O Pinhal de Leiria - custa a acreditar!!
Fui fazer numa visita quase masoquista - andar por aquilo que era Pinhal de Leiria, e que já não é.
Na semana que antecedeu o fatídico 15 de Outubro fiz uma viagem idêntica pela zona do Pinhal Interior, andei por Nisa, Vila Velha de Ródão, depois Proença a Nova, Sertã, Pedrógão, Oleiros, etc, sempre debaixo de um tecto de negras nuvens de fumo, pardacentas, que se pegavam à nossa pele e faziam arder os olhos. Isto até Coimbra, que esteve sem ver o sol alguns dias. Fiquei horrorizado, como é fácil de calcular; estive em pequenos casais rodeados de negro e fumo, falei com gente que ainda lá vive e se fechou dentro de casa quando o fogo lambia tudo em volta. Nunca ouvi a ninguém, desses habitantes de casais isolados, falar mal dos bombeiros ou do combate que foi travado - falavam sempre do inferno, da rapidez e dimensão demoníaca dos incêndios...
A sensação de atravessar quilómetros de eucaliptos e pinheiros como esqueletos fantasmagóricos erguidos na penumbra, ainda hoje me deixam desconsolado.
Mas o Pinhal de Leiria - bem, custa a acreditar que aqueles talhões de pinheiros negros ainda em pé , cortados por estradas asfaltadas em terreno totalmente plano, tenham ardido com aquela dimensão, Até talhões de nascedios, com um metro ou pouco mais de altura, tudo ardido!
Custa a acreditar que aquilo era o Pinha de Leiria! Exemplo do que tem sido o abandono, o desleixo, a falta de sensibilidade e de competência dos governantes que permitiram que o Pinhal de Leiria ficasse sem guardas florestais, ficasse sem trabalhadores permanentes em numero compatível com a produção do pinhal... Passei nas casas de guarda fechadas , com ar de abandono, passei pelos muros do recinto daquela que foi uma grande Administração Florestal, e a raiva subiu inevitavelmente dentro de mim. Que raio de políticos temos nós !! Políticos que ainda aí estão a falar quase todos os dias como se não tivessem nada a ver com o desastre do Pinhal do Interior e escandalosamente com a mata exemplar do Estado que era o Pinhal de Leiria. Passaram-me pela memória os meses que ali trabalhei, onde fiz o estágio da minha licenciatura; sentia ainda o som das copas quando bulia qualquer aragem mais forte, e o aroma a resina e a mato fresco, mato rasteiro que nunca era deixado chegar à dimensão que adquiriu nestes últimos quatro ou cinco anos - em que deixaram de ser feitas limpezas...por falta de pessoal para trabalhar e de guardas florestais para orientar o trabalho.
E nenhum destes governantes é acusado na praça pública? Pois não, são todos responsáveis, de todos os partidos que têm andado pelos Governos das ultimas décadas e continuam a perorar sentenças e promessas de solução - e continuaremos a acreditar, nós os portugueses que cada vez parecemos mais um rebanho de chocalho ao pescoço.
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