domingo, 14 de maio de 2017

O Papa e a situação económico-social

"Não importa nada para a bem-aventurança eterna que abundem em riquezas ou outros bens, chamados bens de fortuna"
"O que é vergonhoso e desumano é usar dos homens  como vis instrumentos de lucro e não os estimar senão na proporção do vigor dos seus braços."
"O fundamento desta doutrina (da Igreja) está na distinção entre a justa posse  das riquezas e o seu legítimo uso."
"O Estado não só pode mas deve intervir em favor do interesse comum."
Estas palavras são do Papa, não o que temos agora, foi Leão XIII que as escreveu na Encíclica Rerum Novarum", em 1891, quando o liberalismo se estava a tornar selvagem e a transformar  milhões de trabalhadores de todo o mundo em escravos das empresas e dos patrões.
Mas podiam perfeitamente ter sido pronunciadas pelo actual Papa Francisco, para quem  "esta economia mata", numa das suas muitas denúncias do liberalismo opressivo que infectou, como um agente virulento, tanto a direita democrata cristã ( a tal esquerda da direita de que fala o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa) como a social democracia e o socialismo democrático. 
Foi com a orientação daquele Papa que os cristãos utilizaram a Doutrina Social da Igreja para darem corpo à ideologia da democracia cristã. E esta foi juntamente com a social democracia as doutrinas que criaram, depois da Segunda Guerra Mundial, o Estado Social Europeu e as décadas de mais paz e desenvolvimento que Europa já conheceu.
Hoje grande parte dos partidos democratas cristãos e social democratas viraram liberais, a resvalar para o libertino.
Também falou nessa Encíclica contra o socialismo "científico" que Karl Marx  preconizava na sua expressão simbólica da ditadura do proletariado, que, goste-se ou não se goste, deu origem a  regimes despóticos e anti naturais que durante muitas décadas  caíram sobre países de várias partes do mundo, sob o rótulo de democracia popular  de que  o leninísmo e o maoismo foram os expoentes máximos. E esses regimes vão caindo a pouco e pouco.
Mas no séc. XIX os cristãos ouviram as palavras do Papa Leão XIII e seguiram essas palavras, e hoje ninguém ouve ou segue as palavras do Papa Francisco.
Só que, mais uma vez, o liberalismo agressivo com a financialização da economia e a submissão dos Governos através de mecanismos internacionais de governança, domina o mundo e volta a criar desigualdades gritantes, aplicando austeridades insuportáveis para os povos. Daí o significado das palavras de Leão XIII e agora de Francisco.
A Europa deverá ser a primeira unidade territorial a reagir, a sua tradição de democracia, liberdade e justiça social, que já iluminaram o mundo, tem de ser de novo um polo de irradiação da civilização para o século XXI. Eu acredito na Europa, o que não quer dizer que acredite nesta União Europeia. mas isso é assunto para outras reflexões.

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