sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Reflexões (limitadas) sobre prazer e optimismo
O objectivo inicial de todo o ser humano é atingir a felicidade, a vida sem sofrimento ou dor.
Não vale a pena martirizar o corpo, fugir a tudo o que pode dar prazer para aferrolhar a máscara do bem comportado, dos bons costumes - porque uma das maiores falácias da prática judaico.cristã tem sido, ao logo dos séculos, a de condenar quem defende a procura do prazer e do bem estar como objectivo de vida. E, para isso,  levou à deturpação das doutrinas fundamentais do epicurismo apontadas como  promovendo a devassa e a indignidade. Nem vale a pena invocar a prática de epicurismo, só abordei ao de leve aqui essa filosofia para me demarcar das alegadas deturpações.
Mesmo para os que acreditam que um deus, criador  de tudo, fez tudo, determinou tudo, mesmo para esses o diabolizar o corpo e o prazer é um contra-senso. Pois se foi o deus que deu o corpo, que deu a possibilidade das emoções, que permitiu que o homem desenvolvesse sentimentos, que sentisse os apelos do prazer e da vida,  então tudo o que esse deus fez é bom, Se não, teremos um deus maligno que criou o ser humano e  o dotou de todos esses atributos "maus" só para o poder condenar e punir ? É absurdo, não é ?
Coisa diferente é o abuso ou  excesso da busca de prazer -mas isto mesmo ao contrário do que durante séculos nos impingiu a doutrina cristã, sempre foi a base do epicurismo. É evidente que o abuso de prazer é mau como mau é o abuso de tudo. Até a água sem a qual não podemos viver e que temos de consumir em boa quantidade, faz mal se houver excesso de consumo.
O abuso dos prazeres, sejam eles quais forem, provoca também sofrimento, mal estar, pode prejudicar não apenas quem comete o abuso mas os outros sobre os quais possam recair as consequências desse desregramento.
O que entendo que devemos fazer é procurar  aquilo para o qual todo o consciente e o sub consciente do ser humano se foram desenvolvendo : procurar a felicidade e, a não ser que um desvio de comportamento nos torne masoquistas,  para nós felicidade e prazer são indissociáveis. Ninguém  é feliz com as dores, o sofrimento, a angústia; é o prazer, o bom funcionamento de todo o nosso complexo bio-psicológico, que nos faz felizes.
Devemos enfrentar as contrariedades, as afrontas, os riscos, com a intrepidez e a vontade de vencer, tentando tirar partido  de todos os pequenos prazeres, de todos os pequenos pormenores da nossa existência - evitando o que nos desagrada e causa sofrimento. Daí também que devamos enfrentar a maior de todas as ameaças, que é a morte,  com esse mesmo sentimento de diminuir a dor e o desgaste interior.
A morte é inevitável e portanto é nessa condição que ele merece ser encarada. Não se deve capitular - a capitulação ocorre apenas quando o indivíduo ( ou a equipa) não consegue atingir outra oportunidade, outra forma de ultrapassar os obstáculos, desde que existam quaisquer formas de resistência. Ora não é o caso da morte - porque não há nada em alternativa. Não se capitula, enfrenta-se, procurando suavizar as condições em que ela poderá ocorrer. Isto talvez nos leve até à eutanásia, noutra altura que não hoje
Repudiamos o optimismo pateta do Candide, mas devemos assumir o optimismo razoável que resulta da nossa forma consciente de observar, pensar  e compreender o que nos rodeia. E se a morte é uma componente ( final) da vida e esta devemos vivê-la com dignidade, também devemos  morrer com dignidade - sem dor, sem sofrimento ( talvez mais psíquico que físico,pois  este pode debelar-se).











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