O estado da situação...
Estou no terceiro mundo, pois mal cai um pingo de chuva o equipamento MEO que serve a zona rural onde vivo vai logo abaixo com os primeiros pingos. É assim há anos e o pessoal que ao fim da vários dias vem resolver o problema diz sempre que é falta de investimento da empresa. Tanto faz protestar, como eu faço, ou ficar calado o resultado é o mesmo. As caixas que estão ali em cima num poste não aguentam a chuva, o que chega a ser ridículo neste século XXI. Safo-me com recurso a um portátil de rede móvel da Vodafone.
As cheias em Lisboa
Toda a região de Lisboa está há vários dias sob o assalto das chuvas e das cheias, e de todos os lados surgem os treinadores de bancada com soluções. Também estou na bancada e vou dizer qualquer coisa, pois acompanho o assunto há décadas.
Já poucos se lembram das cheias de 1967, de que o regime escondeu a gravidade, mas a surpresa foi um dia depois dos graves acontecimentos, ter surgido na Tv o Gonçalo Ribeiro Telles, que opor força das suas posições politicas estava fora da comunicação social - foi um deslize imperdoável que ficou para a História.
E ele explicou, com a sua facilidade de expressão, que as causas das cheias eram o estado desordenado das bacias hidrográficas que ocorrem na região; cabeceiras de linhas de água impermeabilizadas, leitos de cheia ocupadas por habitações abarracadas, impedimentos diversos ao escoamento... Foi uma surpresa ouvir um técnico falar de aspectos que até aí quase ninguém sabia. Eu, que vivia na Madeira, vim a Lisboa e visitei com o Gonçalo as zonas afectadas
Em Novembro de 1983 voltaram a repetir-se grandes cheias, já com menores consequências gravosas embora tenha feito vítimas e prejuízos avultados. Eu visitei as zonas afectadas, as mesmas de 67, onde nada tinha ocorrido de melhoria nos aspectos que GRT havia apontado e que todos os que estavam ligados ao prolema conheciam. Logo no inicio de 1984 o então responsável pelo Ambiente, Eng.º Carlos Pimenta, nomeou um Grupo de Trabalho para Estudo das Causas das Cheias na Região de Lisboa, interministerial, com técnicos de vários organismos como LNET e diversos Serviços ligados ao território. Esse Grupo produziu ao longo de 5 ou 6 anos, várias propostas de intervenção nas principais bacias hidrográficas da região e começaram a ser intervencionadas algumas ribeiras.
Ora era importante fazer um levantamento de quantas ribeiras foram intervencionadas e que importância deram ao assunto quer o Estado quer as Autarquias. E seria curioso - e importante- a comunicação social ouvir hoje o Eng. Carlos Pimenta sobre a matéria - querem ou não saber o que se passou?
Logo nessa altura estava a praticar-se um crime de lesa território que foi a construção da autoestrada de Loures para Lisboa assente em cima daquela esplêndida baixa de Loures; na DGO, onde eu estava co técnico, protestou-se sem sucesso e recordo um Engº da obra se ter queixado ao Arqº Viana Barreto que a autoestrada estava a sair mais cara porque a altura de solo arável era tão grande que exigia muito mais aterro sólido para suportar a estrada. Tratava-se só dos melhores solos agrícolas da Região de Lisboa, capazes de abastecer de frescos o mercado, e que foram destruídos cinicamente - e todos sabiam o que se estava a fazer. Desaparecia uma das grandes áreas de absorção e infiltração de água. E, como esta, continuaram a fazer-se obras comprometedoras da retenção e infiltração das águas que acorrem a Lisboa
E hoje, em que se reptem as mesmas causas, ninguém fala nas soluções do problema a montante, onde se geram as cheias; fala-se dos túneis subterrâneos que custam milhões - e lá vêm sempre os milhões à frente para ilustrar uma iniciativa- mas não se fala em mais nada. Os túneis serão uma ajuda, não se lhe retira o seu valor, mas ninguém fala em intervir a montante, reordenar as bacias, aumentar as zonas de infiltração, deixar de impermeabilizar e rebentar com algumas impermeabilizações que comprometem a infiltração, tratar dos leitos de cheia, criar bacias de retenção temporária - numa palavra fazer o ordenamento do território da Região de Lisboa,
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