quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A espuma dos dias
      Estive uns dias ausente, e regressei  com os mesmos  assuntos na ordem do dia.
1 - A fantochada ridícula - Este é o título de uma crónica de Ricardo Araújo Pereira na revista Visão, e é com a devida vénia que a utilizo aqui, pois trata-se de uma das melhores crónicas  políticas humorísticas que já se escreveu. Assunto: a fantochada do roubo, assalto, brincadeira, dêem-lhe o nome que quiserem,  das armas de Tancos. Não se consegue entender e creio que jamais alguém acredita que se virá a saber a verdade completa sobre tão abstruza ocorrência.
Uma coisa é certa e eu dei esse exemplo quando ocorreu o desaparecimento do armamento e munições dos paióis : eu também comandei uma Companhia, em tempo de guerra, uma companhia independente, sem batalhão, dependendo directamente do Brigadeiro comandante do Sector. Tinha, como é de calcular para uma unidade de intervenção como era a que eu comandava, um paiol  bem recheado; se houvesse um assalto, um roubo, um incêndio, enfim, qualquer ocorrência no paiol da Companhia quem, era o grande responsável? Era o Brigadeiro ou era eu ? Claro que tinha uma cabo quarteleiro e um sargento responsáveis pelo funcionamento do paiol, mas a responsabilidade maior era minha. Ora a Companhia ou Companhias de Tancos que tinham a seu cargo os paióis  tinham Comandante - esse é que é o responsável pelo que sucedeu. Se não tinha meios suficientes declarava isso por escrito, assumia frontalmente que não podia garantir a segurança dos paióis ; se isso foi  feito e o superior hierárquico  não resolveu  o assunto, a culpa sobe para este, e assim por ali acima. É muito provável de superior para outro acima todos tenham deixado à balda o assunto, e só isso pode explicar que os capitães comandantes das Companhias não tenham sido severamente punidos ( ou davam com a língua nos dentes...)Agora fazer de conta que não há responsáveis directos é mesmo uma fantochada!

2 - O livro das memórias de Cavaco Silva -  O Ex-Presidente que tem sempre razão e quase nunca se engana resolveu deitar cá para fora mais um livro de azedas memórias com que deve passar os dias a remoer. Bastou ver aqueles esgares na sessão de apresentação do livro, aquela boca retorcida, o olhar turvo, para nos voltarem à nossa memória aqueles tristes anos em que tal figura foi Presidente. Ainda muita gente se admira como é que os americanos conseguira eleger um Trump - então e nós não conseguimos eleger e reeleger um Cavaco? Diz ele que faz História ao contar aqueles reuniões com o então Primeiro Ministro Passos Coelho e depois com António Costa, ao ponto de fazer comentários ao comportamento de ambos. História ?- qual quê,  é um acto reles, denota total falta de sentido de Estado. Faz depois comentários ao que o PCP e o BE poderão ter dito e feito  para entrarem na coligação com o PS, mas é a palavra dele  apenas, não há provas de que as entidades citadas tenham dito aquilo, não há contraditório. 
Basta ler as transcrições que vieram na comunicação social para se ficar, mais uma vez, com a noção da pequena dimensão desta personagem, qual múmia paralítica, que ainda aparece de tempos a tempos para mostrar que está vivo. Pobre criatura - e pobres os que têm que o aturar!

3 - O Brasil a caminho da ditadura -  Vai ser mesmo inevitável ter Bolsonaro eleito Presidente do Brasil.  Para que os democratas, os do PT e dos outros Partidos brasileiros, mas também os portugueses e europeus, aprendam como  a corrupção, o compadrio, a ganância, a falta de escrúpulos, arrumam com a democracia e trazem de volta as piores demonstrações das direitas radicais, ditaduras fascistas seja lá com que designação se apresentem, de que os países acabarão por sofrer as consequências. A estes dias da eleição só um milagre da Senhora da Aparecida poderia inverter o desastre eleitoral brasileiro!!






terça-feira, 9 de outubro de 2018

Europa, Ocidente, Civilização, Cultura, 

   Vou meter-me em maus lençóis com esta temática, e não quero sequer tomar partido por qualquer lado da substancial contenda que a envolve. Mas como penso pela minha cabeça, embora com suporte em tudo quanto posso saber, lendo e ouvindo os Mestres dos diversos saberes envolvidos, vou discernindo um pouco sobre a temática...
    Uma entrevista do jornal Publico ao antigo  chanceler austríaco Wolfgang Schussel,  trouxe-me algumas reflexões, quando ele diz que "A Europa é o que resta do Ocidente". 
     Eu acho que o Ocidente foi sempre uma criação da Europa. A própria ideia geográfica do Mundo, plasmada nos mapas  ou  cartas planetárias e difundidas por todo o Globo, foi sempre concebida a partir de Europa e do Atlântico no centro da cartografia, o Oriente para leste, o Ocidente para oeste.
   A civilização representa o grau de organização de determinada comunidade ou grupos de comunidades próximas, com base na religião e nas leis que directa ou indirectamente advêm da concepção religiosa, e que dão forma a comportamentos sociais determinados. A civilização tem também a ver com o desenvolvimento de tecnologias e regras de aplicação do que é concebido pelas sociedades. 
       Os pigmeus não deixam de ser uma civilização  vivendo na floresta africana, sem telemóvel nem computadores ( talvez já tenha alguns...) mas têm a sua organização e a sua tecnologia.
     A cultura  advém da capacidade de um dado grupo humano reagir ao meio que o envolve, de criar formas  de representar as suas ideias, através de construções civis ou sagradas, de musica, de artes diversas, de criar idiomas e de os difundir por via escrita ou oral.
    Estes conceitos são discutíveis e cada um pensa o que lhe parece mais acertado. Muitas vezes misturam-se os dois.
Por exemplo eu penso que mais que falar em choque de civilizações devemos falar em choque de culturas.
  Nós falamos na civilização  egípcia, persa, suméria, etc. que correspondem a determinados estádios de organização e desenvolvimento das sociedades naquelas Geografias e naqueles Tempos ; falamos em civilizações ocidentais e orientais, mas aqui já estamos a misturar as culturas  desse dois horizontes.
   Hoje em dia  a maioria das sociedades tem acesso a praticamente  todas as ferramentas civilizacionais, mesmo quando as culturas das comunidades são profundamente diferentes. 
    As sociedades muçulmanas têm acesso a todos os meios de civilização de que dispõe a Humanidade  seja ela cristã, hindu, budista ou qualquer outra, mas as suas concepções culturais são radicalmente diferentes. Quando se confrontam, não estamos perante confrontos de civilizações, pois todas têm acesso maior ou menor ao mesmo arsenal civilizacional, mas sim confrontos de culturas
     Eu acredito na Europa;  quer queiramos quer não, foi deste Continente e dos povos que aqui habitam  que saíram ensinamentos, regras, concepções, modelos, que um pouco por todo o mundo foram sendo aplicados -  melhor ou pior, claro.
      Foi o clima, foram as condições de meio, foi a geografia, foi a riqueza de recursos, foi tudo isso certamente - porque "raça" não foi, o ADN é o mesmo, os genes são comuns, a origem foi a mesma naquelas áridos planaltos centro africanos onde tudo começou para o Homo...
        Da Europa saíram os conhecimentos gregos e romanos ( a bacia mediterrânica, alfobre da Humanidade...) que se expandiram pelo território continental, saiu a Renascimento que iluminou o  Mundo antes de o Iluminismo ter apurado esse  farol, a Revolução Francesa que fundou o Estado Moderno, mau grado atrocidades e desvios que ocasionou... Onde ela não chegou, como na Rússia, tivemos o Csar com o seu regime medieval até ao século XX!!
     Da Europa saiu aquilo que hoje são os EUA, desde que  um general francês, portador das ideias da liberdade, ajudou os americanos a desenvencilhar-se da Coroa britânica - e deram forma ao Ocidente.
    Foi na Europa que nasceu a Democracia que todos os povos procuram, melhor ou pior, introduzir nas suas sociedades.
    Por todo o mundo, mesmo dentro daqueles povos e culturas que têm notável antiguidade e sabedoria, a modernidade chegou-lhes da Europa. Dos milénios da China e da sua notável sabedoria o que ficou para o Mundo? Umas migalhas, que eu admiro e cultivo como a medicina alternativa que, vinda  de lá, ganhou forma ocidental; da Índia e da sua milenar cosmogonia o que ficou para o Mundo, alem de uns pequenos pormenores que são importantes mas não fundamentais? Mas todos esses povos, comunidades, religiões, não produziram Leonardo da Vinci, Miguel Ângelo, Bach, Mozart, Beethoven, Picasso, Einstein ...-  porém todos eles usam os frutos desta  pujança intelectual. Alguém aguenta ouvir durante muito tempo as lengalengas islâmicas ou os acordes repetitivos da musica oriental? Não se lhes retira valor e importância, mas não são universais!
    A Europa está em crise, crise de velhice  e de perda generalizada dos valores que são a raiz da Europeidade; populismos de esquerda e de direita, egoísmos, xenofobia, corrupção, libertinagem dos mercados liberais, concupiscência, ganância, clientelismos... Mas temos que esperar pelo reverso, pela renovação  da consciência dos povos europeus que arquivam sabedorias de liberdade, fraternidade e igualdade. É preciso resistir, é preciso que cada um cerre fileiras com o parceiro do lado na defesa da casa comum.
A Europa vai ultrapassar estes Orban, Salvini e quejandos seguidores de Trumps ou de Maduros ou de Bolsonaros. Sãos todos políticos de pacotilha que só aguentam enquanto os povos não derem o safanão de limpeza...
   
            
     

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A frágil Democracia

     O crescimento exponencial de regimes de extrema direita, um pouco por todo o mundo, deve ser - tem que ser - motivo de reflexão para todos os que sentem que a democracia é o regime onde cabem todos, até aqueles que são contra ela.
      Mas é preciso começar por aceitar isto :  são os próprios  políticos dos regimes democráticos que, pelo comportamento de muitos deles, estão na base desta contestação que cada vez é mais generalizada.
        O que está a suceder agora no Brasil é o ultimo e grave exemplo  de como a falta de ética e de idoneidade dos democratas  quer de direita, quer sobretudo de esquerda, empurra as pessoas a escolherem alguém que fala em ordem, paz,  segurança, fim da corrupção e outras acusações que mancham, sem apelo nem agravo, a democracia brasileira.
         Dizer que "ele rouba mas faz alguma coisa"  é insuportável em democracia, pois se em regimes de ditadura também se rouba e a maior parte das vezes não se sabe, em democracia é uma afronta indesculpável.
          Cá pelo nosso país também se ouve dizer,  sobretudo entre gente nova que não conheceu o antigo regime, que esta pouca vergonha de todas as semanas se conhecerem novos casos de corrupção,de compadrio e de falta de vergonha é fruto de uma democracia que não funciona.  Mas quem viveu no Estado Novo recorda-se da violência, do obscurantismo,  do compadrio e corrupção entre os  grandes do regime, que se sabia que existia mas era drasticamente abafado pelo sistema de controle então vigente.  Mas que mesmo na nossa democracia os políticos continuam a dar os piores exemplos, isso é verdade - só que se vai podendo saber.
  Esta coisa de nos Governos estarem Ministros, esposas do ministros, familiares de vários graus de parentesco, mesmo que não seja ilegal...não é eticamente aceitável. Parece que fora do ambiente e das relações de família não há outras pessoas capazes de ocuparem aqueles lugares.
Estas cenas e as constantes acusações de corrupção em todos os sectores da vida publica, são o cancro da democracia.
O que a esquerda fez no Brasil, apesar do esforço de ter tirado milhões de pessoas da miséria, é a prova que mesmo muitas dessas pessoas, ao chegarem a um estatuto de mais conforto, querem ter no Governo quem dê pelo menos a intenção de não deixar roubar. É uma vergonha.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

A espuma dos dias
1- Morreu e não deu por isso...
Cavaco Silva voltou a sair da cave onde anda escondido  com a sua tacanhez de espírito, agora a propósito da não recondução no cargo da actual Procuradora Geral da Republica,(PGR), e com alfinetadas directas para o actual Presidente da República.
Alem de ser nitidamente inconveniente tomar posição deselegante face ao seu sucessor, e que era absolutamente desnecessário se ele tivesse noção do que é sentido de Estado,  ainda veio tomar parte pela direita reaccionária  em defesa de um acto que não devia ter sido politizado.
Um Procurador Geral da República será tanto mais independente no desempenho do seu cargo quanto souber que só exerce um mandato longo, e por isso não toma posições que favoreçam uma recondução a qual, se não é inconstitucional, também não é da tradição no cargo. Aliás ele reconduziu Pinto Monteiro e foi a única vez em que tal aconteceu entre PGR, e não se pode dizer que a escolha tenha sido uma maravilha ...
Cavaco Silva está morto mas ainda ninguém lho disse, pelos vistos, e com a sua habitual  tacanhez, espírito de  révanche, esgares  e olhares de múmia,  quer continuar a dizer que anda por aí...
Espantamos-nos que os norte americanos tenham eleito um sujeito como Trump, mas nós, portugueses, escolhemos Cavaco Silva por duas vezes. Claro que é bom recordar : os ódios de estimação de Mário Soares ( já cá não está para contestar mas não deixamos de dizer verdades só para não beliscar a sua memória) foi quem deu a vitória a Cavaco. O que é que deu a  Mário Soares, com aquela idade e tendo já feito os seus dois mandatos como Presidente, para  ir atravessar-se entre Cavaco e Manuel Alegre ? É evidente que se ele  não tivesse aparecido, Manuel Alegre tinha todas as possibilidades de ir a uma 2ª volta, e aí ganhava, porque a maioria da esquerda juntava-se para derrotar aquela múmia. E nas segundas eleições foi a mesma coisa, Quando uma boa parte das pessoas, mesmo de direita, e sem o dizer claramente mas dava sinais de estar farta daquele fantasma ambulante, os "soaristas" atravessaram à frente de Manuel Alegre o pateta daquele médico, boa pessoa mas a quem encheram o ego com promessas,  Claro que Cavaco e os cavaquistas ( que os há, por muito que isso nos pasme!)  não são  capazes de ver as coisas assim , ele ganhou por mérito!!,  E continua por aí a mandar estas aleivosias !1

2 - Passos Coelho, não está morto... apenas desmaiado e acorda de vez em quando. Lá apareceu com um artigo onde ? Ora, onde é que havia de ser - no Observador, esse resguardo para os liberais desesperados por não terem um partido (ainda vão ter, é preciso paciência). E, claro, lá vem a contestar a não recondução da PGR - afinal quem é que politiza o cargo e a função, é a esquerda que nunca disse sim nem não e se limitou a cumprir a regra do mandato único, ou a direita que se mordeu toda por mais este desaire? A Senhora PGR nem terá culpa, ela procedeu sempre dentro da correcção do seu cargo e nunca deu sinal público de que quisesse ser reconduzida. mas os liberais, ah!, esses ficaram desarmados, até porque Marcelo Rebelo de Sousa, que anda é da "esquerda da direita" como já afirmou,  tomou sem hesitações a decisão da não recondução.