terça-feira, 7 de novembro de 2017

A catástrofe anunciada da falta de água

Em 4 de Outubro passado  enviei ao jornal Publico um texto que não teve publicação. e que se intitulava " a falta de água e a dessalinização da agua do mar." 
Não quis fazer futurismo nem alarmismo catastrofista; pois apenas acompanho com interesse o que desde há décadas são as opiniões de cientistas e investigadores e além disso, viajo pelo país, e vejo e reflicto sobre aquilo que tem vindo a acontecer aos nossos recursos hídricos. Infelizmente a realidade dos nossos dias está a dar- me razão !
Desde que entrou a moda, aproveitada por todos os partidos - todos - "da área da governação", de menor Estado para melhor Estado, além do desastre que se seguiu à extinção dos Serviços Florestais e dos guardas florestais, e ao desaparecimento das equipas de cantoneiros das estradas que mantinham as bermas e taludes limpos e menos susceptíveis a incêndios, fizeram desaparecer os guarda - rios, que com as suas equipas mantinham limpas as ribeiras e obrigavam os proprietários marginais a limparem as suas matas ribeirinhas.

Os contínuos carrejos da ribeiras para os rios e destes para as albufeiras das barragens contribuem activamente para o assoreamento dessas retenções de água. Apesar de desde há décadas e com mais acertividade nos últimos anos, investigadores e cientistas nos avisarem sobre as alterações climáticas e as previsões de seca progressiva nas latitudes que apanham o sul da Península Ibérica, nunca ninguém dos media e fazedores de opinião e dos políticos de todos os quadrantes deu importância a esse facto.

E agora estamos a começar  a sentir os efeitos, embora o Ministro do Ambiente continue a dizer com a sua voz de baixo desafinado que não há nenhuma catástrofe no horizonte; ele como governante terá que dizer isso  mas as ONGs responsáveis e os interessados como eu, não temos que recear falar do horizonte negro que aí vem, que uma catástrofe em Portugal está eminente se não chover abundantemente nos próximos 4 ou 5 meses. 
Nesta altura as albufeiras estão em níveis preocupantes  e muitas até atingiram o ponto zero em termos de uso; para o Concelho de Viseu já estão a ser feitos centenas de transportes diários de água em carros tanque  a partir de Alqueva. Durante quanto tempo ? Para quantas mais cidades portuguesas vai ser necessário? Alqueva terá capacidade para aguentar mais um ano, em regime de consumo normal, mas nesse regime forçado quem pode informar o tempo que aquela albufeira aguenta? E a agricultura de regadio dela dependente?
E quantas mais situações de secas prolongadas podem surgir nos próximos anos ? E se surgirem, estamos preparados, alguém o garante ?
O maior consumo de água no país é o da agricultura: o que é que o Ministro da Agricultura, que sabe e bem manejar milhões dos fundos europeus, já fez  de  palpável para alterar a política agrícola portuguesa - ele e todos os anteriores titulares da mesma pasta, diga-se ?
Entra pela cabeça de alguém  minimamente informado que não se tenham ainda feito estudos atempados que apontem a alteração das culturas agora praticadas, escolhendo as que melhor se adaptam a condições difíceis de aridez, como acontece nos países do Norte de África e  do Médio Oriente?

É preciso preparamos-nos para esses cenários, alterando drasticamente os processo de rega. É preciso  divulgar a aplicação ( e suportar o seu custo)  das novas tecnologias de medição automática do teor de água no solo e das regas necessárias, de acordo com essas tecnologias - o que passa também por um custo da electricidade muito mais baixo para a agricultura.

Noutro domínio, é preciso alterar profundamente a mentalidade de autarcas, dos políticos da governação  e até dos arquitectos paisagistas para aquilo que escrevo há imenso tempo : deixemos-nos de grandes jardins de flores e relvados à inglesa; nas nossas latitudes e condições climáticas precisamos de arvoredo e sombra, de alamedas e bosques urbanos. Regar jardins com a água potável que é para consumo publico é  um absurdo, e se não é fácil agora implantar redes alternativas  com  água não tratada para regar os jardins.  então que se alterem os conceitos de jardim e se adaptem à realidade climática que temos  e teremos no futuro imediato.
E não é para amanhã, é para hoje !!

Precisam de ser inspeccionadas as redes urbanas de distribuição de  água  para se  saber com rigor quanta água é desperdiçada por fugas das redes municipais; a dificuldade está em que se trata de investimentos vultuosos que não dão nas vistas e por isso não dão votos...

Precisamos de alterar hábitos de consumo de toda a população, mentalizando as pessoas para reduzirem os desperdícios em casa, Isto e tudo o mais que atrás foi dito, não se consegue de um dia para o outro, São necessárias campanhas de sensibilização publica em todos os órgãos de comunicação social e o envolvimentos das ONGs ambientais e de grupos de cidadãos activos que sintam a gravidade da situação, porque ou eu me engano muito ou dos órgãos governativos nomeadamente das áreas do Ambiente e da Agricultura não virá grande intervenção  e entusiasmo.

Finalmente outro aspccto que eu focava no tal texto de 4 de Outubro é o do aproveitamento da água do mar pela dessalinização, opção de que não se fala neste nosso país.
As diferentes tecnologias de dessalinização estão hoje perfeitamente dominadas, nomeadamente as que usam a osmose inversa, e permitem obter água potável com um custo já aceitável; muitos países do Mediterrâneo  possuem estações para esse aproveitamento  da água; há uma meia dúzia de anos em que estive na Argélia informaram-me que já teriam a funcionar várias  estações ao longo do litoral.
Ninguém em Portugal fala nessa solução; mas parece claro que com a continuação da progressiva aridez  e irregularidade acentuada das precipitações e com a extensão do nosso litoral, terão de vir a  existir estações de tratamento da água do mar e quanto mais cedo melhor; não será água para rega da agricultura,  mas apenas para abastecimento  urbano. Quando começar a faltar  água nas cidades e vilas,  onde é  que elas se vão abastecer ? Se as cidades e vilas do litoral puderem ser servidas por água dessalinizada menor é a pressão sobre as albufeiras das barragens, já que estas terão sempre que abastecer as povoações do interior e a agricultura - a agricultura que for possível !

Já aqui vai um texto enorme, muito maior que o tal que o jornal não quis publicar. Oxalá que tudo o que eu penso seja apenas alarmismo e catastrofismo, quem me dera que assim fosse !!

1 comentário:

  1. Pois é, o rei vai nú mas poucos reparam. Entretanto, entre muitos exemplos, dou aquele que mais me dói, que é o da destruição do pomar de sequeiro algarvio, as figueiras, amendoeiras, alfarrobeiras e oliveiras seculares, bem adaptadas ao clima mediterrânico, arrancadas pela raiz para plantar frutinhos vermelhos e demais culturas de regadio, com ou sem estufa, mas todas caminhando numa direcção: quando a água para o regadio acabar (ou ficar demasiado cara), estas empresas oportunistas desaparecem e deixam-nos a braços com o deserto!

    ResponderEliminar