sábado, 17 de outubro de 2020

 Reflexões sobre isto tudo

Esta crise provocada pela pandemia vai marcar  todas as gerações  e não custa acreditar que vai ter repercussões a muito longo prazo.  Para já creio, pelo que vejo, serão as  gerações mais novas a sofrerem muito  com as limitações aos seus movimentos e às suas actividades - todos nós, os mais velhos, vivemos as nossas vidas mais activas  segundo as nossas preferências e escolhas, nem sempre realizando os nossos sonhos mas  nunca fomos confrontados com estas imposições drásticas que hoje a gente nova sente.  Falo por mim, tirando o uso da máscara e a desinfecção mais frequente das mãos, continuei  a fazer  quase sempre a vida anterior, e estas filas de espera nos comércios, nas estações de serviço ou  nos transportes  tem pelo menos a vantagem de disciplinar  a malta  e talvez fique a memória para comportamentos futuros pelo menos para, quem como eu, sempre foi um "baldas".

Politicamente quero acreditar que a maioria das populações mais informadas , como as europeias, norte americanas, algumas orientais, vão  resistir a que se volte a uma ordem mundial neoliberal como aquela que  existiu nas últimas décadas.  E isso será inevitavelmente mais certo  se nos EUA, nas próximas eleições, correrem com Trump. A reacção de muitos republicanos,  que se traduz em movimentos de opinião cada vez mais numerosos e poderosos a preferirem que ganhem os democratas para depois poderem refundar o Partido Republicano, é  a melhor prova disso.

Por cá na nossa santa terrinha a situação é já historicamente caricata e perigosa. Vivemos em capitalismo e apesar de termos há anos e anos Governos de um Partido que se diz Socialista, democrático ou social democrata de esquerda ( quem diria!!), a governação é tudo menos social democrata; e veio o Cavaco Silva com toda a lata dizer que foi com ele, nos Governos que dirigiu, que se aplicou a social democracia, quando ele apenas cavou a sepultura que o PS veio a completar, primeiro com Sócrates e agora apenas atenuada em parte com A. Costa.  

Temos de reconhecer que se o primeiro Governo apelidado pela direita  de geringonça, ainda tomou medidas de socialismo democrático foi graças ás imposições do BE e do PCP ( se bem que este, sozinho., se pudesse, instituía a "democracia popular" de má memória...) - este segundo Governo  tem sido uma derrapagem indecente para a direita.

Eu, em Dezembro de 2oo5, quando Sócrates havia ganho as eleições e governava à vontade, escrevi uma crónica no "Barlavento" intitulada  "Este socialismo liberal", eu que não tenho pergaminhos de especialista em ciência política; e A. Costa limita-se a seguir a mesma linha, por isso é que agora resiste tanto a novos acordos com os Partidos à sua esquerda.

Aparecem críticas na comunicação social. para além de alguns cronistas medíocres que se intitulam de liberais (embora haja outros com essa convicção assente culturalmente em ideias  consolidadas), textos de comentadores com  bastante categoria e sobretudo  independência partidária, a confrontarem as políticas seguidas e propostas. Sabemos que A. Costa não pode ultrapassar certos limites impostos pela UE, pelo menos enquanto em países determinantes como  os nórdicos, a Alemanha, a França, etc,  não surgirem, claramente, opções de esquerda democrática que se esperam possam surgir após a pandemia. Mas o exemplo do primeiro Governo em que a Europa não acreditava e  resultou com medidas muito mais à esquerda do que aquilo que a Europa hoje conhece,  devia bastar para A. Costa prosseguir esse caminho - se tivesse convicções para tal. Ele pensa  nele e no seu próprio prestígio e carreira política, mais nada.

Governos de esquerda democrática deviam  ter como prioridade - e não vejo isso realçado pelos comentários - a criação de um Estado forte, sem pôr em perigo de forma alguma a actividade privada que é motor da economia mas não é o único motor num regime social democrata a sério. E o Estado forte precisa de efectivos na Função Pública, hoje envelhecida e desmotivada. Temos 13% de emprego público, quando a média dos países europeus anda pelos 17% - ora 3 ou 4% a mais que tivéssemos não excedíamos a média europeia e eram uns milhares de empregos que poderiam permitir dar ao SNSaúde os efectivos que não tem, tal como a Justiça a Educação e tarefas fundamentais como as políticas ambientais e  florestais. Isto é fundamental, se a média europeia é de 17% quer dizer que há países com muito mais que isso...

 O perigo hoje, para a democracia que nós criámos no Ocidente, não vem dos extremismos de esquerda que não passam de tigres de  papel, vem, isso sim, dos extremismos de direita que assolam as sociedades com os seus populismos e demagogias que captam a gente mais carenciada e/ou saudosista dos regimes da  Lei de Ordem.

(Há-de continuar daqui a pouco...)




















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