quinta-feira, 31 de maio de 2018

Estive ausente uns dias e por isso o blogue não foi continuado. E logo nuns dias em que havia tanto que comentar !! Retomemos então.


A solução para uma morte com dignidade foi adiada
Na Assembleia da Republica os diplomas que pretendiam a despenalização da eutanásia  não passaram. O conservadorismo da sociedade é transversal a quem se diz da direita ou da esquerda, é essencialmente uma questão de consciência individual e social e também de compreensão e aceitação das leis da vida e da dignidade e liberdade do ser humano.
"Os extremos tocam-se " e nesta questão ficou à vista a posição identitária em termos de direitos humanos do CDS e do PCP... Sempre que a sociedade pretende avançar em termos de progresso social, a sua acção é sempre contrariada pelas reacção - os reaccionários conseguem atrasar a evolução mas não impedem o seu avanço, é apenas uma questão de tempo para se dar o passo seguinte.  Foi assim com o divórcio, com o aborto, com os casamentos entre pessoas do mesmo sexo - e agora com a eutanásia; fazem com que algumas pessoas em sofrimento não consigam ver alcançado o seu desejo de morrerem quando quiserem com dignidade e sem esse sofrimento. E podiam deixar de insistir no argumento  já  estafado de que é preciso melhorar o SNS e os cuidados paliativos pois é do conhecimento geral que estes não chegam a todo o lado. Há uma altura e há um grau de sofrimento psicológico que nenhuma morfina consegue resolver - e uma pessoa consciente tem o direito a não querer continuar numa vida suspensa de medicamentos entre o sofrimento e a morte adiada. Proibir a morte assistida  é   permitir a morte adiada.
Os que pedem a despenalização da morte assistida e do suicídio assistido não estão a impor a sua ideologia a ninguém que a não queira aceitar, pois ninguém é obrigado a submeter-se a essas práticas. Mas quem se opõe a elas impõe a toda a sociedade, aos que concordam com essa ideologia e aos que não concordam,  Retiram aos cidadãos o direito a decidirem livremente sobre a sua vida  - não sobre a vida de outros !! A solução vai chegar um dia. leva mais tempo...mas chegará !!




quinta-feira, 24 de maio de 2018

A   espuma  dos  dias

1- A direita do PS - Diz-se que Deus escreve direito por linhas tortas  mas Francisco Assis escreve  torto por linhas direitas... Ele e mais alguns companheiros estão ansiosos que chegue o diabo ao Governo de António Costa e a "geringonça" entre em derrapagem. Ele e mais esses alguns  outros não deixam de repetir, de tempos a tempo, o colapso eminente da opção de esquerda do PS, agora ate determinou que a opção de Costa é como o iogurte, tem prazo de validade. E se por acaso ultrapassar esse prazo, hen ? Porque é que ele e os outros que preferem uma coligação como PSD/PPD, não  se mudam com armas e bagagens para os amigos da direita ? O PPD recebia-os de braços abertos, ficavam a constituir a "esquerda" do PPD e talvez ajudassem Rui Rio a aguentar-se contra os falcões liberais que o cercam. Era bom para o PPD e era bom para o PS.

2 -O PS e os problemas das compatibilidades...  Não há volta a dar, o PS está constantemente enrolado em questiúnculas de compatibilidades entre o que fazem os seus ministros e secretários de Estado ( e Directores Gerais, etc). Será que António Costa quer dar cabo da sua auréola de grande político, que indiscutivelmente  é, por causa das relações menos claras que se estabelecem  entre cargos governamentais ou de Estado e as vidas privadas ? Lembremos-nos da quantidade de governantes que foram já visados e alguns substituídos por comportamentos menos claros,  mesmo que não sejam totalmente ilegais mas que são imorais, eticamente reprováveis. Membros do Governo ou de cargos oficiais que empregam as esposas, as filhas, os genros, etc, dão a impressão de que se trata tudo de uns complots e arranjinhos entre pessoas do mesmo clã, como se não se encontrassem pessoas capazes , e até mais capazes , fora desses laços familiares. Um dos que acho mais caricatos é a esposa do Ministro do Ambiente ser Chefe de Gabinete da Secretária de Estado do O.T. e Conservação da Natureza . Que independência de actuação pode ter um secretário de Estado quando tem a ver tudo quando ele faz ou decide a esposa do próprio Ministro ?!! Com franqueza, não se percebe como é que um político com a experiência e o "feeling" de António Costa  não faz um escrutínio rigoroso de todas as pessoas que mete em lugares de responsabilidade publica - antes que se comece a pensar e a dizer que afinal é ele que gosta das coisas assim..

3 - A lei da eutanásia -  A desfaçatez dos que se opõem à despenalização da eutanásia, de resto como já se esperava, tem contrastado com a sobriedade com que os seus defensores actuam, não deixando descarrilar pelo seu lado a discussão para patamares de imposturice e de pressão oportunista. Quem mais se evidencia, também já se esperava, é a lidere do CDS que, de tanto querer mostrar que é arrojada, passa muitas vezes para a insolência e o insulto, nomeadamente nas trocas de argumentos sobre qualquer assunto com António Costa - estala-lhe o verniz. E o argumento usado desta vez fala por si e pelo nível chocarreiro que ela imprime à discussão, dizendo que "instituir a eutanásia fica mais barato"; antigos e actual bastonários da Ordem dos Médicos invocam o seu dever deontológico para se demarcarem do processo  de aprovação, e querendo com isso talvez pôr em cheque os médicos que aderirem e há muitos de nomeada que aderem. E ameaçam com falta de consideração pela vida, com exageros e desvios  ( qual é a lei que não sofre desvios?) bem como a prioridade que deve ser dada aos cuidados paliativos - mas todos sabemos, até eu que não sou médico, que os cuidados paliativos só chegam a um certo patamar, o da dor. E o patamar da consciência de quem se sente sem autonomia de vida, de quem não quer ficar interminavelmente incapaz da sua autonomia e sofre horrores com isso? Como se resolve ? Misturam alhos com bugalhos, propositadamente para lançar confusão e descrédito.
Pelo lado dos que apoiam a eutanásia, tem primado a decência da argumentação ; saiu agora um livro, que vou adquirir,  que  se intitula "Morrer com dignidade" com depoimentos de pessoas idóneas. O Prof. Júlio Machado Vaz  numa entrevista ao Publico explica bem todos os argumentos dos que defendem a morte com dignidade  - e não venham dizer que este e muitos outros médicos não são dignos de credibilidade. Tenham os adversários a dignidade de reconhecer que quem não pensa como eles tem direito e tem alguma razão, como eles têm para si o contrário, Resta saber quem acompanha o andar do Tempo e quem fica, como qualquer reaccionário, a travar o avanço dos movimentos sociais. Sempre foi assim - com o aborto, com o casamento de homesexuais, etc.
" A morte assistida é o último degrau da autonomia do doente".
" A morte é o fim da vida, quero-a tão digna como tentei viver a vida que a ela conduziu".

4 - O Acordo Ortográfico (AO) e a indiferença da população 
São tantos os disparates resultantes da introdução, na ortografia portuguesa, das alterações trazidas pelo AO oficialmente em vigor, que a sua permanência só pode explicar-se na verdade pela indiferença e iliteracia da maior parte da população portuguesa. A fonetização da escrita em detrimento da etimologia empobreceu a nossa língua portuguesa e ao explicar-se o AO pela necessidade  de unificar a língua apenas se está a cooperar com uma aldrabice, pois  que nem sequer  todos os países dos PALOP aceitam - onde está essa unificação?
Um património tão grandioso como é a língua portuguesa não devia ter ficado entregue à decisão de meia dúzia de linguistas que se auto-consideram iluminados e de uns deputados que nem se devem ter apercebido do que estavam a aprovar na Assembleia da  Republica.
É uma deceção, perdão, uma decepção que a língua portuguesa esteja ser tratada desta forma perante o encolher de ombros da maioria das pessoas - mas quando se  apontam estes disparates a maior parte nem acredita, mas fica por aí. Que decepção mesmo !!







quarta-feira, 23 de maio de 2018

Qualidade de Vida - conceito...

O conceito de Qualidade de Vida foi arrancado a ferros ao longo dos finais do século XX. Enfronhando-me agora, por diversas razões, em velhas papeladas do meu arquivo, encontrei uma notícia do Le Monde  de 1-2 Junho de 1975, que noticiava que um tribunal da região de Lyon não aceitara pronunciar-se sobre uma queixa apresentada por associações ambientalistas contra os trabalhos preparatórios para a construção da central nuclear de Bugey-Malville ( Rhône -Alpes) e invocando, entre outros, os argumentos da EDF ( a EDP francesa...), para quem a qualidade de vida não dizia respeito nem a uma liberdade publica nem mesmo a um direito, pois não seria mais do que uma noção respeitante a diversas aspirações...E o juiz terá escrito que a queixa não dizia respeito  a qualquer atentado nem   contra um direito de propriedade nem contra qualquer liberdade fundamental.
De 1975 para cá já avançamos alguma coisa...

terça-feira, 22 de maio de 2018

Júlio Pomar
22-Maio-2018

Nesta ocasiões é lugar comum  dizer que o país fica mais pobre. Não sou eu que poderei dizer outras coisas, não sou mais que um modesto cidadão que apreciava - e continuarei a apreciar -  a arte de Júlio Pomar, que para mim é extraordinária.
No  Panteão das Artes ele será sempre  a figura tutelar.
Um sistema verde contínuo para Faro

Vou escrever sobre Faro mas podia ser sobre todas as cidades algarvias, pois as características gerais são as mesmas. Em regiões mediterrânicas ou meridionais, em que prevalece um clima de bastante aridez, com temperaturas elevadas uma boa parte do ano, a qualidade de vida urbana depende muito da existência dum sistema de espaços verdes que reponha índices de conforto para os  habitantes e seja ao mesmo tempo de fácil manutenção e pouco exigente em água.
O que sobretudo se pede para estas cidades é que disponham de sombras, de arvoredo frondoso e de espaços de lazer - claro que em Faro a presença da Ria Formosa é um factor altamente valorizador das condições de qualidade de vida, mas não é bastante.
Existe um Plano Verde para Faro, realizado por dois arquitectos paisagistas ainda no tempo do Arqº Porfírio Maia como vereador da Câmara Municipal; desse plano apenas creio ter começado a ser criado o Parque Ribeirinho.
Nesse sistema verde contínuo deviam ser incluídos quintais e logradouros privados aos quais algum incentivo fiscal possibilitaria a sua manutenção e não desaparecerem para dar lugar a garagens. As ruas e alamedas arborizadas e os vales das linhas de água que chegam até à  cidade devem enquadrar o sistema; os vales das linhas de água devidamente tratados com caminhos de passeio e vegetação adequada serão os corredores privilegiados para ligar a cidade ao campo ; e em todos os lugares disponíveis - e até alguns que o Município deva adquirir, de acordo com um Plano - é fundamental que se criem pequenos bosques urbanos e periurbanos  com arvoredo que desempenhe aquela função essencial de deixar entrar o sol no Inverno e criar sombra no Verão.
Mais do que relvados e flores que exigem , em grandes extensões, muito consumo de água e manutenção dispendiosa, Faro e as cidades do sul precisam de sombra - e de zonas não pavimentadas onde se possam desenvolver os processos do solo permeável e vivo e onde a infiltração seja favorecida; as  árvores em caldeira deviam ser a excepção e não a regra.
A implementação do sistema verde de Faro pode não dar muitos votos em eleições, mas daria muita qualidade de vida e  satisfação aos farenses e aos visitantes que venham à cidade no tempo de canícula.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

A espuma dos dias

1 - Ministério do Ambiente ? Quem diria que existe...
Este Ministério do Ambiente continua a mostrar-nos que existe para fazer de conta pois é como se não existisse, mas pior do que isso,  é que  existe e faz coisas em nome do Ambiente.
a)- Os lodos retirados do Tejo, resultado da poluição de muitos anos da indústria da celulose, vão ser armazenados em terreno marginal ao rio, numa área de zona protegida, que o Ministro acha que é a melhor solução ! Porque colocar os lodos nos terrenos da Celtejo, de onde veio a poluição, e que era o mais justo, não passa pelos critérios da APA nem pelos critérios do Ministro. E ainda se abespinha todo porque a Zero colocou uma providência cautelar em tribunal. Então, já viram ? Ousam  protestar contra uma decisão altamente criteriosa dum Ministro !! Pasme-se,  que país é este ?!!
b)- A política de Ambiente altamente consciente e plena de convicções ambientalistas ( ??) deste Ministério ( dum Governo que se diz de esquerda e  que tem apoio parlamentar de um Partido Verde) achou que fazer mais um furo de petróleo em  Aljezur não  implica "impactos negativos significativos" e por isso não exige um Estudo de Impacto Ambiental. Na verdade obrigar os investidores a pagarem uma pipa de massa por um EIA que no fim iria dizer o mesmo que a APA diz, não faz sentido... Quando por todo o mundo civilizado se está a caminhar para o fim da era dos combustíveis fósseis em  Portugal vai-se agora iniciar esse tempo, para que não se diga que tantos países têm petróleo e só nós é que não tínhamos. Se em 1976 e anos seguintes  tivéssemos políticos governamentais desta craveira e responsáveis pelo Ambiente com estas "tão fortes convicções" tínhamos apanhado com a central nuclear. "A central"  não, as centrais nucleares, pois um documento de 1981 intitulado "Carta  das Centrais Nucleares na Europa", originário da Conferência Europeia dos Ministros   do Ordenamento do Território, revelou  de forma explosiva que  se indicavam cinco centrais em Portugal, para Sines, Elvas, Moura, Vila Vª de Ródão e Gavião ( já tinham desistido de Ferrel...). Pasme~se que se os responsáveis políticos daqueles anos e em especial os do Ambiente, fossem como os de hoje, o que não teria sido de nós...
 2 - O futebol em Portugal
É inevitável fazer um comentário sobre o que se está a passar em Portugal com o futebol e então com o Sporting, que parecia andar afastado das encrencas dos outros dois rivais; afinal está metido em encrencas ainda maiores.
Quando eu era miúdo empolguei-me com os "cinco violinos : " Jesus Correia, Vasques, Peiroteu, Travassos e Albano, e com o guarda redes, o Azevedo, sempre de boné, e que parecia ter molas nos joelhos e asas para voar e apanhar as bolas; ao longo dos anos ser sportinguista foi sempre sinónimo de ter um bom comportamento social, de "fair play" com anos seguidos a saber perder. E de um dia para o outro destapou-se a desgraça com este ataque aos atletas e técnicos ( a comando de quem ?- vai saber-se, espero), com a loucura deste Presidente, do seu primarismo,  do seu autoritarismo  populista e desenfreado, com uma linguagem que o iguala ou anda o piora em relação aos dirigentes dos clubes rivais, useiros e vezeiros em diatribes e falta de saber estar no mundo do futebol. É uma vergonha. Já em escrito anterior disse que os dirigentes dos principais clubes, os tres grandes pelo menos, deviam ser todos reciclados para deixarem entrar gente nova com outra formação cívica - se é que existe, disposta a ir para a frente do futebol,,,
Como devia ser posto  cobro a grande parte dos comentadores de televisão que, muitos deles, são agentes de facciosismo e de incentivo à ofensa,  não só entre eles mesmos como contra os dirigentes rivais, estimulando assim entre os adeptos a continuação dos excessos que se praticam nos estádios. Contam-se pelos dedos da mão os comentadores que se mantêm dentro da cordialidade que não impede a controvérsia. É nas televisões que se prolongam os excesso dos estádios e isso é absolutamente condenável.
Podemos aspirar a outro país ?


terça-feira, 15 de maio de 2018

A tragédia da Palestina

Não costumo comentar política fora das fronteiras do nosso rectângulo mas o que se está a passar na Palestina é de tal forma angustiante que tenho que aqui deixar umas linhas, apenas para memória futura. O mundo está nas mãos de um louco, Trump, à frente da maior potência mundial, e que acendeu conscientemente o rastilho para incendiar o Médio Oriente. E ainda por cima acobardou-se e  não foi lá, enviou pessoal altamente especializado em problemas internacionais delicados como são a filha e o genro... Esta força dada aos israelitas está a resultar na carnificina que eles efectuam sobre os milhares de palestinianos que, sem armas na mão, protestam contra o roubo de que foram vítimas há 70 anos - roubaram-lhes as casas, as terras, os negócios e fizeram de centenas de milhar de pessoas refugiados na sua própria terra.
E a hipocrisia desta situação é que quem estiver a defender os palestinianos é porque é anti semita - já começa a enojar esse invocar permanente do anti semitismo  !! Os judeus de Israel estão  a continuar por suas mãos a limpeza étnica  de que foram vítimas pelos nazis, nada os diferencia destes nos resultados desta sua luta contra os verdadeiros  habitantes da Palestina - porque todos sabemos que é assim.
Eu não sou anti judeu, como não sou anti qualquer outra religião, valem todas o mesmo para mim, mas sou anti - sionista, o pensamento imperialista que levou à invenção de um Estado só para judeus. Foi a forma por um lado dos europeus e americanos amenizarem as consciências pelo holocausto nazi e, por outro lado, cedência ao dinheiro dos judeus milionários que dominavam a Banca e os negócios na Grã-Bretanha e nos EUA. Todos sabemos isto também. O desprezo e a arrogância com que os israelitas estão a enfrentar com as suas armas sofisticadas os palestinianos de pedras na mão ( David e Golias ao inverso...) diz bem da natureza dessa gente que se arroga dona da terra, quando mais 80% dos israelitas vieram de fora da região. Chamem-me anti semita !!...
Ao fim dos séculos de História,  apesar dos esforços utópicos de criar organismos como a ONU  e de inumeráveis Conferências de conciliação e discussão dos problemas entre países, o mundo de hoje está como sempre esteve nas mãos das nações mais poderosas - os EUA fazem o que lhes apetece na Palestina ou onde quer que seja,  muita gente fala baixinho, e fica tudo na mesma; a Rússia anexou uma parte da Ucrânia, o mesmo espectáculo de protestos caridosos mas ninguém fez nem faz nada; se a China lhe der para acabar com a independência de Taiwan quando entender que é mais conveniente, faz o que quer e ninguém levantará um dedo além dos habituais protestos caridosos. É esta a Humanidade do século XXI!! 

segunda-feira, 14 de maio de 2018

A espuma  dos  dias

1- A campanha por ou contra a eutanásia  -  Com muito pouco debate publico a Assembleia da Republica vai discutir e aprovar ou não a lei que despenalize a prática da eutanásia.
Sendo eu absolutamente a favor da eutanásia, morte assistida e/ou suicídio assistido, porque entendo que se trata de um direito de cidadania, que é o de morrer com a dignidade que se exige para a vida, entendo também que a gravidade do assunto e a falta de informação da grande maioria dos portugueses merecem que não haja pressa na aprovação da lei. 
A Igreja Católica e as demais igrejas, como lhes compete, tem despejado informação contra essa aprovação mesmo invocando, como alguns médicos também fazem, argumentos propositadamente confusos e alarmantes. Do lado que é favorável à eutanásia praticamente não há campanha de informação, salvo um ou outro artigo na imprensa, até de médicos - e isso  é quase nada. Há uma das partes interessadas que não tem meios para se bater em pé de igualdade com quem está contra, por isso o debate está distorcido. E há quem em extremo de desespero invoque o referendo, como se os direitos dos seres humanos possam em consciência ser referendados!!
 Seria útil bater na tecla de que assistir  na morte, por um  médico, também é um acto ligado à vida porque vida e morte são duas faces do mesmo processo biológico - fica apenas uma questão de consciência do médico, sobretudo se for crente de  alguma religião.
Agora fica aqui registado : é uma questão de tempo; há sempre reacção dos sectores mais conservadores contra as grandes inovações em matéria de relações sociais - conseguem atrasar os processos, adiá-los, mas nunca impedi-los. Lembremos-nos do divórcio, do aborto, do casamento de pessoas do mesmo sexo, etc, etc...

2 - A inépcia do Governo em matéria de política florestal  - Alguém sabe alguma coisa sobre o estudo do ordenamento florestal, das campanhas de arborização planeada, do controle de qualquer organismo - seja até o famigerado ICNF!!) ? Mas devia haver essa informação, porque  então somos levados a concluir que não se está a fazer nada, O que se sabe é das confusões do Ministério da Administração Interna, da pouca vergonha das demissões na Protecção Civil, da falta de acordo para ter todos os meios aéreos ao serviço, o que denota incompetência ,  falta de profissionalismo e transmite que existe um ambiente interno de conspiração permanente. Dar lugar a boys, demitir  responsáveis para nomear outros com cartão partidário, neste Governo como nos anteriores, é uma prática vergonhosa.
Com quatro décadas de democracia já era tempo suficiente para os Partidos Políticos darem mostras de maioridade, de compostura e ética republicana ( de que todos falam mas nenhum pratica), em vez de continuarem a ser escolas de clientelismo e de formação de boys que dêem garantias de anuência às directivas do "aparelho".

sexta-feira, 11 de maio de 2018


Revitalizar o interior
passa pelos  Serviços Florestais

Começa a esboçar-se um amplo movimento no sentido de se olhar para o interior do país como um território imprescindível ao equilíbrio económico, social, ecológico e cultural do todo do território nacional. Veremos no que vai dar.
Do interior têm sido banidas Juntas de Freguesia, centros de saúde, postos dos CTT, escolas, isto é tudo quanto podia representar o Estado nas áreas de baixa densidade ( nome  rebuscado para indicar o interior…).
Há uma medida que pode ter impacto não indirecto mas directo na  revitalização do interior do nosso país : a reconstituição duma Autoridade Florestal Nacional  vulgo Serviços Florestais, que a falta de clarividência , de sentido de Estado e de noção exacta das necessidades do território dos nossos políticos das duas últimas décadas fez extinguir.
A reinstalação de uma rede de casas florestais habitadas por guardas florestais, cuidadosamente distribuídas pelas zonas do interior mais susceptíveis a incêndios florestais contribuirá decisivamente para trazer gente às zonas mais desertificadas em termos de ocupação humana, mas onde continuam a existir pequenos casais e aldeias.
Hoje em dia a quadrícula de casas florestais já não precisava de ser tão densa quanto era há cinquenta anos ; com a vídeo vigilância uma casa de guarda florestal pode supervisionar áreas muito maiores, detectando com antecedência qualquer sinal de fumo que surja no oriente. Essa é a grande contribuição dos guardas florestais para o tempo dos fogos, mas a sua função não se limitava a essa  época do ano – eles vigiavam as matas todo o ano, interpelavam os proprietários para fazerem as limpezas, controlavam os cortes de arvoredo e obrigavam quem os realiza a extrair todo o material ( cascas, ramos, folhagem) para fora  da mata.
Claro que a prevenção atempada e o combate imediato aos primeiros sinais de fogo prejudicam os grandes meios privados de combate aos  incêndios, e há por aí mal intencionados que dizem ser essa uma das razões para se ter acabado com os Serviços Florestais… Nem quero acreditar, mas lá que o combate aos incêndios florestais é um grande negócio público-privado, lá isso é.
A reposição das casas de guardas  deverá hoje em dia privilegiar a proximidade com povoações existentes, casais isolados e áreas de habitação dispersa, pois isso não só dará mais segurança às  populações desses locais, como para os próprios guardas e famílias será vantajoso terem a proximidade de mais população.
Mas a orgânica local e regional dos Serviços Florestais também ajudará a revitalizar o interior ; são as  Administrações e as  Circunscrições Florestais, que  supervisionam as primeiras, que originam serviços públicos em pequenas terras do interior e suscitam a criação de empregos.
Como já foi dito noutras ocasiões  -mas nunca cansa repetir – Portugal deve ser o único país do mundo com área florestal significativa que deixou de  ter um Organismo dedicado à gestão da área e um Corpo de Guardas especializados nessa gestão, idiossincrasia dos nossos abalizados políticos em matéria florestal !!
Percebe-se que este Governo resista a dar a mão à palmatória, pois o PS tem responsabilidades na extinção dos guardas florestais e no seu envio para a GNR; e quando o anterior Governo PDSD/CDS por sua vez extinguiu os Serviços Florestais e criou ”o aborto” chamado ICNF, houve sectores do PS  que devem ter exultado e batido palmas; tantas reversões que um Governo que se diz de esquerda tem feito das políticas da direita, só nesta matéria que afecta as florestas e o Ambiente estão todos de acordo. Estranho, não?  Como estranho é que a esquerda se esqueça, como dizia há dias Rui Tavares,  das suas raízes libertárias, ecológicas e cosmopolitas, e apenas tenha andado preocupada a exigir reversões das pensões e dos salários ( uma coisa não devia fazer esquecer a outra).
É preciso criar cursos para a formação de guardas florestais,  com um ensino não só teórico mas também prático e ainda há antigos Administradores Florestais em serviço que podem colaborar e até alguns já reformados, pelo que eu conheço do “amor á camisola” não desdenhariam voltar a dar o seu contributo.
Podem os Governos, este ou o que vier a seguir, continuar a proclamar reformas e leis inovadoras, mas  havemos todos de chegar á conclusão, à custa de sacrifícios do país, que enquanto não for reposta uma Autoridade Florestal Nacional a política florestal não passa de retórica. Já repararam que agora, quanto a incêndios e a floresta, praticamente só  se fala da Administração Interna,  deixou de  se falar nos agentes que deviam ser os primeiros a ver com a matéria,  que são os técnicos florestais e a sua organização?…

Fernando Santos Pessoa
07-05-018

segunda-feira, 7 de maio de 2018

A polémica sobre um falado
Museu dos Descobrimentos

A ideia da Câmara Municipal de Lisboa de propor um Museu dos Descobrimentos lançou entre os fundamentalistas de esquerda  da História, como era de esperar, uma acesa polémica - e eu não consulto as redes sociais, onde parece que as coisas chegaram ao rubro. E digo fundamentalistas de esquerda da História porque é de entre eles que mais vezes se adiantam argumentos que  podem ser resultado da livre opinião - como é a minha - mas que ameaçam ser tão redutores que se tornam "impróprios para consumo".
Analisar a História de séculos atrás com a óptica da vida e dos comportamentos de hoje é tão absurdo como as verdades do Senhor de La Palice.
Fala-se por um lado  no termo "descobrimentos" como ofensivo, como se os portugueses se estivessem a apropriar de descobrirem outros  seres humanos que já existiam antes de termos chegado lá;  por outro lado fala-se na escravatura e  nas culpas dos portugueses nesse  negócio horrível de seres humanos. 
É claro que a "descoberta" é em função do conhecimento que se tinha ou não tinha do mundo, e isso também foi assim sempre, como o  Mare Nostrum  que  foi a adopção pelos romanos do Mar Mediterrâneo que não era todo deles mas que era o que eles conheciam e dominavam.
Quanto à escravatura , ela sempre existiu desde que há sociedades humanas organizadas, e os puristas de esquerda fariam bem voltar a ler Karl Marx e ver como ele situa a escravatura numa das fases da História da economia e da humanidade. Todos os povos do Ocidente e do Oriente, de todas as religiões, tiveram escravos  e mantiveram a escravatura algum tempo para lá dos portugueses.
Portugal ter de pedir desculpa por ter praticado a escravatura,  levaria a que outros aparentemente insuspeitos tivessem também que fazer o mesmo ; sabemos que os portugueses que negociavam os escravos não entravam por África dentro e arrebanhavam as filas de seres humanos - eram os sobas ou chefes das aldeias, mesmo os muçulmanos, que traziam até aos navios portugueses os pobres indígenas que vendiam e de que recebiam pagamento. Vai-se exigir aos sobas de hoje que peçam desculpas aos seus povos por os seus antepassados terem praticado aqueles actos ignominiosos?  
Vou contar uma pequena história : uma vez em que estive na ilha de Goreia, em frente a Dackar, a visitar o Museu da Escravatura, ouvi o guia falar do comércio dos escravos e apenas se referia aos portugueses como tendo sido os grandes obreiros desse negócio. Então eu perguntei-lhe, em voz alta,  já que era assim  porque é que no painel do Museu em que estavam os nomes dos principais negreiros, só havia nomes holandeses, ingleses, franceses e nenhum português? Ele ficou embaraçado, e depois ainda lhe disse que num outro painel com nomes de figuras importantes que tinham estado na ilha...só havia nomes de navegadores portugueses e até da futura D.Maria II quando veio do Brasil para casar em Lisboa. E o homem voltou a ficar embaraçado. E é assim que se faz "alguma" História...
Portugal foi até o segundo país europeu  a acabar formalmente com a escravatura no século XIX, portanto há muitos outros países que têm muitas desculpas a apresentar. Dito isto, quem me acusar de estar a desculpar a escravatura está de má fé, acho que era uma situação intolerável - mas à vista dos séculos em que todo o mundo a praticava, não era nada de  mais. A História é assim.
Eu sempre me interessei por Museologia, acho os museus muito importantes se forem bem concebidos, pois  os museus de hoje nada têm a ver com aquelas casas bafientas cheias de vitrinas com peças. Anda há dias propus a ideia de se criar um Museu da História e Identidade do Algarve, a ver se alguém pega nessa ideia.
Quanto ao Museu previsto pelo Presidente da Câmara de Lisboa, como cada cabeça sua sentença e eu também tenho a minha. E acho que ficaria fora de polémicas um Museu das Navegações Portuguesas, porque, estas sim, foram uma epopeia com bases científicas ( à época) e estratégia política genial que os portugueses lançaram, em pleno espírito do Renascimento, abrindo o mundo aos limitados conhecimentos dos europeus e levando "aos Orientes" o conhecimento da existência real e voluntarista de um pequeno povo que,  encurralado entre um país enorme e forte, o reino alargado de Castela, e o mar tenebroso, não teve outro remédio senão ir por esse mar fora.
E porquê em Lisboa ?  Não há já em Lisboa museus bastantes e até um circuito possível entre vários ícones dos Descobrimentos? Pois eu acho que um Museu destes poderia ficar muito bem na Ilha da Madeira, a primeira terra descoberta e que estava deserta de habitantes ( se o Porto Santo não protestar...).








Agricultura e Ambiente

Em Maio de  1991 participei no Forum Ecologista e Alternativo, que reuniu um grande número de pessoas ligadas aos temas do título e em debate, incluindo políticos como  Galvão Telles, Augusto Mateus, Helena Cidade Moura, Gonçalo Ribeiro Telles, Mário Murteira, Isabel do Carmo, etc. O que me leva a falar nisso é que aquilo que eu escrevi na comunicação que apresentei tem muito a ver com o que se passou daí em diante e é actual. Vou transcrever algumas passagens desse texto.
  "A importância da política agrícola nos problemas do Ambiente
Ainda não vi os ecologistas em Portugal tomarem posição inequívoca  sobre a evolução das questões agrícolas, que se erguem no horizonte a médio e longo prazo como grave ameaça para o equilíbrio ambiental e para as condições de vida dos portugueses.
Qualquer que seja a política agrícola que for incentivada ela tem reflexos directos nas condições ambientais e nas características culturais do nosso país.
Começa por ser necessário, a meu ver, desmistificar a noção propagandeada por quem nisso tem interesse, de que somos um país florestal ou de vocação florestal.
Desde há milénios que nesta velha terra habitada os homens derrubaram a floresta para implantar a agricultura e o pastoreio; só nos vales encaixados, nas galerias das linhas de água e nos sítios encharcados - os paúis - se manteve a floresta como sítio inóspito, refúgio de feras e de inimigos, mas com a evolução das comunidades locais até essas zonas acabaram também por ser arroteadas em grande parte.
Quer dizer que fomos sempre um povo de agricultores e pastores, depois também de marinheiros, mas mesmo neste caso nunca os homens do mar perderam a ligação às suas courelas.
Não tínhamos a tradição  de gestão de florestas tal como hoje se concebem, porque os bosques abertos da nossa flora mediterrânica eram diferentes na concepção e na gestão.
Se assim é, é porque tivemos sempre condições de solo e de clima para a agricultura e para o pastoreio; não teremos talvez, hoje em dia, condições para a grande mecanização que se utiliza nas planícies da Europa Central ou da América - mas temos condições para a pequena e média exploração, para a produção de qualidade por oposição à produção em quantidade da agricultura industrial. ...
Ora se as propostas para a agricultura feitas nas conversações do GATT (General Agreement  on Tarifs and Trade) em 1990, conhecidas por Uruguai Round, forem levadas às últimas consequências, teremos o descalabro da nossa agricultura e, de forma geral, da maior parte da agricultura europeia que cair nas mãos dos grandes impérios mundiais da produção e comercialização dos produtos agrícolas.
O que os interesses internacionais pretendem obter no GATT é a completa liberalização da agricultura, pressionando os diversos Governos europeus para abolirem as políticas proteccionistas aos agricultores.               ....    .....      ......................
A raiz agrícola das sociedades europeias não se extirpa como quem arranca uma erva daninha, e os agricultores  europeus exigem nas mesas de voto a sua protecção. Daí que muitos Governos europeus tenham oposto as maiores reservas às propostas da Política Agrícola Comum (PAC) que só na aparência se diferencia das propostas do GATT.  ............                ..........
Sem a atribuição das políticas de subsídios agrícolas, as pequenas e médias explorações que não possam incorporar-se em grandes explorações de carácter industrial, não têm possibilidades de sobreviver.   ........                ........
...a gravidade da situação que se cria para a grande parte da agricultura europeia com a aplicação das medidas de completa liberalização do sector é tão séria, que dificilmente os diversos Governos deixarão de agir em conformidade; no entanto impõe-se a pressão contínua dos agricultores  e dos ecologistas e ambientalistas para que os tecnocratas dos Governos não cedam às exigências dos de Bruxelas.           .....      ......
...para além dos aspectos importantes da produção de qualidade e da manutenção em funcionamento das pequenas explorações e da agricultura não industrializada, esta agricultura ( tradicional ) é responsável pela manutenção das paisagens e dos habitats rurais que representam vários séculos de harmonização entre o homem e a natureza.     .............                 .....
Sendo os terrenos abandonados por falta de apoio aos pequenos agricultores, ficarão expectantes e o seu destino é a arborização;  e aqui se projecta a outra ameaça ambiental, já que esses terrenos serão presa fácil das empresas de celulose  para arborização com espécies de rápido crescimento  como o eucalipto e a pseudotsuga.
..... Há assim um ameaça eminente ao Ambiente em Portugal se a nossa agricultura seguir as imposições externas, ameaça que se agiganta, como vemos, no que se refere ao nosso património natural. Mas sob o ponto de vista cultural a ameaça não é menor. "

E aconteceu mesmo, com a gravidade que sabemos  : sobretudo com os Ministros e Secretários de Estado da Agricultura e Florestas dos Governos de Cavaco  Silva assistimos às pressões sobre os agricultores para deixarem de produzir em troca de um subsídio e deu-se a expansão do "petróleo verde" ou seja dos eucaliptais, para uma escala que alterou profundamente a dinâmica dos ecossistemas e a qualidade das paisagens e dos habitats. E depois ardem como tochas em dias de festa!!
Vir dizer hoje em dia que os eucaliptos não são combustíveis como disse há tempos um holandês que nos veio dar lições, e alguns técnicos florestais de que não se viram fotografias de eucaliptos a arder... é brincar com o pagode.




domingo, 6 de maio de 2018

Eutanásia - o campo das confusões

Vou meter-me mais uma vez neste campo de confusões, umas involuntárias, outras nem por isso.
Os médicos têm uma palavra a dizer, é evidente, mas a discussão da matéria não é um assunto só médico ou especialmente médico - é um problema de consciência de cada um. E no Movimento pela Morte Assistida a que pertenço sempre houve e  há médicos.
Vem isto agora a propósito duma entrevista a um médico, António Maia Gonçalves, saída no Publico de ontem, 5 de Maio. Tem todo o direito a dizer-se contra a eutanásia se bem que ao longo das suas declarações haja cedências. Tem todo o direito de ter a sua opinião, só que os opositores ao acto impõem a sua opinião a todos, enquanto os que a defendem só a defendem para si, não impõem a ninguém, não querem  tornar a morte assistida ou a eutanásia obrigatória. Querem apenas ter o direito, com as devidas cautelas já por demais ditas e reditas, de pedir essa solução final.
Mas o entrevistado começa por dizer que  "não se pode banalizar a morte", a que pessoas como eu respondem que deve haver o direito a morrer com dignidade e decidir em consciência como quer acabar a sua vida.
Uma afirmação ; "se tenho um doente com 90 anos que tem uma pneumonia curável, não vou deixar de o reanimar por causa da idade" - mas o que é que isto tem a ver com a eutanásia ?  Frases desta só servem para aumentar a confusão, mistura alhos com bugalhos. A eutanásia só se poderá aplicar a pedido do doente e em caso de irreversibilidade do estado da saúde, nada tem a  ver com a idade, se bem que seja previsível surgirem mais situações irreversíveis nas pessoas mais idosas.
"Na dúvida, tratar sempre o doente", e mesmo que exista um testamento vital  que este médico acha que foi aprovado depressa demais. E diz que "desde 2012 apenas ocorreram  18000, é um número irrisório". Irrisório porquê, com tanta falta de informação, com a confusão permanente e especulativa de quem é contra ? A  mim acho que nas presentes condições  até é um número apreciável.
É o tal caso do copo meio cheio ou meio vazio...
"Um jovem diz : não quero ser ligado a ventilador nenhum, Mas se esse jovem entrar numa sala de emergência com uma pneumonia, acha que vou deixá~lo morrer?" Sim, se for essa a vontade expressa pelo doente e se a situação for irreversível, é sempre nesta situação extrema que se coloca a questão. Podia continuar  a analisar as afirmações do médico, mas fico por esta : "...3% das causas da mortalidade sejam actualmente por eutanásia na Holanda, Ora não me vão dizer que estas pessoas todas estavam em grande sofrimento". Aqui está a pôr em causa a seriedade dos colegas médicos holandeses, que são responsáveis pelo diagnóstico final do paciente. E assim não vale, senhor doutor !
Quanto a "será um fardo para as pessoas de idade se eutanásia for aprovada" é tirar ilações a seu bel prazer, eu que aqui escrevo sou "uma pessoa de idade" e  não sinto fardo nenhum ao querer a eutanásia, pelo contrário, espero que ela venha a ser aprovada: reaccionários ( sem ofensa, são os que reagem) a medidas avançadas sempre houve  e continuará a haver, E para terminar "...há 160, 170 países no mundo e apenas meia dúzia têm eutanásia.Há pilares fundamentais na sociedade e um deles é o direito à vida" - pois há e há meia dúzia de países que começam a proclamar o direito à morte com dignidade. É uma questão de tempo, sempre foi assim,  foi assim com tudo quanto se trata de  saltos qualitativos para uns e que os retrógrados não aceitam e travam enquanto podem.

sábado, 5 de maio de 2018


Em louvor da dieta mediterrânica

Qualquer dieta de um povo ou de uma região tem sempre o seu suporte na ecologia própria da área em que se desenvolve.
Fala-se muito da  dieta mediterrânica que se tornou   famosa a partir dos estudos do médico norte americano Ancel Keys, que no século passado estudou as relações da alimentação com a saúde em vários países do mundo. E constatou que a percentagem de mortes por acidentes cardiovasculares na Finlândia andava pelos 80% enquanto na ilha de Creta era de 4%. Chegou à conclusão que era do regime alimentar seguido e dos benefícios dessa alimentação.

O Mediterrâneo, o Mare Nostrum dos romanos, é uma região privilegiada em termos de Ecologia e em termos de Humanidade.

Esse mar  formara-se, tal como outros mares  da região,  como resultado do desaparecimento do primitivo Mar de Tetis.
Durante o período Paleoceno ( 67 MA) assistiu-se a uma grande regressão marinha e a um aquecimento geral.

No final do  Eocemo, o Mediterrâneo era um grande lago  salgado, sujeito a forte evaporação e  quase a extinguir-se. Temperaturas elevadas criaram em toda a bacia mediterrânica um ambiente tropical e subtropical.
Até que há 53 milhões de anos uma forte actividade tectónica afastou as placas euroasiática e africana, rompendo-se o estreito de Gibraltar, e dando lugar ao enchimento do Mediterrâneo.

 Há uns 100.000 anos  iniciou-se um tempo de progressivo e forte arrefecimento que teve o seu auge na última glaciação de Wurm cerca de 20.000 anos aC. dando lugar também a grande e progressiva  transformação da vegetação e da fauna tropicais, empurradas para sul do Mediterrâneo.
Desta era tropical ficaram por cá algumas relíquias como a alfarrobeira, o loureiro, a palmeira do Algarve ( única palmeira da Europa), o macaco de Gibraltar e a flora da Macaronésica.
Na Macaronésia encontramos a floresta da Laurissilva dominada pelas lauráceas e outras espécies tropicais e subtropicais , que se espalham pela Madeira, Açores , Canárias e Cabo Verde.

 Durante a  era mais fria  desenvolveram-se entretanto florestas de coníferas de que restam na bacia mediterrânica  os géneros Cedrus, Pinus e Cupressus,   e mais tarde  foram dando lugar a espécies folhosas caducifólias  e  a seguir perenifólias e esclerófitas.

O clima foi acentuando as suas características de aridez e deu origem à formação de estepes em especial em todo o Mediterrâneo oriental e norte de África. Isto foi particularmente nítido entre 11000 e 10 000 aC, conduzindo ao início da desertificação em toda a região do  Sahara.
Mas foi a instalação da estepes que afinal possibilitou  a evolução  cultural dos seres humanos, com o início da agricultura.

Com a progressiva humanização, também ocorreu a progressiva destruição das florestas , já de si de lento crescimento, dando origem aos matagais mediterrânicos.
Formações de florestas e de matagais  estenderam-se por toda a orla do Mare Nostrum, e até nós, no barrocal algarvio e  na serra da Arrábida, chegou a aliança Oleo-Ceratonion, cujas espécies dominantes são o zambujeiro  e a  alfarrobeira.

O deserto no Sahara instalou-se definitivamente pelos 7000 aC e ainda se pode fotografar o último ramo verde do ultimo cipreste  vivo no Tassili N’Ager, com mais de 7000 anos ; os povos que abandonaram o Sahara em direcção ao vale do Nilo, gravaram numa laje uma vaca com uma lágrima nos olhos – sinal do desespero e sofrimento que aqueles povos sentiam ao ver morrer o gado com fome e sede e também da capacidade artística do ser humano desde os seus primórdios, ser humano que  sabe transmitir sentimentos através da arte. 
Nas estepes cresciam leguminosas e gramíneas que o homem descobriu  poderem ser comidas e poderem ser semeadas em maiores quantidades ; foi a primeira agricultura e o romper do Neolítico.

Começaram por ser semeadas algumas leguminosas como a lentilha e o grão de bico ( a Bíblia  fala no prato de lentilhas) e  diversos cereais selvagens como aveia, cevada e trigo… Dieta completada com carne de caprinos, ovinos, suínos e alguma caça . E peixe consumido em fresco ou conservado pelo sal.
Ainda hoje se consegue delimitar a área de distribuição dos trigos selvagens. O trigo espelta , por exemplo, é ainda hoje  apreciado pelos gourmets vegetarianos

A grande  espécie ícone do Mediterrâneo é a oliveira, que foi obtida a partir de variedades da oliveira brava. Por exemplo na Madeira  existe uma espécie de oliveira selvagem diferente do nosso zambujeiro (Olea europea  var.sylvestris), que é a Olea maderensis.
A cultura da oliveira é muito antiga quer para consumo do fruto quer como produtora de óleo, como atesta a descoberta em Jericó de  ânforas de azeite datadas de 6000 aC. Os povos do Mediterrâneo oriental espalharam depois as variedades cultivadas por toda a Europa do sul  e Norte de África-

 A intervenção nos ecossistemas naturais fez-se pelo pastoreio e pelo fogo, originando paisagens características e até dando lugar a adaptações de muitas plantas aos ciclos dos fogos.

A outra espécie que marca a imagem da região mediterrânica é a videira – a espécie Vitis vinifera ou videira europeia, susceptível de centenas de variedades ou castas obtidas com o seu cultivo, primeiro como planta produtora de frutos, depois pela sua utilização para  vinho.

A  composição das paisagens mediterrânicas do sul da Europa manteve-se dentro de parâmetros conhecidos ao longo dos séculos : campos de cultura cerealífera. compartimentação com árvores de fruta e certamente oliveiras, e vinhas em linhas pelas curvas de nível. As Geórgicas de Virgílio continuaram a ser ao longo da Idade Média o tratado de agronomia mais seguido.
 Nas povoações eram frequentes os hortos ou jardins murados.

Assim nasceu a trilogia alimentar mediterrânica, lançada por Braudel : pão, azeite, vinho. E  como complemento dos produtos agrícolas vieram a caça e a  criação de gado miúdo, além da pesca de espécies  marinhas muito valiosas em nutrientes.

A dieta mediterrânica é pois famosa pela qualidade dos alimentos que a compõem e tornou-se uma moda, se bem que muita gente fala dela sem saber exactamente de que está a falar.
O seu valor  como base da alimentação vem de os alimentos da serem  ricos em :
- anti-oxidantes que ajudam a prevenir a formação de radicais livres nas células ,  ácidos gordos ,Omega 3 e vitaminas C e E
-anti-coagulantes , como a  vitamina K existente nas   cerejas, uvas, mel, vinho e  frutos secos.

Para concluir digamos alguma coisa sobre qualidade de vida.
A qualidade de vida que foi um dos leit motive de Gonçalo Ribeiro Telles,   não depende apenas da alimentação, que é sem dúvida fundamental, mas também do estilo de vida, combatendo a vida sedentária que a cidade muitas vezes promove, mas que tem que ser contrariado pela qualidade da paisagem urbana, onde a Natureza tem de estar presente e a estrutura verde  é tão importante como as outras infraestruturas urbanas. Este foi e é um dos grande combates de Gonçalo Ribeiro Telles e de todos quantos o seguem !!

Percebemos assim ,creio eu,  que  a nossa famosa dieta mediterrânica foi resultado da evolução das condições ecológicas  desta grande região, berço de civilizações desde a mais remota Antiguidade , mas também devemos concluir que a cidade mediterrânica sempre contribuiu para completar os benefícios que os produtos da Natureza nos concedem.


quinta-feira, 3 de maio de 2018


 normalização = estupidificação
IKEA e similares

Não cito o nome IKEA por qualquer aversão especial à marca, é apenas por ser uma das maiores senão a maior das  grandes superfícies que vendem tudo para as nossas casas. Esta massificação da oferta dos bens que as pessoas mais consomem é a principal característica deste capitalismo desenfreado que nos inunda a vida e a transforma num rame-rame desconsolado. Num país com a nossa pequena dimensão, o número dessas grandes superfícies  significa que estamos a caminhar a passos largos para a completa normalização  da vida das sociedades tão cara aos mercados e  ao liberalismo que acaba por ser (já é) libertino.
Qualquer dia visitamos um amigo no Porto e encontramos as mesmas mobílias, os mesmos bibelots, as mesmas jarras, as mesmas almofadas que... temos na nossa casa e "por acaso" também em casa de uns primos que temos na Beira Alta.
Deixa de haver escolha, ou antes a escolha fica entre os modelos  e a estética que as grandes superfícies nos querem impingir; acabam os pequenos marceneiros, as pequenas fábricas de móveis a quem podíamos pedir uma modificação aqui  ou ali numa cadeira ou numa estante e termos os "nossos móveis", a nosso gosto.  Apenas acabarão por restar alguns fabricantes de produtos de alto gabarito para as classes possidónias que, essas sim, não deixarão de pagar seja o que for para terem coisas exclusivas. Agora para a malta, para o povão, as coisas fabricadas  em série serão baratuchas e  todas iguais  -" a minha  é marrron ,  ah! mas a minha é bordeau.... ". A  progressiva normalização da vida das sociedades é a estupidificação das pessoas. É a perda da diversidade cultural e da variabilidade de gostos que definem uma cultura.
Mas pior ainda do que esta normalização dos bens de casa, é que o mesmo acontece com os bens alimentares. Aqui estamos cada vez mais condenados a comprar as batatas ensacadas que as grandes superfícies nos vendem, sempre as mesmas duas ou tres qualidades, e as cebolas e as maçãs, e por aí fora; as nossas variedades desapareceram. E desaparecem também as nossas variedades de cereais e de leguminosas porque as grandes multinacionais do negócio alimentar  monopolizam a produção e o comércio das sementes e dos fertilizantes e pesticidas aos quais elas são adaptadas. É a perda grave da diversidade genética e biológica  - mas o que é que isso interessa aos executivos que estão à frente dos grandes grupos económicos e financeiros e aos "cientistas" e investigadores arregimentados por eles? Entra dinheiro e aumentam os lucros em cada ano, não é ? Isso é que importa.
È o maravilhoso mundo do Big Brother que Orwel  profetizou.

quarta-feira, 2 de maio de 2018

A espuma dos dias

1- Barrigas de aluguer -  Não sei se a minha posição é de direita ou de esquerda, mas se for de direita tanto me faz.
Eu não concebo que se transforme a mulher  numa máquina de parir e a maternidade num  negócio. Custa-me a entender como é que uma mulher cria um filho na barriga durante nove meses e depois se desprende dele como de um objecto que não lhe diz nada. Acho que é aviltante para a mulher e então se for a troco de dinheiro, como se de uma qualquer mercadoria se tratasse, ainda é mais pavoroso.
Custa-me a entender que as feministas possam alinhar com situações destas, em que mais uma vez e de uma forma cruel o corpo da mulher é pensado e usado como uma simples máquina de parir.
Há tanta criança para adoptar nas instituições, onde pais inférteis podem ir buscar uma criança da mais tenra idade e fazer dela o seu filho ou a sua filha, até podem escolher. Agora que uma mulher também aceite receber da barriga de outra um filho por encomenda  para criar como seu, deve ser o meu entendimento que é tacanho  e não entende.

2- Ainda os fogos florestais - Se o Governo escondeu durante seis meses o relatório da auditoria interna da Protecção Civil que demonstra o caos que se verificou nas primeiras horas do grande incêndio de Pedrógão, é revelador da irresponsabilidade que continua a lavrar em matéria de política florestal.  
Veja-se como deixou de se ligar o problema dos fogos florestais aos técnicos florestais e a um Serviço que devia existir que os enquadrasse, e praticamente só se fala da Administração Interna e do que ela faz ou não faz. Este Governo está a ir a um ponto de desnorte que é difícil de entender, entrega ás Autarquias o que seria a responsabilidade do Poder central ( com a evidente colaboração indispensável das Autarquias, claro), faz leis sobre leis para reformar  o quê ? É o ICNF que vai ficar como autoridade nacional florestal, sem guardas florestais, sem uma estrutura regional e local que enquadre as medidas a tomar? O ordenamento florestal vai fazer-se apenas por voluntarismo? Não é necessário um organismo que trabalhe em consonância com as Universidades?
Repito até à exaustão : dêem as voltas que quiserem dar com leis e mais leis,  sem uns Serviços Florestais vai continuar a ineficácia a que nos têm habituado os últimos Governos  e este em especial ( com pena o digo)!!
Há 50 anos, o Maio de Paris
Em Maio de 1968 o movimento iniciado em Paris e depois estendido a toda a França, renovou a Europa e através dela o Mundo.  
Última grande  manifestação do anarquismo, esse movimento revolucionário  de Maio de 68  abriu as sociedades para as exigências, entre outras coisas, da Ecologia e do Ambiente, fez mais pelo Tempo Moderno do  que qualquer outro evento político ou social. É proibido proibir ficará na História como o grito libertário das sociedades que não se querem sujeitas a nenhuma ordem excessiva, seja de que coloração for.
E mais, libertou a esquerda da sua conexão ao marxismo-leninismo e à ditadura do proletariado; como refere Rui Tavares num excelente artigo do "Publico", os anarquistas cometeram o erro de subestimar a social democracia e o que esta pode fazer pela libertação da sociedades sem descambar para a tutela de qualquer forma de ditadura.
A esquerda democrática adoptou as ideias principais do Maio 68, e como também diz o mesmo autor acima citado, "mal andará  a esquerda se se esquecer das suas raízes libertárias, ecológicas e cosmopolitas".
Em Portugal seria muito importante que o PS se lembrasse de que quer ser esquerda, e estando no Poder apoiado por outras esquerdas, deveria consagrar ao Ambiente e à Ecologia a importância que devem ter numa sociedade moderna. Ora o actual Governo limita-se a continuar a estrutura ministerial que o anterior Governo de direita criou, e permite  que o Instituto da Conservação da Natureza, peça fundamental de uma Politica de Ambiente coerente e eficaz, se tenha transformado no caos que é o ICNF e colocado no Ministério da Agricultura.
Maio de 68 parece ter-se esfumado na mente dos políticos do PS português.