quarta-feira, 21 de agosto de 2024

 Tempo dos incêndios

Cá estamos em plena época alta dos fogos rurais ou florestais, e por sinal tem sido uma época calma, comparando  com outros anos trágicos.

O incêndio que lavra há uma semana nas serras da Madeira é que se torna  difícil de aceitar; como é que a ilha que conta apenas com um  helicóptero, não foi auxiliada até agora por meios aéreos da Governo da Republica? O pais não é o mesmo? Olhem se em Lisboa estivesse um Governo do PS a gritaria que já iria por aí fora!!...

No local onde começou, de noite, não deixa margem para dúvidas de que foi fogo posto.

Eu vivi na Madeira mais de sete anos e em metade desse tempo fui Administrador Florestal do Funchal e Porto Santo; em todos esses anos nunca houve  nada que se parecesse com estes incêndios. Durante o tempo em que chefiei aquele Serviço devo ter tido uns 3 ou 4 inícios de fogo nas serras, incluindo um no Pico Ruivo, de muito mau acesso. Este foi posto por criadores de gado;  havia pessoal que queria manter gado à solta nas serras, o que ia contra a missão dos florestais que era arborizar o mais possível -  tinham-se  criado 4 grandes rebanhos mantidos por pastores (eles e as famílias tinham ido da Serra da Estrela para lá) e a que os proprietários do gado pagavam uma bagatela simbólica.  Mas havia alguns poucos  do lado de Santana que continuavam a não aceitar e então pegaram fogo lá no alto.

Eu fiz-me acompanhar de 2 guardas-florestais, munidos de "mausers", subimos mais de 1 hora pela vereda e lá defrontámos os homens, cinco ou seis, que estavam ao lado do fogo que tinham iniciado e que, se continuasse, pegava a um povoamento magnifico de urze arbórea, espécie endémica; parecia uma cena de guerrilha  (e eu ainda não tinha ido para a guerra de África...), dei ordem por 2 vezes para eles começarem a apagar o fogo, e como não obedeciam disse-lhes que ia haver sangue e mandei os guardas e eu mesmo, meter a bala na câmara com aquele ruído característico de quando se  usavam as "mauser"...

 Ai eles começaram a apagar o fogo com ramagens, disse aos guardas que ajudassem e disse-lhes que quando o fogo estivesse apagado esperava por eles no café da povoação para conversarmos. Acabámos por  chegar a acordo, eles recuperavam os  ovinos e caprinos e eram incluídos  num rebanho daquela região

Como havia casas de guardas-florestais bem localizadas, sempre que houvesse uma pequena coluna de fumo havia sempre quem a detectava e eram debelados à partida.

Agora é o que se vê...





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