25 de Novembro
Toda a gente fala do 25 de Novembro, cada um à sua maneira; eu também vivi esses dias antes e depois do "dia fatal". Para já acho um disparate de doidice haver uma sessão especial da AR sobre o 25 de Novembro- a pedido da direita. E porque não homenageiam o 16 de Março, o MDLP e outras datas intermédias do PREC?
Acho um desplante a direita querer comemorar o dia como se fosse dela, quando a direita viu desaparecer as suas esperanças; e também o PCP de hoje a não comemorar o dia quando o PCP da altura viu reforçado o seu lugar na democracia.
Eu estava em Lisboa, chefe de gabinete do GRT, e fomos os dois para a Calçada da Ajuda ver o que se passava, um disparate que nos podia ter saído caro, quando os Comandos do Jaime Neves obrigaram a Policia Militar a ficar sossegada e aí houve tiroteio. O Gonçalo pôs um boné, dizia ele para ficar mais disfarçado...
Dizer que Ramalho Eanes ou Melo Antunes eram da direita é um absurdo, e ainda hoje toda a gente fala do Eanes e ninguém, mesmo ninguém, refere o papel fundamental que teve o Ernesto M. Antunes. Escrevo um artigo no Publico sobre isso e chamei algumas vezes a atenção do General Eanes para o esquecimento que todos cometem quanto ao papel central que o M Antunes teve e só o General fala dele, até numa entrevista que deu à Fátima C. Ferreira. Finalmente! E falei disso há dias com ele.
Parece que ninguém quer recordar: o movimento militar que estava subjacente naquele mês de Novembro era da extrema esquerda, radical, não era do PCP; e a direita saiu derrotada quando Melo Antunes naquela noite apareceu na TV a informar que o PCP não seria inviabilizado - que era o que queria a direita - pois pertencia à democracia que todos maioritariamente queríamos em Portugal.
O PCP na época tinha à frente uma personalidade de excepção que era Alvaro Cunhal, com quem o Melo Antunes conversava e lhe fez perceber que não haveria lugar em Portugal para o comunismo institucionalizado, mesmo que fosse "à portuguesa". Sempre estou para ouvir se Ramalho Eanes falar hoje na Assembleia da Republica se diz alguma coisa...
O que eu, o Gonçalo e alguns outros estávamos convencidos é que nem o PCP nem a extrema esquerda teriam qualquer maioria quando houvesse eleições. E viu-se nas primeiras eleições para a Assembleia Constituinte que o PC andou pelos 12% e a extrema esquerda muito longe disso.
O PS não gosta do 25 de Novembro porque o verdadeiro travão ao comunismo e portanto á liderança da implantação da democracia foi Melo Antunes e os Grupo dos 9 naquele 25 de Novembro!! Mário Soares ficou sempre com essa atravessada, isto em nada retira importância ao papel que Mário Soares teve na instalação da democracia, mesmo para quem não gostava muito dele...como eu.
Havia era uma euforia em muitos sectores a favor da extrema esquerda folclórica, de uma democracia popular sem a ditadura do proletariado...
Até na nossa Secretaria de Estado do Ambiente, um grupo de meninas e alguns "adjacentes" que sempre tinham trabalhado ao lado do GRT - eram um grupo leal ao Gonçalo...- elaboraram uma lista negra para saneamentos, com os nomes todos escarrapachados : o Gonçalo, eu, o Luis Coimbra e até a pobre da Elvira, secretária, encabeçávamos a lista.
Fui um privilegiado por ter vivido o PREC, que a mim nunca assustou - sempre vivi aqueles meses como um parto difícil mas fabuloso do regime democrático.
A democracia hoje não é perfeita? os políticos são fracos e incompetentes? É que estávamos mal habituados, porque a primeira geração do regime foi de vultos notáveis em todos os quadrantes- basta lembrar Henrique de Barros ( que foi meu Professor no ISA), Vasco da Gama Fernandes, Alvaro Cunhal, Sá Carneiro ( o PPD queria entrar para a Internacional Socialista...), até os fundadores do CDS (apesar de terem votado contra a Constituição) souberam depois adaptar-se e serem políticos construtivos).
Temos de agarrar a nossa democracia com as mãos bem firmes, porque as autocracias estão a aumentar em todo o Mundo, é mais um ciclo de desvario que há-de passar e eu acredito que a Europa, apesar de cretinos como o Orban da Hungria e outros que tais na Polonia, e até na Suécia ou nos Países Baixos, mais uma vez fará triunfar a democracia, pois já vemos que nem os EUA conseguem aguentar a loucura dum Trump.
Ainda acrescento que acima não citei Costa Gomes, que foi uma pedra fundamental durante o PREC, e na vitória sensata dos democratas; e que o BE, teoricamente herdeiro dos extremistas radicais de esquerda foi capaz de melhorar a sua ideologia e o seu comportamento, e Álvaro Cunhal e tinha militantes ilustres como Carlos Brito, José Figueira, João Amaral...