O Publico não publicou
No passado dia 22 de Julho foi enviado para o Publico este texto com pedido de publicação. Passadas 3 semanas não devem ter gostado do texto e assim dou conhecimento através deste meio.
Reviver os Verões passados…
Chegaram
os fogos florestais. Mais uma vez vão sair, tal como este, dezenas de
comentários nos órgãos de comunicação social e nas denominadas redes sociais, e
todas as causas e contornos das catastróficas situações serão escalpelizadas,
as televisões vão apresentar as labaredas
feéricas que os “Neros” do país adoram
rever todos os anos; e os dramas das pessoas, umas a chorar, outras numa desolada
consternação, enchem as pantalhas das televisões.
Eu
já tinha até garantido que não voltaria a tratar mais vez nenhuma dos incêndios
e da política florestal; ainda desafiei alguns colegas com vasto currículo e
muita sabedoria e experiência acumuladas para que se produzisse um documento conjunto que
abordasse a matéria, mas a resposta foi a mesma – não vale a pena, não nos
metemos mais no assunto. E que assunto ? O de os Ministérios da Agricultura e
Florestas e do Ambiente precisarem de uma vassourada que atirasse de vez para
os armários os esqueletos dos dinossáurios que continuam por lá a pulular – dinossáurios não pela idade mas
desgarrados por uma cegueira política desfasada da realidade e condenada a
continuar a arrastar o País para o despovoamento de dois terços do território.
Não acreditam ? Infelizmente iremos
todos confirmar, ano após ano.
Vão
ficar por aflorar questões como a
ausência de uma estratégia para novas culturas e formas de cultivar para as
alterações climáticas que as Direcções
Regionais, semiparalisadas deixaram de fazer, a penúria dos meios da
investigação agrícola e florestal apesar do mérito de tantos investigadores,
etc., etc.
Mas mais uma vez não resisto em vir abordar
as tragédias sazonais dos incêndios.
Há
muitas causas que são expostas todos os dias sobre a proliferação dos incêndios
rurais, mas ninguém quer falar na causa primeva: a extinção dos Serviços Florestais (SF), o
erro criminoso que foi ter em 2006 enviado os guardas florestais para a GNR e
assim dar o primeiro passo para desmontar a estrutura florestal, a inexplicável
coincidência ( será apenas isso ?...) de tanto os governos de esquerda como os
de direita fazerem o mesmo jogo da expansão das matas intensivas para a
celulose e não quererem quem o atrapalhe…
A
instituição do aborto chamado ICNF - que
nem é capaz de servir como sede da
“nova” política florestal nem de servir a Política de Conservação que só um
Ministério do Ambiente que fosse mesmo ambientalista deveria prosseguir neste século
XXI – não passou da concretização de uma decisão já tentada anteriormente para
silenciar de vez as veleidades de quem pensar em política florestal e em política ambiental
como políticas independentes, nacionais
e não repartidas pela suposta descentralização que serve para muita coisa,
certamente, mas não para organizar o território como um todo em termos de
recursos naturais.
Os SF sofriam de gigantismo central e de
vários problemas que justificavam uma reforma do organismo em termos funcionais
para esta época – mas não pura e simplesmente acabar com eles. Se os portugueses quiserem que, de uma vez
por todas, se organize a vida do território em termos de perenidade dos
recursos naturais e segurança das populações, então o povo português têm que
exigir que se comece pelo principio : reorganizar uma Autoridade Florestal
Nacional, que disponha de uma quadrícula de Administrações regionais e de casas
e postos de guardas que residam no
espaço florestal, que contactem ao longo do ano com as populações e delas façam
parte, etc, etc. É uma cartilha que me custa ter de voltar a repetir.
É
uma panaceia ? Não, mas é o primeiro passo para a reforma efectiva da realidade
florestal portuguesa.
Apresentei
então uma proposta de trabalho, que não passa disso mesmo. Mas poderia dar o
arranque; colocando a sede dos SF no
interior (Viseu p.ex.) e três Circunscrições e umas tantas Administrações, que
podem ser essas ou outras que um estudo aprofundado venha a revelar e não
faltam conhecimentos suficientes na Universidades Portuguesas para pegarem
nessa tarefa e a apresentarem – uma solução que seja pouco onerosa, flexível, mas onde se
restabeleça a hierarquia de conhecimentos e de autoridade entre os dirigentes
florestais regionais e locais e os guardas, cujo efectivo só um estudo aprofundado dirá qual será o
necessário.
No
estado a que Portugal está a chegar em termos florestais é preciso ter a visão
e a coragem de perceber que está na hora -já passa da hora!!- para ter um organismo nacional, com implantação regional e local,
com técnicos florestais capazes, que planeie a rearborização do país sem
ligações espúrias aos interesses das
Celuloses, programando as espécies de acordo com as condições eco-edafo-climáticas,
ordenando o território com acessos florestais, que volte a instalar uma
quadrícula de casas de guardas florestais que hoje serão muitas menos que há 40
anos atrás.
Enquanto
não houver uma Autoridade Florestal Nacional a funcionar efectivamente, a
cooperar com as Autarquias e em especial a cooperar com o Corpo de Bombeiros
com quem visceralmente sempre existiu uma
forte ligação - enquanto isto não suceder vamos reviver, ano
a ano, todos os Verões passados!
Fernando
Santos Pessoa 22/ 07/ 2019
Engenheiro
silvicultor
Ex-
Administrador Florestal
Arquitecto
paisagista