terça-feira, 10 de outubro de 2017

Ainda a Catalunha

       O processo da Catalunha  é vítima do "politicamente correcto" e da hipocrisia, como vem sendo norma neste nosso tempo quando se confrontam os interesses dos povos e os interesses da política económica e da sujeição à hegemonia de certos Estados onde as liberdades são cerceadas .
    Lembremos-nos dos Tibetanos e do seu chefe espiritual, o Dalai Lama que deixou de ser convidado pelos Chefes de Estado em todo o mundo, só porque o partido único de Pequim ameaça retaliar a quem tiver essa veleidade, enquanto invade todos os dias o Tibete com milhares de "emigrantes" chineses que ocupam postos de trabalho e exploram os recursos do país; lembremos-nos dos Curdos, povo de muitos milhões, com língua e cultura próprias, vítima do imperialismo colonialista inglês e francês que os dividiu por quatro países do Médio Oriente e a quem hoje o ditador turco Erdogan faz uma guerra total, quando são eles os principais adversários do chamado Estado Islâmico;  lembremos-nos de tantos outros povos, como  na Birmânia, a quem a  comunidade internacional finge que se importa com umas declarações piedosas na ONU.
       Na Catalunha vir agora dizer que o assunto tem que ser resolvido dentro do quadro institucional da Espanha, é o mais descarado sinal de "politicamente correcto"  e da hipocrisia internacional. Então se a Constituição da Espanha não prevê a independência dos povos peninsulares , como é que um deles pode tratar da sua liberdade dentro desse quadro legal? Já algum de nós pensou que, se em 1640 os portugueses se tivessem limitado a tratar da sua independência dentro do quadro legal da Espanha, ainda hoje lá estávamos metidos dentro ?
     É preciso não esquecer o que a História nos ensina : um dos povos peninsulares, o castelhano, dominou pela força os outros povos , entre eles os bascos, os catalães e os portugueses. 
      Ora os castelhanos pertencem à zona mais pobre e de menos recursos da Meseta Ibérica, e por todo o mundo os povos de menores recursos foram sempre - e ainda são - os mais agressivos, guerreiros e conquistadores porque precisam de sobreviver. 
    Os portugueses  conseguiram libertar-se do jugo castelhano, e mesmo assim travámos ao longo da nossa História várias guerras de libertação.
      Em 1640 só pela revolta e por uma guerra que durou 20 anos, conseguimos ver-nos livres da pata castelhana em cima de nós, e nessa altura, precisámos da ajuda dos catalães.        Combinou-se o levantamento simultâneo dos dois povos, para dividir o exército castelhano, e porque Barcelona era mais importante que Lisboa e por um erro de avaliação da nossa capacidade militar, Madrid mandou contra os catalães a maior força militar, dessa maneira facilitando a nossa situação.
   Mesmo assim, ainda na altura da Guerra Civil de Espanha os franquistas fizeram "negócio" com os nazis alemães  para que Portugal viesse a ser integrado na Espanha  - não sabiam ?
  Todos os povos, com história, língua e cultura cimentadas em séculos de existência, têm direito à sua autodeterminação e independência-, e isto consta do artº 8º, se não estou em erro, da Constituição Portuguesa.
Que é politicamente incorrecto defender o direito dos catalães a escolherem o seu destino, é verdade; mas esse é o problema dos governantes, Presidente da Republica, etc - agora o povo português, seja de direita ou de esquerda, tem obrigação moral de apoiar declaradamente esse direito dos catalães porque também o reivindicámos para nós. E temos essa dívida de gratidão para com a Catalunha.

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