar a democracia - neste nosso encantador rectângulo ibérico também assistimos com demasiada frequência a manifestações desse tipo.

Os anos da pandemia  tem sido particularmente férteis em episódios  por parte até de figuras gradas da sociedade, como os falsos "médicos pela verdade" ( se fossem mesmo médicos não tomariam aquelas atitudes), os "advogados pela verdade" que tiram partido da elasticidade das regras jurídicas, até  àquele inacreditável juiz que acabou expulso da Magistratura. 

Mas sem chegar a esses extremos quase diariamente temos  muitos políticos a torcerem a realidade e a verdade para satisfazer os seus interesses.

A vontade geral de que já tratava Rousseau deve corresponder ao interesse geral e não apenas ao interesse de grupos ou de lobbies, sejam de que natureza forem - eu posso torcer por um lobbby pela Conservação da Natureza mas não posso ( não devo) usar argumentos falsos ou informações sem base científica suficientemente demonstrada.

Uma cidadania activa é fundamental para que a sociedade  atenda aos interesse colectivos, com transparência, revelando as opções possíveis, alargando os horizontes da vida democrática.

Como escreveu a jornalista e especialista em análise dos regimes Anne-Cécile Robert "não há democracia sem verdade, não há verdade sem discussão" e "Um Poder autoritário pode defender os interesses de casta com a maior transparência. O cinismo que rompe com uma linguagem oficial rígida. como aquele de que fazia gala o antigo presidente americano  Donald Trump, pode revelar uma transparência habilmente conduzida. Não  se trata aqui de verdade  porque esta atitude é fundamentalmente unilateral e exclui toda a partilha real do espaço social e intelectual. Uma governação transparente pode, pois, ser uma governação falsa".

Nós estamos a viver agora no nosso país, com esta crise que veio ao de cima com a falência da geringonça, um tempo de distorção consciente da verdade dos factos  que, esses, falam por si - mas cada grupo interpreta-os com uma parte da verdade e insufla fake news sempre que se pronuncia sobre eles. O resultado pode ser um crescente desinteresse dos cidadãos pelas coisas da res publica e abre-se assim caminho a uma maior discricionaridade  do poder, subtilmente instalando dispositivos de concentração desse poder.

Continuaremos a  pensar nestas coisas...









 

sábado, 30 de outubro de 2021

 Democracia em risco

A democracia dita liberal, ocidental, é um regime exigente em educação e meios económicos. Sociedades europeias muitas décadas sujeitas a regimes ditatoriais tem muita dificuldade em manter sistemas democráticos de amplas liberdades e distribuição equilibrada de bens e serviços. Isso é patente não só na Hungria e na Polónia onde Partidos e líderes populistas e autocráticos se serviram da democracia e do voto livre para chegar ao Poder e depois o procuram conservar recorrendo a manobras anti democráticas, mas de maneira mais ou menos velada nos outros países da antiga órbita soviética. Não deixa de ser curioso que Portugal e Espanha, também sujeitos a ditaduras de várias décadas, apesar de tudo tem conseguido manter as suas  democracias a funcionarem regularmente. 

Caso preocupante é o dos EUA, considerada a grande democracia   mundial, e onde metade da população votou em Trump e em tudo o que ele significa de aberração política; se a Administração de Biden não for capaz de cimentar uma vida económica e social sólida, aquela grande nação corre o riso de resvalar perigosamente para um regime autoritário como Trump tentou fazer com as suas mentiras e atitudes paranóicas que, no entanto, convenceram tantos milhões de americanos - isso é que é preocupante, até pelo exemplo e impulso que dá a movimentos e indivíduos do mesmo tipo na Europa e resto do mundo  ( veja-se o Bolsonaro no Brasil ou Erdogan na Turquia).

Forças reaccionárias até na super democrática França conseguem chegar a beira do Poder com a família  Le Pen - e mais uma vez a Espanha, Portugal e a sempre preocupante Itália tem conseguido afastar do Poder essas ideologias  Até quando ?

Portugal governado mas sem Governo...

Situação estranha esta que mais uma vez se vive em Portugal; estranha porque se repete o que sucedeu em 2011 quando a esquerda se aliou à direita para derrubar o Governo e deu entrada à troika e à austeridade neoliberal da UE; agora  BE e PCP puseram mais uma vez os seus interesse partidários (ou que assim julgam que são) à frente dos interesse do País. Sabe-se bem que António Costa joga a sua tentativa de vir a ter maioria absoluta, o que não é previsível, e o mais certo é terem de se entender de novo todos os que estão à esquerda do PSD.  E Marcelo Rebelo de Sousa a conduzir subtilmente a sucessão de acontecimentos, pois é ele que sai a ganhar com  esta situação. E teve o desplante de intervir na vida interna do PSD, porque lhe interessa,  ao receber em audiência Paulo Rangel que defronta Rui Rio nas próximas eleições para a chefia do partido. Desde quando o PR  recebe em Belém candidatos à chefia de Partidos que estão em luta interna ? Desde quando? O CDS vai pelo mesmo caminho e só o Chega e a IL vão certamente aproveitar o desnorte da direita que se soma ao desnorte da esquerda. Grande e bela coisa é a democracia !!




quarta-feira, 27 de outubro de 2021

 Acabou mesmo...

Acabou de ser chumbado o OE e por isso o Governo do António Costa acabou mesmo.

O BE desempenhou um papel crucial neste desfecho e deixou o PCP sem outra alternativa. Como dizia ontem o Manuel Carvalho, e eu concordo inteiramente, a Catarina e a Mariana ficaram frustradas por não irem para um governo - era isso que sempre pensaram que aconteceria. 

Mas se A. Costa tivesse caído nessa esparrela não só ficaria amarrado às permanentes chantagens  a que o BE já nos habituou como deixaria  o PCP como inimigo para sempre - e entre um e outro que viesse o diabo escolher.  Apesar de tudo o PCP é mais fiável porque é conservador e cultiva a imagem dum Partido sério, e pode vir sempre em socorro do A. Costa se não houver manigâncias do BE - difícil, hem?

O mais provável é que depois das eleições volte a ficar um panorama semelhante ao actual, uma maioria dos partidos da esquerda e a chantagem vai continuar - a não ser que PS e PCP tenham maioria por exemplo também com o PAN.

A grande cambalhota seria se a direita conseguisse maioria nem que seja de um voto - sem o Chega, mas não restem dúvidas de que se for precisa esta corja da extrema direita para formar governo nunca mais sairia de lá.

António Costa se voltar ao Governo que faça mea culpa, arranje um número reduzido de Ministros e S. Estado competentes - mas quem de entre as pessoas mais qualificadas e com alguma independência aceitaria ir para um Governo agora ...- e proponha uma estrutura que vise políticas a médio e longo prazo. E não tenha pudor de aumentar o número de empregos no Estado, ainda estamos longe da média da UE e há casos aflitivos que tem que ser colmatados : em especial a saúde, mas também a justiça, as escolas e em especial universidades. Um Governo de esquerda deve  assumir essa causa, e não faltam grandes economistas de renome mundial a dizer que deixem de se  basear nos 60% da dívida e nos 3% do déficit porque esses valores foram arbitrariamente atribuídos por países como a  Alemanha para zelarem pelos seus próprios interesses.

Que se lancem políticas de apoio a uma agricultura sustentável e se deixem dos disparates dos abacates outras tretas que são anti alterações climáticas. Ainda não choveu uma pinga que se veja abaixo do Tejo!! Importamos alimentos que podiam ser cultivados cá se houvesse uma lógica ambiental e de esquerda!!

Precisamos de retomar uma política florestal adequada ás novas características da aridez mediterrânica que nos aflige - em  vez dos disparates a que assistimos desde há umas duas décadas para cá por submissão aos privados, submissão ás celuloses, incompetência de ministros  a leste do que deviam fazer - Cabrita. Matos Fernandes, nem sei o nome da manda chuva da agricultura - e poupo  apesar de tudo a Ministra da Saúde que, com altos e baixos como em todo o Mundo e em toda a Europa, conseguiu aguentar o barco, com uns médicos a dizerem  A e outros médicos da mesma  especialidade a dizer B, e com A, Costa e João Leão a tirarem toda a chance de ela poder escolher e contractar médicos e enfermeiros. Queria ver nestas condições quem é que faria  melhor e o SNS aguentou-se também  muito melhor do que as más línguas como o Bastonário da Ordem e o palavroso Presidente do SIM esperavam e que não reconhecem...





segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Medidas  concentracionistas ( no mínimo...)

A apetência de António Costa (PM) pelo controle completo  do aparelho do Estado começa a ser preocupante - e como já tenho dito noutras alturas, que os deuses nos salvem de maioria absoluta.

Um dos  aspectos preocupantes, para mim, é o constante reforço de competências do Ministério da Administração Interna, que o actual líder do PS e do Governo tem prosseguido; isso ajuda a perceber, juntamente com a arrogância e auto-suficiência do PM porque é que Cabrita se mantem no seu cargo apesar das intoleráveis asneiras que foi cometendo - não é só o facto de ser amigo do peito, é porque é nele que o PM confia inteiramente. E o poder do MAI não pára de aumentar, agora até se fala na transferência do Instituto Hidrográfico que funciona na Marinha, e muito bem. É  que nas Forças Armadas haverá sempre um certo pudor para controlar - mas até aqui o Governo está a tentar meter a sua força controleira, basta ver o sarrabulho que reina nesse sector.

Não é por acaso que os oficiais de alta patente, com Ramalho Eanes à frente, não se tem poupado a críticas severas, mas o excesso dos militares neste fim de semana, que foi além do que a  ética  permite é sinal do adiantado mau estado da disciplina das tropas.

O reforço do MAI é sinal de concentracionismo próprio da democracias musculadas e está a passar ao lado da maioria da população.

A tal crise anunciada

Os dois partidos de esquerda, PCP e BE afinal vão votar contra o OE o que quer dizer que será dissolvida a Assembleia da República e convocadas novas eleições.  Em democracia é assim, tudo bem nessa perspectiva. Mas pergunta-se o que e que a esquerda ganha com isto é o que estamos cá para ver; pois mesmo que o Governo de A. Costa tenha imensas culpas na presente situação seria bom que se pesassem os prós e contras da decisão daqueles dois Partidos. São ambos contra a Europa, esse o mais importante argumento que me afasta deles, mas é cegueira política fazer disso um motivo para, tendo na  mão a chave do problema. o deixarem cair. Recordo que quando a esquerda se aliou à direita para chumbar  Pack 4, por muito insuportável que fosse o Sócrates, pergunta-se se a austeridade daquele documento  (que era apoiado pelo Sarcozy e pela Merkel) era superior àquela outra austeridade que a Europa nos impôs com a vinda da troika. Vamos repetir a mesma cena ?

O mais provável é que com eleições volte a repetir-se o quadro actual, uma maioria das esquerdas mas com os mesmos entraves. Seria bom que a esquerda se lembrasse - e António Costa também -  que se na crise com a Troika ainda se organizou uma maioria confortável do PSD e CDS, por direita que fossem  os dois (e com Passos Coelho o neoliberalismo entrou no PSD em força) vinham do inicio da democracia e sempre a respeitaram á sua maneira; mas desta vez os mesmos dois ´é fortemente duvidoso que tenham maioria para se entenderem sozinhos - agora quem vai crescer é o "basta"  ou "chega" e é fatal como o destino que se quiserem fazer governo terão de recorrer aos amantes do Estrado Novo. 

E creio bem que o PCP em vez de ganhar eleitorado vai perder e o BE a mesma coisa e deviam perder para aprenderem a pesar bem as decisões em termos de futuro a breve prazo e não na base do que julgam serem os seus interesses partidários .








sábado, 23 de outubro de 2021

Esta crise  anunciada

Estamos no tempo da queda das folhas, tenho aqui em frente duas tílias que já estão de cor amarelo dourado e começam a dar um trabalhão para limpar as folhas que caiem; não me recordo de um início de Outono tão quente como este ano e sem uma pinga de chuva. 

Quente também na vida política; não sei se haverá a famigerada crise,  mas admira-me tanto "democrata" aflito ou zangado porque poderá  ter de  haver novas eleições. Essa agora, tal está a moenga, hem? Então eleições não são o testemunho de que a democracia funciona? Atrasa alguma coisa, pois atrasa, mas eu sei que há muitos que não arriscando a dizer "chega de democracia", no fundo preferiam paz e ordem - ora eu já ia para lá dos meus trinta anos e temia nunca mais me ver livre da "paz e ordem". Churchill dizia, mais  ou menos, que a democracia é o melhor dos maus sistemas e é isso que temos que ter na cabeça: aperfeiçoar dia-a-dia a democracia. E que os deuses nos livrem de maiorias absolutas seja de que partido for, porque nisso é o mesmo que suspender o parlamentarismo .

Jerónimo de Sousa disse o que outros disseram antes e até eu, que não peso no assunto já o escrevi: pode haver governos de esquerda ou de direita em cada país, que as regras neoliberais da UE é que mandam; significa que as nossas democracias são imperfeitas porque na UE a política não muda - e não quer isto dizer que tivesse de mudar para o marxismo leninismo, claro, bastava que se alterasse entre medidas de esquerda democrática  ou direita democrática consoante a maioria que estivesse na mesma UE. Foi essa alternância entre  as duas políticas que trouxe à Europa as décadas de mais paz social e maior desenvolvimento no pós guerra mundial - seria essa alternância que traria maior harmonia à Europa de hoje.

O PS de António Costa está amarrado às obrigações ideológicas da UE e a política de mais esquerda que tem feito  deve-se à pressão dos Partidos da esquerda radical - que os deuses nos livrem desses partidos  serem governo, a economia totalmente planificada já mostrou ao mundo o que dá  ( eu visitei vários países  desses regimes e nem queiram saber os "paraísos" que encontrei...). A diferença está  na China,  uma mistura irrepetível de partido único comunista e capitalismo selvagem  mundial  ( onde é que estão os idealistas do maoismo?... que internamente é uma ditadura implacável e ameaça directamente a ordem  universal - quando do outro lado estão uns EUA, exemplo máximo das democracias ocidentais mas onde 50% da população vota num Trump...

Custa a aceitar a passividade que a Europa tem demonstrado no meio destas ameaças á vida democrática, o que revela a confusão que também por cá reina, mas eu sou arreigadamente duas coisas : mediterrânico e europeu. Foi do Mediterrâneo que nasceu a civilização ocidental e foi da Europa, sobretudo da Europa meridional que foram evoluindo as ideias e as convicções culturais e civilizacionais : o exotismo egípcio, a aprendizagem fenícia/libanesa, a origem e o cadinho de ideias da democracia grega, o espirito latino, o Renascimento que rompeu com os tempos escuros da Idade Média, depois o Iluminismo e por aí fora até ao nosso tempo, quando a Europa central e do norte acabou por apreender o que lhe chegava do sul e lhe deu uma forma mais consistente...

Por isso se reconhecemos que, para o bem e para o mal, foi a Europa que determinou grande parte dos últimos séculos da Humanidade, eu tenho esperança que também agora se venha a superara nas suas fraquezas.

A democracia é um regime caro e exigente, só população com elevado nível de cultura e de noção do que  deve ser a dignidade da pessoa humana com pleno  respeito pelo social e o colectivo.

Por agora basta, quando se começa a  reflectir as ideias surgem em catadupa...




quarta-feira, 20 de outubro de 2021

 

  Ordenamento do Território

Politica de Conservação - Ambiente

 

Uma das preocupações de um Governo de esquerda democrática deverá ser renovar JÁ  a Política de  Ambiente que se  tornou num simples ornamento da composição  do Executivo, afectando a integridade e o futuro do território.

     Continuo bem convicto de que uma Política de Ambiente é fundamental aqui como em todo o mundo e particularmente na Europa  e em especial num País desorganizado como o nosso, o que exige uma estrutura governativa forte, esclarecida e eficaz e dirigentes convictos e que não estejam apenas a fazer currículo e a ganhar posição para outros voos políticos.

Fundei e fui o primeiro Presidente do Serviço que antecedeu o actual ICNF, por isso creio ter ideias firmes sobre a Politica de Conservação, que tal como a do Ordenamento do Território são as bases de uma política séria de Ambiente.

A Conservação é uma política nacional e global, não é sectorial, é transversal a todas as actividades que afectam o território, essas sim sectoriais : florestas, agricultura, estradas, energia, infra-estruturas - todos os sectores da economia devem ter, tanto mais neste século XXI ameaçado pelas alterações climáticas, uma componente conservacionista.

Um dos grandes disparates dum anterior Governo de pendor neoliberal, de resto  em concordância com obrigações e compromissos  ideológicos e financeiros, foi ter juntado os serviços florestais ao ICN – criando o ICNF.

O desaparecimento dos Serviços Florestais como entidade autónoma foi em erro tremendo -  no nosso País este serviço vinha do século XIX  e era um património cultural e institucional arreigado nas populações e que foi mantido através dos anos e dos regimes. Devemos ser um dos  raros países do Mundo, se é que há mais algum, que não tem  Serviços Florestais. Eu fui Administrador Florestal e sei bem o empenho e a obra notável que aquele Serviços faziam, e o papel indispensável dos Guardas Florestais. Muitos fogos florestais eram contidos à nascença porque havia sempre um posto de guarda florestal que avistava a primeira coluna de fumo, possibilitando o ataque ao incêndio na origem.

Hoje sob uma mentalidade liberal e sob a falsa alegação de maior eficiência, prefere-se combater os fogos do que preveni-los, dando milhões a ganhar aos privados, em vez de prevenir o seu aparecimento. Não temos guardas florestais dependentes do seu Serviço próprio, como sucede em todo o mundo. Os guardas florestais não são apenas polícias para terem sido integrados na GNR, eles são verdadeiros guardiões do território, orientados pelos técnicos florestais  e não pêlos oficiais e sargentos da Protecção Civil e da GNR; eles obrigavam os proprietários a limpar as matas, vigiavam os cortes ilegais, e em termos de economia não se vê diferença entre pagar os honorários a guardas integrados na GNR ou pagar-lhes o mesmo estando onde deviam estar que são os Serviços Florestais. Ou comparar os encargos com os Serviços Florestais com os milhares de milhões que hoje se gastam em  práticas sucedâneas que a prática demonstra não resolverem nada.

        O que interessou a quem teve essa ideia foi facilitar a vida aos proprietários florestais, à custa do abandono da vigilância quotidiana, e foi garantir e ampliar a actividade privada dos meios aéreos de combate aos incêndios. Negócio de milhões.

      Por isso, reconstituir de novo os Serviços Florestais é uma obrigação moral de quem vier fazer política séria e não comprometida com os interesses instalados. Enquanto eu tiver um sopro de ânimo, não me calo !

 Aliás não me canso de denunciar que o Estado, para "ser melhor Estado", acabou com tres classes de trabalhadores que eram indispensáveis à organização do território : os guardas florestais, os guarda rios e os cantoneiros das estradas. Com o combate aos fogos rurais entregue a uma Protecção Civil (nunca se vêem engenheiros silvicultores ou florestais nessas ocasiões, não são precisos...) , a limpeza das ribeiras  deixada aos abandono, as bermas e taludes das estradas entregues a umas empresas privadas que de vez em quando limpam tudo - é mesmo assim  limpam tudo! - o Pais ficou muito mais bem servido...

Mas tão mau ou pior ainda foi a descaracterização do ICN com a junção dos serviços florestais. Não há razão nenhuma que o justifique. Dizer, como já ouvi, que as Áreas Protegidas dizem respeito prioritariamente às florestas ( com mais precisão, o que nós temos são matas, não são florestas) é um treta : existem APs dos estuários dos rios, dos paúis, das dunas, das Berlengas, etc, que nada têm a ver com florestas; e os Parques Naturais como a Serra da Estrela, Montesinho, Serra d'Aires e Candeeiros, Baixo Guadiana, Ria Formosa, etc, têm a ver com a paisagem humanizada onde entram as matas, é claro, mas não especificamente com elas - têm a ver com o ordenamento do mosaico da paisagem, as pastagens, os campos de cultura, as aldeias, os monumento naturais e culturais, etc.

Foi comigo que foi criada a maior parte dos Parques Naturais e das Reservas deste País e desminto categoricamente que as matas fossem o principal motivo de classificação do território a proteger. As matas estavam, como deviam estar,  a cargo dos Serviços Florestais, que têm ainda a função de produção que não pode caber nas competências dum Serviço de Conservação da Natureza. É misturar alhos com bugalhos. Os Serviços Florestais, repete-se, devem ser autónomos e estar no Ministério da Agricultura pois a gestão do território não urbano passa pelo reconhecimento da ordem secular do ager-saltus-silva  e não precisam de inventar nomes, designem-no como em todo o mundo, por Serviços Florestais.

     Juntar os dois serviços serviu não só  para retirar estatuto aos florestais  mas também para  reduzir a margem de manobra que a política de Conservação do ICN devia prosseguir transversalmente sobre toda a actividade com impacte no território. Um ICN forte, conduzido por técnicos empenhados e convictos e não apenas à procura de currículo, é fundamental para a “sanidade” da Administração Pública portuguesa – e isso incomoda os interesses especulativos que governam, afinal, este País.

 Quer a nível nacional quer sobretudo a nível regional e local, a confusão actual nas estruturas do ICNF é completa, tornando quase impossível a administração correcta dos dois serviços num só, como está à vista de todos.

A situação das APs é deplorável, ainda há bem poucos tempo uma conhecida personalidade  com destaque e responsabilidades no domínio do Ambiente, me dizia quanto lhe custa ver a situação actual das APs, que já foram exemplares em termos europeus. Devemos ser o único país do mundo onde parques naturais como a Serra da Estrela, Arrábida, Ria Formosa, etc, não têm um Director responsável.

Por isso o ICN devia acrescentar não o F mas um P, ICNP - de paisagem. Nós aderimos à Convenção Europeia da Paisagem, temos paisagens que são Património da Humanidade. Atirar com Planos de Renovação ou de Transformação da Paisagem até daria para rir se não fosse trágico.

É mais uma maneira de encobrir os lobbies que procuram todos os trechos de paisagem notável para especular, seja com eucaliptais, seja com regadios intensivos que depauperam a água e os solos ou com  as urbanizações maciças como se estivéssemos ainda nos anos 60 do século passado. No Algarve a Quinta da Ombria é o bom exemplo de um mastodonte de urbanização maciça e a destruição da várzea e da ribeira, tudo com o aval da APA que deve ficar orgulhosa  com esta aprovação a uns finlandeses que na terra deles certamente não obtinham autorização para fazer um erro paisagístico e ambiental desta dimensão. E esperara, mais de 20 anos pela aprovação...

Nós fomos sempre elogiados na Europa, quer desde a antiga CEE, da UE  quer da OCDE, pelo carácter pioneiro da nossa legislação e pelas nossas realizações em termos de controle do território.

A Política de Ordenamento do Território  só voltará a ser eficaz e a garantir a salvaguarda da integridade do nosso reduzido espaço comum, se for conduzida com base numa Política de Conservação independente, interveniente e capaz de resistir aos lobbies especulativos que se abatem sobre nós, agora abrandados pela crise, mas prontos a afiar as garras mal exista uma ”aberta”.

       Aqui ficam pois algumas considerações sobre matérias que deviam ser básicas numa política de esquerda democrática.

O PSD, nos seus tempos social democrata embora do centro direita ( hoje procuram esquecer que Sá Carneiro quis inscrever o PPD na Internacional Socialista…) foi um dos Partidos que maior contributo deu para a Politica de Ambiente). Hoje a esquerda democrática ou é ecologista ou não é esquerda – e a nossa esquerda representada pelo PS não é .

Para uma política  ambiental eficaz tem que ser dado incremento ao sector primário – agricultura e florestas – e ter uma organização do Estado e do Governo que o permita. Este disparate de um Governo com 50 membros ( 19 ou 29  são ministros…) é incompatível com uma governação eficiente e só revela, por um lado  a dificuldade que António Costa tem em convencer a entrar para o Governo um número mais reduzido de pessoas mais  competentes, por outro a necessidade de dar tachos a todos os amigos e amigos dos amigos mesmo que sejam incompetentes ou zeros “ à esquerda”- Cabrita, a da Agricultura, o morcão do Ambiente, e por aí fora.

Quem convictamente serve a defesa do Ambiente não abdica de transmitir as suas ideias, sejam elas aceites  e compreendidas ou não, porque sabemos que são indispensáveis a uma política de esquerda democrática; é com os PS e PSD europeus que se aliam os partidos verdes ( que nada têm a ver com o nosso partido “melancia”, verde por fora, vermelho por dentro). Por cá não temos um partido verde independente, mas temos gente capaz, sem estar partidariamente vinculada, para assumir as funções de uma Política de Conservação.

Assim houvesse ao menos vergonha pelo estado a que se chegou nestes domínios.

 

 

 

 


segunda-feira, 11 de outubro de 2021

 Porque não te calas ?...

O artigo publicado por Cavaco Silva no  último Expresso é digno de referência por vir dum sujeito que foi responsável por medidas altamente lesivas do futuro integrado do território português. E como ninguém se refere a ele e ninguém se lembra de o recordar seja para o que for, tem ele a necessidade de tentar ser publicitado. Ele que se diz o verdadeiro social democrata foi um dos que mais contribuíram  para o  desequilíbrio do sector primário. Só numa coisa tem razão, também não é difícil, é que António Costa tem feito políticas igualmente gravosas  do futuro a médio e longo prazo.  E como "bom" social democrata elogia Passos Coelho que foi o mais liberalista dos PSDs até hoje no Poder- 

O comentador televisivo que  se julga a ele mesmo ter ocupado o lugar  deixado vago por Marcelo R Sousa,  Marques Mendes, no seu comentário dominical, disse que ele tinha muita razão e que tem o direito, dado os cargos  que já desempenhou, de dar sempre a sua opinião - mesmo que ninguém a peça...

No domingo enviei uma "carta ao director" do Expresso, que não acredito que seja publicada até porque  assumidamente tinha dimensão acima do que é exigido e como não acedo á edição online, resolvo deixa-la aqui.

" Exº Senhor Director do Expresso

A arenga que Cavaco Silva escreve no Expresso desta semana é mais um caso em que apetece dizer "porque não te calas?".

Ultimamente falou-se com  mais enfase e de forma genericamente elogiosa de dois antigos Presidentes da Republica, Jorge Sampaio e Ramalho Eanes, e Cavaco Silva sentiu-se isolado  e não quis nitidamente ser esquecido; vai daí sai-se com aquele arrazoado -mas é preciso confrontar o ex-Primeiro Ministro e ex-Presidente da Republica com aquilo que de desastroso ele deixou para o País ao contrário dos auto-elogios  que constantemente faz de si próprio e poderíamos juntar inúmeros testemunhos de técnicos, e não de políticos, que demonstrariam o que Portugal sofreu.

Francis Fukuyama, paladino do fim da história com o triunfo do neoliberalismo reconhecia em 2019 #...mas que os EUA elegessem alguém como Trump é algo que não previ", e como é que os portugueses, mesmo os de direita democrática e equilibrada elegeram Cavaco  durante 20 anos ? Pode explicar-se, mas não é aqui o lugar apropriado. Porque Cavaco Silva que se intitula o paladino da social democracia o que ele promoveu foi um mal encapotado neoliberalismo facilmente demonstrável.

Joseph Stigliz, Nobel da Economia, escreveu em memoráveis colunas do Expresso, "os efeitos da liberalização do mercado de capitais foi particularmente odioso".

Ora Cavaco Silva foi o principal causador do despovoamento do interior e da queda das nossas produções alimentares internas. Quando ele deu subsídios aos pequenos e médios agricultores para deixarem de produzir, foi o primeiro e decisivo passo  para o abandono de terras. Não foi por acaso, pois foi uma estratégia bem pensada de cariz neoliberal, repete-se, ele que se diz o maior executor da social democracia. É que simultaneamente extinguiu os Serviços de Extensão Rural que davam apoio técnico à pequena e média agricultura, auxiliando os proprietários na escolha das culturas, das técnicas e do associativismo rural e deveria ajudar a chegada ao sector de novos e jovens agricultores, pois os grandes grupos empresariais tem os seus próprios  técnicos.

Por ouro lado os fundos europeus que poderiam ser distribuídos por pequenos e médios produtores passaram a engordar sobretudo os grandes grupos de economia agro-industrial. A seguir ao abandono das terras vieram os agentes das celuloses para comprar ou alugar as terras e aumentar, como se viu, a área de eucaliptais. Foi com Cavaco Silva nos finais dos anos 80 que estiveram à frente da agricultura e florestas técnicos vindos directamente da industria da celulose - tudo isto por acaso?

E agora neste texto vem defender as políticas de Passos Coelho que não eram dele porque lhe faltava preparação para isso, mas da troika que nos impôs uma governação neoliberal e anti social que todos conhecemos e a própria UE veio depois a condenar... É esta a social democracia de Cavaco Silva? É altura de ele nos deixar de vez em paz e os seus arrependidos eleitores que o convençam a isso... Cavaco Silva contribuiu decisivamente para o empobrecimento do País ."





sexta-feira, 8 de outubro de 2021

 Dia a dia

Desde que Salazar assumiu a predominância das Finanças sobre todo o resto da governação que os Ministros das Finanças lhe seguem o exemplo e se sobrepõem a todos os demais Ministérios.

A política de infraestruturas  de João Leão

A política de infraestruturas, bem pode clamar contra o Ministro Pedro Nuno Santos, é determinada pelas Finanças, já não importa que na elaboração dos Orçamento de Estado cada Ministério julgue que conseguiu o que queria. Depois ou se faziam as cativações que Centeno  activava para travar logo as perspectivas dos colegas, ou se faz como agora: deixam-se passar os meses sem serem aprovados os planos de actividades e respectivos orçamentos e os Ministérios e serviços ficam de mãos e pés atados A política de pontes e calçadas é de João Leão.

A politica de saúde de João leão

Os hospitais estão a rebentar pelas costuras, os Directores e Chefes de Serviço estão a demitir-se por todo o país e as declarações de irresponsabilidade feitas por médicos por causa da falta de recursos  somam-se todas as semanas. Ao Ministério das Finanças quanto  menos encargos com a saúde houver, melhor - quem mais morre em regra são pessoas idosas ( um peso insuportável para os cofres do Estado na visão dos financeiristas) - por isso atrasar ou impedir a contractação de médicos e outros trabalhadores da saúde é a melhor política. Apesar de politicamente censurada a Ministra da Saúde, eu sou daqueles que acha que ela se aguentou muito bem nestes terríveis anos da pandemia, que conseguiu obter até mais ajustes orçamentais  extraordinários do que lhe queriam permitir- e é determinada o que irrita muita gente, em especial o bastonário da Ordem dos Médicos e o seu parceiro Roque da Cunha do Sindicato (In)dependente dos Médicos, como se não existisse outra organização sindical de médicos em Portugal - só que não é afecta ao PSD...

A política de saúde não é, portanto, tanto da respectiva Ministra mas antes de João Leão - ah, grande leão! E a quem obedece o nosso leão se não a António Costa ? Assim todas as políticas são efectivamente do Costa por interposta pessoa do Ministro das Finanças.

Mas o pessoal começa a ficar bastante farto da arrogância do PM e das falsas promessas; estamos todos á espera que a bazouka vá ser distribuída por pontes, calçadas, obras de fachada e que nem sequer sejam implementadas políticas de médio e longo prazo como deviam ser as do sector primário.

E vem aí o aeroporto no  Montijo...

Ai vem, vem! Se pensam que António Costa desiste da ideia mesmo sendo má sob vários pontos de vista, excepto o da negociata já deixada do antecedente, enganam-se. Ele dá  as voltas que forem precisas e para já conseguiu mudar o Presidente duma das Câmaras Municipais que se opunham ao projecto - já só fica a do Seixal, ele negoceia isso com o PCP e com algum dinheiro da bazouka. veremos...

A Quinta da Ombria no Algarve

Prosseguem em grande ritmo as obras na Quinta da Ombria que devem encher de orgulho a APA  que o aprovou. E creio que nem sequer fiscalizam as obras, nomeadamente no que se refere à ribeira e à sua defesa dos relvados do golfe; ninguém quer saber, e a gente pasma como é que em pleno seculo XXI, com tantas paragonas sobre as alterações climáticas,  se deixa construir aquela monstruosidade  para um turismo massificado à moda dos anos 60 do século passado. E tudo aquilo vai consumir água do aquífero Querença-. Silves..